O drama financeiro e económico a que assistimos, abre espaço a todas as especulações sobre um futuro próximo e longínquo que os governos asseguram que será controlável mas que os opositores garantem que será desastroso. O regresso à desgraça de 1929 é invocado por uns como inevitável e repudiado por outros como improvável. Eu próprio me atrevi a invocar AQUI esse episódio histórico.
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Apesar de tudo, ou por tudo aquilo a que já assisti(mos) durante essa jardinagem, nem o optimismo oficial me descansa, nem o pessimismo militante me arrasa. Partilhando, como raro acontece, a posição da maioria, observo intranquilo.
Nesta posição de observador “a revelação da verdade” parece ocorrer descontinuada e analiticamente, ora numa frase, ora numa tese, ora numa ideia ainda mal explicitada... Mas há desde logo neste emaranhado, um conjunto de palavras que ganham uma presença obsessiva numa rigorosa ordenação histórica: desregulamentação do mercado ou livre concorrência, produção em larga escala, procura deficitária, empréstimos, hipotecas, juros, moderação salarial, desemprego, endividamento, bancos, crise, recessão... (Com alguma sorte não chegaremos à palavra xenofobia). No princípio e no fim deste comboio é inevitável ler a palavra “capitalismo”.
Se o produto dialectico das duas crises sistémicas, do socialismo e do capitalismo, for um novo sistema que emerge dos anteriores – seguindo a tese marxista de que o novo já existe potencialmente no seio do velho – é de esperar uma nova ordenação de expressões verbais se venha a afirmar: regulação do mercado, política de pleno-emprego, juros fixos, desenvolvimento sustentado e participação democrática plena. No lugar da máquina deste comboio é inevitável ler “estado social”. Ou expressão sinónima.
Mas isto, reconheço, ainda não é ciência; é só necessidade. A necessidade de evitar que 1929 seja invocado pelo próprio devir e agravada pelas novas circunstâncias da mundialização imediata dos fenómenos político-económicos.
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