1.8.12

Os méritos das ditaduras

Não me lembro que alguma vez o PCP tivesse condenado o MPLA por receber ajuda da União Soviética. Mas condenava-se a UPA/FNLA pela sua ligação aos EUA e sobretudo pela sua ligação oculta com as próprias autoridades coloniais portuguesas.

Eu que estive na guerra colonial, em Angola - sem honra nem glória nem vontade, entenda-se – sempre achei e acho que esta posição do PCP era acertada. O que nunca entendi nem entendo é porque se “encaniçam” tanto os líderes do Partido Comunista Português, contra os apoios internacionais que recebem os rebeldes da Síria quando combatem a ditadura da família Assad. Em armas, claro, que só no Brasil se chamam “balas” aos rebuçados.


Não sou pacifista; sou pela paz enquanto um povo não é agredido violentamente do seu exterior ou do seu interior, e não parece que a posição do PCP seja diferente. Em coerência com isto, o critério para avaliar a justeza duma revolta armada não é a composição do apoio exterior mas sim os abusos de poder e a violência do seu exercício contra os interesses e desejos da população.

A hipocrisia dos EUA, de Israel ou da Arábia Saudita neste conflito, para não falar no ridículo papel de Paulo Portas, não são razão suficiente para justificar o empenho de correntes progressistas na defesa de uma ditadura. Mas não posso esquecer que esta atitude não é uma inovação na política internacional do PCP para quem a ditadura é boa desde que seja “do proletariado”, isto é, usurpando essa legitimidade.

Pela mesma ordem das razões anteriores, não é defensável apoiar um regime porque “durante décadas desconheceu conflitos étnicos ou sectários”, o regime de um “país em que xiitas, sunitas, alauitas, druzos, curdos e cristãos conviveram pacificamente; o país em que as religiões islâmica e cristã coexistiram pacificamente num dos poucos estados árabes laicos do Mundo". Pois não se poderia dizer o mesmo da União Soviética no seu período mais reprovável? As ditaduras têm realmente o mérito de eliminar todas as divergências... e não apenas os conflitos de classes.

NOTAS:
Hafez al-Assad, pai do actual presidente, tomou o poder num golpe de estado, liderando o país por 30 anos e proibindo a criação de partidos de oposição e a participação de qualquer candidato de oposição em uma eleição. Quando faleceu, o seu filho... sucedeu-lhe !

A Síria participou da Primeira Guerra do Golfo ao lado dos Estados Unidos, e  colaborou diretamente com a CIA recebendo presos ilegalmente sequestrados que eram torturados antes de irem para Guantánamo, como foi o caso de Maher Arar, cidadão canadiano-sírio. Segundo um ex-agente da CIA citado pela Counterpunch, “se quiser um interrogatório sério, mande o preso para a Jordânia. Se quer que ele seja torturado, mande-o para a Síria”.

(2ª nota foi recortada em esquerda .net)

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