13.8.12

Televisão na grelha

Seja a propósito do desmantelamento em curso da RTP, razão pela qual nasceu um homem chamado Miguel Relvas, seja porque não tarda que os programadores, chegados de férias, se reunam em aconchegados hoteis a preparar a grelha com que vão cozinhar a programação da próxima época, puxa-me hoje o mau feitio para falar de Televisão.

Na sua esclarecida e lúcida avaliação do mundo em que nos removemos, Umberto Eco disse que «a característica principal da "Neo-TV" é que ela fala cada vez menos do mundo exterior. Ela fala de si própria e do contacto que está estabelecendo com o seu público».

Por falta de tempo não insiro aqui fotos de Mário Crespo, Manuela Moura Guedes, Alberta Qualquer Coisa, Marcelo Rebelo de Sousa, António Vitorino, Pacheco Pereira, o Polvo, a Enguia e o Cavalo-Marinho.

Acresce ao que Humberto Eco já podia analisar, esta oportuna crise de que tanto se fala. Nos dias que escorrem, a receita da austeridade fará sentir cada vez mais a contenção de produção nacional de qualidade e a ausência de informação internacional – fica o sistema bem servido com “debates” (poupa-se em actores e autores incontornáveis) e com directos (poupa-se em edição).

Quanto aos conteúdos da programação que oferecem as diferentes estações, parecem fazer eco de Umberto, à posteriori, as críticas, embora interessadas, da Associação de Produtores Independentes de Televisão de 2009 como poderia ser de qualquer outro ano da geração das privadas. Constatavam eles a "total falta de diversidade de conteúdos, apresentando grelhas muito idênticas e sem grande margem de escolha para o espectador". Mas quantas grelhas queria, se o Poder é um só, reunido no arco da governação? Não se queixe da televisão – a avaria é do emissor!


NOTA: Claro que há excepções na oferta de conteúdos e na qualidade dos intervenientes, mas isso é, sobretudo, mérito dos próprios.

1 comentário:

Alf disse...

É genial: «a avaria é do emissor».
Absolutamente!