24.11.12

As pedras e as palavras

Até hoje, nenhum post inserido aqui teve tanto a ver com o título deste blogue - nome e imagem! Mas isto não é tanto um artigo, é mais um comentário a um artigo de JN.


Na comparação que faz entre o apoiante de Passos Coelho, provocador que apareceu num comício do PS, e os indivíduos que estiveram a atirar pedras à polícia, digo aos polícias, na sequência da recente manifestação de 14 de Novembro, JN deixa-me perplexo. A consideração que tenho por ele, se é quem penso que é, inibe-me de dizer mais!

Em todo o restante argumentário, no entanto, o JN prossegue numa lógica formal sobre teses “moralistas” e teses “militaristas” e sobre a diferença entre “os fins e os meios”, que me fazem duvidar das suas competências filosóficas, de tal modo se deixa levar pelas palavras – destas dizia Sartre, em "Les Mots", que são de tal modo fascinantes que por vezes nos fazem perder a noção da realidade – passe a citação de memória. Começo a duvidar, enfim, que o JN seja quem eu penso.

Finalmente o JN não percebeu que o que distingue aqueles indivíduos, de Gandhi, é que este estava verdadeiramente empenhado na revolução social e por isso, consciente da desproporção de forças com que contava, não se deixava entusismar com fogachadas contra forças bem armadas, arremetidas que duram apenas duas horas ou o tempo que as autoridades quiserem, e deixam um sabor a impotência, a frustração, a desistência, a divisão na base social de contestação. Definitivamente, este JN não é quem eu pensava que era.

Nem violência gratuita nem “abstenção violenta” à moda do PS. O que o país precisa é que os cidadãos reforcem a capacidade de intervenção da esquerda consequente nas instâncias do Poder, o que requer mais tempo do que duas horas, mais trabalho e mais coragem do que atirar pedras e incendiar caixas de lixo às escondidas.

Quem é o JN? Isso importa pouco. Há vários.

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