E quando a principal fonte de alimento do Vaticano é a América Latina, lá onde pulsa agora, ainda por cima, uma vibração política progressista e popular que sabe conviver com os sentimentos religiosos dos seus povos, lá onde um operário político e não um santo, Lula da Silva, herda o reino de David e proclama a justiça e a prosperidade, lá onde um militar revolucionário, Hugo Chavez, forma e lidera as suas hostes e a sua diplomacia para a guerra contra a pobreza, contra a injustiça social e a colonização económica, então o Vaticano tem que dobrar-se aos pés do povo, desdobrar-se em gestos de humildade.

Não ponho em causa a genuína humildade do papa Francisco mas sim a do conclave que o elegeu. Quem foi capaz de sobreviver ao estigma da Inquisição, sabe sobreviver ao estigma da corrupção.
Dir-se-ia que o Papa tem uma vantagem: o seu discurso apoia-se na fé, esse conceito de verdade que escapa ao pensamento lógico – em matéria de juízo, basta-lhe a chantagem do juízo final e tudo o resto “se explica” com o dogma de que “Deus escreve direito por linhas tortas”. Mas não é na fé que se apoia a política? Com uma diferença: a política decide sobre o pão dos povos enquanto a religião decide, antes de mais, sobre o pão dos sacerdotes.
Sem comentários:
Enviar um comentário