O anúncio das entrevistas a José Sócrates que hoje se iniciam após a sua saída da governação, não ainda o conteúdo das entrevistas, note-se, mas a sua realização, criou uma carga dramática elucidativa do que é verdadeiramente a natureza da "Comunicação" Social: espectáculo!
Por detrás da preocupação com “o interesse nacional” e até com o “interesse social”, esconde-se no discurso de muitos analistas, a sua preocupação dominante: a afirmação da sua competência, da “sua” razão.
Felismente “o povo não é estúpido” e até porque é feito da mesma massa, sabe destas fragilidades da condição humana e dá algum desconto aos pareceres dos comentadores públicos.
Entretanto, quando a figura pública é identificável ideologicamente, ela representa para o espectador a sua ideologia, logo, o próprio espectador - se o representante do meu grupo ideológico vence ou perde um debate, eu ganho ou perco com ele. Isto é, o espectador não é isento e é com essa falta de isenção que ele próprio irá repercutir no espaço familiar ou social o conteúdo do comentário ou do debate público a que assistiu.
Mais, antes do espectador, os próprios jornalistas que são feitos da mesma massa que os políticos e os cidadãos comuns, interferem com os seus preconceitos neste jogo de prestígio e assim alimentam o conflito dramático.
Se juntarmos a tudo isto,que "a comunicação é mais de 90% afectiva e pouco mais de um por cento informativa", é caso para perguntar o que sobra de verdadeiro, rigoroso, credível, no fim de um debate ou de uma entrevista polémica.
Sobra apenas o espectáculo, portanto, se os intervenientes não forem excepcionais como raramente acontece. Não me parece que seja o caso de José Sócrates de quem espero apenas a desinteressante defesa da "sua" razão. Mas reconheço que eu próprio sou feito da mesma massa de que são feitos os preconceituosos.
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