14.7.14

Passos Coelho tem razão

mas saberá ele até que ponto a tem?

Terá o Primeiro-Ministro de Portugal a noção do significado histórico das suas declarações? Terá consciência de que isso não é uma confirmação da sua força mas da fraqueza da sua ideologia?

Refiro-me ao que disse Passos Coelho nas comemorações dos 40 anos da Juventude Social Democrata.

"As empresas que olham mais aos amigos do que à competência pagam um preço por isso, mas esse preço não pode ser imposto à sociedade como um todo e muito menos aos contribuintes".

"Se nós queremos que a democracia chegue à nossa economia e que haja verdadeiras oportunidades para todos, então não deveria contar ser filho de A ou de B quando se trata de bater à porta do banco para obter o empréstimo". "Ou quando queremos ter maior proximidade ao poder para que os nossos negócios possam estar mais na preocupação de certas elites"

Estas afirmações exprimem o reconhecimento de que as políticas de compadrio e o sacrifício da população em benefício da elite privilegiada, estão a perder futuro; que o aperfeiçoamento democrático das sociedades está a ganhar espaço à demagogia política e à “economia criativa”; que as liberdades conseguidas pelos cidadãos estão a condicionar as liberdades dos especuladores – as liberdades do liberalismo.

Não é a apologia da democracia e da justiça social, este discurso; é o lamento de quem já não pode impor a sua política com a mesma facilidade que o faria com menos Constituição, menos eleições, menos democracia.

É o sentimento de que os tempos estão a mudar. É isso que significam, involuntariamente, as suas palavras, quando diz que "o país está verdadeiramente a mudar, naquele sentido em que não pode voltar para trás porque há coisas que quando nós conquistamos já não as largamos".

Só lhe faltou esclarecer que "o país está a mudar", não por vontade dele, do seu governo e do seu partido, mas apesar deles e contra eles.

1 comentário:

antónio m p disse...

«A ironia da história universal põe tudo de cabeça para baixo. Nós, os "revolucionários", os "subversivos", prosperamos muito melhor com os meios legais do que com os ilegais e a subversão. Os partidos da ordem, como eles se intitulam, afundam-se com a legalidade que eles próprios criaram. A legalidade mata-nos - exclamava Odilon Barrot.»

Excerto de um texto de Friedrich Engels / Londres 1895