A proximidade geográfica da super-potência norte-americana é tão apelativa para Cuba e os cubanos, quanto a hostilidade do “império” é repugnante para os irmãos Castro e seus seguidores. Assim se estabelece uma relação de amor-ódio que vem da revolução de 1958 e que ganha relevo especial em dois momentos históricos – a invasão norte-americana da Baía dos Porcos, em 1961, e o embargo económico dos Estados Unidos a Cuba, fixado em lei a partir de 1992.
O embargo norte-americano não se aplicava, digo, não se aplica apenas aos Estados Unidos; ele estabelece fortes sanções económicas e diplomáticas aos países que tenham negócios ou transações relacionadas com a ilha de Fidel Castro. E tem sido condenado sucessivamente por organizações internacionais em que se destaca, nomeadamente, a Organização das Nações Unidas em dezenas de vezes. Só os próprios EUA e Israel defendem a continuação do bloqueio.
Vale a pena registar, a propósito da intervenção do Papa Francisco no processo agora desencadeado por Obama, que até João Paulo II condenou o bloqueio em 1979 e em 1998.
Além de vontade e coragem política, Obama tem responsabilidades e condições históricas novas para decidir o restabelecimento de “relações normais” entre os dois países vizinhos. O “perigo soviético” já não existe, a ideologia “comunista” do governo cubano não é argumento – veja-se a relação com a China! – e a família Castro vai cedendo às “leis da vida” e da História, impotente para travar as tecnologias da informação e a globalização da economia.
Entre a opinião da comunidade internacional, e a pressão de muitos dissidentes cubanos, entre a incompreensão dos americanos democratas e o ódio do Tea Party, entre a estratégia do isolamento, que vigorou 50 anos sem sucesso, e a estratégia da porosidade em que deposita esperanças de contaminação democrática, Obama sentiu-se animado a avançar para o restabelecimento de relações diplomáticas e outras medidas associadas.
Entre estas medidas está a autorização de vendas e exportações de bens e serviços dos EUA para Cuba! A perspectiva de uma evolução do regime cubano que desenvolva abertura comercial não estará ausente na consideração dos Estados Unidos da América.
No extremo, Cuba poderá ser terreno virgem para a exploração de oportunidades económicas. E no plano das relações multinacionais, a influência perdida da América do Norte, no sul do continente, fonte inesgotável de petróleo e matérias-primas e posto político estratégico, muito menos terão sido indiferentes ao "novo capítulo entre as nações das Américas". É que, como ele agora descobriu e fez questão de enfatizar, "Todos somos americanos"!
É que, a prosseguir a política agressiva e imperialista tradicional, e a ter significado a radicalização dos eleitorados mundiais, a administração norte-americana corre o risco de ouvir dizer: "Todos somos cubanos"!
2 comentários:
Embora o "bloqueio" tenha sido fixado em lei em 1992, ele já tinha começado na prática desde 1962.
«Una encuesta reciente de la organización no gubernamental Centro Latinoamericano del Consejo del Atlántico mostró que más de 60 por ciento de los estadounidenses está a favor de un cambio de la política de Washington hacia La Habana».
Notícia de Junho de 2014 !
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