De passagem, entrei num café onde nunca tinha estado. Um espaço pequeno com um pequeno balcão quase escondido a um canto. Em torno do balcão, os poucos clientes com ar de enfado.
Aproximo-me. Peço um café. Sinto o cuidado com que dois deles me facilitam a aproximação. Reparo que ninguém fala e que a minha presença lhes causa estranheza.
O café é-me servido com manifesta deferência. Agradeço, pago, agradece, retiro-me para uma mesa. Na parede, um televisor passa as notícias já muito repetidas em diferentes horários e diferentes canais: fulano disse, cicrano comentou o que fulano disse, beltrano comentou o que cicrano acabava de comentar sobre o que fulano terá dito ou alguém disse que disse.
Um dos presentes, envergando uma farda de trabalhador municipal da recolha de lixos, afasta-se para a porta a fumar um cigarro enquanto quebra o silêncio geral com esta lamúria sem destinatário: “Acabou o futebol, agora temos isto!...”.
E eu percebi que o homem não sabia apenas do lixo que fazem os cidadãos comuns mas também daquele outro com que os chamados orgãos de comunicação social entopem o espaço informativo. Mais: ele resumia em meia dúzia de palavras uma tese de Umberto Eco sobre a ilusão de diversidade que adviria com a multiplicação de canais.
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