Concordo com aqueles que defendem que a liberdade de fazer humor obedece ou deve obedecer às mesmas regras que a liberdade de expressão em geral. O “nosso” Ricardo Araújo Pereira já exprimiu esta mesma opinião.
Acrescentaria apenas que aquilo que torna a crítica humorística mais tolerável é o facto de se assumir como expressão não rigorosa mas antes distorcida de uma ideia ou de uma forma, assumir-se não como verdade mas caricatura reconhecível como tal.
“Morra o Dantas, morra!”
pronunciado por Almada Negreiros, não levou o autor do poema satírico para a cadeia em 1916 como não levaria em 2016, exactamente porque o poeta não está a incentivar à morte, está sim a usar formas de estilo literário que recorrem à ironia e ao sarcasmo, ao exagero e à metáfora, para aumentar o dramatismo literário de um texto.
A identidade do autor, o contexto da frase e o absurdo da ideia, ao contrário de sugerirem a prática de um crime, antes põem a ridículo a própria sentença. Este é o álibi do humor.
A imagem é um auto-retrato de Almada.
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