20.11.10

Jornais que matam

Uma amiga, prestigiada cançonetista, dizia-me que não era grave que dissessem mal dela mas sim que a ignorassem. Ignorar alguém que, pelo seu mérito e interesse público deva ser notícia, é matá-lo. Isto é o que fazem jornais impresssos, falados ou audiovisualisados. É nisto, entre outras razões, que um relevante serviço público de Informação se torna indispensável.

Quase só como pretexto, que os há muitos e todos os dias, trago por razões de actualidade a notícia da morte de Joaquim Gomes que não era cantor nem actor nem jogador de futebol nem ministro – era apenas um homem que passou a vida inteira a lutar contra a ditadura salazarista, primeiro, e contra a tirania capitalista, então e sempre.

Dos que “apesar de tudo, falam” para expressar ódios anti-comunistas, não reproduzo o que dizem mas algumas respostas que mereceram:

«... Este comentário deve ser lido por todos para que se apenda quais os limites da ignorância, do ódio, da falta de verdade e de vergonha. Este tipo de pensamento é que nos arrasta para o buraco em que nos encontramos, mas já é antigo. Vê-se coisa idêntica nos textos dos que atacavam o Mestre de Avis e queriam dar o Reino de Portugal aos Espanhois. Encontrava-se nos que resistiam aos Filipes de Espanha, nos que defederam o Salazarismo e de forma geral dos que sempre estiveram do lado errado da História, aquele que sempre trocaram a inteligência e a cultura pela traição ao seu povo».

Não resisti também a escrever:

«Imbecis anónimos que se colocam do lado dos assassinos contra as vítimas, do lado dos carrascos, contra os perseguidos, do lado dos opressores contra os oprimidos, "eunucos que se devoram a si mesmos", fazem sobresair ainda mais a grandeza e a dignidade, a generosidade, a coragem e a actualidade de homens como Joaquim Gomes, valores que estão muito acima de quaisquer polémicas sobre opções de percurso».

Mas falta uma palavra sobre as atitudes mais graves de que falava a minha amiga cantora – os silêncios que matam.

A "Visão online" (de manifesto pendor “socialista”) começou por remeter para espaço escondido a notícia sobre um homem que dedicou a vida à resistência anti-fascista e à defesa dos mais fracos. Nada que se compare com as notícias que destaca, desde o rádio que foi atirado à cabeça de Scolari, à montagem do espectáculo de Shakira, da deputada argentina que dá uma bofetada numa colega até ao que se diz sobre um anúncio de Bayoncé... e outras frivolidades ainda menos interessantes e importantes.

Mas enquanto eu escrevia este comentário, a notícia envergonhada sobre Joaquim Gomes, foi simplesmente eliminada... Assim vai a cegueira da Visão.

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