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Ao centro, o “brilhante camarada” Kim Jong-uno
A análise da situação não deve ser desligada e muito menos deve ignorar o isolamento a que foi votada pela “comunidade internacional” no âmbito da luta ideológica anticomunista. O desmoronamento da União Soviética teve consequências trágicas para aquele país, como de resto aconteceu em relação a Cuba: isolamento político, depauperação económica e tensões militares.
Nestas condições, nenhum país escapa a um regime autoritário, a uma economia de guerra e a uma sociedade militarizada - actualmente 1.500.000 militares norte-coreanos estão envolvidos regularmente em apoio a actividades civis.
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Os efeitos sociais estão associadas a todas as outras consequências da tensão internacional. A fome é habitual na vida dos norte-coreanos mas actualmente a situação agrava-se, com a dificuldade de importar da China e da Rússia de onde se abasteciam habitualmente. São os resultados “humanitários” das “sanções” internacionais implementadas pelo Concelho Geral da ONU comandada pelos Estados Unidos da América.
A recente hostilidade internacional fundamenta-se no facto da Coreia do Norte ter lançado um satélite e ter realizado experiências nucleares subterrâneas. O país, por sua vez, sente-se no direito de desenvolver estas actividades tal como o fazem os próprios EEUU, a Rússia, a França e outros.
Por detrás dos argumentos estado-unidenses esconde-se a importância estratégica da Coreia do Norte, por estar encostada à China e à Rússia e possuir uma desenvolvida tecnologia de guerra, com capacidade para causar grandes danos nas instalações militares norte-americanas da Coreia do Sul e do Japão.
Que outra coisa se pode esperar de um país ameaçado militarmente, senão que tente defender-se militarmente? A pretexto de "proteger a Coreia do Sul", os Estados Unidos que têm 200 vezes mais armas nucleares do que a Coreia do Norte, sobrevoam este país com 200 voos de reconhecimento por ano, efectuam voos de bombardeiros nucleares, colocam barcos militares em posições de ataque contra a Coreia do Norte, mantêm no sul 28.500 soldados e desenvolvem provocatórias "demonstrações de força" perto da fronteira.
Desde 2000 até 2008 uma política de paz e cooperação pôde desenvolver-se entre as duas Coreias, que almejava inclusivamente a reunificação. Mas um novo presidente ultraconservador da Coreia do Sul, mais comprometido com os EEUU do que com a sua região, segundo a sua vizinha, pôs cobro a todos os acordos que se firmaram nesse período.
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As relações pacíficas da Coreia do Norte com os Estados Unidos da América assentavam ultimamente num tratado de armistício de 1953, entre as duas Coreias mas patrocinado pelos EUA e promovido pela ONU, criando uma zona desmilitarizada entre os dois países da península coreana. Mas este armistício foi profundamente abalado em 2006 quando a ONU decretou sanções contra o país a pretexto de experiências nucleares que a Coreia justificou como exercícios de defesa e dissuasão.
Se a Coreia do Norte descuidasse a sua defesa, os Estados Unidos da América fariam no seu país o que fizeram no Afeganistão, no Iraque ou na Líbia – ocupariam o país para apoderar-se dos seus recursos e zonas estratégicas. Este é o ponto de vista norte-coreano.
Desde 2000 até 2008 uma política de paz e cooperação pôde desenvolver-se entre as duas Coreias, que almejava inclusivamente a reunificação. Mas um novo presidente ultraconservador da Coreia do Sul, mais comprometido com os EEUU do que com a sua região, segundo a sua vizinha, pôs cobro a todos os acordos que se firmaram nesse período.
Em Maio de 2009 é a própria Coreia do Norte que rompe unilateralmente o acordo de paz, depois do seu vizinho da península anunciar que aderia ao programa de George W. Bush «para impedir o tráfico mundial de armas de destruição em massa» - o programa PSI (Iniciativa de Segurança contra a Proliferação) .
De notar que os EEUU criaram a sua própria fronteira marítima sem atender ao paralelo 38, isto é, ao arrepio do acordo que vigorava desde 1953. Os EEUU mantêm na região 28.500 soldados, um porta-aviões e dezenas de armas nucleares.
Há quem desvalorize as ameaças recentes da Coreia do Norte, nomeadamente o próprio vizinho, mas são sempre imprevisíveis estas situações. Há que ter em conta que em 2010 houve mesmo um enfrentamento directo quando três disparos da Coréia do Sul contra a do Norte foram respondidos com um bombardeio sobre uma ilha.
Previsível é o sofrimento das populações que não contam, como se percebe, para as decisões estratégicas militaristas. A não ser na medida em que são necessárias pessoas para fazer a guerra.
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Este artigo recolhe, entre outras fontes, uma parte das declarações de Alexandre Cao de Benós, único representante ocidental da República Popular Democrática de Coreia.
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