8.2.14

Porque hoje é domingo (46)

O Paraíso Celestial e o Paraíso Fiscal, se não ocupam o mesmo espaço, são bons vizinhos. Por mais que os discursos populares do Papa Francisco reprovem os “excessos” do capitalismo, é mesmo para defender o sistema contra o socialismo, que a Igreja está no mundo. Catolicismo e capitalismo são aliados ideológicos e materiais.

A escolha do Papa tem um papel crucial nesta missão. Viu-se com a eleição do polaco João Paulo II, envolvido descaradamente na militância do movimento Solidariedade, na Polónia; perceber-se-há mais cedo ou mais tarde com o papa Francisco, argentino, para influenciar a corrente progressista que engrossa na América Latina.

A hipervalorização de qualquer palavra, de qualquer gesto, de qualquer atitude do Papa, por mais banal que estes sejam, alimenta o desígnio da Igreja Católica, ela própria promotora desses comportamentos. O “casting” que os bispos realizam na escolha do Papa, garante o sucesso da representação – ninguém melhor para interpretar a linguagem do povo latino-americano do que um latino-americano! Ninguém o faria com tanta convicção e naturalidade.

Entretanto, tudo está justificado à luz da missão da Igreja. Antes de mais porque é suposto que seja o Espírito Santo a inspirar os bispos eleitores. Depois porque a luta contra o socialismo se inscreve na missão de combater o ateísmo. De passagem, digamos assim, a Igreja ganha as alianças e os apoios de que precisa para manter o Vaticano e a sua legião de profissionais espalhados pelo mundo.

E enquanto houver quem precise de acreditar em milagres, no perdão dos seus "pecados" ou na ajuda discriminatória de Deus para os seus dramas pessoais, não faltará o apoio popular.

“Vós sois o sal da terra; vós sois a luz do mundo” – lembra a Igreja neste domingo, invocando o Evangelho (Mt 5,13-16). "Mas nós, Igreja, somos quem decide o prato e o caminho!" – isto não dizem nem precisam dizer os apóstolos da privação dos sabores e da razão.

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