23.1.15

Trauma de guerra financeira

Quando eu estava na guerra, nós levávamos sempre uma bazuca connosco nas operações. Não funcionava, é certo, mas era suposto que assustasse o inimigo…!

Foi o que me ocorreu quando ouvi dizer que o BCE se prepara para usar a bazuca para defender a moeda única. Isto é, que O Banco Central Europeu vai comprar dívida no valor de 60 mil milhões de euros por mês aos bancos dos países da Zona Euro.

Quando a Grécia está a dias de rejeitar democraticamente as políticas da União Europeia, na sequência de imposições destrutivas dos estados, de sacrifícios intoleráveis das populações e de ameaças arrasadoras em relação às eleições do próximo domingo, o Banco Central Europeu (BCE) revela agora - ó segredo bem guardado - que não havia necessidade…!

Não podia ser mais oportuno, digo, oportunista.

Face à coragem do povo grego em confrontar Merkel e o seu califado neoliberal, com o desprezo e a repulsa populares, desferindo um golpe democrático incalculável na União Europeia, esta já abre os cordões à bolsa e tira de lá uma “bazuca” financeira de 1.140 mil milhões de Euros!. Afinal, "temos que pagar a dívida" mas…!

Entretanto, as medidas milagrosas anunciadas por Mario Draghi, a que alguém chamava “pós-traumáticas”, fazem pensar:

1) Quanto ao aproveitamento dos recursos europeus em Portugal, a gente lembra-se do que aconteceu ao dinheiro que veio da CEE quando o actual Presidente da República era Primeiro-Ministro. Além da corrupção nunca condenada, só serviu para enriquecer os marajás. Isto é, o BCE vai ajudar os bancos! E eu?

2) O euro desvaloriza, logo os preços sobem! Isto é, o custo de vida aumenta. Obrigado!

3) A inflacção que “deverá” resultar desta medida, deveria trazer aumentos salariais e correspondente aumento do poder de compra. Pois era, mas a gente sabe que não traz aumentos, até porque “não podemos voltar a cair no facilitismo blá blá blá”!

4) Haverá um aumento do investimento externo, devido à descida dos preços na exportação – diz-se. E será feito por quem e onde, uma vez que a medida abrange todos os países da zona euro?

5) As taxas de juros descem. Pois, mas isso não basta para que as empresas invistam se os seus produtos não tiverem procura! E as famílias não vão pedir empréstimos para consumo, neste contexto de austeridade.

Enfim, esta bazuca não me oferece muita confiança. Mas talvez isto seja o meu trauma de guerra.

1 comentário:

antónio m p disse...

Este programa é devido ao colapso da inflação e aos riscos que a deflação provoca na Zona Euro. Entrará em vigor no mês de Março e continuará até Setembro de 2016.

Consiste na compra de títulos obrigacionistas privados e públicos no mercado secundário, isto é, no mercado financeiro de capitais dedicado à compra e venda de valores (tais como as acções de empresas)- em última análise, na banca.