PIOR QUE MAU
(Na Inglaterra da s.ra Thatcher), com a vida cada vez mais miserável, mais brutal e, para muitos, cada vez mais curta (…) as coisas podem piorar perpetuamente, sem jamais melhorarem. A esperança de que a deterioração dos bens públicos, a diminuição da vida da maioria da população, as privações que já chegavam a cada esquina da terra, levariam automaticamente ao renascimento de alguma esquerda, era o que era, nada além do que era: só esperança!
A noção de que a deterioração das "condições objetivas" (a realidade material) dariam de algum modo origem a "condições subjetivas" (o desejo popular de mudança) das quais emergiria uma nova revolução política, não passava, completamente, de engodo. A única coisa que emergiu do thatcherismo foi gente que vive de especulação, a financialização extrema, o triunfo do shopping mall sobre as lojas da esquina, a fetichização da casa própria e... Tony Blair.
É a razão pela qual estou feliz de confessar o pecado que me tem sido imputado pelos críticos radicais de minha posição "menchevique" sobre a Eurozona: o pecado de escolher NÃO propor programas políticos radicais que visem a explorar a eurocrise como oportunidade para derrubar o capitalismo europeu, para desmantelar toda a Eurozona e para minar a União Europeia dos cartéis e dos banqueiros corruptos.
Ah, sim, eu adoraria poder apresentar aqui aquela agenda mais radical. Mas, não, não estou disposto a cometer o mesmo erro pela segunda vez. O que obtivemos de bom na Grã-Bretanha no inícios dos anos 1980s, promovendo uma agenda de mudança socialista da qual a sociedade britânica zombava, ao mesmo tempo em que afundava, de cabeça, na armadilha neoliberal da Sra. Thatcher? Precisamente nada.
Que bem nos faria hoje clamar pelo desmonte da Eurozona, da própria União Europeia, se o capitalismo europeu está também ele fazendo de tudo para pôr fim à Eurozona, até à própria União Europeia? Uma saída de Grécia ou de Portugal ou Itália, da eurozona, logo se desenvolverá numa fragmentação do capitalismo europeu, o que gerará uma região a mais de grave superávit recessivo no leste do Reno e norte dos Alpes, enquanto o resto da Europa vê-se nas garras de uma viciosa "estagflação".
Quem vocês imaginam que se beneficiaria desse desenvolvimento? Alguma Esquerda progressista, que nasceria feito fênix das cinzas das instituições públicas europeias? Ou os nazistas da Alvorada Dourada, os neofascistas de várias origens, os xenófobos, ou especuladores? Não tenho absolutamente dúvida alguma sobre qual desses dois grupos se beneficiaria da desintegração da Eurozona. Eu, de minha parte, não estou interessado em soprar ventos novos nas velas dessa versão pós-moderna dos anos 1930s.
Se tudo isso significa que seremos nós, os adequadamente errantes marxistas, que teremos a tarefa de salvar o capitalismo europeu dele mesmo, que seja! Não por amor a eles, ou de tanto que apreciamos o capitalismo europeu, a Eurozona, Bruxelas ou o Banco Central Europeu , mas só porque queremos minimizar o sofrimento humano desnecessário que essa crise cobrará; as incontáveis vidas que serão ainda mais profundamente esmagadas sem qualquer tipo de benefício, nenhum, para as futuras gerações de europeus.
Cada vez que os lacaios da troika visitam Atenas, Dublin, Lisboa, Madrid; a cada pronunciamento do Banco Central Europeu ou da Comissão Europeia sobre o próximo arrocho no parafuso da austeridade que terá de acontecer em Paris ou Roma, vêm à cabeça as palavras de Bertholt Brecht: Força bruta está fora de moda. Para quê mandar assassinos contratados, se lacaios fazem o mesmo serviço?
Fim de transcrição
"Assim falava Varoufakis (3)" irá transcrever uma auto-crítica do autor aqui invocado, retirada da mesma entrevista de 2013 - quando não era ainda ministro.
As citações aqui transcritas são excertos das declarações de Varoufakis no artigo Confissões de um Marxista Errante, nas Sombras de uma Revoltante Crise Europeia, publicadas no seu próprio blog em 2013, na tradução de Vila Vudu para o blog A Comuna (UDP).
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