26.5.15

É preciso engravidar a Esquerda

Em jeito de resposta a Varoufakis
Nos três últimos posts citei algumas ideias que Yanis Varoufakis apresentou numa entrevista de 2013, quando ainda não era ministro. Parecem-me ser teoricamente tão respeitáveis quanto criticáveis. 

Suspender o avanço para carregar as armas e retemperar forças, não constitui um recuo – digo eu. Mas o que leio naquela entrevista não é uma trégua temporária, é uma mudança de inimigo, é um abandono da guerra que se apresenta, em nome de uma que ameaça. E é perder o objectivo, em nome da estratégia.

Que estratégia é esta que Varoufakis defende? “Estabilizar a Europa” como ela se apresenta agora, comprometermos-nos com “um cartel fundamentalmente antidemocrático e irracional, que meteu os povos europeus numa trilha de misantropia, conflito e recessão permanente”.

Em nome de quê? De evitar um mal maior – a extrema direita. Como se esse perigo maior não viesse pelos caminhos desta Europa!

Mais aconselhável é mudar esses caminhos, é esvaziar a extrema direita do argumento que a União Europeia lhe oferece: o carácter “antidemocrático e irracional”. É mudar “a trilha” ultra-liberal e não percorrê-la ao lado dos seus mentores.

Que a extrema-direita prossiga essa estratégia de se confundir com a direita europeia, faz sentido para aquela – afinal a direita europeia está a fazer a sua política de recessão social; ambas caminham no mesmo sentido e apenas é suposto existirem  diferentes limites no percurso. Mas o que se espera da Esquerda é uma mudança de sentido.

Se a crise europeia “não vem grávida de alternativas progressistas”, é preciso engravidá-la! E se Varoufakis se sente impotente para fazê-lo, é talvez porque se convenceu de que a capacidade da Esquerda para vencer, depende apenas da estratégia dos teóricos e não na determinação dos povos. 

Ao invés, o que me parece é que, enquanto a Esquerda se dilui na Direita a fim de ganhar "o tempo de que precisamos para formular a alternativa", as bases vão lhe perdendo o respeito e a confiança (vide França). A determinação popular acabará por fazer fogueiras dos tratados europeus e dos acordos de regime, e devolverá Yanis Varoufakis ao seu lugar na universidade mas não na História.

O que mais precisamos para formular a alternativa, é tempo ou é iniciativa? Na resposta a esta questão há que ter presente que as lutas sociais justas são, elas próprias, grávidas de respostas.

2 comentários:

antónio m p disse...

Ao contrário do que possa parecer, eu não defendo uma ruptura gratuita com a Zona Euro ou com a União Europeia. As análises que fiz respondem ás questões estratégicas colocadas teoricamente por Yanis Varoufakis, não à táctica em curso que o Syrisa coloca nestes termos: subordinar os acordos aos interesses da sociedade e não os interesses desta, aos acordos!

Enquanto isto for possível, pode ser vantajosa a política actual, mas se ou quando a incompatibilidade de interesses se tornar de facto insuperável, aí já se torna necessário escolher entre a estratégia do aparente mal-menor, defendida por Varoufakis na citada entrevista, e a estratégia de ruptura com as instituições euro-atlânticas.

antónio m p disse...

«O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, criticou os credores do país por insistirem naquilo que descreve como reformas absurdas, mostrando uma total indiferença para com a recente escolha democrática do povo grego».

Por outro lado...

«Juncker disse temer que uma possível saída da Grécia da moeda europeia forme nos espíritos a “ideia que o Euro não é irreversível»

Observador 2015-05-31