A aproximação lenta, calculada ou prudente do PCP, à tese de uma frente de esquerda com incidência na formação de um governo alternativo à coligação PSD/CDS, terá sido estimulada por mais que uma razão, a meu ver.
A razão mais transparente é, certamente, contribuir para afastar a direita da governação, e influenciar o governo alternativo no sentido de se corrigirem as políticas anti-sociais em curso.
Mas não terá deixado de pesar neste “passo à rectaguarda” – como diria Lenine – a profunda erosão interna que o PCP tem sofrido desde que “as folhas secas” se foram soltando da árvore seca para o chão ou para outros partidos. Isto é pouco visível do exterior porque as “paredes de vidro” de que se gaba, são muito opacas, e porque os resultados eleitorais, relativamente estáveis ao nível da sobrevivência, embaciam ainda mais a realidade interna.
Por outro lado, a ascensão do Bloco de Esquerda e a sua disposição para viabilizar um governo do PS, sob certas condições, ameaçava o futuro político do Partido Comunista. O argumento, porventura justo, de que os partidos comunistas europeus soçobraram por causa das cedências à social-democracia, não serve para o contexto de aqui e agora.
Nas circunstâncias presentes em que o Bloco gera confiança ao eleitorado de esquerda, um PCP paralisado pelo medo, tornar-se-ia dispensável e definharia como os outros partidos comunistas europeus, por razões diferentes. Mas é certo que este risco só faz sentido agora com “este PS” em perspectiva.
Finalmente, “isso é tudo muito bonito, mas” esta frente ainda vai ter que esperar pela falência do novo governo PSD/CDS. Até lá, não pode cometer o erro de provocar uma maioria absoluta da Coligação, a seguir!
Sem comentários:
Enviar um comentário