21.3.10

Modelos organizativos


Edgar Morin (*) defende que nenhuma organização pode funcionar se os respectivos membros obedecerem escrupulosamente às suas normas. A tese aborda o caracter complexo da realidade, que nós temos tendência para ignorar.

Expressa essa salvaguarda, julgo que é habitual e normal que as organizações tenham um orgão central de onde emanam as directivas funcionais e disciplinares – uma estrutura centralizada. É assim com os estados e respectivos governos, com os partidos e respectivas direcções, com as empresas, os clubes e as religiões. O que difere, do ponto de vista conceptual, é a legitimidade e a representatividade, as quais dependem da natureza da organização e dos respectivos estatutos.

Pelos valores que invocam e pela representatividade popular que reclamam ter, os partidos comunistas deveriam acrescentar democracia ao centralismo e não centralismo à democracia quando inscrevem o princípio do "Centralismo Democrático" na sua organização. Mas o que a prática destes tem mostrado é que o centralismo se sobrepõe ao caracter democrático do funcionamento partidário e da organização do estado.

Esse anacronismo poderia justificar-se em circunstâncias especiais, como a de um período revolucionário que é suposto ser excepcional, transitório, efémero. Estariamos apenas a confirmar a tese sobre a complexidade dos fenómenos e das organizações. Mas a experiência histórica revela que a natureza popular das revoluções socialistas passa, e o centralismo fica, não como excepção necessária e sim como regra permanente.

Isto levanta a questão de saber se a perpetuação da ditadura “do proletariado”, é uma norma apoiada no conceito leninista de centralismo ou é uma infracção à norma. Questão que os mentores dos partidos comunistas em geral e do português em particular se dispensam de esclarecer, tornando-os suspeitos, pouco confiáveis para a governação. É o paradoxo do marxismo-leninismo.

Por outro lado, a leitura dos estatutos do PSD, tão invocados neste mês de Março de 2010, e dos próprios estatutos do PS, lembrados a propósito daqueles, alerta-nos para que esse instinto centralista é muito mais geral do que convém ao discurso anticomunista. A conclusão, a tirar-se, seria a de sempre: que a questão não é da natureza dos partidos mas sim da natureza dos poderes, sempre vocacionados para medrar por cima dos militantes e dos cidadãos.

"Todo o poder aos sovietes", desde que os sovietes obedeçam ao Soviete Supremo! - É como terá que entender-se o lema comunista, metáfora para todos os regimes, afinal.

Assim como "possuimos os genes que nos possuem" - para voltar a Edgar Morin - também possuimos os partidos e os governos que nos possuem.


(*) Edgar Morin em "Introdução ao Pensamento Complexo" (Public.: Institº. Piaget, 1990/91

2 comentários:

Mar Arável disse...

Pois
a coisa não é simples nem fácil
Nem eu sei explicar porque um dia
disse que a minha religião
é o Benfica
Tamanha irracionalidade é possível
porque existe.
Uma coisa é certa ainda ninguem
propôs com credibilidade uma alternativa democrática aos Partidos - muito menos ao Glorioso.
Como eu julgo compreendê-lo!

antónio m p disse...

Para me compreender melhor passo a informar que "o meu clube" é o Salgueiros mas esta opção desde criança foi sempre racional. Talvez seja por esta racionalidade na escolha que, sendo esse o meu clube, eu não sou dele. Nem tudo é comparável, afinal.