S. Lucas é porventura o repórter de Jesus Cristo mais citado pela Igreja nas homilias dos domingos. Desta vez conta ele (Lc 12, 13-21) que alguém, no meio de uma multidão, pediu a Jesus para intervir num conflito relacionado com uma herança.
Não seria politicamente correcto que o filho de Deus virasse as costas à multidão, dizendo “deixem-me em paz que a minha vida não é esta, eu tenho mais em que pensar”… Mas não querendo desiludir os crentes, enveredou por
lendas e metáforas, contando que “um homem rico gastou sua vida acumulando bens, e com isto não construiu aqui na terra, a sua morada no Céu!”.
Entre os comentadores houve quem achasse que aquilo era a lenda da cigarra e da formiga contada ao contrário, por assim dizer, mas também houve quem visse naquelas palavras um apêlo à modéstia e à austeridade. Entre estes que tomaram o partido do empobrecimento, houve até quem puxasse da notícia de S. Lucas para sublinhar a seguinte citação do Senhor: “Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”.
Se Jesus Cristo fosse interrogado na sinagoga, pelos deputados, decerto esclareceria que as suas palavras eram uma crítica aos fariseus e não ao povo humilde que o seguia - como se deduz de outras notícias - mas sendo os fariseus que dominavam o parlamento, a questão nunca foi expressamente esclarecida e cada escriba faz das palavras de Deus o que mais convém à sua condição.
O Papa Francisco parece estar, ele próprio, envolvido nesta questão, com a sua apologia da simplicidade. Veremos pela prática o que isso quer dizer no plano da disputa entre os senhores da Terra e os seus súbditos.
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