(Há um mês, em Dezembro de 2013), o
Instituto Datafolha publicou uma pesquisa a respeito do posicionamento
ideológico dos brasileiros. (…) O resultado foi simplesmente surpreendente.
Se você ler os cadernos de economia
dos jornais e ouvir comentaristas econômicos na televisão e no rádio,
encontrará necessariamente o mesmo mantra: os impostos brasileiros são
insuportavelmente altos, as leis trabalhistas apenas encarecem os custos e,
quanto mais o Estado se afastar da regulação da economia, melhor. Durante
décadas foi praticamente só isso o que ouvimos dos ditos "analistas"
econômicos deste país.
No entanto décadas de discurso
único no campo econômico foram incapazes de fazer 47% dos brasileiros deixarem
de acreditar que uma boa sociedade é aquela na qual o Estado tem condição de
oferecer o máximo de serviços e benefícios públicos.
Da mesma forma, 54% associam leis trabalhistas mais à defesa dos
trabalhadores do que aos empecilhos para as empresas crescerem, e 70% acham que
o Estado deveria ser o principal responsável pelo crescimento do Brasil.
Agora, a pergunta que não quer calar é a seguinte: por que tais pessoas praticamente não têm voz na imprensa econômica deste país? Por que elas são tão
sub-representadas na dita esfera pública?
(…) Na verdade, o povo brasileiro sabe muito bem a importância da solidariedade social construída por meio da fiscalidade e da tributação dos mais ricos, assim como é cônscio da importância do fortalecimento da capacidade de intervenção do Estado e da defesa do bem comum. Só quem não sabe disso são nossos analistas econômicos, com suas consultorias milionárias pagas pelo sistema financeiro.
Artigo do professor Vladimir Safatle, da Filosofia da USP (Univ. de S. Paulo)
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