3.9.09

Rainha Santa Manuela

Eu tinha chegado da RTP-Porto havia menos de um ano, mas já era suficientemente crescido para reter “para memória futura” a imagem de Manuela Moura Guedes, deslumbrante e deslumbrada, a visitar as instalações do Lumiar na companhia de Fernando Pessa.

Fernando Pessa, de quem se continuavam a fazer rasgados elogios públicos, seria literalmente encostado a uma parede da redacção, lá onde encontrou a sua secretária, um dia, estávamos já na Cinco de Outubro. Manuela ia fazendo o seu percurso que completou às costas de José Eduardo Moniz.

Depois, foi o que se viu: “do alto inacessível das suas alturas”, por razões de que não tem que se gabar, ascende a todos os lugares que podia reclamar ao marido. Vendo-se ao espelho, não se achou bonita – como se veio a perceber - mas achou-se raínha. Julgou que lhe vinha do sangue, digo do sangue de seus ascendentes, a nobre condição a que as circunstâncias a guindaram. Sentiu-se com direitos e competências que não tinha – é uma doença própria des estrelas de televisão, com que eu fui obrigado a lidar profissionalmente.

Demitida (do cargo de editora e apresentadora do jornal das sextas-feiras, da TVI) por indecente e má figura, jornalisticamente falando, devido à sua arrogância e domínio indecoroso das opiniões no jornal que geria, mais parecendo uma bandeira que uma jornalista, suscita uma geral hipocrisia nacional que nunca tendo apreciado o seu “estilo”, de rainha a convocam para santa. Nasce assim a lenda da Rainha Santa Manuela Moura Guedes, a que não dá pão aos pobres nem engana o marido com flores.

Que o Mário Crespo tenha dedicado horas dos seus espaços noticiosos e dos seus convidados, a tratar da canonização da sua colega, desiludiu-me. Mas jornalista é assim.

11 comentários:

A.Teixeira disse...

No penúltimo parágrafo, o António Marques Pinto está-se a referir à sua demissão da RTP ou da TVI?

jrd disse...

Nem com um milagre dos cardos.
Já o Crespo é ssim, um autêntico cortesão no reino conspirativo da sicanisse.

antónio m p disse...

Tem toda a razão a pergunta do António Teixeira, até porque Manuela Guedes não foi demitida, propriamente, como eu dizia. A sua questão, que agradeço, permitiu-me corrigir o texto como verá entre parêntesis.

Também eu, que nunca aceitei fazer jornais, fui afectado pelo vício jornalístico de simplificar a linguagem mesmo onde isso acarreta um erro semântico. Assim "à maneira" de falar do aumento do pão quando se quer dizer aumento do preço do pão. E lá voltámos ao pão...

A.Teixeira disse...

A minha pergunta não continha qualquer censura implícita, apenas gostaria de saber se se estava a referir a algum detalhe do seu tempo da RTP.

Eu adoro discordar saudável e fragorosamente de si, António Marques Pinto, mas neste assunto estou (estamos?) com "azar": creio que a concordância será total em considerar a senhora profissionalmente medíocre...

MARIA disse...

Meu querido António ( permite-me? )
O mais bonito numa verdadeira amizade é poder pensar de maneira diversa do amigo e ainda assim não deixar de amá-lo. Digo assim pois considero a verdadeira amizade, sincera e dedicada, a mais nobre das formas de amar.
Eu compreendo a sua perspectiva sobre este assunto. Digo-o sinceramente.
Mas também digo outras coisas.
A Manuela tem uma carreira pública e teria "caminhado" pelos seus pés mesmo sem o Eduardo Moniz.
Reconheço-lhe valor, mesmo que não aprecie o seu estilo particularmente.
Não me parece bem o que sucedeu com o seu programa.
Na comunicação defendo como noutras áreas que se deixe actuar a lei da "oferta e da procura", com limites por valores essênciais , direitos da pessoa enquanto tal.
O que não pode esquecer-se é que independentemente do trabalho da Manuela as pessoas posicionam-se com ela e não por ela ou por causa dela, contra Sócrates que tem sido (nisso concordamos) "bandeira" de "combate" no trabalho dela...
Em todo o caso, objectivamente falando, nunca diria que a Manuela pelo seu trabalho não valeria o programa que lhe foi retirado.
Pelo contrário. Ainda que por questões de estilo ela não me baste como informação, penso que faz falta no panorama informativo nacional e tem uma carreira de anos de jornalismo a demonstrá-lo.
Depois o que está em causa é ainda a questão mais profunda de saber se quem se opõe a quem manda tem que perder o emprego...
Ou seria só agora, neste preciso momento da vida de Manuela que as pessoas lhe notaram as características jornalísticas que tem ?
Certamente não.
Porquê então fazê-lo precisamente agora ?
...

A sua visão é próxima, mais conhecedora de uma realidade que eu não domino e talvez não alcance completamente.

Por isso, também a compreendo.

Um beijo amigo

Maria

antónio m p disse...

MARIA, muito obrigado pelas suas palavras simpáticas e pela sua sinceridade.

Não sei se a Manuela M Guedes teria caminhado pelos seus pés… Quase jurava que o seu caminho no jornalismo seria breve, mas isso é imaginar os factos fora das suas circunstâncias e eu acho que ela criaria sempre as circunstâncias. Quanto ao papel de Eduardo Moniz na sua ascensão, isso é inquestionável para mim e para quem conheça o funcionamento da RTP ao nível da gestão de “recursos humanos”. E mais não digo para não ser… inconveniente.

Não veja nisto uma questão machista porque eu diria que por detrás de Eduardo Moniz “certamente” que haverá também quem o proteja. Na RTP não se chega áquela posição por mérito apenas. Não terá sido por demérito que um Joaquim Letria ou um José M. Barata Feio, um Mário Crespo e tantos outros foram desprezados ou hostilizados. Uma coisa que eu sempre estranho nestes casos é que as vedetas nunca se questionem quando são nomeadas em detrimento de outros, tendo em conta a realidade que estamos a tratar.

Uma correcçao: a Manuela não perdeu o emprego; perdeu o privilégio de difundir as suas opiniões pessoais através de uma estação de Televisão que a contratou para fazer jornalismo. Uma empresa onde nem ela nem o marido põem um cêntimo de seu, antes cobram milhares de euros.

Quanto à oportunidade da medida, eu discordo da maioria esmagadora da opinião publicada. A questão política é de saber que interferências abusivas se evitam na campanha eleitoral e não que liberdades se coartam, pois se trata apenas das liberdades da Manuela M Guedes contra as liberdades dos seus convidados e visados.

Aceite a minha sincera amizade e apreço, com o desejo de que discorde expressamente e muitas vezes de mim. E um beijo amigo.

MARIA disse...

António,
:-)
Concordo consigo no que respeita à qualidade das pessoas que nomeou no seu comentário resposta: Joaquim Letria, José M. Barata Feio, Mário Crespo .
Sem dúvida alguma.
E compreendo a sua perspectiva sobre o assunto.
Mas o António não considera que aparentemente ocorreu uma ingerência externa pouco clara sobre a programação da TVI?
Suponhamos que não era a Manuela a apresentar o programa, era outra pessoa. Faria leitura diversa do acontecido ?

Eu também prezo muito a sua amizade e admiro muito o seu carácter.
Um beijinho muito amigo para si.

Maria

MARIA disse...

António,
:-)
Concordo consigo no que respeita à qualidade das pessoas que nomeou no seu comentário resposta: Joaquim Letria, José M. Barata Feio, Mário Crespo .
Sem dúvida alguma.
E compreendo a sua perspectiva sobre o assunto.
Mas o António não considera que aparentemente ocorreu uma ingerência externa pouco clara sobre a programação da TVI?
Suponhamos que não era a Manuela a apresentar o programa, era outra pessoa. Faria leitura diversa do acontecido ?

Eu também prezo muito a sua amizade e admiro muito o seu carácter.
Um beijinho muito amigo para si.

Maria

MARIA disse...

Ninguém como o António...

antónio m p disse...

Maria, , sabendo que vou contra a corrente avassaladora da demagogia política, do mau corporativismo de jornalistas e até de opiniões sinceras e desinteressadas como a sua que muito prezo, o que eu acho sinceramente é que está a haver uma ingerência externa daqueles que nada tendo a ver com a gestão de imagem da TVI, acham que os rostos que a TVI escolheu em dada altura não pode a TVI substituir senão quando morrerem. E que a questão das eleições pode ser vista ao contrário: a TVI não querer que num período tão sensível a sua estação seja um instrumento de propaganda política estérica.

E não creia que tenho preferências pessoais nesta matéria; acho até que a M M Guedes poderia fazer um bom trabalho se quisesse. E se o deslumbramento do poder que lhe é confiado, não lhe tivesse afectado o discernimento.

Sugiro-lhe, a propósito, uma consulta do seguinte sítio que tem todas as condições para ser credível pelo que conheço desta gente: http://cadsf.blogspot.com/2009/09/afinal-parece-que-aconteceu-um-25-de.html

Saudades das Caldas.

MARIA disse...

Obrigada António pela sua resposta tão esclarecedora.
Eu gosto dessa sua capacidade de divergir, convergindo...
Fiquei esclarecida e não sei bem se totalmente convencida, vencida e rendida à sua elevação na forma de estar e pensar.

Um beijinho