28.6.12

Ronaldo e os euro...bondes

Quando um Estado pede um empréstimo para pagar as suas dívidas, ele não reduz a dívida - acrescenta uma nova dívida, na esperança, é certo, de convertê-la em investimento destinado a gerar lucros e, com estes, pagar o empréstimo e as dívidas anteriores.

É como alguém que pede um empréstimo para pagar uma dívida de jogo e vai investir esse empréstimo - nem que seja no mesmo jogo que o arruinou. Com sorte... até pode ser que ganhe muito dinheiro que lhe permita pagar o empréstimo e as dívidas iniciais. Mas é com sorte. Com muita sorte!

“Eurobondes”, se eu bem entendo, são empréstimos a estados necessitados, com a garantia de que os emprestadores serão remunerados, se não pelos estados beneficiários do empréstimo, então pelo conjunto dos estados da União Europeia.

No fim, se os estados devedores não alcançarem os seus objectivos, poderão sempre dizer que “não tiveram sorte” com o jogo económico; o que não podem dizer é que foi a sorte que ditou o seu endividamento.

Isto é: o Cristiano (cristão em castelhano) pode dizer que Portugal não teve sorte aos "penaltis", mas não pode dizer que foi a sorte que ditou o resultado, uma vez que a selecção portuguesa teve 120 minutos para lutar pela vitória, antes dos "penaltis".

A diferença é que Ronaldo vale muito mais do que os comentários que faz.

25.6.12

América Latina renovada


Esta é a imagem de uma nova América Latina: independente, patriótica no melhor sentido, popular e progressista. (Só não digo democrática para não ter que apagar Fidel). É com esta nova realidade que os EUA e o mundo em geral vão ter que lidar.

Que o próprio Porfírio Lobo, presidente de facto das Honduras, saído de um golpe comparável àquele que agora atingiu o Paraguai, também ele conteste o processo de demissão de Lugo, é bem significativo de que não vale a pena lutar contra a corrente de esquerda que percorre a região. Por este caminho ainda vamos ver o presidente da Colombia a fazer o mesmo, para já não dizer o mesmo de Piñera, do Chile...

Entretanto, os governantes portugueses "acompanham a situação"... sem se molharem.

ACTUALIZAÇÃO

Documento divulgado neste domingo refere que o Brasil, Bolívia, Equador, Peru, Uruguai e Argentina, mas também Chile e Colômbia, reprovam energicamente a "ruptura da ordem democrática na República do Paraguai".

Despache-se o Governo



Em Outubro de 2011, o Governo de Portugal esclarecia que "O orçamento para 2012 prevê a eliminação dos subsídios de férias e de Natal, para todos os vencimentos dos funcionários da administração pública e das empresas públicas, acima de mil euros por mês.

Mais adiantava que “esta medida é temporária e vigorará apenas durante a vigência do programas de assistência económica e financeira" (que acaba em 2013).

Entretanto, para poderem ser atribuídos aos amigos e protegidos, os subsídios agora têm apelido: chamam-se “abono complementar”.

Que nome havemos de dar ao primeiro ministro e aos outros, além de hipócritas e mentirosos?


O despacho que se insere acima, pode ser consultado AQUI

23.6.12

Das Honduras ao Paraguay

Antecipando as eleições presidenciais, agendadas para abril de 2013, um golpe de direita destitui de forma abrupta o Presidente do Paraguay, Fernando Lugo.

Trata-se duma iniciativa do parlamento em que 39 dos 43 senadores presentes declararam que o Presidente é culpado das acusações formuladas contra ele, o que levou à sua destituição imediata, de acordo com a Constituição do Paraguai.

As acusações que serviram de pretexto para esta iniciativa alegam que o presidente eleito terá feito um mau desempenho nas suas funções num incidente ocorrido em Curuguatyna na passada sexta-feira. A ocupação de uma herdade terá sido reprimida pelas autoridades, decorrendo daqui a morte de 17 pessoas num confronto entre polícias e os camponeses ocupantes.

Dirigentes populares, apoiantes do presidente Lugo, sugerem que esta ocorrência terá sido preparada para servir de pretexto às acusações contra ele. O que a imprensa está chamando de impeachment é um golpe de Estado financiado pelos latifundiários paraguaios, dentre eles os grileiros brasiguaios da fronteira - observa um comentador.

Com efeito, de um dia para o outro, não só o presidente da República é demitido, como o vice-presidente, seu opositor, toma posse num ambiente de precipitação e excitação na sala dos congressos que mais se assemelhava a uma insurreição.

Este golpe constitucional da Direita é contestado por manifestações populares que decorrem em frente ao parlamento, nomeadamente enquanto se realiza a atabalhoada tomada de posse do vice-presidente Federico Franco.

Este, no seu discurso apressado, proclamou a intenção de realizar uma política de energia e uma reestruturação industrial que dê maior autonomia à economia nacional. A sua repulsa contra a importação de petróleo da Venezuela, é clara. Também afirmou o propósito de que se realizem as eleições presidenciais regulares, agendadas para Abril de 2013. Trata-se, portanto, em nome da Democracia, de substituir temporariamente um presidente eleito... por outro não-eleito.

Enfim, as semelhanças com o que fizeram a Manoel Zelaia, nas Honduras, é indisfarçável. E o caracter reaccionário e revanchista deste golpe, também.

O presidente agora deposto foi eleito para a presidência em 2008 com um mandato que terminaria dentro de apenas nove meses. Oriundo de uma família humilde que foi vítima de perseguição política durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989, Fernando Lugo, ex-bispo católico partidário da Teologia da Libertação deixou a vida religiosa para concorrer à presidência como candidato de uma coligação destinada a acabar com 61 anos de hegemonia do Partido Colorado, que foi o sustentáculo da ditadura de Stroessner. É esse partido que lidera agora este golpe.

Para além do incidente de Curuguaty que “serviu de detonador” a esta crise, outras notícias ajudaram a uma grande perda de apoio político ao presidente e subsequente afastamento, nomeadamente a ocultação da paternidade de seus filhos.

Tudo serviu para os objectivos da Direita. Até que ponto os levará para diante na conjuntura da nova América Latina, é o que ditará a correlação de forças em confronto em que a resistência popular tem um papel a desempenhar.

20.6.12

Dívida crónica

Portugal é o país da Europa que mais deve... em 1910.


Copiado de Restos de Colecção

16.6.12

Diálogo improvável


...
HORAS MAIS TARDE
...


Nota: Carregar sobre as imagens para ampliá-las.

13.6.12

Ventos de Espanha

Duas semanas depois do presidente do Governo de Espanha e do Partido Popular, afirmar que não haveria nenhum resgate aos bancos espanhóis, o comissário europeu dos Assuntos Económicos e Monetários disse que a Espanha iria pedir, na reunião seguinte do Eurogrupo, o auxílio para a banca.

No Domingo imediato, 10 de Junho de 2012, o primeiro-ministro espanhol convocou uma conferência de imprensa para explicar os contornos do plano de resgate financeiro a que não chamou resgate mas “ajuda aos bancos” espanhois". Para todos os efeitos, é um empréstimo de 100 mil milhões de euros para o saneamento / recapitalização da banca espanhola. O que está por esclarecer ainda são as contrapartidas.

A Espanha juntava-se assim à Irlanda, a Portugal e à Grécia no pedido de auxílio internacional. A diferença principal é que a Espanha é a quarta economia da zona do euro e a 12.ª maior economia mundial.

E para o que mais directamente nos importa, a Espanha é o maior parceiro comercial de Portugal.

Ainda haverá quem alimente a esperança de que se venha a dobrar o cabo das tormentas (ou borrascas), mas Bartolomeu Dias já morreu, os escravos libertaram-se e já não há o que trocar por especiarias. Com estes ventos, o melhor será mudar de rumo.

5.6.12

Pagar ou não pagar, eis a questão

ASCENDI é o nome que disfarça mais uma forma inventada pelo Governo para extorquir dinheiro aos cidadãos, sem apelo nem agravo, isto é, sem recurso nem alternativa. Claro que os governantes não pagam.

É uma empresa privada que presta um "serviço público". Pelo menos, ajuda a viver 1 presidente e 10 (dez) vereadores, 4 membros da Assembleia Geral e mais 4 do Conselho Fiscal.

«Em apenas 10 anos, dotámos a rede rodoviária nacional com cerca de 850 km de infra-estruturas rodoviárias, ligando grandes áreas metropolitanas entre si e estas ao interior do país e a fronteiras. (...) Contribuímos assim para a melhoria da qualidade de vida de milhões de pessoas e para o desenvolvimento das regiões em que nos inserimos».

Quanto à melhoria da qualidade de vida das pessoas, é só ver na internet as reclamações indignadas - imagine-se quantas são recalcadas em silêncio.

2.6.12

Cuidado com o que mostram

Um dia destes deparei-me, por acaso, com um blogue onde se divulgava a forma como os mineiros das Astúrias haviam "cortado" uma auto-estrada, em protesto.



Não acho nada bem que se divulguem imagens destas, que poderão incentivar outros a fazer o mesmo. Aliás, o mesmo blogue refere que o procedimento já havia sido utilizado pelos desempregados na Argentina em 2001.

Espero que ninguém se lembre de fazer o mesmo nas nossas estradas de circulação paga. Mas é sabido que já houve quem usasse processos pouco pacíficos para mostrar a sua indignação, entre nós. Há muito tempo.