O processo da Operação Marquês, que envolve muitos milhares de documentos e uma trama muito complexa, sai do juiz que o elaborou desde 2014, para um juiz que nunca trabalhou naquele processo e vai, portanto, ter que inteirar-se dele pela primeira vez. A condução do processo que sempre esteve nas mãos de Carlos Alexandre é agora atribuída ao juiz Ivo Rosa na fase de pré-julgamento.
Diga-se o que se disser, e a gente sabe como o Direito é fértil em argumentação, esta atribuição é absolutamente contrária a qualquer racionalidade. Fazê-lo por sorteio, então, é uma monstruosidade.
Mais: que tenha sido usado um sistema electrónico de sorteio cujo rigor é confiado a um técnico de informática, um sistema que se demonstrou tão falível que só funcionou ao fim da terceira tentativa, deixa fundadas dúvidas sobre a sua fiabilidade. Como alguém argumentava há momentos (noite de 29 Set.) na TVI24, “o sorteio nunca seria concluído enquanto não ditasse a mudança de juz de instrução”.
Eu lembrei-me, inevitavelmente, do sistema “aleatório” com que funcionam os jogos electrónicos dos casinos, lá onde está sempre assegurado um resultado lucrativo para o estabelecimento – coisas que os técnicos informáticos sabem fazer. Não era mais simples e fiável o processo de bola-branca e bola-preta, por exemplo, quando se sabe que a escolha era entre duas pessoas apenas?!
Resta-me acrescentar que a atitude inédita de chamar os orgãos de Informação a “assistir ao sorteio”, eles que não têm qualquer forma de confirmar a rectidão do processo, longe de conferir maior fiabilidade, denunciam preocupação com ela!