29.1.13

Estratégia de graça para o PS

Para acabar com a conversa sobre António Costa e o futuro do PS, aqui fica a estratégia:

1. O escurinho – como diria Arménio Carlos – candidata-se à Câmara de Lisboa;
2. O copinho de leite fica onde está e não mexe mais;
3. Nas próximas eleições, antecipadas ou não, o PS segura o Seguro na direcção do Partido Socialista e empurra o Costa para candidato a primeiro-ministro.

Pronto, agora vamos falar do que interessa - uma estratégia para os portugueses.

Composição de imagem original para este blogue

28.1.13

Olha que dois

Não mereceu qualquer atenção dos meios de informação portugueses a cimeira de chefes de Estado dos países da América Latina e do Caribe, a CELAC, que decorreu este fim-de-semana no Chile. Tampouco a reunião desta com os maiores representantes da União Europeia e do FMI. Assim vai o direito à informação em Portugal!

Esta censura em cartel - já Umberto Eco desconfiava da alternativa e diversidade de conteúdos que ofereceriam os canais privados quando eles se expandiram na Europa! - fê-los perder não só a significativa imagem anterior, como o seguinte vídeo onde se mostra o caricato cruzamento acidental de Merkel com... Raúl Castro.

27.1.13

Porque hoje é domingo (31)

Por este tempo em que os profetas do Governo e da “Oposição responsável” anunciam as suas boas-novas, ora porque o país vai ao mercado, ora porque o PS vai ao congresso, sendo certo que o país vai ao charco com estes vendilhões de banha de cobra; por este tempo de louvores e chicotadas com que a troica submete e humilha os mais pobres da Europa, já era altura de ouvir aos mais altos magistrados da Igreja dominante, com eco nas igrejas desse país fora, uma palavra de condenação dos fariseus da política, dos vendilhões do templo nacional, dos autores dos pecados capitais, digo capitalistas: soberba, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça, esta entendida como atitude de quem despreza o trabalho, vivendo do esforço alheio.

Mas isto seria confrontar-se, enquanto instituição, com o Poder de que depende o seu património, os seus impostos e descontos para o Estado social, e outras vantagens de que as licenças de rádio e televisão são exemplos.

Tanto mais difícil a tarefa de um ou outro bispo, isoladamente. A cultura religiosa em geral, e a católica, nomeadamente, lida melhor com as almas assustadas, humilhadas e submissas do que com a revolta dos justos. É da sua natureza.


Se a voz da Igreja é a voz de Deus, como defende D. José Policarpo, é estranho como se parece tanto com a voz do primeiro-ministro Passos Coelho.

"Está a fazer-me muita confusão ver, neste anúncio das medidas difíceis que até nos foram impostas por quem nos emprestou dinheiro, que os grupos estejam a fazer reivindicações grupais, de classe, não gosto", afirmou D. José Policarpo na homilia de uma missa que celebrou em Alvorninha, Caldas da Rainha, em Agosto de 2011.

Em 12 de Outubro de 2012 insistia...
RTP/Notícias 12OUT2012

... e, até agora, não consta que o cardeal tenha mudado de ideias.

22.1.13

Mali em contexto (2)

O Mali é uma das nações mais pobres do mundo. Como se isso não bastasse, os combates que decorrem na região obrigam a população a fugir aterrorizada para os países limítrofes.

São conhecidas as barbaridades cometidas por alguns grupos islâmicos extremistas, mas também é sabido que as forças do governo prenderam, torturaram e mataram tuaregs, aparentemente por razões étnicas... apenas.

Em Setembro do ano passado, por exemplo, estas prenderam 16 clérigos que se dirigiam a uma conferência religiosa e executaram-nos sumariamente.


Tudo isto parece explicar a missão “humanitária” que representaria a intervenção internacional naquele país. Mas a incoerência das forças internacionais nestas matérias fazem pensar noutras motivações.

Os interesses norte-americanos no Mali vão realmente para além da questão política. Num contexto em que o governo chinês promove fortemente as suas relações económicas com África, e em que a China é a maior importadora dos produtos do Mali, há quem pense que isto pesa mais nas preocupações do governo dos EE. UU. do que o combate ao terrorismo internacional, naquele país.

Contrariando a tradicional hegemonia dos EUA no continente africano, os países deste continente abastecem em grande quantidade a China, com minério e energia e acolhem cada vez mais investimentos.

Quanto à França, parece que a luta quase pessoal de Hollande contra os combatentes da Al Qaeda colhe popularidade junto da população francesa, embora o coloque numa posição frágil pelo desfecho que ela possa ter, e os partidos políticos à sua direita e à sua esquerda mostrem reservas sobre a preparação e os riscos que esta intervenção apresenta. Mélenchon, na esquerda política, alega inclusivamente, contra esta intervenção, que “os interesses fundamentais da França não estão em causa” no conflito interno do Mali.

Se não são “fundamentais”, que interesses estão em causa no Mali, onde há cerca de seis mil cidadãos franceses, para além da questão da segurança?

O Mali tem a terceira maior produção de ouro na África, o qual é extraído na região sul. E, como se lê numa página electrónica do Ministério da Economia e Finanças de França,
 «La France n’est plus le premier investisseur étranger au Mali, mais reste le partenaire le plus visible par le nombre d’implantations commerciales(...). En 2010, on recense près de 60 filiales et sociétés à capitaux français (participations minoritaires incluses). On dénombre par ailleurs près d’une soixantaine d’investissements privés réalisés par des ressortissants français ou binationaux installés au Mali, dans l’hôtellerie, la restauration, le bâtiment, les services». Indicador não menos significativo é que a Air France tem uma ligação diária por dia com o Mali.

Além de ouro e urâneo, o país possui destacadas reservas de cobre, diamante, manganês, ferro, fosfato e outros metais, além da possibilidade de se tornar importante exportador de petróleo – com a maioria das reservas localizadas na região norte.

A instabilidade no continente africano é tanto mais grave para a França quanto é certo que os países limítrofes do Mali, nomeadamente, são produtores de materiais essenciais à indústria francesa. Esta indústria abastece-se, em grande medida, de energia nuclear, cuja produção depende do urâneo fornecido pelo Niger!

Dos interesses ocidentais instalados na Argélia, mas sobretudo do conflito destes com as forças rebeldes da região, não têm faltado notícias por estes dias nos meios de informação pública.

20.1.13

Mali em contexto

Depois de ter sido colónia francesa até 1961, a que sucederam duas ditaduras, o Mali viveu como país soberano e democrático a partir de 1991.

Nisto teve um papel fundamental o general Amadou Toumani Touré que ficou conhecido como “soldado da democracia”.


Em 1992, Touré negociou a paz com os rebeldes e em 2002 foi eleito presidente. Reeleito em 2007, cumpriria normalmente este mandato até Junho de 2012 se não tivesse ocorrido um golpe de estado apenas a três meses desta data!

Com efeito, em Março daquele ano, um golpe de estado afastava o “soldado da democracia” que era agora acusado pelos revoltosos, de ser frouxo no combate ao avanço do Movimento Nacional pela Liberação de Azawad (MNLA), grupo separatista islâmico da etnia Tuaregue.

De notar que o MNLA concorre na tomada de poder no norte do Mali, com o grupo islâmico Ansar Dine: o primeiro luta pela independência de Azawade, enquanto o segundo pretende introduzir a lei islâmica (sharia) em todo o país, mas defende a integridade territorial do Mali.

Consta que os dois grupos, que não são os únicos, têm ligações com a facção da Al-Qaeda no norte da África, conhecida como Al-Qaeda no Magrebe Islâmico… cuja especialidade é sequestrar ocidentais em troca de resgates!

Intervenção estrangeira

O presidente francês François Hollande afirmou no dia 14 de Janeiro que a intervenção militar no Mali era “a única solução” para “libertar o país” e preservar sua integridade territorial, isto é, impedir que grupos rebeldes islâmicos que já controlam o norte do Mali assumissem o controle de todo o país, transformando o Mali no que ele chamou de "um Estado terrorista" que poderia ameaçar o restante da África e da Europa.


Segundo o governo francês, o próprio governo interino de Mali pediu a ajuda francesa quando os rebeldes avançaram até assumir o controle de Konna.

A iniciativa da França conta já com o apoio da maioria dos países europeus e também dos Estados Unidos. Mas também diversos países africanos começaram a enviar tropas "para ajudar o governo do Mali".

Entretanto, nos meios de comunicação franceses já se manifestaram preocupações com a intervenção, dizendo que ''é fácil entrar, mas difícil sair''. Até porque os próprios oficiais do exército francês admitem que os rebeldes estão mais bem armados e melhor organizados do que se imaginava.

E afinal, o que move realmente todos estes países? É o que tentarei abordar no próximo artigo.

13.1.13

Porque hoje é domingo (30)

Credo ateu

«Creio em Deus-Pai todo poderoso,
criador do céu, da terra» e do mar,
dos anjos alados, de Adão e Eva;
creio nas sereias e na virgem-mãe,
nos textos sagrados, mesmo os mais incríveis.

Creio no Diabo, como manda a Lei,
no fogo do inferno, nas almas a arder,
na ressurreição dos mortos em pelote,
no santo-padre e no santo pote
que é o Vaticano e toda a sua corte.

Creio em «Jesus Cristo que está sentado
à direita do Pai», todo refastelado,
assistindo à guerra, ao sofrimento, à morte,
deixando cada qual à sua sorte,
«para julgar os vivos e os mortos».

E creio que algum dia seremos mais felizes
sem deuses nem pecados nem Papa nem Maria,
sem fogueiras de mêdo e guerras santas
- só o cálice do amor… até às tantas.

Post scriptum:
"De todas as aberrações sexuais, a mais singular talvez seja a castidade."
Rémy de Gourmont

11.1.13

A força de Chavez

A força de Chavez revela-se no ódio que suscita aos sectores mais reaccionários e elitistas do seu país e do estrangeiro, como no amor que lhe dedicam o seu povo e os dirigentes mais progressistas, não necessariamente socialistas, da região latino-americana. (Ver)

Um homem que suscita sentimentos tão profundos e, por outro lado, comentários tão miseráveis na "comunicação social" mundial, entre omissões e deturpações da situação política na Venezuela, merece viver para sempre na nossa memória! Um homem que tão radicalmente encarnou os sentimentos do seu povo, envergonha os seus detractores e exalta os seus seguidores.

5.1.13

Falso missionário português

Neste tempo em que os ratos saltam da barca que se afunda, alguém tem que fazer um retrato desinteressado e inteligente, do governo que temos. A jornalista Sandra Monteiro faz isso no Monde Diplomatique, num texto de que recortei o excerto que segue.

No seu título "Missão Histórica" me inspirei, obviamente, para o nome que dou a este "post".


«... E o drama é este: quanto mais a retórica de Passos Coelho associa a sua governação a uma «missão histórica» que há-de salvar este país de «piegas», mais se percebe que a sua verdadeira missão é transformar os cidadãos em cobaias de um laboratório neoliberal, em que todo o sofrimento social é desprezível. A questão é quando, e como, lhe é retirada esta oportunidade histórica».

Menos contido, eu atrevo-me a lembrar que em outros países, os falsos missionários que se aproveitam da ingenuidade dos crentes, são julgados e punidos. Se isso não acontece com Passos Coelho é certamente porque os prejuízos causados ao povos português são tão avultados que nem ele nem o seu governo nem o seu partido, apesar de tudo, teriam condições para pagar as indemnizações.