27.3.17

De Londres a Barcelos

O que tem de comum o crime de Barcelos e o crime de Londres, e quem diz Barcelos diz Ovar, e quem diz Londres diz Orly?... Um desesperado sentimento de vingança social ou individual, política ou passional, um desprezo pela própria vida, uma coragem irracional.

Um homem sente-se rejeitado por alguém ou por alguma comunidade. Não tem como vencer essa situação. Desespera. Agiganta-se a percepção de estar a ser vítima de uma enorme maldade: afinal ele está a ser traído ou perseguido –convence-se. O ódio empresta-lhe a coragem necessária para uma vingança violenta; a vitimização empresta-lhe a justificação moral.

Por fim entrega-se vivo ou morto. Sabia desde início que a sua vida terminaria com esse acto desesperado. Enterrado num cemitério ou numa prisão, já não lhe interessa – é um suicida. E, afinal, “o indivíduo mata-se para deixar de sofrer”.

O fenómeno não é novo: desde a Idade Média, pelo menos, que os sicários existem e estão longe de ser um fenómeno islâmico. E, em última análise, nem sempre será fácil distinguir certas missões militares de países ocidentais, de suicídios colectivos. Muito menos será fácil distinguir a crueldade jihadista, dos genocídios perpetrados pela Coligação Internacional (Norte-Americana) – que o digam os martirizados povos do Médio-Oriente, isto é, os que ainda puderem falar.


Recorte de jornal recolhido AQUI

23.3.17

Matriz populista

De Hitler a Estaline, de Péron a Fujimori, de Marine Le Pen a Donald Trump, e outros, o populismo não é mais que personalismo e autoritarismo - o que importa é o líder, não a lei.

O populismo vai buscar a sua legitimidade à "vontade popular" que mais não é do que a convicção incutida nas massas por meios retóricos, e assenta o seu funcionamento num sistema unipartidário de facto. É uma forma de ditadura consentida, um regime em que a fé dos cidadãos nas promessas do caudilho dispensa liberdades e direitos.

Lá onde as estruturas convencionais e democráticas se mostram incapazes de satisfazer os anseios das populações, o messianismo emerge para adiar o desespero. Lá onde a corrupção descredibiliza a "classe política", o messianismo emerge para tomar conta do Poder.

GÉMEOS POPULISTAS

«Considera-se que, não sendo estadista mas o líder de uma empresa cujo único objectivo é manter os equilíbrios precários dentro da sua coligação, Fulano não se apercebe de que à segunda-feira diz uma coisa, e à terça diz precisamente o contrário; que, não tendo experiência política nem diplomática, é dado a gafes; que fala quando não deve falar; que deixa escapar afirmações que é obrigado a negar no dia seguinte; que confunde os assuntos privados com os públicos a tal ponto que já se permitiu fazer gracejos de péssimo gosto sobre a sua própria esposa na presença de ministros estrangeiros – e assim por diante.

Neste sentido, a figura de Fulano predispõe-se à sátira; os seus adversários consolam-se muitas vezes pensando que ele perdeu o sentido das proporções, e esperam que Fulano vá correndo atrás da sua própria destruição sem se dar conta».

Não, o Fulano a que se refere Umberto Eco no texto acima, não é Trump, é Berlusconi. E o texto é datado de 2006!
(A Passo de Caranguejo, Ed. Gradiva).

A propósito: já repararam como ambos, Trump e Berlusconi, dominam a Televisão? E como ambos se escondem atrás de um sorriso permanente - um encenado optimismo?



Dir-se-ia que há qualquer coisa de politicamente genético no populismo. Mas não se trata de uma corrente ideológica, trata-se de uma técnica, trata-se de mimética. Trata-se de um método de comunicação inspirado na experiência de vendedor, como Eco refere em relação a Berlusconi e poderia agora referir em relação a Trump se o filósofo não tivesse falecido um ano antes de Donald Trump ser eleito para presidente dos Estados Unidos da América.

22.3.17

São os líderes europeus


Está visto: quando o presidente do Eurogrupo, Dijsselbloem, se desloca aos outros países (à nossa custa!), só se interessa por bares nocturnos. Não admira que tenha dos países do sul da Europa a imagem grosseira que manifestou em entrevista recente.

Lamentamos muito ter que informá-lo que o seu querido Elefante Branco encerrou as suas portas em Dezembro de 2016. Mas pode sempre ir embebedar-se e etc. para outros sítios – afinal “as gajas” não morreram, só mudaram de casa.

Entretanto convém acrescentar que este exemplar da liderança europeia não diz o que disse por descuido - olha quem! Ele prossegue uma dupla estratégia: desviar as atenções da derrocada em curso da sua União Europeia, por um lado, e cavar a separação entre a Europa Boa e a Europa Má, com fins populistas junto da clientela que lhe interessa.

Pensar que o falso Mestre em Economia Empresarial pelo University College Cork da República da Irlanda, fez as declarações que fez por mero acaso, seria de uma perigosa ingenuidade. Espero voltar ao assunto numa próxima reflexão sobre populismos.

20.3.17

Amantes improváveis

o autor
Federico Garcia Lorca (1898-1936) foi o autor escolhido pelo Teatro dos Aloés para iniciar a programação deste ano dedicado à cultura ibérica.

Nome maior da cultura espanhola e universal, homem da poesia, do drama, da pintura, da música, seria barbaramente assassinado pelas tropas franquistas tornando-se assim uma das primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola.

a personagem

Dom Perlimplim, velho com uma alma pura, virginal como um menino, fechado nos seus livros, sem sair de casa, do seu jardim, nunca conheceu a vida. Belisa, a branca Belisa magnificamente bela, não é mais do que um animal sem alma. Indiferente à sua própria crueldade e egoísmo, é no entanto uma personagem atraente porque o são sempre a juventude e a beleza. Marcolfa e a Mãe de Belisa tratam de os unir. Dá-se início a um magnífico ritual dramático de iniciação ao amor.

 Texto transcrito da promoção

5.3.17

Porque hoje é domingo (87)

Dia 5 de Março de 2017

A Igreja tenta a nossa inteligência, o nosso discernimento até, com disparates os mais inverosímeis e infantis.

Neste domingo invoca-se o episódio fantasioso das tentações de Jesus no deserto: “Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.” (Mateus 4:1)

E a gente pergunta, com espanto:
1) tratando-se de um encontro de Jesus com o diabo no deserto, quem o testemunhou para que seja narrado nos Evangelhos oficiais de Mateus, Marcos e Lucas?
2) que sentido tem que “o Espírito” conduzisse Jesus “para ser tentado”? Deus não tinha confiança no seu Filho?
3) que pacto tinha Deus com um tal “diabo” para que entre eles organizassem esta sessão-teste?
4) que coisa é essa, “o diabo”, por quem Jesus aceitava ser interrogado?

“Então o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo…” “Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto…” (Mateus 4:5e8)

Será que vale a pena continuar a analisar o texto “sagrado” em que se baseiam as homilias deste domingo? Não é demasiado ridículo?

Só há uma explicação para que a Igreja mantenha esta narrativa absurda: é que ninguém a leva a sério! Trata-se afinal, na melhor hipótese, de um conluio de mentirosos bem-intencionados que se destina a anestesiar as dores morais ou psicológicas do “povo de Deus”.

Como terá dito Karl Marx em defesa desta tese benigna, trata-se do ópio do Povo.

4.3.17

Abaixo a privacidade

«Aqui está uma questão de regime: tem o parlamento o direito de exigir as comunicações privadas de um ministro, como os SMS? Pode então convocar Domingues, Centeno e Lobo Xavier (e, por via dele, o Presidente) para exibirem os SMS que mandaram ou que viram? Deviam ter pedido os SMS entre Maria Luís Albuquerque e Carlos Costa sobre o Banif? Ou entre Vítor Gaspar e Paulo Portas nas suas demissões? Ou entre Centeno e o primeiro-ministro? Ou entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa?»

Acabo de ler AQUI este interessante raciocínio de Francisco Louçã e ponho-me a imaginar outras espreitadelas que gostaria de fazer. Assim "à primeira", ocorreu-me a troca de mensagens entre Passos Coelho e Miguel Relvas.
Aceitam-se outras ideias! Afinal não é assim que se descobrem... os criminosos?!