2016/07/29

Não há apoios grátis

Hillary Clinton ganhou as eleições primárias do Partido Democrático dos Estados Unidos da América. Não se sabe ainda se ganhará as presidenciais. O que está apurado é que ela não ganhou a América.

Os EUA foram apanhados pela onda inovadora que inunda a Europa: uma onda que varre os partidos convencionais e os políticos tradicionais e que levanta, das profundezas, águas refrescantes.
Bernie Sanders protagoniza esta mudança nos Estados Unidos da América, um horizonte outro, uma esperança para a juventude e os mais desfavorecidos da chamada sociedade das oportunidades.

Com ele emergiu um grito de protesto, uma exigência de democracia real, uma reclamação popular genuína que quer resistir ao refluxo da corrente progressista e disso mesmo dá mostras na forma como reprova o recuo do candidato "Bernie" Sanders. Mas a batalha eleitoral não é a guerra e o combate precisa de estratégia adequada às circunstâncias.

É neste plano que parece situar-se o senador “Bernie”, crítico das políticas externas dos EUA, desde a Guerra do Vietnam até à invasão do Iraque, entre outras, e defensor de políticas públicas de carácter socializante.

Nas eleições primárias em curso, ele obteve expressivos resultados que não chegam, porém, para ganhar a Hillary Clinton. Por isso resolveu expressar o seu apoio a esta candidata, enquanto mal-menor (expressão minha) mas negociando as suas condições, ao que tudo indica, e desta forma fazer pesar os votos que recebeu.


Se o descontentamento de alguns dos seus apoiantes, por esta “traição”, se traduzir em abstenções expressivas e assim der vantagem a Donald Trump, o mundo irá aprender, sabe-se lá com que consequências, quanto custa o radicalismo estúpido – aquele que a direita portuguesa tanto se esforça por cultivar nos caminhos da “geringonça”.

2016/07/24

Não são os bancos

Não são os bancos, são os negócios financeiros que excitam as discussões.

Um capitalismo cada vez menos empreendedor e mais jogador, domina o mundo económico. A defesa da produção e do emprego, para o capitalista típico nunca foi senão a valorização financeira do investimento e a mobilização da força de trabalho necessária àquele objectivo. E o seu investimento nunca foi um acto social mas sim uma operação financeira destinada a multiplicar-se indefinidamente com ostentação e desprezo pela economia, pelo país e pelas pessoas.

É a “crença natural do bicho”, como se diz em tauromaquia.

Para estes toureiros da moeda, qualquer crise financeira própria ou geral só trás mais picante à sua aventura. Qualquer crise social decorrente das políticas que os servem, é uma oportunidade para reforçar o seu exército de corruptos mais ou menos activos, mais ou menos excitados.

2016/07/19

Comparação inoportuna

Talvez não seja oportuno ressuscitar o assunto, mas que esta golpada de Erdogan, na Turquia, faz lembrar o “25 de Novembro” de 1975 em Portugal, com um grupo de aventureiros a fazer uma tempestade num copo de água... emprestado pela Direita, lá isso faz!

Que o “grande educador da classe operária” Arnaldo de Matos ressuscite agora politicamente para apoiar os crimes do “DAESH”, reforça o sentido desta comparação.

Fazer das fraquezas, força, é a última tentativa de qualquer califa falhado. Já não estou a falar do Arnaldo de Matos, por desprezível. Estou a referir-me ao perfil dos imbecis que levam a cabo os genocídios a que temos assistido em nome do chamado Estado Islâmico, e aos seus métodos indigentes.


Esperemos que Cavaco Silva, tão criticado por justas razões, não seja acusado um destes dias por ter dado ideias... a quem não devia.

2016/07/17

Salvemos a biblioteca

Uma interminável biblioteca virtual está em risco de ser desactivada por falta de utilizadores.

As mais famosas obras de Shakespeare a Fernando Pessoa, de Oscar Wilde a Eça de Queirós, de Dante a Camões, de Aristóteles a Machado de Assis, de Cervantes a Gil Vicente… e muitas, muitas outras a que todos temos acesso gratuitamente em nossa casa com um simples "clic" e sem custos, serão “queimadas”, ao que consta, se não fizermos uso do seu sítio domínio público.

Colabore!

Foto de biblioteca recolhida aleatoriamente.

2016/07/13

O homem dos lixos

De passagem, entrei num café onde nunca tinha estado. Um espaço pequeno com um pequeno balcão quase escondido a um canto. Em torno do balcão, os poucos clientes com ar de enfado. Aproximo-me. Peço um café. Sinto o cuidado com que dois deles me facilitam a aproximação. Reparo que ninguém fala e que a minha presença lhes causa estranheza.

O café é-me servido com manifesta deferência. Agradeço, pago, agradece, retiro-me para uma mesa. Na parede, um televisor passa as notícias já muito repetidas em diferentes horários e diferentes canais: fulano disse, cicrano comentou o que fulano disse, beltrano comentou o que cicrano acabava de comentar sobre o que fulano terá dito ou alguém disse que disse.

Um dos presentes, envergando uma farda de trabalhador municipal da recolha de lixos, afasta-se para a porta a fumar um cigarro enquanto quebra o silêncio geral com esta lamúria sem destinatário: “Acabou o futebol, agora temos isto!...”.

E eu percebi que o homem não sabia apenas do lixo que fazem os cidadãos comuns mas também daquele outro com que os chamados orgãos de comunicação social entopem o espaço informativo. Mais: ele resumia em meia dúzia de palavras uma tese de Umberto Eco sobre a ilusão de diversidade que adviria com a multiplicação de canais.

2016/07/08

Europa a arder

Quanto aos aspectos técnicos, a questão das sanções por défice "excessivo", vem escalpelizada - passe a expressão! - no Observador de ontem, 7 de Julho.

Quanto aos aspectos políticos - os que serão decisivos - o ministro das Finanças alemão Wolf(!)gang Shauble, é favorável à imposição de sanções aos dois países ibéricos, enquanto Jean-Claude Juncker, presidente da CE, por exemplo, é contra a aplicação de sanções até pelos efeitos que teria nos mercados e nos juros da dívida.

E a gente diz com Sérgio Godinho: Ai que medo!