Finalmente as artes têm lugar no discurso político.
Vamo-nos habituando a ouvir os governantes dizerem que a política seguida é boa mas "há riscos". E eu penso em Nadir Afonso (em cima) e Vieira da Silva (em baixo).
30.3.12
25.3.12
O nariz de Passos Coelho
Este fim-de-semana, 23 a 25/3, Passos Coelho (PSD) e Carlos Zorrinho (PS) fizeram jus a Boris Vian que dizia: «Se tem pontos negros no nariz, não se olhe ao espelho e eles desaparecerão».
E as estações de televisão fizeram jus a Umberto Eco que denunciou a falácia do pluralismo em televisão, quando previu que a multiplicação de canais (generalistas) não traria tanto de diversidade quanto de repetição, de imitação entre eles. A omni-presença do "líder do PSD" na televisão terá feito inveja a Hugo Chavez, para não exagerar. Um espectáculo obsessivo e demagógico em torno do ocioso Congresso do PSD.
Coelho ao espelho: «No orçamento para 2012 haverá cortes muito substanciais nos sectores da Saúde e da Educação». MAS «Quando fui eleito Primeiro-Ministro nunca pensei que tivesse de anunciar ao País medidas tão severas e tão difíceis de aceitar». É QUE «Um orçamento do Estado é muito mais do que um simples exercício de contabilidade. Nele estão vertidas escolhas políticas fundamentais».
Escolhas ideológicas, opções de classe, para ser mais claro - digo eu.
E as estações de televisão fizeram jus a Umberto Eco que denunciou a falácia do pluralismo em televisão, quando previu que a multiplicação de canais (generalistas) não traria tanto de diversidade quanto de repetição, de imitação entre eles. A omni-presença do "líder do PSD" na televisão terá feito inveja a Hugo Chavez, para não exagerar. Um espectáculo obsessivo e demagógico em torno do ocioso Congresso do PSD.
Coelho ao espelho: «No orçamento para 2012 haverá cortes muito substanciais nos sectores da Saúde e da Educação». MAS «Quando fui eleito Primeiro-Ministro nunca pensei que tivesse de anunciar ao País medidas tão severas e tão difíceis de aceitar». É QUE «Um orçamento do Estado é muito mais do que um simples exercício de contabilidade. Nele estão vertidas escolhas políticas fundamentais».
Escolhas ideológicas, opções de classe, para ser mais claro - digo eu.
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Congresso do PSD,
Passos Coelho,
PS
17.3.12
16.3.12
Da crise de 73 e do resto
A guerra Israelo-Árabe de 1973 que opôs a Síria contra Israel e respectivos aliados, nomeadamente a União Soviética, de um lado, e os EEUU, do outro, levou ao embargo do fornecimento de petróleo aos países ocidentais, por parte dos países árabes membros da OPEC*
Isto fez com que, no Ocidente, os preços do petróleo subissem para o quádruplo, criando custos insuportáveis para a produção e para o consumo, logo, a quebra abrupta do investimento e do emprego, acompanhados de inflação. Mas também fez com que os países produtores de petróleo aumentassem de forma extraordinária os seus rendimentos.
Se os efeitos desta crise começaram a deixar de se fazer sentir a partir de 1983, o que há a reter é que o desemprego, esse, continuou elevado por mais alguns anos. E se os países produtores de petróleo enriqueceram muito naquele período, isso nem sempre beneficiou a respectiva população mas sim a sua classe dirigente. Isto é, tanto a crise como a sua superação podem ser vistas como oportunidades, sim, mas não para todos, é para a minoria que detém o poder.
Há qualquer coisa de fatalista nesta lição da História, mas que pode ser vista de outra maneira: as classes exploradas só ganham as crises económicas quando ganham o poder político e não quando ajudam os outros a mantê-lo! Estas são as suas oportunidades.
Falar sobre as formas como estes ganham poder – se não o poder – já seria ocioso para um universo de leitores com acesso à Informação e à intervenção cívica. A questão é saber se merecemos esses acessos quando vemos, na tal Síria, como lutam por ele, morrem por ele, tantos sírios.
*OPEC: Organization of Arab Petroleum Exporting Countries. À época, faziam parte o Irão, Iraque, Kuwait, Arabia Saudita e Venezuela, fundadores, e ainda o Qatar, Indonésia, Líbia, Emirados Árabes Unidos, Argélia, Nigéria e Equador.
Isto fez com que, no Ocidente, os preços do petróleo subissem para o quádruplo, criando custos insuportáveis para a produção e para o consumo, logo, a quebra abrupta do investimento e do emprego, acompanhados de inflação. Mas também fez com que os países produtores de petróleo aumentassem de forma extraordinária os seus rendimentos.
Se os efeitos desta crise começaram a deixar de se fazer sentir a partir de 1983, o que há a reter é que o desemprego, esse, continuou elevado por mais alguns anos. E se os países produtores de petróleo enriqueceram muito naquele período, isso nem sempre beneficiou a respectiva população mas sim a sua classe dirigente. Isto é, tanto a crise como a sua superação podem ser vistas como oportunidades, sim, mas não para todos, é para a minoria que detém o poder.
Há qualquer coisa de fatalista nesta lição da História, mas que pode ser vista de outra maneira: as classes exploradas só ganham as crises económicas quando ganham o poder político e não quando ajudam os outros a mantê-lo! Estas são as suas oportunidades.
Falar sobre as formas como estes ganham poder – se não o poder – já seria ocioso para um universo de leitores com acesso à Informação e à intervenção cívica. A questão é saber se merecemos esses acessos quando vemos, na tal Síria, como lutam por ele, morrem por ele, tantos sírios.
*OPEC: Organization of Arab Petroleum Exporting Countries. À época, faziam parte o Irão, Iraque, Kuwait, Arabia Saudita e Venezuela, fundadores, e ainda o Qatar, Indonésia, Líbia, Emirados Árabes Unidos, Argélia, Nigéria e Equador.
10.3.12
Cavaco e a democracia
Economista, logo homem de contabilidades, Cavaco Silva fez Balanço. Mas não foi no Deve nem foi no Haver que despejou a lágrima piegas de um presidente ensimesmado; foi no Termo de Abertura, no prefácio.
Que José Sócrates, anterior 1º Ministro, terá pecado (PEC IV) por «falta de lealdade institucional que ficará registada na história da nossa democracia», já que não informou previamente o professor de Belém do que ia propor às instituições europeias. Cousa que data do tempo em que Sócrates falava, imaginem.
E esta preocupação de Cavaco Silva com a democracia, fez-me lembrar a forma como ele procedeu, como Primeiro-Ministro, quanto à “aprovação” do Tratado de Maastricht. Alguns países fizeram depender a aprovação, de um referendo popular. Em Portugal, figuras políticas destacadas defenderam e insistiram que se fizesse um referendo – desde o líder do CDS/PP, Manuel Monteiro, até ao Presidente da República, Mário Soares. Mas Cavaco Silva opôs-se!
Ficou «registado na história da nossa democracia»!
Que José Sócrates, anterior 1º Ministro, terá pecado (PEC IV) por «falta de lealdade institucional que ficará registada na história da nossa democracia», já que não informou previamente o professor de Belém do que ia propor às instituições europeias. Cousa que data do tempo em que Sócrates falava, imaginem.
E esta preocupação de Cavaco Silva com a democracia, fez-me lembrar a forma como ele procedeu, como Primeiro-Ministro, quanto à “aprovação” do Tratado de Maastricht. Alguns países fizeram depender a aprovação, de um referendo popular. Em Portugal, figuras políticas destacadas defenderam e insistiram que se fizesse um referendo – desde o líder do CDS/PP, Manuel Monteiro, até ao Presidente da República, Mário Soares. Mas Cavaco Silva opôs-se!
Ficou «registado na história da nossa democracia»!
7.3.12
Os fantasmas de Israel
No passado dia 5 de Março, o primeiro-ministro israelita, Binyamin Netanyahu encenou com Barack Obama um drama de mau gosto. Foi no teatro da Casa Branca.
A peça era para se chamar “Os fantasmas de Israel”, mas para evitar conotações com o holocausto da segunda guerra mundial que foi demasiado real, resolveram chamar-lhe “Agarra-me! Se não, eu mato-o”.
Em cena, além das duas personagens já mencionadas, um gasoduto – e lá voltam as conotações indesejadas – que aqui nos remetem para o tubo que abastece de gás, Israel e a Jordânia, e que tem sofrido muitos ataques por egípcios, alegadamente.
Alegadamente é palavra que Netanyahu dispensa quando desenvolve a intriga sobre a criação de armas nucleares no Irão. Na sua ingenuidade, Barack Obama, presidente dos Estados Unidos por engano, concorda amavelmente com o colega israelita, alegando que o Irão, se quer ter armas atómicas, pode comprar… a Israel, daquelas que este não conseguiu vender à África do Sul no tempo do apartheid - lembram-se? Os Estados Unidos também as tem à vista… desarmada, mas não há que tratar de forma igual o que é desigual e tal.
Pois é isso mesmo – confirmou Netanyahu. – A diferença é que nós somos países confiáveis e eles não.
Em todo o caso – retorquiu o presidente americano – os EEUU não estão interessados em desencadear agora um ataque ao Irão…
Que não tinha importância – anuiu o outro. – Desde que os EEUU continuem a subsidiar-nos anualmente com os biliões do costume, a gente trata de tudo. Afinal Israel deve assumir as suas decisões independentemente das posições dos outros estados.
Aqui, Obama tem uma representação brilhante quando engole em sêco. Nem Putin a chorar com a aclamação eleitoral. O público explode em aplausos e o espectáculo termina. Ouvem-se brados: Yahu, yahu...! Netanyahu vem à boca de cena agradecer.
NOTA:
Qualquer semelhança com a realidade, é pura coincidência.
A peça era para se chamar “Os fantasmas de Israel”, mas para evitar conotações com o holocausto da segunda guerra mundial que foi demasiado real, resolveram chamar-lhe “Agarra-me! Se não, eu mato-o”.
Em cena, além das duas personagens já mencionadas, um gasoduto – e lá voltam as conotações indesejadas – que aqui nos remetem para o tubo que abastece de gás, Israel e a Jordânia, e que tem sofrido muitos ataques por egípcios, alegadamente.
Alegadamente é palavra que Netanyahu dispensa quando desenvolve a intriga sobre a criação de armas nucleares no Irão. Na sua ingenuidade, Barack Obama, presidente dos Estados Unidos por engano, concorda amavelmente com o colega israelita, alegando que o Irão, se quer ter armas atómicas, pode comprar… a Israel, daquelas que este não conseguiu vender à África do Sul no tempo do apartheid - lembram-se? Os Estados Unidos também as tem à vista… desarmada, mas não há que tratar de forma igual o que é desigual e tal.
Pois é isso mesmo – confirmou Netanyahu. – A diferença é que nós somos países confiáveis e eles não.
Em todo o caso – retorquiu o presidente americano – os EEUU não estão interessados em desencadear agora um ataque ao Irão…
Que não tinha importância – anuiu o outro. – Desde que os EEUU continuem a subsidiar-nos anualmente com os biliões do costume, a gente trata de tudo. Afinal Israel deve assumir as suas decisões independentemente das posições dos outros estados.
Aqui, Obama tem uma representação brilhante quando engole em sêco. Nem Putin a chorar com a aclamação eleitoral. O público explode em aplausos e o espectáculo termina. Ouvem-se brados: Yahu, yahu...! Netanyahu vem à boca de cena agradecer.
NOTA:
Qualquer semelhança com a realidade, é pura coincidência.
4.3.12
Solução para a crise
O que se faz actualmente na União Europeia, a pretexto de eliminar o prejuízo ("défice") e combater o desemprego, não alcança um objectivo nem o outro – aumenta as dívidas dos países membros, cria e aprofunda a recessão económica, favorece o desemprego, degrada as remunerações e condições dos trabalhadores.
Mas, se não tivesse vantagens para ninguém, este caminho não seria iniciado ou prosseguido. Por alguma razão os seus autores e actores lhe chamam política responsável!
O facto é que esta estratégia configura uma nova etapa, uma segunda vaga no projecto CEE/União Europeia.
A primeira vaga tratou de construir uma muralha ideológica para defesa do capitalismo contra o socialismo. Como afirmava na sua imprudência verbal, a ex-ministra Manuela Ferreira Leite, «O chamado “estado social” surgiu como necessidade da Europa fazer frente a um bloco comunista que era necessário combater, sendo que não era possível fazê-lo criando riqueza e não dar protecção social aos trabalhadores. Isto ocorreu a seguir à 2ª Guerra Mundial, na Europa em geral, e em Portugal depois da instauração da Democracia». (1)
Esgotados os recursos artificiais e virtuais com que o capitalismo pagava a sua propaganda de bem-estar, houve que iniciar um novo ciclo estratégico: assumir a crise económico-financeira como um efeito incontornável do devir histórico, da Globalização, e culpabilizar directamente os países pobres da região e os seus trabalhadores – os PIGS, os preguiçosos e, na linguagem de Passos Coelho, os “piegas”. Foi assim como amarrar um tipo e, depois, acusá-lo de não sair do sítio. No essencial, enfim, tratou-se de encobrir a fraqueza do sistema.
A estratégia foi facilitada, há que mencioná-lo, com a derrota do domínio soviético que não teve a mesma habilidade ou capacidade de sobrevivência à crise mundial dos anos oitenta. Mas também é verdade que o processo gerou de facto um nível de desenvolvimento económico e de vida das populações que deixou a experiência do “socialismo real” sem argumentos convincentes para defender-se, resistindo apenas, politicamente, na medida da repressão interna.Se a derrocada soviética abria espaço, aparentemente, para a expansão dos interesses da União Europeia, já os interesses nacionais e até as raízes do socialismo – os interesses da classe trabalhadora - continuavam a opor-se às suas pretensões desmesuradas. E para arrefecer ainda mais a ambição da nova europa, assiste-se com pasmo à rápida emergência de novas potências, os BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China).
Nada que leve a entornar o caldo da UE quando a sua missão evangelizadora pode manter-se intacta. Afinal, nada disto põe em perigo o capitalismo e a hegemonia dos países do Norte da Europa. Pelo contrário, a chegada da China ao casino vem até reforçar o prestígio do sistema. Mais, vem até favorecer as políticas de degradação das condições de remuneração e trabalho dos europeus – muito conveniente!.
Até que, de repente, alguém repara nos cadáveres apinhados pelas ruas, isto é, nas filas de desempregados, nas filas de empresas falidas, nas filas de casas à venda, nas filas de pobres envergonhados…, e pergunta: e agora quem é que compra os produtos que nós temos para vender, quem é que deposita as suas poupanças nos nossos bancos, quem é que paga os nossos juros, quem é que paga impostos?
Mas, se não tivesse vantagens para ninguém, este caminho não seria iniciado ou prosseguido. Por alguma razão os seus autores e actores lhe chamam política responsável!
O facto é que esta estratégia configura uma nova etapa, uma segunda vaga no projecto CEE/União Europeia.
A primeira vaga tratou de construir uma muralha ideológica para defesa do capitalismo contra o socialismo. Como afirmava na sua imprudência verbal, a ex-ministra Manuela Ferreira Leite, «O chamado “estado social” surgiu como necessidade da Europa fazer frente a um bloco comunista que era necessário combater, sendo que não era possível fazê-lo criando riqueza e não dar protecção social aos trabalhadores. Isto ocorreu a seguir à 2ª Guerra Mundial, na Europa em geral, e em Portugal depois da instauração da Democracia». (1)
Esgotados os recursos artificiais e virtuais com que o capitalismo pagava a sua propaganda de bem-estar, houve que iniciar um novo ciclo estratégico: assumir a crise económico-financeira como um efeito incontornável do devir histórico, da Globalização, e culpabilizar directamente os países pobres da região e os seus trabalhadores – os PIGS, os preguiçosos e, na linguagem de Passos Coelho, os “piegas”. Foi assim como amarrar um tipo e, depois, acusá-lo de não sair do sítio. No essencial, enfim, tratou-se de encobrir a fraqueza do sistema.
A estratégia foi facilitada, há que mencioná-lo, com a derrota do domínio soviético que não teve a mesma habilidade ou capacidade de sobrevivência à crise mundial dos anos oitenta. Mas também é verdade que o processo gerou de facto um nível de desenvolvimento económico e de vida das populações que deixou a experiência do “socialismo real” sem argumentos convincentes para defender-se, resistindo apenas, politicamente, na medida da repressão interna.Se a derrocada soviética abria espaço, aparentemente, para a expansão dos interesses da União Europeia, já os interesses nacionais e até as raízes do socialismo – os interesses da classe trabalhadora - continuavam a opor-se às suas pretensões desmesuradas. E para arrefecer ainda mais a ambição da nova europa, assiste-se com pasmo à rápida emergência de novas potências, os BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China).
Nada que leve a entornar o caldo da UE quando a sua missão evangelizadora pode manter-se intacta. Afinal, nada disto põe em perigo o capitalismo e a hegemonia dos países do Norte da Europa. Pelo contrário, a chegada da China ao casino vem até reforçar o prestígio do sistema. Mais, vem até favorecer as políticas de degradação das condições de remuneração e trabalho dos europeus – muito conveniente!.
Até que, de repente, alguém repara nos cadáveres apinhados pelas ruas, isto é, nas filas de desempregados, nas filas de empresas falidas, nas filas de casas à venda, nas filas de pobres envergonhados…, e pergunta: e agora quem é que compra os produtos que nós temos para vender, quem é que deposita as suas poupanças nos nossos bancos, quem é que paga os nossos juros, quem é que paga impostos?
Ufa, estas reflexões deprimem-me. Que diabo, nós não estamos em 1929. Para esquecer tudo, entro no hotel mais alto de onde espero desfrutar uma vista relaxante, e peço um quarto no último andar. O empregado, com irrepreensível profissionalismo, quer saber:
- É para dormir ou para se atirar da janela?
Só então compreendi que, afinal, há uma solução para a crise do capitalismo.
(1) Março 2012 TVI – Programa “Olhos nos Olhos”
Etiquetas:
capitalismo,
Crise económica,
socialismo,
UE
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