30.11.14

Porque hoje é domingo (61)


Vigiai !

As palavras seguintes terão sido pronunciadas por Jesus (Mc 13:33-37). A elas se referem as missas católicas deste domingo. Esperemos que duma forma conveniente, tendo em conta os dias que vivemos!...

«Olhai, vigiai e orai, porque não sabeis quando chegará o tempo. É como se um homem, partindo para fora da terra, deixasse a sua casa, e desse autoridade aos seus servos e, a cada um, atribuísse a sua tarefa, e mandasse ao porteiro que vigiasse. Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo. E as coisas que vos digo digo-as a todos: Vigiai.»

Quanto ao conteúdo propriamente religioso, o costume: a Igreja insiste em amedrontar os crentes para submetê-los às suas orientações; cumpre a sua função histórica de controlar os comportamentos das pessoas e das sociedades, prisioneiras do medo do Inferno e obcecadas pela "salvação eterna" seja lá isso o que for. Entretanto, quem se vai salvando, são os profissionais da religião com os seus ordenados e as suas mordomias.

28.11.14

corrupções, eleições e sugestões

Rebentam quase diariamente os escândalos de corrupção, seja em forma de indício, de averiguação ou de julgamento. Na Europa, por exemplo, é assim em Itália, em Espanha, em Portugal…

Os casos são denunciados, as leis são aplicadas, os códigos são aperfeiçoados, os culpados são, por vezes, condenados. Há políticos que se demitem, há acusados que se suicidam e há juízes que precisam de andar com guarda-costas.

Há dois dias, Rajoy respondia à situação em Espanha, com um vasto pacote de medidas legislativas a que chamou “Medidas de Regeneración Democrática”, em boa medida focadas nos critérios de financiação dos partidos políticos! Foi acusado pelas oposições, de querer esconder com medidas legislativas o que são as más práticas concretas da governação, e de interferir na organização interna dos partidos.

Do pacote proposto ao parlamento destaco ainda, entre outros, um capítulo dedicado à declaração pública do património, rendimentos e despesas dos titulares de altos cargos do Estado, e um outro que propõe o “reforço de meios” para a Administração da Justiça, para a Agencia Tributária (contra a fraude) e para a verificação de conflitos de interesses.

A tudo isto, as oposições, sempre apostadas em contrariar as mais “benévolas intenções” dos governos, denunciaram a hipocrisia das propostas, referindo que o Governo já podia ter adoptado todas aquelas medidas há muito tempo se tivesse genuína vontade de implementá-las.

Ora aqui está uma fonte de inspiração para a campanha eleitoral de Passos Coelho e para a resposta das oposições no mesmo domínio! Mas depois não digam que esta revelação antecipada é fuga de informação.

18.11.14

Princesa republicana


Para ser quem é e para ter o que tem, Isabel dos Santos não precisava de estudar e trabalhar. Isso não pode ser dito de todas as princesas... republicanas.

Depois - ou antes? - aquele sorriso jovial, aquela simpatia genuína, conquistaria facilmente o coração e a fortuna que ela quisesse, sem ter que ser filha do Presidente de Angola.

Herdou uma situação económica privilegiada? Não sei se isso é para ela assim tão importante como para os seus detractores - tão reverentes, geralmente, às princesas monárquicas.

Segundo António Costa, director do Diário Económico, citado em wikipedia, «Isabel dos Santos investe em Portugal há anos, e tem participações que são geridas de forma profissional, com a indicação de gestores profissionais, com o perfil que se exige a empresas cotadas e mercados desenvolvidos. É o caso da NOS e do BPI, por exemplo, e não há notícia, em nenhuma das empresas, de problemas com a accionista Isabel dos Santos. Pelo contrário, porque não só investe, como abre mercados às empresas onde tem capital».

16.11.14

Limpeza electrónica não é problema

O director do SIS responde a "Perguntas Frequentes" que se colocam no âmbito da segurança económica. Uma dessas questões é a seguinte:
(...) - Como posso aumentar o nível de segurança nas minhas comunicações?
- Deverá fazer uma “limpeza eletrónica” de forma periódica aos seus equipamentos e instalações. Por outro lado, recomendamos que tome particular cuidado ao teor das conversas que tem ao telemóvel/telefone.


Dando de barato a banalidade das respostas, cabe ainda perguntar qual é o problema que leva à acusação do director do Serviço de Informações de Segurança (SIS), "fotografado na companhia de mais dois funcionários deste serviço, (em Maio) quando tentavam detectar escutas no gabinete de António Figueiredo, director do Instituto dos Registos e Notariado (IRN)? Pelo menos esta será certamente a linha de defesa do director Horácio Pinto, apontado como suspeito no caso dos Vistos Gold.

Aliás, o Programa de Segurança Económica (PSE) afecto ao SIS, esclarece, textualmente:


que O roubo do know-how e de informação reservada duma organização – incluindo processos de inovação, de pesquisa e desenvolvimento, de produção, de distribuição e de promoção, planos e estratégias empresariais ou propostas em concursos – é um acto de concorrência desleal que se traduz em prejuízos significativos para as empresas e para o país.

e que "o Programa de Segurança Económica (PSE) tem como objectivo a defesa dos Interesses Económicos Portugueses face a ameaças estrangeiras.
Com efeito, o PSE pretende contribuir para o reforço da segurança das organizações nacionais, dotando-as de recursos e de conhecimentos que permitam, essencialmente de forma preventiva, identificar ameaças e defender os seus interesses. Defendendo os interesses dos agentes económicos nacionais, protege-se a economia e a segurança de Portugal. De entre as diversas ameaças que podem interferir com os Interesses Económicos Portugueses salienta-se a espionagem económica".


Além destas duas declarações, vale a pena citar ainda esta afirmação na primeira pessoa:

"Considero importante que as pessoas que trabalham nos sectores público e privado estejam conscientes dos riscos e das ameaças a que estão sujeitas e que estejam melhor preparadas para os enfrentar. É, pois, meu desejo que o Programa de Segurança Económica contribua para fortalecer os laços entre o SIS e a sociedade civil e para prevenir e diminuir os riscos decorrentes das actividades contrárias aos Interesses Nacionais.
Director do SIS
(em: http://www.pse.com.pt/)


Enfim, se há nomes que parecem metidos à força neste processo e que só vêm complicar o labirinto, eles são certamente Marques Mendes, Horácio Pinto e Miguel Macedo. Isto é: nem Marques nem Pinto nem Marques Pinto, digo, nem Miguel Macedo parecem sair molhados deste aguaceiro. Tirando estes, ainda há uma "equipa de futebol" inteira em jogo.

11.11.14

anexar ou reunificar

A reaparição de Michael Gorbatchov, agora para comemorar com Merkel a queda do muro de Berlim em Novembro de 1989, e as referências dele a Putin, fizeram-me pensar se lhe terá ocorrido uma comparação com o que aconteceu na Crimeia em Março de 2014.

Isto é, será que a integração da República Democrática da Alemanha na república Federal Alemã foi uma “anexação”, ou a integração da Crimeia na Rússia foi uma “reunificação”?

Pela minha parte, penso que ambas as integrações foram legítimas, independentemente das circunstâncias históricas que as "desintegraram" originalmente. A abertura do dique, num e noutro caso, mostrou em que sentido corria a torrente popular.

9.11.14

Porque hoje é domingo (60)

A Igreja Católica invoca neste dia o episódio em que Jesus expulsa os vendilhões do Templo: «Não façais da casa de meu Pai uma casa de negócio»*. E “proibiu” qualquer tipo de comércio no Templo - mesmo que isso arruinasse os sacerdotes.**

Não é difícil perceber que o Filho de Deus deixava um recado aos portugueses do século XXI. Basta pensar que o tempolo dos cidadãos é o seu país e que os vendilhões são os vendedores do património nacional.


Alguém tem que juntar as cordas da sociedade, as vontades dispersas de mudança, e com elas fazer um chicote com que vergastar os vendilhões da Pátria, do País, da Nação – como queiram chamar-lhe. Não importa qual seja a sua igreja, desde que seja patriota, desde que o castigo infligido aos “cambistas” seja para restituir ao Povo o que lhe pertence – património, cultura, dignidade.

Alguém tem que enfrentar com risco e coragem os sacerdotes do capitalismo, ameaçados nos seus privilégios directos ou indirectos – os próprios capitalistas ou os seus propagandistas. Alguém tem que restituir ao Povo o que é do Povo, à Nação o que é da Nação. E já não pode ser Lenine. Nem Álvaro Cunhal.



E a quem se reclama de ser Livre, há que perguntar:
- livre para quê? Para servir o governo que vier?


notas
O quadro "Expulsão dos Vendilhões do Templo" é de Rembrandt.
* (João 2:15-16) ** (Mc 11:16)

8.11.14

Xanana e os amigos

Não acabará Xanana por compreender, mais tarde ou mais cedo, que foi vítima de um fogo cruzado de interesses, e que os verdadeiros amigos de Timor foram os magistrados portugueses que ele, de forma tão lamentável, expulsou?

6.11.14

Quem julga os juízes (em Timor-Leste)

Quis custodiet ipsos custodes?, questionava Juvenal


Na circunstância de Timor-Leste expulsar seis magistrados e um polícia portugueses que trabalhavam para aquele Estado, por convite directo deste, é caso para perguntar:

- Se os profissionais portugueses eram “incompetentes” ou "inexperientes", como designar quem os seleccionou?

- Se os profissionais portugueses “puseram em causa os interesses do Estado” por aplicarem as leis e os acordos do Governo, de que hão-de ser acusados os que fizeram essas leis e esses acordos?

A propósito ou não, seguem duas notícias de fonte oficial timorense.

NOTÍCIA 1

Em 18 de Setembro de 2014, o embaixador de Portugal em Timor-Leste, dr. Manuel Gonçalves de Jesus, teve um encontro formal com representantes da Comissão Anti- Corrupção (CAC) de Timor-Leste.

Essa reunião propunha-se discutir a possibilidade de iniciar um programa de cooperação entre esta CAC, a Polícia Judiciária de Portugal e a Procuradoria Geral timorense, nas áreas da prevenção e investigação dos crimes de corrupção.

(Observação deste blog: À mesa havia 6 garrafas de litro e meio de água mineral).

NOTÍCIA 2

Entre os dias 16 de outubro e 11 de dezembro decorre em Timor-Leste um Ciclo de Conferências com o tema “Otimização de recursos para o reforço da independência nacional” organizado pelo Instituto da Defesa Nacional (IDN) de Timor.

Os oradores, “que contam com uma vasta experiência”, são de Portugal

4.11.14

O ministro é um fingidor

É o talento próprio e a oportunidade que faz de um tímido escriturário, um escritor, de um marinheiro, poeta, de um livreiro, dramaturgo, e assim por diante. É o talento.

Quem ensinou o Fernando Pessoa a ler e a escrever – e, quem diz Pessoa, diz Bocage, diz Eça, diz Ramalho, Torga, Agustina, Saramago – quem ensinou a estes, digo eu, também ensinou muitos outros que, no entanto, pairaram sem brilho ou sem talento, anónimos, discretos funcionários, operários, jogadores de futebol, polícias, bombeiros, médicos, engenheiros, a quem a Literatura nada deve.


O mesmo acontece na política. Há gente que ensina, que aconselha, que diz como se diz, como se faz, mas é preciso ter alma ou sangue ou tripas, sei lá eu, para conquistar o “trono” que é, em democracia, o coração dos eleitores.

É preciso sentir, para fazer sentir; é preciso acreditar, para fazer acreditar. E não é porque o treinador de Passos, o mandou ultimamente jogar ao ataque, que a sua equipa vai ganhar o jogo. Posto a jogar num lugar em que não acredita, fará pior figura ainda do que se mostrasse a apatia no meio das tormentas, como costumava fazer.


O Seguro morreu de velho, de cansado, tanto foi o esforço teatral da sua representação. Passos Coelho corre o risco de nos cansar a todos com tanto fingimento. É que, para voltar a Fernado Pessoa, o Coelho “é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir que é dor (o desprezo) que deveras sente”... pela gente.

2.11.14

Porque hoje é domingo (59)

... dia de finados

Por mais incrível que pareça, a história que hoje se invoca é, para mim, uma das mais credíveis de todas quantas nos falam os Evangelhos – e não digo isto com ironia. 

Conta-nos São João (Jo11,17-27) que estando Lázaro morto e sepultado, Marta comenta para Jesus: “Senhor, se estivesses aqui o meu irmão não teria morrido.” E que, depois deste desabafo angustiado, Jesus trouxe Lázaro de novo para a vida.



“La Résurrection de Lazare” de Mattia Preti (séc. XVII)

Em vez da rejeição imediata e fácil desta ideia de que alguém possa ressuscitar, uma ideia que parece absurda e só consentida no domínio religioso, há gente que estuda o assunto de forma desapaixonada e ideologicamente desinteressada, reunindo testemunhos credíveis, comparando-os, analisando-os.


Também José Rodrigues dos Santos, escritor e jornalista, aborda o assunto na sua obra mais recente, “A Chave de Salomão” onde a ficção deve muito à realidade, segundo afirmou o próprio autor que terá recolhido vários testemunhos..

A meu ver, a questão que se coloca no plano intelectual, é a seguinte: será que a morte é reversível?; será que a morte não é o fim? Isto é, em última análise: será que o conceito de morte tem que ser revisto?


Se assim for, talvez ganhe um sentido novo e inesperado a corrida aos cemitérios neste dia "de finados". E até os mais casmurros dos descrentes, como eu, vão algum dia engrossar a peregrinação aos cemitérios.