22.4.13

paradoxo norte-americano

Criticando as propostas legislativas de Obama contra o acesso indiscriminado de armas, para combater a criminalidade violenta nos Estados Unidos da América, oinsurgente.org  “recomenda” que, nessa ordem de ideias, “os legisladores norte-americanos deverão impor aos comerciantes a obrigatoriedade de verificarem os antecedentes judiciais e psiquiátricos dos seus clientes antes de venderem… panelas de pressão".

Vale pelo humor, mas como as panelas de pressão só são usadas como armas, quando associadas a explosivos, o controlo destes continua a fazer sentido.


Porém há um aspecto que valeria a pena considerar, acima de tudo: é que as armas não se disparam sozinhas, são disparadas por pessoas. Isto é, os norte-americanos que revejam a sua cultura  do “salve-se quem puder”, do egoismo, da concorrência, da arrogância, do culto das armas e do intervencionismo, que são a pólvora da sua insegurança.

No dia em que a solidariedade dos povos valer mais para os mentores da política norte-americana, do que o domínio militar, começará o combate eficaz à violência.

21.4.13

Porque hoje é domingo (37)

No evangelho de hoje (João 10, 27-30), Passos Coelho apresenta-se como o Pastor, aquele que cuida de nós, que cura nossas feridas financeiras, que nos ampara quando a austeridade parece impossível de suportar: “Não sejais piegas; vede como os passarinhos vivem felizes sem casa, sem carro, sem televisão, sem escola – voam, cantam e mijam sem nada exigirem do Governo”.

“Eu e o pai somos um” - é uma afirmativa de Jesus no evangelho deste domingo, que é como Vitor Gaspar a falar de Passos Coelho ou este a falar da Merkel ou a Merkel a falar dos especuladores financeiros.

E nós que somos o seu povo e o seu rebanho, deviamos louvar a sua coragem e a sua sabedoria, mas ao invés temos vergonha de dizer que o amamos, que votámos nele, que por ele sacrificaremos os nossos filhos e netos.

Em vez disso pensamos em David quando ainda pastor, que quando via o seu rebanho atacado pelo lobo, se atirava sobre ele e o estraçalhava com a força do seu braço e dos seus dentes. Não percebemos que os deuses escrevem direita por linhas tortas, isto é, combatem o desemprego, desempregando, e recuperam a economia, empobrecendo…

Como somos ingratos. Mereciamos que os nossos nomes fossem escarrapachados na internet em vez das matrículas dos automóveis dos clientes das prostitutas, como fazem as “esposas de Viseu”, para assumirmos de vez a nossa perfídia ou mudarmos finalmente de comportamento.

19.4.13

O presidente
«de todos os portugueses»


Na inauguração da Feira Internacional do Livro de Bogotá, em que Portugal é o país convidado, foram lembrados vários nomes de grandes escritores portugueses no discurso de inauguração do pavilhão português. Cavaco Silva referiu-se a Camões como o maior dos poetas e o chefe de Estado da Colômbia, João Manuel Santos, lembrou Fernando Pessoa.

Notada foi a ausência de qualquer referência, por parte de Cavaco Silva, a José Saramago, o único Nobel na literatura portuguesa.



Cavaco Silva, põe os seus interesses pessoais acima dos interesses de Portugal.

17.4.13

Direita ataca na Venezuela

Grupos radicais associados à direita venezuelana, incendiaram várias sedes do Partido Socialista da Venezuela e desenvolveram outras acções violentas contra pessoas e instalações, nomeadamente contra habitações que foram atribuidas pelo Governo ás famílias mais carenciadas e contra as residências de funcionários da Comissão Eleitoral. Já foram apurados sete mortos e 61 feridos graves.

Entre os alvos da violência da direita estão instalações hospitalares, mas também médicos cubanos que apoiam os serviços de saúde da Venezuela.

Num confronto, pelo menos, dos que ocorreram contra hospitais, assistia-se a uma situação insólita: os agressores que saíam feridos do confronto, terão sido assistidos pelos próprios médicos que estavam a ser atacados!

Tendo os resultados eleitorais do passado domingo, dado a vitória ao candidato “chavista” Nicolás Maduro, o seu opositor de direita Henrique Capriles Radonski, inconformado, incentivou os seus adeptos a manifestarem de forma veemente o seu protesto nas ruas: “descarreguem a vossa raiva”, “salgan con arrechera”. Que o fizessem de forma pacífica, batendo em panelas, eram palavras que a sua linguagem corporal desmentia. E o efeito do seu apelo foi trágico.
Face à exigência de recontagem dos votos, que serviu de pretexto a estas acções violentas, um representante das autoridades perguntou: Porque não apresentam a vossa pretenção junto de quem têm que fazê-lo, o Conselho Nacional Eleitoral?

Na próxima sexta-feira, 19, realiza-se a tomada de posse do novo presidente, a que assistirão, pelo menos, representantes de 15 países, entre os quais se contam a China, o Irão, e a Arábia Saudita.

Porque nada disto ocorre na América… do Norte, ou porque faça lembrar os métodos da direita portuguesa a seguir ao 25 de Abril, é assunto tabu nas nossas estações de televisão. Pudera, com tantas exéquias por Santa Margaret, há lá tempo!

15.4.13

Portugal e o bloqueio

O desaparecimento do bloco socialista europeu no contexto do bloqueio económico imposto pelos EEUU, deixou Cuba, de um dia para o outro, sem o seu principal fornecedor de alimentos e petróleo.

Uma das medidas do Governo para fazer face à crise de transportes decorrente da falta de combustível, foi a importação de mais de um milhão de bicicletas para que os cubanos pudessem deslocar-se, bem como a instituição da boleia generalizada com caracter obrigatório para as viaturas oficiais, e caracter facultativo para as particulares.

Por seu lado, a escassez de alimentos só podia ser "resolvida" com a fome e doenças associadas.

Segundo New England Medicine em 1995, o pior efeito foi uma epidemia de “neuritis óptica” e polineuropatia periférica provocada por nutrição inadequada e falta de vitaminas como o complexo B. Dezenas de milhares de pessoas foram afectadas. A mortalidade materno-infantil aumentou substancialmente.

Mas Portugal não depende da URSS, só depende da Alemanha. E não está sujeito a um bloqueio económico. Ou está?

13.4.13

Passos Coelho vira socialista

Lembram-se do recente fluxo de cartas enviadas à troika por eminentes dirigentes políticos portugueses? Para não deixar morrer o folhetim, reproduzo o início de uma carta de Passos Coelho ao seu homólogo chinês, em 18 de Março de 2013, conforme se divulga AQUI de forma integral.

Sua Excelência Li Keqiang,
primeiro-Ministro do Conselho de Estado
da República Popular da China

Excelência,
Quero em nome do Governo de Portugal e no meu próprio, apresentar a Vossa Excelência sinceras felicitações pela sua eleição para o cargo de Primeiro-Ministro da República Popular da China, formulando os votos de maiores êxitos para o mandato que agora vai iniciar.

Em poucas décadas a China tem operado transformações de enorme alcance a uma velocidade inédita. Os resultados positivos desta transformação são o maior testemunho da capacidade do Povo chinês e dos seus líderes que, num breve espaço de tempo, quiseram e souberam modernizar seu país e promover sua prosperidade coletiva.

Os trabalhos do Congresso Nacional Popular, que agora terminaram, indicaram de forma clara e consensual as grandes orientações programáticas colectivas os seus objetivos fundamentais. Entre elas contam-se importantes medidas socializantes visando o bem-estar dos cidadãos, a criação de emprego, o robustecimento das redes de segurança social e ainda o fortalecimento da economia.
(...)


[Os destaques (bold)são produzidos por este blogue.]

9.4.13

Coreia do Norte muito nublada

Alguém disse que a primeira vítima da guerra, é a verdade. No sentido de minimizar esse efeito, aqui fica uma modesta contribuição sobre o que se passa na Coreia do Norte.

Ao centro, o “brilhante camarada” Kim Jong-uno

A análise da situação não deve ser desligada e muito menos deve ignorar o isolamento a que foi votada pela “comunidade internacional” no âmbito da luta ideológica anticomunista. O desmoronamento da União Soviética teve consequências trágicas para aquele país, como de resto aconteceu em relação a Cuba: isolamento político, depauperação económica e tensões militares.

Nestas condições, nenhum país escapa a um regime autoritário, a uma economia de guerra e a uma sociedade militarizada - actualmente 1.500.000 militares norte-coreanos estão envolvidos regularmente em apoio a actividades civis.

Os efeitos sociais estão associadas a todas as outras consequências da tensão internacional. A fome é habitual na vida dos norte-coreanos mas actualmente a situação agrava-se, com a dificuldade de importar da China e da Rússia de onde se abasteciam habitualmente. São os resultados “humanitários” das “sanções” internacionais implementadas pelo Concelho Geral da ONU comandada pelos Estados Unidos da América.

A recente hostilidade internacional fundamenta-se no facto da Coreia do Norte ter lançado um satélite e ter realizado experiências nucleares subterrâneas. O país, por sua vez, sente-se no direito de desenvolver estas actividades tal como o fazem os próprios EEUU, a Rússia, a França e outros.

Por detrás dos argumentos estado-unidenses esconde-se a importância estratégica da Coreia do Norte, por estar encostada à China e à Rússia e possuir uma desenvolvida tecnologia de guerra, com capacidade para causar grandes danos nas instalações militares norte-americanas da Coreia do Sul e do Japão.

Que outra coisa se pode esperar de um país ameaçado militarmente, senão que tente defender-se militarmente? A pretexto de "proteger a Coreia do Sul", os Estados Unidos que têm 200 vezes mais armas nucleares do que a Coreia do Norte, sobrevoam este país com 200 voos de reconhecimento por ano, efectuam voos de bombardeiros nucleares, colocam barcos militares em posições de ataque contra a Coreia do Norte, mantêm no sul 28.500 soldados e desenvolvem provocatórias "demonstrações de força" perto da fronteira.

Desde 2000 até 2008 uma política de paz e cooperação pôde desenvolver-se entre as duas Coreias, que almejava inclusivamente a reunificação. Mas um novo presidente ultraconservador da Coreia do Sul, mais comprometido com os EEUU do que com a sua região, segundo a sua vizinha, pôs cobro a todos os acordos que se firmaram nesse período.



As relações pacíficas da Coreia do Norte com os Estados Unidos da América assentavam ultimamente num tratado de armistício de 1953, entre as duas Coreias mas patrocinado pelos EUA e promovido pela ONU, criando uma zona desmilitarizada entre os dois países da península coreana. Mas este armistício foi profundamente abalado em 2006 quando a ONU decretou sanções contra o país a pretexto de experiências nucleares que a Coreia justificou como exercícios de defesa e dissuasão.

Se a Coreia do Norte descuidasse a sua defesa, os Estados Unidos da América fariam no seu país o que fizeram no Afeganistão, no Iraque ou na Líbia – ocupariam o país para apoderar-se dos seus recursos e zonas estratégicas. Este é o ponto de vista norte-coreano.

Desde 2000 até 2008 uma política de paz e cooperação pôde desenvolver-se entre as duas Coreias, que almejava inclusivamente a reunificação. Mas um novo presidente ultraconservador da Coreia do Sul, mais comprometido com os EEUU do que com a sua região, segundo a sua vizinha, pôs cobro a todos os acordos que se firmaram nesse período.

Em Maio de 2009 é a própria Coreia do Norte que rompe unilateralmente o acordo de paz, depois do seu vizinho da península anunciar que aderia ao programa de George W. Bush «para impedir o tráfico mundial de armas de destruição em massa» - o programa PSI (Iniciativa de Segurança contra a Proliferação) .

De notar que os EEUU criaram a sua própria fronteira marítima sem atender ao paralelo 38, isto é, ao arrepio do acordo que vigorava desde 1953. Os EEUU mantêm na região 28.500 soldados, um porta-aviões e dezenas de armas nucleares.

Há quem desvalorize as ameaças recentes da Coreia do Norte, nomeadamente o próprio vizinho, mas são sempre imprevisíveis estas situações. Há que ter em conta que em 2010 houve mesmo um enfrentamento directo quando três disparos da Coréia do Sul contra a do Norte foram respondidos com um bombardeio sobre uma ilha.

Previsível é o sofrimento das populações que não contam, como se percebe, para as decisões estratégicas militaristas. A não ser na medida em que são necessárias pessoas para fazer a guerra.



Este artigo recolhe, entre outras fontes, uma parte das declarações de Alexandre Cao de Benós, único representante ocidental da República Popular Democrática de Coreia.

7.4.13

Porque hoje é domingo (36)

“Felizes os que creram sem terem visto!” Esta é a lição que a Igreja pretende transmitir neste domingo, a propósito dos apóstolos que acreditavam na sua ressurreição e daqueles outros, como Tomé, que não acreditavam sem meter o dedo no lugar dos pregos.

Jesus contrapõe a fé cega à razão, não para elogiar a prudência inteligente de Tomé mas sim para elogiar a crença irracional de uns e a hipocrisia de outros.

“Felizes os que creram sem terem visto!” é um comentário que cola muito bem com o que tem dito o cardeal português: felizes os que acreditam no Governo apesar de não verem senão desemprego, empobrecimento e tragédia à sua frente. E quem diz José Policarpo, diz Passos Coelho e seus apóstolos. O azar destes é que a salvação económico-social tem que ser provada neste mundo e já passou o tempo para se revelar.

É provável que hoje, no discurso à nação, o primeiro-ministro português venha pedir mais uma prova de fé, sacrificando ao mesmo tempo, porventura, o lugar de um apóstolo ou dois. Mas Passos Coelho já é um condenado. Tal como José Policarpo, apenas aguarda por substituto.

Publicado às 8 horas de 2013-04-07

5.4.13

Os partidos de rabo na boca

Relvas foi-se, Gaspar vai-se e Passos Coelho não se sente seguro. E Seguro? Melhor: e o PS? Estará preparado para oferecer uma alternativa? Não digo um programa eleitoral alternativo, porque para isso bastaria copiar o que serviu ao PSD para ganhar as últimas eleições. Ou o de Hollande, há um ano. Digo uma alternativa política e económica.

Admitindo que Seguro II, o que saiu do acordo interno do PS, ou outro que se lhe meta à frente – e quem diz “à frente”, diz “A. Costa” – queira mudar o rumo da política nacional, estará disposto a confiar na base social dos portugueses indignados e na base política de esquerda, para questionar o roteiro da Alemanha?

Mais facilmente o fariam Relvas ou Gaspar, movidos pela arrogância, do que alguém do PS movido pela coragem – que da convicção há pouco a esperar. A rotatividade dos partidos do carrocel do poder, dos partidos de rabo na boca, é o que nos espera até ao dia em que os eleitores se desprendam do medo.

Entretanto, vamos por partes: Relvas "deu à sola" como canta o Vasco, AQUI. Gaspar dá corda aos sapatos e Passos Coelho aproveita a boleia.