27.2.14

Sexta 28 Fevereiro

Hoje, 28 de Fevereiro, pelas 23h55 (aproximadamente, claro!) a RTP Memória reexibe o meu documentário "Manuel Valadares - um caso exemplar".

Se a oportunidade encontrada pela RTP é o aniversário do nascimento do cientista que Salazar expulsou do país, há pelo menos duas oportunidades mais relevantes para que se trate de um caso exemplar: a questão da "exportação de cientistas" e a polémica sobre bolsas de estudo.


Em 1947, era a repressão política; hoje é a repressão económica. Mas o problema é o mesmo. Naquele tempo, Valadares foi colaborar com a família Curie na investigação das mais evoluídas descobertas científicas, nomeadamente a física atómica e a radioactividade - ele que já havia introduzido em Portugal a análise radiográfica das obras de arte.

Nos tempos que correm, é o que se sabe em matéria de bolsas e de emigração! E que mais tarde será lembrado para vergonha dos governantes "em curso", também eles ideólogos do empobrecimento material e científico.

25.2.14

Quem combate Maduro no terreno

Depois da derrota eleitoral de Henrique Capriles como líder de toda a oposição venezuelana, começaram a surgir expressões de divergência no seio desta coligação de direita.

Para que as manifestações sangrentas da oposição não façam perder os opositores mais pacíficos, Capriles coloca-se agora na reserva, aparentemente. Nesta fase, pretende fazer-se passar como um opositor mais brando e negociador, como se esperaria do seu partido "social-democrata" onde se afirmam valores humanistas e progressistas. Mas o passado de Capriles denuncia o seu verdadeiro carácter.

Com efeito, participou activamente do Golpe de Estado  de Abril de 2002 contra o presidente Hugo Chávez. Acusado de ter sido cúmplice da invasão da embaixada de Cuba, em Baruta, e do espancamento de Ramón Rodríguez Chacín, então Ministro do Interior e Justiça, Capriles foi preso por quatro meses, de forma preventiva por escapar à justiça.


Capriles com López (da esq. para dir.) em Fever. de 2012
Leopoldo López Mendoza pertence a uma das famílias mais tradicionais e ricas da Venezuela, ligada aos setores alimentício e petroleiro. Na juventude, estudou economia nos EUA, na Universidade de Harvard.

Também López participou activamente nas mobilizações de rua que deram lugar ao golpe de Estado de Abril de 2002, e esteve implicado no ataque à casa do ministro do Interior e Justiça, que vivia ali com a esposa e dois filhos de 6 e 9 anos de idade. Rodríguez Chacín seria sequestrado e agredido, sem oferecer resistência,

Agora, em Fevereiro de 2014, Leopoldo López é quem encabeça acções violentas que configuram uma tentativa de golpe de estado, a partir de manifestações de um sector universitário.

Acusado e mandado prender por Nicolas Maduro, López entregou-se à polícia com grande aparato na terça-feira, 18 de Fevereiro (foto acima). Um juiz determinou na madrugada de quinta-feira, que López continue preso sob acusações penais que incluem incêndio criminoso e incitação criminosa associada à organização de uma grande manifestação em 12 de Fevereiro.

Argumentário da oposição

20.2.14

Venezuela na mira

“Não sei” se os Estados Unidos da América estão empenhados em dominar as decisões políticas e económicas da Venezuela.

“Não sei” se estão a desenvolver campanhas de desinformação e desestabilização do país.

“Não sei” se estão por detrás das tentativas violentas de golpe de estado em curso contra o governo.

“Não sei" se os líderes opositores Henrique Capriles e Leopoldo López são apoiados operacional e financeiramente pelo ex-ditador da Colômbia Álvaro Uribe e por algum departamento norte-americano.

Mas não faltam “razões” para que sim.


Não é impunemente que a Venezuela tem actualmente a maior reserva petrolífera do mundo – já acima da própria Arábia Saudita.

Não é impunemente que a eleição de Hugo Chavez em 1998 (56% dos votos) inaugurou uma era de políticas sociais contrárias aos interesses das camadas privilegiadas, políticas que estão a ser prosseguidas pelo novo presidente.

Os resultados obtidos na redução da pobreza foram um dos principais fatores de popularidade do governo Chávez. Segundo a CEPAL, por volta de 2002, 48,6% da população venezuelana encontrava-se em situação de pobreza, e 22,2% em condições de indigência. Em 2011, os pobres representavam 29,5% da população, e os indigentes, 11,7%. (Wikipedia)

Não é impunemente que a Venezuela promove a unidade estratégica dos países latino-americanos e do Caribe e que esta se consolida em oposição à pretensão de domínio norte-americano.

15.2.14

Olhares míopes sobre a Venezuela

Sabe-se lá porquê…, uma estação de televisão tem feito nos últimos dias referências muito duvidosas à situação política que se vive na Venezuela. Talvez seja a dificuldade de ver o que lhe está (ideologicamente) longe.

O facto é que uma manifestação “de estudantes”, em protesto contra o Governo, desencadeou acções violentas que fizeram três mortos e dezenas de feridos. Mas a notícia é que existem milhares de opositores ao "chavismo".

O que a estação apresenta como notícia, não são os métodos violentos e criminosos de algumas organizações anti-chavistas, na sequência de acções do mesmo tipo desencadeadas noutras alturas; o que o jornalista releva é a existência de oposição como se não houvesse também manifestações a favor e com grande expressão. E faz supor que a violência é desencadeada pelo Governo.

Nem mesmo a EFE que testemunhou os acontecimentos no local, lhe modera o ímpeto, quando esta agência de notícias diz:

Várias cidades venezuelanas foram hoje palco de manifestações a favor e contra o Governo, com a oposição a pedir mudanças e o 'Chavismo' a denunciar um plano para desestabilizar o país. Um grupo que participava numa marcha da oposição separou-se do protesto, junto à Procuradoria-Geral da República, tendo ocorrido depois confrontos com a polícia.

A fotografia seguinte, da Reuters, mostra bem o caracter “pacífico” dos manifestantes que foram confrontados com a polícia!... Para quem protesta contra a falta de segurança, os métodos não poderiam ser mais "adequados"!

14.2.14

Sair do Euro com o PCP

Sair do Euro é uma proposta arriscada e politicamente corajosa. O candidato principal do PCP às eleições europeias assumiu a defesa desta tese. Nada que não fosse já defendido por outros actores políticos até de direita como outro João Ferreira, o engº João Ferreira do Amaral.

Ao fazê-lo, o comunista João Ferreira "parte para as eleições europeias sem gaguejar", como comentou Heloísa Apolónia. Ao denunciar a “incompatibilidade radical” entre a permanência de Portugal no euro e um projecto de desenvolvimento democrático, isto é, ao proclamar que "o futuro do país é inviável dentro do euro”, o PCP, através de João Ferreira, mata dois "coelhos" com um só tiro:

1º Cria um espaço para o protesto eleitoral contra as políticas desastrosas da União Europeia;
2º Retira à extrema-direita a oportunidade de ressuscitar a pretexto de ser a alternativa contra o Euro;

Como esta proposta não será levada à prática, devido à correlação de forças nas eleições, e como só será levada à prática algum dia por decisão da própria UE ou, menos provavelmente, por decisão de um dos dois maiores partidos portugueses, os eventuais resultados negativos da proposta nunca lhe serão imputados.

Independentemente disso, ela parece-me corresponder a uma avaliação correcta da situação nacional e do sentimento de muitos portugueses. Assim os votos o confirmem.

11.2.14

Portas, melhor que nunca

Agora que o líder do CDS/PP e NÚMERO DOIS DO GOVERNO anda numa campanha desenfreada para vender a sua imagem, vale a pena recordar...


8.2.14

Porque hoje é domingo (46)

O Paraíso Celestial e o Paraíso Fiscal, se não ocupam o mesmo espaço, são bons vizinhos. Por mais que os discursos populares do Papa Francisco reprovem os “excessos” do capitalismo, é mesmo para defender o sistema contra o socialismo, que a Igreja está no mundo. Catolicismo e capitalismo são aliados ideológicos e materiais.

A escolha do Papa tem um papel crucial nesta missão. Viu-se com a eleição do polaco João Paulo II, envolvido descaradamente na militância do movimento Solidariedade, na Polónia; perceber-se-há mais cedo ou mais tarde com o papa Francisco, argentino, para influenciar a corrente progressista que engrossa na América Latina.

A hipervalorização de qualquer palavra, de qualquer gesto, de qualquer atitude do Papa, por mais banal que estes sejam, alimenta o desígnio da Igreja Católica, ela própria promotora desses comportamentos. O “casting” que os bispos realizam na escolha do Papa, garante o sucesso da representação – ninguém melhor para interpretar a linguagem do povo latino-americano do que um latino-americano! Ninguém o faria com tanta convicção e naturalidade.

Entretanto, tudo está justificado à luz da missão da Igreja. Antes de mais porque é suposto que seja o Espírito Santo a inspirar os bispos eleitores. Depois porque a luta contra o socialismo se inscreve na missão de combater o ateísmo. De passagem, digamos assim, a Igreja ganha as alianças e os apoios de que precisa para manter o Vaticano e a sua legião de profissionais espalhados pelo mundo.

E enquanto houver quem precise de acreditar em milagres, no perdão dos seus "pecados" ou na ajuda discriminatória de Deus para os seus dramas pessoais, não faltará o apoio popular.

“Vós sois o sal da terra; vós sois a luz do mundo” – lembra a Igreja neste domingo, invocando o Evangelho (Mt 5,13-16). "Mas nós, Igreja, somos quem decide o prato e o caminho!" – isto não dizem nem precisam dizer os apóstolos da privação dos sabores e da razão.

5.2.14

Não há dinheiro (5)

No programa Política Mesmo (TVI24) de 2014-01-16, Manuela Ferreira Leite denunciou que Orçamento do Estado para 2014 tem uma “dotação provisional” prevista "superior a 533 milhões euros", pelo que não seriam necessários novos cortes após a verificação de inconstitucionalidade da proposta do Governo.

Em 2002, enquanto Ministra das Finanças, ela própria tinha apenas 150 milhões de euros. E em 2009, o seu homólogo socialista Teixeira dos Santos dispunha de 310 milhões.

Enquanto o governo pratica uma sistemática e brutal punção sobre os magros rendimentos trabalhadores, pensionistas e reformados, acumula vultuosas reservas para finalidades desconhecidas. Ou será para fazer uma festinha na proximidade das eleições?




A PROPÓSITO

Em 2012, o Estado concedeu 9 milhões de euros à Federação Portuguesa de Futebol e 8 milhões à Mota-Engil… porque…, porque…, porque… não há dinheiro! (ionline.pt 3Fev2014).

Gráfico recolhido em "resistir.info"

4.2.14

Os sacanas de amanhã

Há quem fale de praxes boas e praxes más, porém o que eu vejo são praxes estúpidas e praxes violentas. Mas não há que admirar que haja tantos jovens a aprovar ou tolerar as praxes; é que os jovens de hoje são os sacanas de amanhã. Também os homens sérios e generososos, inteligentes e até heróicos de amanhã, felismente.

Eles andam aí, uns e outros. Estão na altura de escolher o seu papel na História.



Sobre o assunto subscrevo a análise de José Gomes André em Delito de Opinião, de Abril de 2009!, que transcrevo parcialmente.

"Diz-se que a tradição da praxe serve para "integrar" e "facilitar o entrosamento" e que apenas é reprovável se executada com violência e sem moderadação. Nada mais errado. O equívoco reside nesta dicotomia, que define os contornos de uma praxe “boa” e de uma praxe “má”. A primeira procuraria familiarizar os indivíduos com a instituição a que agora pertence; a segunda utilizaria meios violentos para o atingir.

Trata-se de uma mistificação. A essência da praxe não é a “integração”, mas sim a humilhação. A praxe não existe para introduzir um indivíduo num contexto social harmónico ao qual ele aspira pertencer, mas sim para clarificar desde logo a relação de forças que existe nesse mesmo contexto, ou seja, para tornar evidente que o noviço se encontra na base da estrutura hierárquica da instituição, devendo submeter-se às condições impostas pelo topo da pirâmide.

(...) Não se trata pois de um ritual iniciático, cujo móbil é o desejo de inscrever e assimilar. A praxe é uma cerimónia puramente exclusiva, que define os espaços interditos ao aspirante, confinando-o às rígidas fronteiras da hierarquia imutável da instituição. Na verdade, só o tempo permitirá a ascensão na pirâmide, embora apenas com o intuito de cristalizar a ordem pré-definida. Em rigor, a praxe é o mais acabado e cínico exercício de mumificação que as sociedades modernas engendraram.

Uma sociedade civilizada devia erradicar este fenómeno puro de exclusão, esta coacção psicológica necessariamente violenta, esta forma de opressão perpétua. Num mundo esclarecido, não há lugar para a praxe".

2.2.14

Direito à informação

Dilma Rousseff foi notícia em Portugal por ter feito uma discreta escala em Lisboa, vinda de Davos, e por ter visitado Fidel Castro, um ou dois dias depois em Havana.

Dilma não foi notícia por ter ido a Cuba participar na reunião anual da CELAC que este ano decorreu em Havana. Isto é, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos que reuniu 33 presidentes ou chefes de governo, não foi notícia!


Sim, Fidel recebeu Dilma. Como recebeu Rafael Correa, Evo Morales, José Mujica, Peña Nieto... E Cristina Kirchner, ela que tem sido alvo de especulações acerca do seu estado de saúde visto que não saía da Argentina desde a neurocirurgia a que foi submetida em Outubro passado.

Sim, Dilma Rousseff jantou em Lisboa e pagou do seu bolso em vez de usar da prerrogativa que lhe concede a condição de Presidente da República em viagem de trabalho!

Sim, A CELAC existe e cumpre um papel de excepcional importância para a paz, o progresso, a independência dos povos e a democracia na região! E não é por ser censurada na matriz de informação europeia, que deixa de cumprir a sua missão.

(imagem relativa à reunião do ano anterior)