26.2.10

Desabafo político

Já cansa esta enxurrada de lixo politiqueiro, esta falsa intifada com pedradas verbais, este pingue-pongue de adormecer. Já ninguém quer saber (ou já se sabe) como é que o PS ou o PSD se apoderam do poder, da riqueza e da Comunicação – sabido o resultado, o jogo não interessa.


Claro que o presidente disto e o daquilo não andam a roubar, não fazem fraudes, não enganam ninguém. Basta-lhes o lugar que têm para ganhar as fortunas que ganham. Para que haveriam de sujar as mãos?

Faz bem Pedro Soares que “aos costumes” diz nada e noutros casos manda perguntar. É evidente que um homem com tantos cargos, tantos pelouros, tantas responsabilidades, não tem tempo para se informar de coisa alguma. Querem saber quem sou? – diria ele. – Perguntem ao meu pai !

Mas o que eu queria perguntar, senhor presidente da república, senhor primeiro-ministro, senhor presidente da assembleia, senhoras e senhores deputados, é se temos a alimentação e a protecção social, o ensino e a educação, a cultura e o desporto, as casas e os transportes de que precisamos...

Não me venham falar mais de esmolas, de percentagens, do futuro tecnológico, de incentivos às empresas e outras maquinações que nos passam sempre ao lado. Falem-nos do aquecimento nas escolas, das esquadras a cair, dos auditórios culturais abandonados, dos desportos esquecidos (os que não dão figos), das taxas de juro que os bancos cobram aos cidadãos para a compra de casa, do direito ao emprego estável e ao tempo livre, da riqueza nacional ao serviço da nação.

Ou calem-se de vez. Se faz favor

Cuba chora em silêncio

mas sente-se que grita

Enquanto o Governo Regional da Madeira omite o apoio do Governo Português nos elogios que faz à solidariedade, para já não falar do apoio das Ilhas Canárias, por exemplo; enquanto no contexto da tragédia do Haiti, a liberdade de expressão não é bastante para que se dê notícia do apoio do Governo de Cuba... também é verdade, e mais grave, que nas prisões cubanas se paga muito caro por defender a liberdade de opinião.

Uma pergunta, porém, fica no ar e a todos compromete: porquê? de que são acusados os dissidentes? Para ajudar a compreender o que se passa, e para além do excelente trabalho jornalístico do EL PAIS, recorto DAQUI o corajoso relato particular que se segue.


Universidade de Havana

«En estos dos años, desde que Raúl Castro llegó al poder, las expulsiones por motivos ideológicos se han mantenido –con tendencia al alza– en los centros de altos estudios.

Cuando a Sahily Navarro –hija de un prisionero de la Primavera Negra– se le impidió regresar a su aula, supe que la maltrecha liga estudiantil había pasado de la agonía a la necrosis. Pocos días después, la lápida del sectarismo cubrió los restos de la FEU al apartar a Marta Bravo de su formación como profesora por exigir reformas en el país.

Los acordes del réquiem fueron compuestos por quienes separaron de la docencia a Darío Alejandro Paulino, después de abrir un grupo en Facebook para discutir cuestiones de la facultad de Comunicación Social. Con estos tristes sucesos, la federación –que una vez lideró Julio Antonio Mella– ha confirmado su deceso a manos de los endriagos del dogmatismo y la intolerancia, que hoy se pasean libremente por su campus universitario».


Quem partilha do mesmo conceito de "socialismo" através da cumplicidade, tendo combatido o monopartidarismo, a censura institucionalizada, a repressão policial, tendo vivido ou conhecido a perseguição e expulsão dos professores universitários, teria o dever de se indignar com a mesma veemência contra o regime de Fidel e Raúl e de invocar menos as vítimas da ditadura, como Bento de Jesus Caraça e tantos outros intelectuais antifascistas.

Manuel Valadares,
um de entre dezenas de professores perseguidos e expulsos do Ensino, por Salazar em 1947.

25.2.10

Grécia no novo império

Uma questão que se há-de colocar talvez antes que passem mil anos, em relação a “gregos e troianos”, é de saber o que ganharia ou perderia cada país... do PIGS* se não fosse dominado pelo império DEF(ICE) – Deutchland, England, France (Imperial Committee of Europe).


Acompanhar a progressão anual do Sol e da Lua através das constelações do zodíaco, prever os eclipses, traçar a movimentação dos planetas e a órbita irregular da Lua no céu: esta, segundo uma análise minuciosa descrita na revista "Nature", era a função do Mecanismo de Antikythera, um antiqüíssimo mecanismo grego com engrenagens que remonta a 65 antes de Cristo (na foto).

(...) O estudo revela que o mecanismo é muito mais sofisticado do que se podia acreditar, tanto que, para a época, pode definir-se como um computador propriamente dito.

Além disso, demonstra "o potencial tecnológico extraordinário dos gregos", que se perdeu com o império romano.

(...) A conclusão a que se poderia chegar é que, caso o Império Romano não tivesse interrompido o desenvolvimento dos gregos nesta área, talvez a tecnologia hoje estaria 1000 anos mais adiantada.

Fim do recorte de portalsaofrancisco.


Aqui fica, a título gratuito e generoso, esta dica para a dra Manuela F. Leite, de quem se ouviu hoje, para irritação do PS, que Portugal está "rigorosamente no mesmo caminho" da situação da Grécia em termos económicos (...).

*PIGS é uma abreviatura com que na UE se designa um conjunto de países (Portugal, Irland, Greece, Spain) acusados de terem problemas especialmente graves de défice, dívida excessiva ou desemprego.
24Fev2010

23.2.10

Televisão com som

Ao contrário do cinema que nasceu mudo, a televisão já nasceu a falar. E não dizia só papá, mamã, não quero sopa…
Início do cinema sonoro (1927)

Logo de início, a TV dizia tudo o que a deixassem dizer. De resto, era da rádio, da tecnologia da rádio, que lhe vinha a principal qualidade – a capacidade de se difundir pelo ar através de ondas electromagnéticas.

Mas o fascínio era, naturalmente, a transmissão de imagens, a "visão à distância" que a palavra tele-visão exprime. Daí que o som ficasse sempre com o estatuto de parente pobre da família áudio-visual. Já era assim com o cinema, em que o microfone reclamava a sua aproximação aos actores e a câmara protestava porque o dito aparelho de som se intrometia no plano quando não era simplesmente a sua sombra – e aqui a guerra com a câmara estendia-se aos projectores de luz. Operador de câmara, operador de áudio e iluminador viviam e vivem esta luta pela conquista de território, desde os primórdios deste mundo tecnológico.

Recordo um episódio… bizarro que se passou ainda no tempo em que a Televisão funcionava sem gravação (*) de imagem – ou transmitia em directo ou registava em filme. No caso, tratava-se de filmar uma conferência dada por um eminente estrangeiro que para o efeito estaria em Portugal. Coisa imperdível, portanto, em que a RTP não podia deixar de “estar presente”. E levou dois operadores de imagem, não um só, além do operador de som.

Chegados ao local, a realizadora combinou discretamente com os operadores de imagem a posição de cada um. Os restantes membros da equipa situaram-se de acordo com as funções que tinham a desempenhar e com a preocupação de não perturbar a sessão. Tudo normal, portanto.

Quando a realizadora achou por bem parar as filmagens, mandou recolher discretamente a equipa para um canto a fim de preparar a saída. Foi então que o operador de som lhe perguntou: « Já vamos embora?». Ela respondeu que sim, que já tinha a parte da conferência que interessava para o programa. Então o operador perguntou com a voz cândida de um inocente: «E não precisas de som?».

Só então nos demos conta, todos, de que ela não teve com o operador de som o mesmo cuidado que teve com “os câmaras” e que isso resultara num desastre para aquela reportagem irrepetível. Mais que isso, aprendemos todos – se o não sabíamos antes – que a obsessão pela imagem pode levar à destruição do que realmente importa.

* O registo de imagem em vídeo é gravação e não filmagem, ao contrário do que se vem dizendo em linguagem de amador.
Foto inicial: The Jazz Singer (1927) com Al Jolson

19.2.10

Rostos da TV


A jovem apresentadora defendia em reunião de Produção, o que mais ninguém defendia. E quando sentiu que os seus argumentos não tinham o efeito que o seu estrelato devia merecer, arremessou contra tudo e contra todos:
- Mas eu é que dou a cara!


Fez-se um breve silêncio na sala que a responsável pela programação interrompeu num tom moderado:
- Hoje, é. Amanhã, vamos a ver.

Desta vez o silêncio foi total. E definitivo!

Já é diferente a reunião de Produção que trago a seguir.

Desta vez o programa é outro e o apresentador também, Um rosto muito conhecido da televisão portuguesa. Além de apresentador era também autor do programa. Às reuniões semanais com a equipa, levava habitualmente recortes da Imprensa onde se comentava o programa da semana anterior.

Lia passagens elogiosas com um despudor que só às vedetas é consentido. Mas confrontou-se a dado momento, por distracção ou não, com uma crítica desfavorável. Então, com um sorriso sarcástico, comentou:
- Há certos críticos que não deviam escrever a seguir ao jantar!

Não vou dizer quem foi. Mas para evitar equívocos deixo já esta ressalva: não é ninguém com cargo político.


1ª imagem: "Narciso" - recortado de "Echo and Narcissus" de John William Waterhouse.; 2ª imagem: "Mulher ao Espelho"

17.2.10

Assim se vê... TV

Não posso garantir que Adão e Eva, eles só, tenham dado origem à Humanidade, tão vasta e tão diversa como ainda a conhecemos apesar das grandes guerras e outras guerras grandes e pequenas.

Mas posso garantir que todas as cores que vemos na televisão, incluindo aquelas que nos chegam do Paraíso, são filhas de três, três cores apenas.

Bem pode haver árvores castanhas que dão maçãs verdes e vermelhas, serpentes pintalgadas, ervas, tangas , chinelos e flores, laranjas, papagaios, e borboletas de todas as cores, que três latas de "tinta luminosa" são suficientes para reproduzir esse caleidoscópio que há na Natureza e na cabeça dos pintores.

Apresento-vos, pela segunda vez, mister Red, lady Green e sir Blue ! A família RGB. Daqui há só que misturar, para obter a cor da descendência. R com G dá Y (yellow, amarelo); se Green fôr com Blue vamos ter Ciano e se Blue fôr Red a coisa dá Magenta – que nada acontece por acaso!


Se juntarmos agora estes filhos com os primos, e os netos e bisnetos e por aí além, chegaremos depressa ao infinito – passe o exagero!

Esta explicação mereceu uma tremenda discussão na sala de formação de realizadores quando um colega meu, vindo da arte dos pigmentos, reclamou com justa exaltação que a mistura de cores não funciona assim. De facto, em pintura a “lógica” é outra. Mas quando se mistura luz com luz, na arte dos pixels, o efeito é o que mostra a figura anterior.

Por outras palavras: quando o António Polainas concebe o espaço cénico em que se vai sentar o José Rodrigues dos Santos, pensa em pigmentos; quando o Nicolau Tudela concebe as imagens virtuais do genérico, dos separadores ou das ilustrações específicas das notícias, pensa em pixels – e ambos pensam ao nível do que há melhor no mundo, posso acrescentar! (Saravá, amigos!).

Posto isto, torna-se mais claro por que os projectores de vídeo que encontramos nas salas de espectáculos ou no Metro, têm este aspecto.

(Se quiser saber mais e tiver muita paciência, pode consultar aí na Net,
ESTE SITE).

15.2.10

Analógico ou digital

Fosse escultor em vez de carpinteiro, São José, e talvez dispuséssemos hoje de uma reprodução das feições do seu filho adoptivo, que poderíamos comparar com as estátuas gigantes de Almada ou do Rio de Janeiro, entre muitas outras de variadas dimensões. Se José fosse fotógrafo, também poderíamos comparar as suas chapas com as telas dos pintores. Com imagens da época teríamos decerto uma percepção do filho de Deus bastante diferente da que é representada pelos artistas que nunca o viram, como Leonardo da Vinci na sua "Última Ceia" - tão simbólica, tão inverosímil, tão agitada que nem um jantar com Sócrates no Hotel Tivoli.

Mas poderíamos, ainda assim, na posse das tais fotografias da época, acreditar nas cores e até em pormenores formais do seu corpo ou das suas vestes, tão degradados estariam esses registos pelo tempo, esse monstro que nos pinta os cabelos, rasga traços no rosto e descalcifica os ossos?

É nisto que os registos digitais fazem toda a diferença.

Bem podem os olhos de Jesus chegar amarelos na sua foto de há dois mil anos. Se uma declaração escrita e assinada por quem de direito, disser que os olhos de Deus eram azuis, não haverá fotografia que o desminta. Porquê? Porque é mais fácil que o tempo tenha tingido de amarelo os olhos azuis do Senhor do que tenha substituído a palavra “amarelo” pela palavra “azul” na declaração – logo, se diz azul é porque é azul.

A fidelidade da fotografia ao objecto fotografado depende das condições de resistência do suporte da informação, a película ou o papel fotográfico. A fidelidade da reprodução digital depende apenas de um código que tenha o mesmo significado ao longo do tempo, como é o caso da palavra que o designa.

A fotocópia a cores é uma reprodução analógica de uma fotografia a cores, por exemplo. Mas a verdadeira cor da fotografia será melhor transmitida se dissermos qual é a luz, a intensidade e o brilho de cada ponto da imagem. É assim que, para o caso da cor, o código #900 no sistema RGB (red, green, blue) significa “vermelho”, visto que as outras cores têm valor zero. E este código não se confunde com #996 daqui a dois mil anos…

Outra vantagem do registo digital é a sua possibilidade de transmissão. Não é possível enviar uma folha azul pelo ar, de Lisboa para Pequim, sem arriscar a vida de um pombo-correio, mas é possível enviar um sinal eléctrico que seja lido como #009 e daqui descodificado no destino para uma impressão azul.

Se não percebeu, não se preocupe porque não é por isso que o céu deixa de ser #009.

14.2.10

(Ex)citações televisivas

1.
«A característica principal da Neo-TV é que ela fala cada vez menos do mundo exterior. Ela fala de si própria e do contacto que está estabelecendo com o seu público». (Umberto Eco, “Viagem na Irrealidade Quotidiana”, Difel 1986)

Por falta de tempo não insiro aqui fotos de Mário Crespo, Manuela Moura Guedes, Marcelo Rebelo de Sousa, António Vitorino, Pacheco Pereira, o Polvo, a Enguia e o Cavalo-Marinho.

2.
Na publicação de 1994 cuja capa se apresenta acima, é possível ler frases como estas sobre “a guerra de canais” de televisão:
- uma guerra com os seus espiões, os seus transfugas e a sua dose de intoxicação e de subterfúgios;
- uma guerra com as suas frentes, as suas vítimas, os seus decapitados e os seus heróis;
- uma guerra em que os altos protagonismos têm tendência a fazer mais estrondo do que os conflitos do planeta.

“Dinheiro, poder e audiências” são os três elementos inseparáveis desta guerra, segundo o autor, Erik Emptaz.

Por respeito às autoridades também não insiro aqui as fotos de José Sócrates e Berlusconi – além de serem já sobejamente conhecidas, a sua junção poderia sugerir inapropriadas associações de ideias.

12.2.10

A Informação é deles

A Televisão e a Informação em geral é propriedade dos governantes, dos detentores das respectivas empresas e ainda dos jornalistas da sua confiança. A guerra a que temos assistido, tenha Manuela Moura Guedes ou Mário Crespo como porta-bandeiras, é sobretudo deles antes de ser da liberdade de expressão. Eles estão preocupados com os seus privilégios - ou porque têm programas ou porque têm estações ou porque têm poder político.
Vimos alguma vez a Comunicação Social preocupada com a discriminação que se faz das vozes exteriores ao "arco da governação" representado na imagem acima? Para uns e outros, o que dizem os partidos de esquerda são opiniões desprezíveis que só por razões legais e nessa medida é preciso recolher, e o que manifestam milhares de pessoas nas ruas não valem nada em comparação com a opinião de um qualquer jornalista ou comentador seu convidado - milhares de vozes de trabalhadores são apenas desprezíveis "interesses corporativos" facilmente anulados e contraditados pelos seus doutos juízos.

Da minha experiência em anos de actividade em comissões de trabalhadores e vida sindical, raríssimas foram as vezes em que os jornalistas da RTP, enquanto colectivo, foram solidários com as lutas laborais dos restantes trabalhadores. E esse sentimento de casta não mudou.

Como bem alertou Umberto Eco, os jornais, a Rádio, a Televisão, não são orgãos de "comunicação" mas sim orgãos de "difusão" - não inter-agem com os receptores, dirigem-se a eles sem direito a resposta. E isso confere-lhes o poder de dizer o que está bem e o que está mal, o que interessa e o que não interessa... a todos. Nisto, como o mesmo autor evidenciou, a Internet trouxe a diferença, uma vez que aqui o utilizador não só constroi a sua própria programação como se exprime em relação a opiniões de outros. Um problema que os jornalistas e comentadores publicados tentam compensar com a sua própria participação nestes novos meios que apesar de tudo não têm o mesmo poder dos orgãos sociais de difusão.


É nesta lógica de controlo da "Comunicação Social" por parte da direita política, que se inscreve a estratégia privatizadora desta área do espectro partidário, sabendo-se que só a Direita - representante das classes privilegiadas - tem poder económico para aceder à compra dos meios privados de difusão. Pinto Balsemão ou Eduardo Moniz fazem o seu jogo neste campeonato. O PS, como sempre, disputa-o pela parte que representa do mesmo espectro. E por interesses partidários associados.
A liberdade de informação, tal como a Democracia, é a possível. E quanto mais ampla fôr esta, mais larga será aquela. O resto é o modo como cada um tenta ganhar terreno nestes jogos: governos, partidos, jornalistas! E o modo como cada cidadão eleitor, suposto soberano da nação, reflecte na rua e nas urnas de voto a sua opinião. (E nos blogues, ok!)

10.2.10

Durão enquanto líder

«O Parlamento Europeu aprovou hoje em Estrasburgo a nova Comissão Europeia liderada por Durão Barroso». Em dia de parabens, fica bem esta gracinha...

9.2.10

Conversa privada

sobre liberdade de expressão


O PM de cu para cima está metido de cu para baixo num processo de cu para cima sobre a compra de cu para baixo de um canal de cu para cima de televisão de cu para baixo.


Era assim (mutatis mutandis) que brincava a "canalhada" da minha infância quando a Televisão era ainda uma coisa de que se falava que havia na América... E também quando ela veio para o Café Novo Mundo ali à esquina de Costa Cabral com a Rua das Mercês, que era lá que eu via esse mundo novo, isto é, eu na rua, a televisão lá dentro e os vidros pelo meio a demonstrar o que a vida profissional me confirmaria mais tarde: que o som é o aparente pobre do audio-visual.

De vez em quando éramos enxotados porque dava mau aspecto a canalha ali a espreitar para dentro do café... Uma relação de amor-ódio que se manteria muitos anos mais tarde quando fiz da televisão a minha profissão.

Amor-ódio porque escolhi um emprego onde ganhava quase metade do que poderia ganhar noutro sítio, porque tive oportunidade de seguir jornalismo de que tanto gostava mas renunciei para não ser cúmplice da Censura; porque lutei romanticamente pela democracia, lá dentro, mas sacrifiquei aspectos importantes da vida particular; porque escolhi o caminho da solidariedade e fui rastejado muitas vezes pelo oportunismo. Porque conheci as tripas das vedetas, a indignidade dos vendidos e a injustiça dos "maquiaveis à moda do Minho". Não fui um caso raro, decerto, mas dou o meu testemunho.

É a televisão política, a televisão que faz brilhar ou apagar partidos e figuras políticas, que cria presidentes da República.

Ouço queixas do PSD e do PS sobre o controlo das estações de televisão, e é tanta a hipocrisia, é tal o cinismo sobre isenção de cu para cima e transparência de cu para baixo, que já não há... paciência.


O que fizeram eles e de que forma mais escandalosa, desde 1974, senão usurpar a Televisão, desde as nomeações de quadros a todos os níveis,até à atribuição fraudulenta dos canais, assentes em critérios e acordos políticos?! Uma sujeira de que o PS de Mário Soares foi o campeão, há que ser justo. Uma gestão mafiosa que fez escola como se tem visto nas polémicas sobre os “isentos” Marcelo Rebelo de Sousa e António Vitorino, e no que não se vê mas que faz os conteúdos da informação e da programação.
Um charco que aconselharia algumas figuras mais credíveis a não chafurdar muito para não se sujarem. E a aceitarem o seu “divórcio” profissional com a mesma facilidade com que aceitaram o seu “casamento”, deixando para o público o juízo social.

7.2.10

Modelos económicos

«A China deverá tornar-se este ano a segunda economia do mundo. E a primeira até 2026, segundo o banco americano Goldman Sachs» – leio no Monde Diplomatique de 5 de Fevereiro de 2010. Estamos a falar do país com o maior crescimento económico dos últimos 25 anos no mundo, com a média do crescimento do PIB em torno de 10% por ano. Estamos a falar de um país socialista.
Marxista à minha maneira como cada um o é à sua, parece-me adequado perguntar o que tem esta China e este processo de desenvolvimento a ver com o Socialismo. E com algum atrevimento acima das minhas posses intelectuais, perguntaria mais: será que o marxismo cometeu um erro fundamental ao politizar a Economia? Isto é: será que as leis económicas podem ser sujeitas a opções ideológicas?

Nacionalizar ou privatizar os meios de produção, por exemplo, são opções do domínio económico que só podem ser avaliadas em contextos específicos, não sendo de estranhar as vantagens de privatizar em contexto socialista, como as vantagens de nacionalizar em contexto capitalista – não é preciso ir longe para encontrar exemplos!

A própria “lógica de mercado” é assimilável pelo Socialismo se tivermos em conta as relações internacionais, não só da China mas até da URSS enquanto existiu. A reclamação de Cuba contra o embargo económico, ela própria, diz muito sobre isso. Afinal as matérias primas, as máquinas e as moedas de troca não têm ideologia, têm funcionalidade, servem a produção, o desenvolvimento, a satisfação de necessidades.

Dir-se-ia, à luz destas experiências históricas, que é o grau de participação de cada estado nas diversas componentes das economias, mais do que a sua inclusão total, o que permite caracterizar o sistema político-económico. E que o resto é retórica ideológica. A própria questão central do capitalismo, o lucro individual, parece sujeitar-se ao critério do grau e não da rigorosa inclusividade ou exclusividade.

Para voltar ao caso da China, o respectivo governo reformou a economia do país no final da década de 1970, no sentido de abri-la ao mercado e valorizar o sector privado. O resultado foi o rápido crescimento que se tem visto e sem que o governo deixasse de se reivindicar e organizar em moldes socialistas.O que resta ao socialismo para se diferenciar do capitalismo no domínio económico ? Ou essa é uma falsa questão e toda a Economia é uma só, como a Ecologia? Neste caso a ideologia socialista deveria confinar-se à política, garantida que estivesse a subordinação da economia à sua soberania.

Saber como este modelo se pode conformar com a “libertação dos povos” proclamada pelo socialismo marxista, sabendo nós que a própria China não é (ainda?) um exemplo nesta matéria, eis a questão.

Questão tão pertinente e incontornável como lembrar que foi o carácter socialista do regime chinês, isto é, a subordinação da economia ao poder político, que permitiu à China dispor e injectar rapidamente dinheiro na economia quando o mundo entrou em crise financeira! É uma vantagem da banca nacionalizada.

6.2.10

E se os preços subirem?

Se os salários e as pensões sociais não descerem mas os preços aumentarem, o Governo cumpre a sua promessa e as 800 grandes empresas cumprem o seu lucro. E até algumas famílias ganham - as famílias dos grandes empresários!

Quanto a nós, cabe-nos apenas reparar no aumento silencioso do custo de vida, fechar os olhos aos escândalos económicos e financeiros, fugir ou mesmo reprovar a agitação social, votar no PS e seus aliados e rezar para que estas "maningâncias" económicas atinjam mais o nosso vizinho do que a nós mesmos - o que já é uma consolação.

3.2.10

Economia todavia


Não sei se é por causa das famosas « dietas mediterrânicas », mas as comparações de Portugal com a Grécia e a Espanha estão a enfraquecer a proclamada «confiança» na nossa economia. A menos que os autores destas análises não sejam, eles próprios, confiáveis.

O "chief economist" do FMI, Olivier Blanchard, analisa a situação económica da zona euro, para LesEchos.fr.

A dada altura...

OB - Maintenant, avec la crise, le Portugal, l'Espagne et la Grèce éprouvent de sérieuses difficultés. Celles-ci impliquent des ajustements très pénibles. Surtout lorsque l'environnement inflationniste est très bas. Le rétablissement de leur compétitivité peut nécessiter de lourds sacrifices, comme une baisse des salaires.

LE - Le Portugal et la Grèce peuvent-ils se le permettre ?

OB - Ils n'ont guère le choix. Ce sera long et douloureux. Les problèmes du Portugal ont d'ailleurs commencé bien avant la crise. Cette dernière rend seulement l'ajustement encore plus ardu.

Estas observações de 1 de Fevereiro, seguem-se às seguintes de Janeiro :


El pasado 13 de enero, Moody's advirtió que la economía de Portugal corre un "alto riesgo" de "muerte lenta" en los próximos años. Y equiparaba los problemas lusos a los de Grecia en estos términos: "Son dos ejemplos de países con baja competitividad dentro de la unión monetaria, que se traducen en déficit externos muy elevados".

(...)El FMI ha añadido más leña el fuego en el informe divulgado el pasado 20 de enero, que insiste en señalar al déficit, la deuda pública y la falta de competitividad como las principales causas de la vulnerabilidad de la economía portuguesa, con el efecto consiguiente en la destrucción de empleo (los puestos de trabajo perdidos alcanzarán el medio millón en 2013) y un crecimiento al ralentí, que no llegará al 1% en los cuatro años de la presente legislatura.

A las causas internas de Portugal, el Fondo añade los estrechos lazos económicos y financieros con España, que ha dado pie a que algunos medios lusos ironicen con la recurrente "relación peligrosa". Describe el FMI a España como el socio comercial clave de Portugal, al que vende entre el 25% y el 30% de las exportaciones, del que recibe el 15% de los ingresos turísticos y con vínculos casi de sangre entre los bancos de ambos países. En este escenario es inevitable concluir que si a España le van mal las cosas, a Portugal no le pueden ir mejor.EL PAIS 24Jan2010