Já não tarda muito para mais um encontro histórico, digo estóico de militantes do PSD português. Como soi dizer-se entre os artistas que querem vender, “o que interessa é que falem de nós, mesmo que seja para dizer mal”.
E os meios de informação encarregam-se de “cumprir” a sua parte até à exaustão, desde logo na SIC do fundador do PSD, desde logo nas entrevistas e debates de Mário Crespo que andam a criar gordura e fastio depois de tempos em que foram interessantes. Aqui fica este registo, “tão importante que ele é”.
Depois da magna reunião extraordinária do PSD em 13 de Março, e da não menos magna eleição do presidente do partido em 26 de Março, vem aí uma reunião ordinária a 9 de Abil. Se as entradas fossem a pagar, estes espectáculos seriam talvez suficientes para resolver o problema financeiro do partido.
De resto, esta questão das massas talvez seja objecto de discussão no próximo encontro, além da contra-votação da “lei da rolha”. E se digo isto é porque Luís Filipe Menezes tinha um sonho em 2008, que era a abolição do pagamento das quotas.
Aqui estaria, quanto a mim, um elemento distintivo em relação ao PS, tanta falta que tais elementos estão a fazer à credibilidade do “partido da alternância”, visto que até nesta matéria são iguais: quotas mínimas anuais de 12 euros.
Pois é verdade, acabo de saber por aqui que, para ser militante do PS basta pagar 1 (um !) euro por mês. E nem é preciso sair de casa – pode-se enviar a inscrição pela internet.
«É um espectáculo!»
Ai como é fácil lutar pelo "socialismo". De resto, há até quem receba para isso. E muito – como se vai sabendo. Alegadamente!
30.3.10
29.3.10
De Herman a Bin Laden
Um “post” que acabo de ver em Herdeiro de Aécio , invoca Herman José na personagem “José Esteves”. Além do prazer de reinvocar o Herman com quem tive o gosto de trabalhar, pelo seu profissionalismo e pelo seu caracter, este episódio fez-me lembrar uma técnica de utilização da côr em vídeo que ajuda a completar o meu post “Assim se vê tv”.
Refiro-me ao efeito de inserir uma imagem no espaço e com o recorte de outra imagem: no caso, inserir um corpo de mulher “na camisa” do “Esteves”.
Chamamos a isto efeito “croma-key” cuja tradução para “chave de côr” diz tudo e não diz nada. Trata-se de utilizar uma côr-chave, uma das três “cores primárias” (vermelho, verde, azul) que em vídeo permitem a criação de todas as outras por combinação, suprimindo uma delas para, em seu lugar, como em transparência, deixar aparecer uma imagem de outra fonte.
O vulgar programa "paint-brush" que acompanha o software de qualquer computador, oferece efeito semelhante como exemplifico a seguir por supressão da côr de fundo da foto de Bin Laden.
FONTES (2 eixos do mal):
EFEITO :
Refiro-me ao efeito de inserir uma imagem no espaço e com o recorte de outra imagem: no caso, inserir um corpo de mulher “na camisa” do “Esteves”.
Chamamos a isto efeito “croma-key” cuja tradução para “chave de côr” diz tudo e não diz nada. Trata-se de utilizar uma côr-chave, uma das três “cores primárias” (vermelho, verde, azul) que em vídeo permitem a criação de todas as outras por combinação, suprimindo uma delas para, em seu lugar, como em transparência, deixar aparecer uma imagem de outra fonte.
O vulgar programa "paint-brush" que acompanha o software de qualquer computador, oferece efeito semelhante como exemplifico a seguir por supressão da côr de fundo da foto de Bin Laden.
FONTES (2 eixos do mal):
EFEITO :
Etiquetas:
cores,
croma-key,
efeitos especiais,
Televisão,
vídeo
25.3.10
Truques políticos
(com explicação)
O ilusionista diz, enquanto mostra: «Nada nas mãos e nada nas mangas». E é verdade!
Depois vemos que leva a mão esquerda ao bolso exterior do casaco de onde retira um lenço. A seguir, recolhe-o na concha da mão direita.
É nesta altura que avança a acusação para dizer que o artista escondeu um lenço na sua mão direita. Tarde demais. O malandro já está em condições de dizer e provar que não há lenço nenhum, que o que tem ali é simplesmente... um ovo. E prova o que diz, mostrando o ovo ante o olhar incrédulo mas impotente dos seus acusadores.
O ilusionista diz, enquanto mostra: «Nada nas mãos e nada nas mangas». E é verdade!
Depois vemos que leva a mão esquerda ao bolso exterior do casaco de onde retira um lenço. A seguir, recolhe-o na concha da mão direita.
É nesta altura que avança a acusação para dizer que o artista escondeu um lenço na sua mão direita. Tarde demais. O malandro já está em condições de dizer e provar que não há lenço nenhum, que o que tem ali é simplesmente... um ovo. E prova o que diz, mostrando o ovo ante o olhar incrédulo mas impotente dos seus acusadores.
Alguém virá depois para explicar...
- Quando a mão esquerda do ilusionista agita o lenço, concentrando aí a atenção do espectador, como a capa diante do touro, a mão direita entra “descontraidamente” no bolso das calças e de lá sai com um ovo oculto. Quando o lenço é recolhido para a mão direita, vai juntar-se ao ovo escondido. De tal modo, quando a perspicaz autoridade manda que se abra a mão direita, o infractor pode exibir... o ovo.
Do lenço, nem sinais, escondido que ficou dentro do ovo que é falso, é oco, e tem um buraco do lado que não é mostrado. Assim como ninguém duvida que algures onde vemos uns metros de céu, está o céu, também não se pergunta se do outro lado do ovo está o resto – pressupõe-se inteiro.
É com base nesta pressuposição, nesta intuição automática e enganadora que se constroi praticamente tudo o que é truque - no ilusionismo como na política.
Revelada a explicação, os deputados, digo a assistência ficou convencida e preparada para desmascarar o artista que virá a seguir. Este, por sua vez, procede à sua própria demonstração. Os deputados, digo a assistência segue-lhe os movimentos. Avisada, vê desta vez a troca entre o lenço e o ovo, e a explicação parece confirmada. Mas o inquirido, digo o artista, o mágico, mostra agora o ovo por todos os lados e não se vê buraco. Mais, parte-o e verte o conteúdo para um copo - é um ovo verdadeiro!
A comissão de inquérito, digo a assistência, levanta-se e sai, menos esclarecida do que nunca.
Moral da história:
Nunca se pergunte a um mentiroso se ele mente e como mente.
Do lenço, nem sinais, escondido que ficou dentro do ovo que é falso, é oco, e tem um buraco do lado que não é mostrado. Assim como ninguém duvida que algures onde vemos uns metros de céu, está o céu, também não se pergunta se do outro lado do ovo está o resto – pressupõe-se inteiro.
É com base nesta pressuposição, nesta intuição automática e enganadora que se constroi praticamente tudo o que é truque - no ilusionismo como na política.
Revelada a explicação, os deputados, digo a assistência ficou convencida e preparada para desmascarar o artista que virá a seguir. Este, por sua vez, procede à sua própria demonstração. Os deputados, digo a assistência segue-lhe os movimentos. Avisada, vê desta vez a troca entre o lenço e o ovo, e a explicação parece confirmada. Mas o inquirido, digo o artista, o mágico, mostra agora o ovo por todos os lados e não se vê buraco. Mais, parte-o e verte o conteúdo para um copo - é um ovo verdadeiro!
A comissão de inquérito, digo a assistência, levanta-se e sai, menos esclarecida do que nunca.
Moral da história:
Nunca se pergunte a um mentiroso se ele mente e como mente.
Etiquetas:
comissões de inquérito,
ilusionismo,
Truques políticos
23.3.10
Pilotos e classes sociais
Notícia de 29/07/1975 : Conflito no seio da Comissão de Trabalhadores da TAP entre elementos moderados e radicais por causa das formas de luta a adoptar
Comentário actual de um trabalhador da TAP:
«Quando a Tap for à vida por VOSSA causa, Srs Comandantes, talvez nem 10% de vocês consiga emprego noutro lado. É que quem sabe apertar porcas na manutenção ou fazer reservas em Amadeus há-de arranjar trabalho, quem só sabe servir café a bordo ou pôr a máquina em piloto automático dficilmente conseguirá encontrar novo emprego».
E agora falo eu...
As greves dos pilotos das companhias aéreas, que fazem notícias nacionais e internacionais nestes dias, invocam o tempo das lutas revolucionárias de 1974/75, em que as greves dos pilotos nunca coincidiam com a agenda do movimento sindical em geral. Como se os seus interesses de classe fossem diferentes dos interesses gerais da “classe trabalhadora”.
Isto parecia explicar-se com o facto de os pilotos ganharem ordenados muito altos em comparação com o nível normal de remunerações. O que ficava sem explicação era a sua arrumação na teoria das classes que fundamenta o movimento comunista.
Com efeito, um dos problemas teóricos com que se confronta o PCP é o da definição actual de “classe operária”, tendo em conta que essa classe constitui a base social que o partido pretende representar.
No sentido de ampliar a base social que se vai restringindo na sociedade e no eleitorado, o “partido da classe operária” passou a ser o “partido da classe operária e de todos os trabalhadores” - como se o “todos” não incluisse a parte. Pelo sim, pelo não, também não ficam de fora os desempregados e os reformados que, como se sabe, vão sendo cada vez mais. Não todos, mas a maior parte, visto que há muito desempregado que não precisa de trabalhar e muito reformado que aufere e acumula rendimentos principescos, o que complica as coisas.
E pilotos da aviação? Ficarão de fora?
Fazendo fé na definição em vigor no PCP desde o XIV Congresso, não ficam de fora visto que não desempenham «funções superiores de direcção ou de mera vigilância no enquadramento de outros trabalhadores». Mas indo mais ao fundo (passe a infelicidade da expressão em matéria de aviação), eles até desempenham a sua actividade manobrando máquinas, o que os coloca a par dos maquinistas de caminho de ferro, dos condutores de camiões, autocarros, tractores e alfaias agrícolas, piscícolas e industriais, isto é, do que melhor define um operário – logo, são operários.
E cá estou eu a dar voltas à cabeça para tentar perceber que sentido faz dizer que um partido político, no contexto histórico em que vivemos, é “o partido da classe operária e de todos os trabalhadores”.
Mas isto sou eu que não sujo as mãos no carvão das minas e no óleo das máquinas, um intelectual confundido pela sua condição de burguês (ainda que mal pago). Vá lá, digamos que pertenço ás «camadas intermédias assalariadas» - seja isso o que fôr – o que já me dá um lugar nas fileiras recuadas da revolução socialista. Só porque não sou piloto de aviões... nem me chamo Álvaro Cunhal ou Albano Nunes, Lenine ou Karl Marx - todos operários em incerto sentido
Etiquetas:
classes sociais,
greve dos pilotos,
Operários,
PCP
21.3.10
Modelos organizativos
Edgar Morin (*) defende que nenhuma organização pode funcionar se os respectivos membros obedecerem escrupulosamente às suas normas. A tese aborda o caracter complexo da realidade, que nós temos tendência para ignorar.
Expressa essa salvaguarda, julgo que é habitual e normal que as organizações tenham um orgão central de onde emanam as directivas funcionais e disciplinares – uma estrutura centralizada. É assim com os estados e respectivos governos, com os partidos e respectivas direcções, com as empresas, os clubes e as religiões. O que difere, do ponto de vista conceptual, é a legitimidade e a representatividade, as quais dependem da natureza da organização e dos respectivos estatutos.
Pelos valores que invocam e pela representatividade popular que reclamam ter, os partidos comunistas deveriam acrescentar democracia ao centralismo e não centralismo à democracia quando inscrevem o princípio do "Centralismo Democrático" na sua organização. Mas o que a prática destes tem mostrado é que o centralismo se sobrepõe ao caracter democrático do funcionamento partidário e da organização do estado.
Esse anacronismo poderia justificar-se em circunstâncias especiais, como a de um período revolucionário que é suposto ser excepcional, transitório, efémero. Estariamos apenas a confirmar a tese sobre a complexidade dos fenómenos e das organizações. Mas a experiência histórica revela que a natureza popular das revoluções socialistas passa, e o centralismo fica, não como excepção necessária e sim como regra permanente.
Isto levanta a questão de saber se a perpetuação da ditadura “do proletariado”, é uma norma apoiada no conceito leninista de centralismo ou é uma infracção à norma. Questão que os mentores dos partidos comunistas em geral e do português em particular se dispensam de esclarecer, tornando-os suspeitos, pouco confiáveis para a governação. É o paradoxo do marxismo-leninismo.
Por outro lado, a leitura dos estatutos do PSD, tão invocados neste mês de Março de 2010, e dos próprios estatutos do PS, lembrados a propósito daqueles, alerta-nos para que esse instinto centralista é muito mais geral do que convém ao discurso anticomunista. A conclusão, a tirar-se, seria a de sempre: que a questão não é da natureza dos partidos mas sim da natureza dos poderes, sempre vocacionados para medrar por cima dos militantes e dos cidadãos.
"Todo o poder aos sovietes", desde que os sovietes obedeçam ao Soviete Supremo! - É como terá que entender-se o lema comunista, metáfora para todos os regimes, afinal.
Assim como "possuimos os genes que nos possuem" - para voltar a Edgar Morin - também possuimos os partidos e os governos que nos possuem.
(*) Edgar Morin em "Introdução ao Pensamento Complexo" (Public.: Institº. Piaget, 1990/91
Etiquetas:
centralismo,
comunismo,
democracia,
ditadura,
estatutos partidários,
socialismo
18.3.10
Reaccionários das próprias ideias
Pablo Milanés em entrevista ao EL MUNDO :
El Mundo - ¿Qué han hecho los revolucionarios con la Revolución (cubana)?
P.Milanés - Quedarse en el tiempo. Y la Historia debe avanzar con ideas y hombres nuevos. Se han convertido en reaccionarios de sus propias ideas. Por eso he dicho que hace falta otra revolución, porque tenemos manchitas. El sol enorme que nació en el 59 se ha ido llenando de manchas en la medida en que se va poniendo viejo.
17.3.10
P’ra pior já basta assim
No Congresso Extraordinário do PSD, que decorreu a 13 e 14 de Março, foi aprovada uma norma estatutária proposta por Santana Lopes e que impõe graves sanções aos militantes que, durante os dois meses anteriores à data de eleições nacionais, critiquem "as directivas" do partido.
Em entrevista à SIC-Notícias, Santana Lopes explicou posteriormente que a nova norma é mais condescendente do que as que vigoravam antes.
Depois de terminmado o congresso e fora deste, os três candidatos à presidência do PSD manifestaram a sua repugnância pela norma aprovada e a sua disposição de promover a respectiva anulação.
Assim, Passos Coelho escreveu ao presidente da mesa do congresso (a propor) que a norma, seja alterada no congresso de Abril que se segue às directas de 26 de Março.
Paulo Rangel fez saber que, caso seja ele o sucessor de Manuela Ferreira Leite, proporá "a revogação imediata" da dita norma.
Aguiar Branco afirmou o seu objectivo de “impedir a entrada em vigor da norma”.
Se este congresso foi feito a “Pensar Portugal”, como era seu lema, bom será que o próximo seja para “Repensar o PSD”...
A gente não pode deixar de lembrar aquela cantiga que diz “P’ra melhor está bem, está bem; p’ra pior já basta assim!”
Post Scriptum:
O que pensará Zita Seabra sobre o assunto?
Em entrevista à SIC-Notícias, Santana Lopes explicou posteriormente que a nova norma é mais condescendente do que as que vigoravam antes.
Depois de terminmado o congresso e fora deste, os três candidatos à presidência do PSD manifestaram a sua repugnância pela norma aprovada e a sua disposição de promover a respectiva anulação.
Assim, Passos Coelho escreveu ao presidente da mesa do congresso (a propor) que a norma, seja alterada no congresso de Abril que se segue às directas de 26 de Março.
Paulo Rangel fez saber que, caso seja ele o sucessor de Manuela Ferreira Leite, proporá "a revogação imediata" da dita norma.
Aguiar Branco afirmou o seu objectivo de “impedir a entrada em vigor da norma”.
Se este congresso foi feito a “Pensar Portugal”, como era seu lema, bom será que o próximo seja para “Repensar o PSD”...
A gente não pode deixar de lembrar aquela cantiga que diz “P’ra melhor está bem, está bem; p’ra pior já basta assim!”
Post Scriptum:
O que pensará Zita Seabra sobre o assunto?
Etiquetas:
Congresso do PSD,
partidos,
Passos Coelho,
PSD
9.3.10
O equilíbrio do mêdo
depois do “equilíbrio do terror”
Para que se dencadeie uma revolução - aprende-se na cultura marxista – é necessário que se reunam as condições objectivas (degradação da situação nacional) com as condições subjectivas (descontentamento popular).
Ora, continuando o assunto do meu último artigo, conhecida a ausência de todas as liberdades políticas, culturais, de informação e de expressão em Cuba ou na Coreia do Norte, por exemplo, a par com a manifesta falta de desenvolvimento económico, mas também o descontentamento amordaçado da população, interrogamo-nos sobre o que faltará para que uma revolução nacional deflagre contra a “revolução” pessoal dos respectivos líderes.
Quem viveu sob ditadura, como nós no tempo de Salazar e Caetano, é fácil perceber a explicação: é o mêdo da repressão e, em parte, o mêdo da alternativa que sustentam o regime.
Por outro lado, a profunda injustiça objectiva que constituem as alegadas remunerações escandalosas entre outras mais ou menos ocultas de gestores e grandes accionistas, à custa da “contenção” das remunerações dos trabalhadores em geral; as receitas de “apoios às empresas” e sacrifícios “às famílias”, em regimes políticos com liberdade de informação e de expressão como o nosso, também acolhem a resignação política dos cidadãos, o que impõe a mesma pergunta sobre o que faltará para que uma revolução nacional deflagre contra a democracia corrupta e injusta. E uma vez mais a resposta é fácil: é o mêdo que sustenta o regime. Ainda que neste caso seja apenas o mêdo da alternativa que se revela nos regimes atrás mencionados.
Dupla resposabilidade, pois, desses regimes e das alternativas que noutros países com eles se irmanam.
Entretanto, enquanto as prováveis alternativas vão aprendendo a andar e a falar, o mundo finge-se estável, como alguém que habita uma casa em espaço sísmico mas não tem outro para viver. Até porque, mesmo quando há sismos, não morre toda a gente...
Para que se dencadeie uma revolução - aprende-se na cultura marxista – é necessário que se reunam as condições objectivas (degradação da situação nacional) com as condições subjectivas (descontentamento popular).
Ora, continuando o assunto do meu último artigo, conhecida a ausência de todas as liberdades políticas, culturais, de informação e de expressão em Cuba ou na Coreia do Norte, por exemplo, a par com a manifesta falta de desenvolvimento económico, mas também o descontentamento amordaçado da população, interrogamo-nos sobre o que faltará para que uma revolução nacional deflagre contra a “revolução” pessoal dos respectivos líderes.
Quem viveu sob ditadura, como nós no tempo de Salazar e Caetano, é fácil perceber a explicação: é o mêdo da repressão e, em parte, o mêdo da alternativa que sustentam o regime.
Por outro lado, a profunda injustiça objectiva que constituem as alegadas remunerações escandalosas entre outras mais ou menos ocultas de gestores e grandes accionistas, à custa da “contenção” das remunerações dos trabalhadores em geral; as receitas de “apoios às empresas” e sacrifícios “às famílias”, em regimes políticos com liberdade de informação e de expressão como o nosso, também acolhem a resignação política dos cidadãos, o que impõe a mesma pergunta sobre o que faltará para que uma revolução nacional deflagre contra a democracia corrupta e injusta. E uma vez mais a resposta é fácil: é o mêdo que sustenta o regime. Ainda que neste caso seja apenas o mêdo da alternativa que se revela nos regimes atrás mencionados.
Dupla resposabilidade, pois, desses regimes e das alternativas que noutros países com eles se irmanam.
Entretanto, enquanto as prováveis alternativas vão aprendendo a andar e a falar, o mundo finge-se estável, como alguém que habita uma casa em espaço sísmico mas não tem outro para viver. Até porque, mesmo quando há sismos, não morre toda a gente...
Etiquetas:
alternativas,
democracia,
ditadura,
revolução
8.3.10
Sonhar é legal em Cuba
«Esta noche es la reunión para proponer candidatos en la zona de bloques de concreto donde vivo.
La citación ha llegado desde hace un par de días mientras en la tele nos convocaban a elegir a los mejores y más capaces. Sin embargo, no me queda ni pizca de fe en un mecanismo que ha probado su inoperatividad y su sectarismo.
Me gustaría levantar la mano por el vecino de verbo firme y proyectos concretos que vive al frente, pero hay órdenes de salirle al paso a quien nomine a un “disidente”, incluso a esos que sólo parecen ser proclives al cambio.
Existen muchas posibilidades de que sea ratificado el mismo delegado que desde hace más de diez años nos promete soluciones, a sabiendas que no está en sus manos cumplirlas. Él es el cómodo candidato de estas elecciones baldías, y nosotros meros figurines que deben alzar la mano o rellenar la boleta».
Este excerto do blogue de Yoani Sánchez, que em dois dias já recebeu cerca de 2500 comentários, não faz referência ao facto de que toda a informação publicada em Cuba é propriedade e conteúdo do partido do Governo e que é com essa desinformação e o controlo das opiniões pela polícia política, que se desenrolam os processos eleitorais.
Bem podem os Castros, grandes proprietários de Cuba, invocar os alegados 638 atentados contra Fidel que isso não lhes dá autoridade moral para a imposição da ditadura. Além de que, mesmo depois de morto, o génio, o santo, o insubstituível Fidel continuará a mandar em toda a gente como se vê pelo aparelho que deixa montado.
A menos que uma erupção de violência irrompa algum dia, porque a História não suporta para sempre terrenos instáveis e as margens não podem comprimir indefinidamente a liberdade dos rios - para invocar Brecht !
A História o absolverá? Se tivesse feito a revolução para entregar o futuro de Cuba aos cubanos, sim. Porém, nunca a História absolveu ou lamentou a morte dos ditadores mas sim o sofrimento das suas vítimas que são, não só os presos e exilados, mas todos os que sofrem a sua opressão.
4.3.10
Angola é nossa irmã
Destacamento militar da Cabaca / Angola
A nossa guerra era de sobrevivência, não só às armas mas também ao tédio, ao cansaço, à aviação inimiga (os mosquitos), e às minas antipessoais mais irascíveis (que não as mais perigosas) - as malditas matacanhas e as formigas mordedoras.
Também havia as outras minas, é claro, as instantâneas e letais, e não se passou o tempo todo sem termos disso a prova e as vítimas, como se invoca nesta lápide onde inscrevi a legenda que invoca uma morte. (O militar que posa para a foto que recortei da Net, esse não conheço).*
Naqueles tempos em que a vida dos portugueses - até ao último soldado, como dizia Salazar - não valia nada em comparação com a propriedade das colónias, a rádio emitia uma espécie de hino onde se cantava "Angola é nossa". A expressão ainda hoje me causa calafrios.
Em vez de proclamar que Angola era nossa, sendo que todos os que me rodeavam - talvez todos - estariam dispostos a vender ou a dar a sua parte!, eu inscrevia muito discreta e inutilmente na pala do meu boné (o quico), a sigla A.P.A. que queria dizer "Angola Para os Angolanos". Ainda não era um posição anti-americana e menos ainda anti-soviética, era tão simplesmente anti-colonial - na minha cabeça e no meu cérebro apenas, visto que quase ninguém mais sabia o significado...!
Hoje que Angola se esforça por aumentar os níveis de exportação de petróleo que foram drasticamente reduzidos nos últimos meses, é caso para colocar-se esta questão filosófica: sendo o petróleo angolano uma componente do seu (sub)solo, importá-lo, apropriá-lo, é uma forma de colonização? Paradoxalmente, é o contrário.
No entanto, aquela era a leitura forçada que faziam os anti-comunistas acerca do apoio da União Soviética ao povo colonizado de Angola, assim como viria a acontecer com o apoio de Cuba e com o próprio apoio a Cuba por parte da URSS. A questão, portanto, não está no que se aliena mas sim na liberdade e no interesse legítimo de o fazer.
Não sei o que é que a União Soviética ou Cuba ganharam com o apoio que deram nas lutas de libertação de Angola, mas sei que foi com a sua ajuda que o hino colonial ganhou uma versão muito mais digna: «Angola é nossa, é nossa irmã»!
Pena é que esta fraternidade não beneficie da mesma maneira todos os membros da grande família angolana que é suposto ser o seu povo, mas nem os titulares das lutas de libertação escapam à moral do capitalismo quando esse é o sistema que preconizam.
Notas:
O militar que posa junto da lápide deve ser da Companhia que nos foi render. Recortei a foto na Net.
A menina que aparece na última foto é Isabel dos Santos, filha primogénita do presidente angolano.
A nossa guerra era de sobrevivência, não só às armas mas também ao tédio, ao cansaço, à aviação inimiga (os mosquitos), e às minas antipessoais mais irascíveis (que não as mais perigosas) - as malditas matacanhas e as formigas mordedoras.
Também havia as outras minas, é claro, as instantâneas e letais, e não se passou o tempo todo sem termos disso a prova e as vítimas, como se invoca nesta lápide onde inscrevi a legenda que invoca uma morte. (O militar que posa para a foto que recortei da Net, esse não conheço).*
Naqueles tempos em que a vida dos portugueses - até ao último soldado, como dizia Salazar - não valia nada em comparação com a propriedade das colónias, a rádio emitia uma espécie de hino onde se cantava "Angola é nossa". A expressão ainda hoje me causa calafrios.
Em vez de proclamar que Angola era nossa, sendo que todos os que me rodeavam - talvez todos - estariam dispostos a vender ou a dar a sua parte!, eu inscrevia muito discreta e inutilmente na pala do meu boné (o quico), a sigla A.P.A. que queria dizer "Angola Para os Angolanos". Ainda não era um posição anti-americana e menos ainda anti-soviética, era tão simplesmente anti-colonial - na minha cabeça e no meu cérebro apenas, visto que quase ninguém mais sabia o significado...!
Hoje que Angola se esforça por aumentar os níveis de exportação de petróleo que foram drasticamente reduzidos nos últimos meses, é caso para colocar-se esta questão filosófica: sendo o petróleo angolano uma componente do seu (sub)solo, importá-lo, apropriá-lo, é uma forma de colonização? Paradoxalmente, é o contrário.
No entanto, aquela era a leitura forçada que faziam os anti-comunistas acerca do apoio da União Soviética ao povo colonizado de Angola, assim como viria a acontecer com o apoio de Cuba e com o próprio apoio a Cuba por parte da URSS. A questão, portanto, não está no que se aliena mas sim na liberdade e no interesse legítimo de o fazer.
Não sei o que é que a União Soviética ou Cuba ganharam com o apoio que deram nas lutas de libertação de Angola, mas sei que foi com a sua ajuda que o hino colonial ganhou uma versão muito mais digna: «Angola é nossa, é nossa irmã»!
Pena é que esta fraternidade não beneficie da mesma maneira todos os membros da grande família angolana que é suposto ser o seu povo, mas nem os titulares das lutas de libertação escapam à moral do capitalismo quando esse é o sistema que preconizam.
Notas:
O militar que posa junto da lápide deve ser da Companhia que nos foi render. Recortei a foto na Net.
A menina que aparece na última foto é Isabel dos Santos, filha primogénita do presidente angolano.
Etiquetas:
Angola,
anti-comunismo,
colonialismo,
Guerra colonial
2.3.10
Jornalistas, precisam-se.
“Como estão a ver na imagem” é uma expressão obsessivamente “recorrente” no discurso verbal da televisão. Mas se estão a ver, só pode ser na imagem.
A menos que se trate de linguagem metafórica mas «está-se mesmo a ver» que não é o caso. Neste sentido, ver é perceber, como se... percebe. Portanto, amigos jornalistas, antes de entrarem nas nossas casas, «vejam se» limpam a gramática à porta «visto que» a não limparam na escola nem na universidade. Porque, «como vêem» neste pedaço de literatura, não lhes falta onde gastar o verbo sem dizer disparates – os que os dizem e só esses, claro, mas são muitos e muito persistentes.
Também há quem refira buscas nos escombros para encontrar «sobreviventes ainda com vida». Notícia seria encontrar sobreviventes mortos, isso é que era! Mas desde a ressureição de Jesus Cristo que não temos esse privilégio.
Como os preços dos bens de consumo estão a aumentar (e aumentar não é o mesmo que subir!) parece-me igualmente oportuno prevenir para outra ocorrência literária iminente: quando derem por isso e tiverem a coragem de denunciar que se trata de uma forma furtiva (duplamente furtiva) de reduzir o valor dos salários, não digam que a gasolina aumentou, que o pão aumentou, que o café aumentou – até porque é provável que tudo isto venha a diminuir. Digam sim que «o preço» da gasolina, do pão, do café, aumentou.
Ou então não digam nada; mostrem apenas esse belo sorriso que vos deu o emprego, como decidiu fazer a apresentadora de tv brasileira, Jackeline Petkovic (na foto).
Por falar em desemprego, não digam também «cu» desemprego está a aumentar. Guardem o dito para onde fôr chamado.
Nem comam as últimas sílabas das palavras porque uma coisa é o Papa e outra é o pá, o gajo, o bacano. Tanto stress verbal pode dar a impressão de que são pessoas importantes, sem tempo a perder. Mas perder a dignidade... profissional não é risco que se «corra».
Estou certo que os jornalistas competentes compreenderão o objectivo que «tenho em vista» e, mais que isso, comungarão do mesmo «ponto de vista».
A menos que se trate de linguagem metafórica mas «está-se mesmo a ver» que não é o caso. Neste sentido, ver é perceber, como se... percebe. Portanto, amigos jornalistas, antes de entrarem nas nossas casas, «vejam se» limpam a gramática à porta «visto que» a não limparam na escola nem na universidade. Porque, «como vêem» neste pedaço de literatura, não lhes falta onde gastar o verbo sem dizer disparates – os que os dizem e só esses, claro, mas são muitos e muito persistentes.
Também há quem refira buscas nos escombros para encontrar «sobreviventes ainda com vida». Notícia seria encontrar sobreviventes mortos, isso é que era! Mas desde a ressureição de Jesus Cristo que não temos esse privilégio.
Como os preços dos bens de consumo estão a aumentar (e aumentar não é o mesmo que subir!) parece-me igualmente oportuno prevenir para outra ocorrência literária iminente: quando derem por isso e tiverem a coragem de denunciar que se trata de uma forma furtiva (duplamente furtiva) de reduzir o valor dos salários, não digam que a gasolina aumentou, que o pão aumentou, que o café aumentou – até porque é provável que tudo isto venha a diminuir. Digam sim que «o preço» da gasolina, do pão, do café, aumentou.
Ou então não digam nada; mostrem apenas esse belo sorriso que vos deu o emprego, como decidiu fazer a apresentadora de tv brasileira, Jackeline Petkovic (na foto).
Por falar em desemprego, não digam também «cu» desemprego está a aumentar. Guardem o dito para onde fôr chamado.
Nem comam as últimas sílabas das palavras porque uma coisa é o Papa e outra é o pá, o gajo, o bacano. Tanto stress verbal pode dar a impressão de que são pessoas importantes, sem tempo a perder. Mas perder a dignidade... profissional não é risco que se «corra».
Estou certo que os jornalistas competentes compreenderão o objectivo que «tenho em vista» e, mais que isso, comungarão do mesmo «ponto de vista».
Etiquetas:
apresentadores,
gramática,
Jornalismo,
telejornal,
Televisão
1.3.10
Miguel já arde
Quem viu a não-entrevista de hoje (1/3/2010) de Miguel Sousa Tavares a Gonçalo Amaral, ficou a saber o que não deve fazer um jornalista. E se comparar com a doce entrevista anterior, ao Primeiro-Ministro, é levado a tirar outras conclusões...
É a febre da arrogância, versus o calor da amizade? Parece. Aquele fogo queima. E não será por fazer uma entrevista populista a seguir - isto sou eu a adivinhar - que a credibilidade vai renascer das cinzas. Sobretudo a credibilidade para falar de liberdade de expressão!
É a febre da arrogância, versus o calor da amizade? Parece. Aquele fogo queima. E não será por fazer uma entrevista populista a seguir - isto sou eu a adivinhar - que a credibilidade vai renascer das cinzas. Sobretudo a credibilidade para falar de liberdade de expressão!
Etiquetas:
Jornalismo,
Miguel Sousa Tavares,
Sinais de Fogo
Subscrever:
Mensagens (Atom)