Desta vez não vou referir-me à homilia que a Igreja trás hoje à nossa reflexão. Falo de outra narração do Evangelho, em que se conta um milagre de Jesus, porque me parece uma verdadeira alegoria à crise que alastra actualmente pela Europa e pelo mundo.
"Jesus seguia com os seus discípulos numa embarcação quando ocorreu uma tempestade" (Lucas 8:24). Só nesta descrição já está representada a turbulência da crise, a instabilidade e o medo.
Nestas condições, os discípulos voltam-se para o Mestre e alertam-no para a situação, pedindo que os livre do perigo iminente de se afundarem. Então Jesus pede-lhes fé e manda acalmar as águas
Até aqui não fez mais do que faria qualquer político a quem a população pedisse para suster a crise. Mas queas ondas e os ventos lhe tenham mesmo obedecido, já transcende a comparação entre o Filho de Deus e alguns filhos de… outros progenitores.
31.1.15
29.1.15
Os greco-cépticos
Primeiro era porque o SYRISA seria extremista ou/e radical; depois era porque havia moderado o seu discurso; a seguir, era porque fez uma coligação com um partido de direita… Até já se ouviu comentar que Alexis vive em “união de facto” o que seria uma situação “polémica”!
Agora “o problema” é que não há um ministério dirigido por uma mulher! Que haja ministro invisual não conta para os zelosos da igualdade. Tão preocupados que andam os greco-cépticos. Só não se preocupam em saber se há algum corrupto no Governo, porque, isso sim, seria normal.
Em que raio de faculdade de astrologia é que o J. G. Ferreira estudou jornalismo??? De um jornalista enquanto tal, a gente espera notícias, informação, actualidade; não é ficção.
Se quer fazer manipulação “jornalística”, ao menos aprenda com o outro Zé, o Rodrigues dos Santos – seleccione uma parte da realidade e fale só disso, descontextualizando.
Eles não sabem disso? Claro que sabem. Mas aqui como nos governos, “o maior cego é aquele que não quer ver”.
Agora “o problema” é que não há um ministério dirigido por uma mulher! Que haja ministro invisual não conta para os zelosos da igualdade. Tão preocupados que andam os greco-cépticos. Só não se preocupam em saber se há algum corrupto no Governo, porque, isso sim, seria normal.
ORGULHO PRECONCEITO
O mais orgulhoso comentador económico que não é comentador, José Gomes Ferreira, entre vários “mas eu sou jornalista” e “nós os jornalistas”, excede-se na SIC-Notícias, em anunciar a desgraça que aí vem com o SYRISA. E se nem os seus bem escolhidos convidados querem sujar a reputação, o J. G. Ferreira dá corda: “porque nós os jornalistas temos obrigação de antecipar cenários”.
Em que raio de faculdade de astrologia é que o J. G. Ferreira estudou jornalismo??? De um jornalista enquanto tal, a gente espera notícias, informação, actualidade; não é ficção.
Se quer fazer manipulação “jornalística”, ao menos aprenda com o outro Zé, o Rodrigues dos Santos – seleccione uma parte da realidade e fale só disso, descontextualizando.
José Gomes Ferreira... à direita
Para ser sincero, eu nem creio que estes efeitos de manipulação sejam ideologicamente estruturados, politicamente motivados. Especialmente no caso de Rodrigues dos Santos, mais me parece superficialidade. O caso do outro, é um certo sentimento de autoridade intelectual congénita produzida pelo efeito hipnótico do “estrelato” e alimentada pela reverência conveniente dos actores políticos – é uma doença que ataca muito alguns apresentadores de jornais e outros espectáculos.
Eles não sabem disso? Claro que sabem. Mas aqui como nos governos, “o maior cego é aquele que não quer ver”.
28.1.15
26.1.15
A Grécia falou e disse
Os mentores da ordem estabelecida deviam agradecer
a partidos da "esquerda radical" como o SYRIZA , absorverem os descontentamentos mais exaltados, evitando assim que se tornem descontrolados, violentos, terroristas ou como queiram chamar-lhes.
A esperança que geram estas correntes a que alguns chamam “extremistas”, é o que evita incêndios e apedrejamentos, sabotagens e atentados – extremismos verdadeiros.
É neste sentido da esperança que Alexis Tsipras proclamou, no seu “discurso de vitória” o primado da dignidade sobre a humilhação, a recusa da submissão sem perda de responsabilidade, o respeito recíproco, a urgência de “tratar as feridas da catástrofe”, a atenção à voz do eleitorado contra “a voz da “troika” e da austeridade”…
São questões de princípio, é certo, mas é a falta destes princípios que tem arruinado as economias europeias, que tem empobrecido as populações. Comparadas com o discurso recente de Obama, estas simples questões de princípio são um tratado político.
“O caminho faz-se caminhando”, como dizia António Machado. Mas ao fazê-lo, o caminhante não está perdido se souber ler as estrelas. Por isso, se não é sensato desenhar um roteiro teórico, também não é prudente caminhar de olhos fechados e mente vazia, ao deus-dará (porque “deus não dá”)!
A gente acredita – mostrou que acredita – na capacidade do SYRIZA para ver e interpretar as dificuldades e as possibilidades. E, sobretudo, a coragem de as assumir. Em nome do povo grego mas também “da Europa que está contra a austeridade”, como ele disse.
Neste sentido, já valeu a pena que a Grécia falasse.
Nota: A imagem inicial é uma foto-montagem
a partidos da "esquerda radical" como o SYRIZA , absorverem os descontentamentos mais exaltados, evitando assim que se tornem descontrolados, violentos, terroristas ou como queiram chamar-lhes.
A esperança que geram estas correntes a que alguns chamam “extremistas”, é o que evita incêndios e apedrejamentos, sabotagens e atentados – extremismos verdadeiros.
É neste sentido da esperança que Alexis Tsipras proclamou, no seu “discurso de vitória” o primado da dignidade sobre a humilhação, a recusa da submissão sem perda de responsabilidade, o respeito recíproco, a urgência de “tratar as feridas da catástrofe”, a atenção à voz do eleitorado contra “a voz da “troika” e da austeridade”…
São questões de princípio, é certo, mas é a falta destes princípios que tem arruinado as economias europeias, que tem empobrecido as populações. Comparadas com o discurso recente de Obama, estas simples questões de princípio são um tratado político.
“O caminho faz-se caminhando”, como dizia António Machado. Mas ao fazê-lo, o caminhante não está perdido se souber ler as estrelas. Por isso, se não é sensato desenhar um roteiro teórico, também não é prudente caminhar de olhos fechados e mente vazia, ao deus-dará (porque “deus não dá”)!
A gente acredita – mostrou que acredita – na capacidade do SYRIZA para ver e interpretar as dificuldades e as possibilidades. E, sobretudo, a coragem de as assumir. Em nome do povo grego mas também “da Europa que está contra a austeridade”, como ele disse.
Neste sentido, já valeu a pena que a Grécia falasse.
Nota: A imagem inicial é uma foto-montagem
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23.1.15
Trauma de guerra financeira
Quando eu estava na guerra, nós levávamos sempre uma bazuca connosco nas operações. Não funcionava, é certo, mas era suposto que assustasse o inimigo…!
Foi o que me ocorreu quando ouvi dizer que o BCE se prepara para usar a bazuca para defender a moeda única. Isto é, que O Banco Central Europeu vai comprar dívida no valor de 60 mil milhões de euros por mês aos bancos dos países da Zona Euro.
Quando a Grécia está a dias de rejeitar democraticamente as políticas da União Europeia, na sequência de imposições destrutivas dos estados, de sacrifícios intoleráveis das populações e de ameaças arrasadoras em relação às eleições do próximo domingo, o Banco Central Europeu (BCE) revela agora - ó segredo bem guardado - que não havia necessidade…!
Não podia ser mais oportuno, digo, oportunista.
Face à coragem do povo grego em confrontar Merkel e o seu califado neoliberal, com o desprezo e a repulsa populares, desferindo um golpe democrático incalculável na União Europeia, esta já abre os cordões à bolsa e tira de lá uma “bazuca” financeira de 1.140 mil milhões de Euros!. Afinal, "temos que pagar a dívida" mas…!
Entretanto, as medidas milagrosas anunciadas por Mario Draghi, a que alguém chamava “pós-traumáticas”, fazem pensar:
1) Quanto ao aproveitamento dos recursos europeus em Portugal, a gente lembra-se do que aconteceu ao dinheiro que veio da CEE quando o actual Presidente da República era Primeiro-Ministro. Além da corrupção nunca condenada, só serviu para enriquecer os marajás. Isto é, o BCE vai ajudar os bancos! E eu?
2) O euro desvaloriza, logo os preços sobem! Isto é, o custo de vida aumenta. Obrigado!
3) A inflacção que “deverá” resultar desta medida, deveria trazer aumentos salariais e correspondente aumento do poder de compra. Pois era, mas a gente sabe que não traz aumentos, até porque “não podemos voltar a cair no facilitismo blá blá blá”!
4) Haverá um aumento do investimento externo, devido à descida dos preços na exportação – diz-se. E será feito por quem e onde, uma vez que a medida abrange todos os países da zona euro?
5) As taxas de juros descem. Pois, mas isso não basta para que as empresas invistam se os seus produtos não tiverem procura! E as famílias não vão pedir empréstimos para consumo, neste contexto de austeridade.
Enfim, esta bazuca não me oferece muita confiança. Mas talvez isto seja o meu trauma de guerra.
Foi o que me ocorreu quando ouvi dizer que o BCE se prepara para usar a bazuca para defender a moeda única. Isto é, que O Banco Central Europeu vai comprar dívida no valor de 60 mil milhões de euros por mês aos bancos dos países da Zona Euro.
Quando a Grécia está a dias de rejeitar democraticamente as políticas da União Europeia, na sequência de imposições destrutivas dos estados, de sacrifícios intoleráveis das populações e de ameaças arrasadoras em relação às eleições do próximo domingo, o Banco Central Europeu (BCE) revela agora - ó segredo bem guardado - que não havia necessidade…!
Não podia ser mais oportuno, digo, oportunista.
Face à coragem do povo grego em confrontar Merkel e o seu califado neoliberal, com o desprezo e a repulsa populares, desferindo um golpe democrático incalculável na União Europeia, esta já abre os cordões à bolsa e tira de lá uma “bazuca” financeira de 1.140 mil milhões de Euros!. Afinal, "temos que pagar a dívida" mas…!
Entretanto, as medidas milagrosas anunciadas por Mario Draghi, a que alguém chamava “pós-traumáticas”, fazem pensar:
1) Quanto ao aproveitamento dos recursos europeus em Portugal, a gente lembra-se do que aconteceu ao dinheiro que veio da CEE quando o actual Presidente da República era Primeiro-Ministro. Além da corrupção nunca condenada, só serviu para enriquecer os marajás. Isto é, o BCE vai ajudar os bancos! E eu?
2) O euro desvaloriza, logo os preços sobem! Isto é, o custo de vida aumenta. Obrigado!
3) A inflacção que “deverá” resultar desta medida, deveria trazer aumentos salariais e correspondente aumento do poder de compra. Pois era, mas a gente sabe que não traz aumentos, até porque “não podemos voltar a cair no facilitismo blá blá blá”!
4) Haverá um aumento do investimento externo, devido à descida dos preços na exportação – diz-se. E será feito por quem e onde, uma vez que a medida abrange todos os países da zona euro?
5) As taxas de juros descem. Pois, mas isso não basta para que as empresas invistam se os seus produtos não tiverem procura! E as famílias não vão pedir empréstimos para consumo, neste contexto de austeridade.
Enfim, esta bazuca não me oferece muita confiança. Mas talvez isto seja o meu trauma de guerra.
22.1.15
20.1.15
18.1.15
Porque hoje é domingo (66)
Por volta das quatro da tarde, os dois irmãos recrutados para seguir o Rabi, acompanharam-no até casa e receberam as suas instruções. Nomeadamente, um deles mudou de nome deixando de ser Simão para ser Cefas – o que, hoje em dia, levantaria fortes suspeitas à polícia.
Este episódio do Evangelho é invocado neste domingo pela Igreja, para apresentar o tema da adesão ao cristianismo. Cito um texto de um sacerdote qualificado:
O que é, em concreto, seguir Jesus? É ver n’Ele o Messias libertador com uma proposta de vida verdadeira e eterna, aceitar tornar-se seu discípulo, segui-l’O no caminho do amor, da entrega, da doação da vida, aceitar o desafio de entrar na sua casa e de viver em comunhão com Ele.
O nosso texto (Evangelho Jo 1,35-42) sugere também que essa adesão só pode ser radical e absoluta, sem meias tintas nem hesitações. (…) Simplesmente “seguiram Jesus”, sem garantias, sem condições, sem explicações supérfluas, sem “seguros de vida”, sem se preocuparem em salvaguardar o futuro se a aventura não desse certo. A aventura da vocação é sempre um salto, decidido e sereno, para os braços de Deus.
E eu pergunto o que falta aqui para explicar como a religião recruta e orienta os seus fiéis na base da obediência irracional, dogmática, acrítica e alucinada*, que tão bem serve os projectos pessoais dos seus líderes e os poderes que lhes estejam associados. É o fundamentalismo religioso.
* Expressão de F.Gil em Análise
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Local:
Vila Nova de Gaia, Portugal
17.1.15
15.1.15
Liberdade não é tudo
No dia seguinte aos recentes atentados em Paris, o Ministro do Interior francês condenou "com a maior firmeza, a violência e a profanação" ocorridas em alguns locais de culto muçulmano em França”.
Alguém faz o favor de explicar num francês melhor que o meu, que as suas palavras condenam… as caricaturas de Maomé feitas no Charlie Hebdon ? “Profanação é “o acto de retirar a algo o seu carácter sagrado, ou o tratamento desrespeitoso a algo que é considerado sagrado por um indivíduo ou grupo de indivíduos”. Quem o profanasse!
Na mesma linha de “coerência”, o “polemista” Dieudonné foi surpreendido às sete da manhã de quarta-feira, 14, na sua residência , por uma dezena de polícias que o interpelaram na frente dos filhos e o vão levar brevemente a julgamento, acusado de ter escrito na sua página do Facebook que se sentia «Charlie Coulibaly» - sendo Coulibaly o ihadista que atacou o mercado de produtos judeus.
Mas o que está em causa, a meu ver, é que a liberdade de expressão não é um fim em si, como tem sido apresentada, mas é um instrumento de boa convivência. Só assim faz sentido a repressão sobre Dieudonné como faria sentido a responsabilização dos autores de mensagens públicas profanatórias.
Outra questão é a abordagem do assunto do ponto de vista legal, que é a forma como ele está a ser tratado em França. Neste âmbito, parece que há um confronto entre a proibição de difamação de grupos religiosos, e a liberdade de expressão.
O que é proibido, diz-se, é a ofensa a pessoas individuais e não a instituições. E as caricaturas do jornal Charlie Hebdon referem-se a um símbolo religioso (uma personagem sacralizada para representar uma corrente religiosa, digo eu) e não a um indivíduo concreto. Quanto à incriminação de Dieudonné, é devida a um alegado “incitamento ao terrorismo”. Mas esta é uma abordagem que só interessa para efeitos jurídicos, acho eu.
Alguém faz o favor de explicar num francês melhor que o meu, que as suas palavras condenam… as caricaturas de Maomé feitas no Charlie Hebdon ? “Profanação é “o acto de retirar a algo o seu carácter sagrado, ou o tratamento desrespeitoso a algo que é considerado sagrado por um indivíduo ou grupo de indivíduos”. Quem o profanasse!
Na mesma linha de “coerência”, o “polemista” Dieudonné foi surpreendido às sete da manhã de quarta-feira, 14, na sua residência , por uma dezena de polícias que o interpelaram na frente dos filhos e o vão levar brevemente a julgamento, acusado de ter escrito na sua página do Facebook que se sentia «Charlie Coulibaly» - sendo Coulibaly o ihadista que atacou o mercado de produtos judeus.
Mas o que está em causa, a meu ver, é que a liberdade de expressão não é um fim em si, como tem sido apresentada, mas é um instrumento de boa convivência. Só assim faz sentido a repressão sobre Dieudonné como faria sentido a responsabilização dos autores de mensagens públicas profanatórias.
Outra questão é a abordagem do assunto do ponto de vista legal, que é a forma como ele está a ser tratado em França. Neste âmbito, parece que há um confronto entre a proibição de difamação de grupos religiosos, e a liberdade de expressão.
O que é proibido, diz-se, é a ofensa a pessoas individuais e não a instituições. E as caricaturas do jornal Charlie Hebdon referem-se a um símbolo religioso (uma personagem sacralizada para representar uma corrente religiosa, digo eu) e não a um indivíduo concreto. Quanto à incriminação de Dieudonné, é devida a um alegado “incitamento ao terrorismo”. Mas esta é uma abordagem que só interessa para efeitos jurídicos, acho eu.
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14.1.15
Os custos do terrorismo
O combate ao terrorismo, por parte dos Estados Unidos da América e da Europa, dispende valores astronómicos que são cobrados nos orçamentos dos respectivos estados, isto é, em prejuízo do desenvolvimento nacional e do bem-estar das respectivas populações.
Só a título de exemplo, a invasão do Afeganistão em 2001 e do Iraque em 2003, e as sucessivas operações militares no Paquistão, representam um custo de cerca de 4 000 milhões de dólars para os EUA. (*)
Por outro lado, e para além das despesas com materiais afectos às operações, e salários dos militares, o estado fica ainda com intermináveis despesas relacionadas com as mortes e doenças permanentes do pessoal que regressa das operações – milhares e milhares de que não se fala.
E tudo resulta, geralmente, num aumento das tensões regionais que alimentam mais vocações terroristas, na ineficácia quanto à eliminação do fenómeno e na frustração dos cidadãos dos estados intervencionistas.
Só a resposta policial e militar aos ataques terroristas em Paris, em 7 de Janeiro, quanto terá custado? As medidas de investigação, vigilância, segurança e repressão que foram tomadas antes e depois dessa intervenção directa, quanto custaram? Quanto custam as “medidas excepcionais” que estão em curso e que visam, nomeadamente, fornecer segurança a orgãos de comunicação, mesquitas e escolas?
Mas a pergunta que mais importa, é: quanto custarão ainda, se não se tomarem também medidas de integração social dos grupos e camadas marginalizadas? Isto é, quantos hospitais, escolas, professores, empregos, infraestruturas suburbanas será necessário financiar para reduzir os custos em esquadras e polícias e armas e sangue?
Será que a dignificação da vida suburbana, porventura a medida mais eficaz, merece ao menos a mesma atenção que o reforço do controlo de circulação, o aperfeiçoamento das tecnologias de vigilância informática, o reapetrechamento das esquadras, a multiplicação de agentes policiais e tudo o mais que neste momento se discute ou re-discute?
Os prejuízos económicos associados à desestabilização social que resultam intencionalmente das acções terroristas, pesam mais nas diligências de alguns governantes – nos países mais ameaçados – do que a liberdade de imprensa. E é nesta lógica que entendo a solidariedade estratégica que junta Merkel, Hollande, Netanyahu, David Cameron, Mariano Rajoy, Samaras e outros. (Não menos que esses, estiveram na marcha só para ficar na fotografia da grande irmandade ocidental).
Entre aqueles que sinceramente estão preocupados com as questões de segurança e integração, e que estarão representados nas tais discussões “novas”, conta-se inevitavelmente Angela Merkel, que disse nesta terça-feira, numa conferência em Berlim: "Precisamos de saber como usar todos os meios à nossa disposição, como um Estado constitucional, para combater a violência e a intolerância".
Um inquérito recente, mas feito antes dos ataques de Paris, para a Fundação Bertelsmann, mostrou que 57% da população alemã não muçulmana se sentia ameaçada “pelo islão”. Por toda a Alemanha estima-se que 100 mil pessoas tenham aderido aos movimentos antimuçulmanos e a favor de leis de imigração mais restritas.
A forma como Angela Merkel coloca o problema dos "meios" assemelha-se demasiado à posição de Bush a seguir ao caso das Torres Gémeas e que o levaram aos abusos criminosos ocorridos no estrangeiro! Mas a preocupação de Merkel é justificada, como a preocupação de Hollande e Rajoy, por exemplo.
Porém, quem conhece a mentalidade destes dirigentes não pode deixar de recear uma fixação exclusiva na estratégia securitária, o medo ou a incapacidade de olhar para a parte imaterial do problema. Por isso este apelo a que façam contas, ao menos.
Só a título de exemplo, a invasão do Afeganistão em 2001 e do Iraque em 2003, e as sucessivas operações militares no Paquistão, representam um custo de cerca de 4 000 milhões de dólars para os EUA. (*)
Por outro lado, e para além das despesas com materiais afectos às operações, e salários dos militares, o estado fica ainda com intermináveis despesas relacionadas com as mortes e doenças permanentes do pessoal que regressa das operações – milhares e milhares de que não se fala.
E tudo resulta, geralmente, num aumento das tensões regionais que alimentam mais vocações terroristas, na ineficácia quanto à eliminação do fenómeno e na frustração dos cidadãos dos estados intervencionistas.
Só a resposta policial e militar aos ataques terroristas em Paris, em 7 de Janeiro, quanto terá custado? As medidas de investigação, vigilância, segurança e repressão que foram tomadas antes e depois dessa intervenção directa, quanto custaram? Quanto custam as “medidas excepcionais” que estão em curso e que visam, nomeadamente, fornecer segurança a orgãos de comunicação, mesquitas e escolas?
Mas a pergunta que mais importa, é: quanto custarão ainda, se não se tomarem também medidas de integração social dos grupos e camadas marginalizadas? Isto é, quantos hospitais, escolas, professores, empregos, infraestruturas suburbanas será necessário financiar para reduzir os custos em esquadras e polícias e armas e sangue?
Será que a dignificação da vida suburbana, porventura a medida mais eficaz, merece ao menos a mesma atenção que o reforço do controlo de circulação, o aperfeiçoamento das tecnologias de vigilância informática, o reapetrechamento das esquadras, a multiplicação de agentes policiais e tudo o mais que neste momento se discute ou re-discute?
Os prejuízos económicos associados à desestabilização social que resultam intencionalmente das acções terroristas, pesam mais nas diligências de alguns governantes – nos países mais ameaçados – do que a liberdade de imprensa. E é nesta lógica que entendo a solidariedade estratégica que junta Merkel, Hollande, Netanyahu, David Cameron, Mariano Rajoy, Samaras e outros. (Não menos que esses, estiveram na marcha só para ficar na fotografia da grande irmandade ocidental).
Entre aqueles que sinceramente estão preocupados com as questões de segurança e integração, e que estarão representados nas tais discussões “novas”, conta-se inevitavelmente Angela Merkel, que disse nesta terça-feira, numa conferência em Berlim: "Precisamos de saber como usar todos os meios à nossa disposição, como um Estado constitucional, para combater a violência e a intolerância".
Um inquérito recente, mas feito antes dos ataques de Paris, para a Fundação Bertelsmann, mostrou que 57% da população alemã não muçulmana se sentia ameaçada “pelo islão”. Por toda a Alemanha estima-se que 100 mil pessoas tenham aderido aos movimentos antimuçulmanos e a favor de leis de imigração mais restritas.
A forma como Angela Merkel coloca o problema dos "meios" assemelha-se demasiado à posição de Bush a seguir ao caso das Torres Gémeas e que o levaram aos abusos criminosos ocorridos no estrangeiro! Mas a preocupação de Merkel é justificada, como a preocupação de Hollande e Rajoy, por exemplo.
Porém, quem conhece a mentalidade destes dirigentes não pode deixar de recear uma fixação exclusiva na estratégia securitária, o medo ou a incapacidade de olhar para a parte imaterial do problema. Por isso este apelo a que façam contas, ao menos.
12.1.15
Ser ou não ser Charlie
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11.1.15
Porque hoje é domingo (65)
As acções terroristas ocorridas em Paris no passado dia 7 de Janeiro, depois de concentrarem as atenções públicas ou mediáticas nos actos criminais, naturalmente, começaram a focar-se nas motivações, nas explicações
pessoais e sociais. E, associadas a estas últimas, as questões políticas, desde
a defesa das liberdades (em manifestações, p.e.) até aos apelos xenófobos (as
declarações de Marine Le Pen, p.e.).
Por minha parte, e associando-me ao posicionamento ateu do jornal "Charlie Hebdo" e porque hoje é domingo!, abordo a questão religiosa.
Miguel Real defende que a religião assenta na “suspeita da existência” de uma realidade exterior àquela que conhecemos, uma “realidade outra”.
E que a fé nessa realidade, nesse “outro mundo”, é um sentimento individual, uma “emoção”.
Quanto ao conteúdo doutrinário da religião, ele diz que é “apenas ficção”.
Na minha opinião, a religião explora os sentimentos mais íntimos e intensos inerentes à natureza humana, tal como a política explora o sentido de justiça, e o comércio explora as necessidades materiais.
Um terrorista é feito de todos estes elementos.
Além disso, tal como o comércio inventa novas necessidades, para sobreviver, a política inventa conflitos e a religião inventa infernos e paraísos, pecados e absolvições, deuses, anjos e santos. E mártires!
Um terrorista religioso que sacrifica a sua vida e a dos outros, faz do sangue o combustível que inflama a sua religião. Até porque é no terror que se fundamenta a fé, como Saramago (*) e outros têm mostrado, com fundamento nos “livros sagrados”.
Enquanto portadora de medos e castigos, a religião é, ela própria, terrorista.
(*) Ver minha adenda em “comentários”.
Por minha parte, e associando-me ao posicionamento ateu do jornal "Charlie Hebdo" e porque hoje é domingo!, abordo a questão religiosa.
Miguel Real defende que a religião assenta na “suspeita da existência” de uma realidade exterior àquela que conhecemos, uma “realidade outra”.
E que a fé nessa realidade, nesse “outro mundo”, é um sentimento individual, uma “emoção”.
Quanto ao conteúdo doutrinário da religião, ele diz que é “apenas ficção”.
Na minha opinião, a religião explora os sentimentos mais íntimos e intensos inerentes à natureza humana, tal como a política explora o sentido de justiça, e o comércio explora as necessidades materiais.
Um terrorista é feito de todos estes elementos.
Além disso, tal como o comércio inventa novas necessidades, para sobreviver, a política inventa conflitos e a religião inventa infernos e paraísos, pecados e absolvições, deuses, anjos e santos. E mártires!
Um terrorista religioso que sacrifica a sua vida e a dos outros, faz do sangue o combustível que inflama a sua religião. Até porque é no terror que se fundamenta a fé, como Saramago (*) e outros têm mostrado, com fundamento nos “livros sagrados”.
Enquanto portadora de medos e castigos, a religião é, ela própria, terrorista.
(*) Ver minha adenda em “comentários”.
8.1.15
O terrorista e as suas circunstâncias
A melhor maneira de saber o que transforma num terrorista, um jovem "integrado" socialmente, é perguntar-lhe. Mas, para isso, é preciso não ter medo da resposta.
Os pais, argelinos emigrados em Paris, terão falecido quando Cherif e o irmão, Said, eram ainda crianças. Os dois irmãos Kouachi nasceram em Paris e cresceram em Rennes até voltarem a viver em Paris. Terão feito uma vida pacífica e discreta.
Na década de 90, Cherif é suspeito de tentar engendrar um plano para libertar o cérebro dos atentados de 1995 (oito atentados à bomba, associados à guerra civil argelina e que levaram à suspensão dos acordos de Schengen).
Os dois irmãos, ainda menores de idade, ficaram sob os cuidados dos serviços sociais franceses entre 1994 e 2000 num “centro educacional” de Rennes – um orfanato. Said tirou então um curso de hotelaria, e Cherif fez um curso de eletrotécnica.
Cherif, já com um diploma de professor de desporto, voltou para Paris onde trabalhou a entregar pizzas!
Em 2003, quando tinha 21 anos, Cherif começou a frequentar uma mesquita, onde conheceu um religioso de orientação salafista que era mentor de diversos jovens e que levaria os dois irmãos para a via do extremismo fanático. Para isso teria contribuído, segundo terá dito à Associated Press, as imagens ultrajantes de tortura infligida a iraquianos, que viu ocorrerem na prisão norte-americana de Abu Ghraib.
Ao que parece, essa repulsa contra imagens ultrajantes não lhe ocorreu durante a prática dos crimes que ele próprio depois cometeu.
A partir daí, é a história de um jihadista, entre os treinos militares, a participação em atentados, as prisões, as fugas, o recrutamento de novos combatentes, a clandestinidade, viagens à Síria e ao Iraque, novos atentados, novas perseguições – o círculo vicioso do crime. Porque Deus… Porque o Profeta… Porque já não há outra solução: o crime ou a prisão.
Nestas circunstâncias, o melhor que pode fazer, se ainda tiver oportunidade, é vingar-se de alguma forma útil, isso sim, dos mentores que o contaminaram com o vírus do ódio. E entregar-se à Polícia.
Os pais, argelinos emigrados em Paris, terão falecido quando Cherif e o irmão, Said, eram ainda crianças. Os dois irmãos Kouachi nasceram em Paris e cresceram em Rennes até voltarem a viver em Paris. Terão feito uma vida pacífica e discreta.
Na década de 90, Cherif é suspeito de tentar engendrar um plano para libertar o cérebro dos atentados de 1995 (oito atentados à bomba, associados à guerra civil argelina e que levaram à suspensão dos acordos de Schengen).
Os dois irmãos, ainda menores de idade, ficaram sob os cuidados dos serviços sociais franceses entre 1994 e 2000 num “centro educacional” de Rennes – um orfanato. Said tirou então um curso de hotelaria, e Cherif fez um curso de eletrotécnica.
Cherif, já com um diploma de professor de desporto, voltou para Paris onde trabalhou a entregar pizzas!
Em 2003, quando tinha 21 anos, Cherif começou a frequentar uma mesquita, onde conheceu um religioso de orientação salafista que era mentor de diversos jovens e que levaria os dois irmãos para a via do extremismo fanático. Para isso teria contribuído, segundo terá dito à Associated Press, as imagens ultrajantes de tortura infligida a iraquianos, que viu ocorrerem na prisão norte-americana de Abu Ghraib.
Ao que parece, essa repulsa contra imagens ultrajantes não lhe ocorreu durante a prática dos crimes que ele próprio depois cometeu.
A partir daí, é a história de um jihadista, entre os treinos militares, a participação em atentados, as prisões, as fugas, o recrutamento de novos combatentes, a clandestinidade, viagens à Síria e ao Iraque, novos atentados, novas perseguições – o círculo vicioso do crime. Porque Deus… Porque o Profeta… Porque já não há outra solução: o crime ou a prisão.
Nestas circunstâncias, o melhor que pode fazer, se ainda tiver oportunidade, é vingar-se de alguma forma útil, isso sim, dos mentores que o contaminaram com o vírus do ódio. E entregar-se à Polícia.
5.1.15
3.1.15
António Costa e Papandreu,
a mesma luta !
Para que o Partido Comunista, em Portugal, e o Syrisa, na Grécia, não beneficiem do descontentamento popular que é gerado pelas políticas neo-liberais dos partidos social-democratas (PSD e PS), os partidos “Socialistas” dos dois países introduzem no panorama partidário um elemento de confusão, uma suposta alternativa às verdadeiras alternativas – uma nova direcção ou um novo partido, “agora sim”, para corresponder aos sentimentos e anseios dos cidadãos.
“É tempo para construir, em conjunto, uma nova casa política que acolha os valores progressistas, os valores que nos unem”, diz Geórgios Papandreu como se o Syrisa não fosse claramente essa nova casa, com a vantagem de já acolher a confiança dos cidadãos, de já ter construído um espaço capaz de disputar com vantagem o próximo Governo da Grécia. Mas Papandreu, divergindo oficialmente do seu partido socialista, o Pasok, faz de conta que o Syrisa não existe!
Nas eleições parlamentares de Maio de 2012, o Pasok foi fortemente reprovado pelos eleitores, ficando-se por 12,28%, devido à sua política de alinhamento com a “troika” internacional e às violentas políticas anti-populares associadas. O Syrisa ascendeu então a uma posição inesperada e apresenta-se agora com fortes possibilidades de vencer as eleições de 25 de Janeiro.
O SYRISA (Coligação da Esquerda Radical), com uma ideologia anti-liberal e de ruptura com o sistema bi-partidário, não sendo um partido comunista, afigura-se para os partidos social-democratas como um seu equivalente nas circunstâncias actuais.
A questão é que, na Grécia, é o Syrisa que ameaça o sistema, e não o Partido Comunista Grego. Este foi reduzido a 4,5% nos resultados eleitorais de 2012, enquanto o Syrisa, com 26,89%, ficou a menos de 3% de distância do partido mais votado e tudo indica que ganhará as próximas eleições.
A estratégia dos partidos “Socialistas” para desviar as correntes revolucionárias, nomeadamente para filtrar a influência dos partidos comunistas nas “massas populares”, já vem de longe. Vem da fundação da II Internacional em 1889, posteriormente designada “Internacional Socialista”.
No contexto português em curso, o lançamento de António Costa para contrariar a tendência de crescimento do PCP já iniciada nas eleições europeias, é a expressão dessa estratégia do Partido Socialista. Por isso é tão bem tolerado pela direira.
António Costa e o PS estão no seu direito, entenda-se. Em democracia, todos os partidos e movimentos têm o direito de defender os seus programas e de se oporem politicamente aos outros. O que não têm é a mesma moral. Era disto que falava Álvaro Cunhal quando invocava “a superioridade moral dos comunistas” – moral de classe, entenda-se. E não cabe aqui apenas um juízo de valor, é sobretudo um juízo de facto sobre o apoio das bases do PS e sobre a própria vontade de A. Costa.
A foto inicial é uma montagem para este blogue.
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2.1.15
Celebrações
As celebrações de Natal e de ano novo têm o efeito perverso de gritar aos pobres quanto são pobres, e às pessoas sós a sua solidão.
Felizmente são de curta duração - as celebrações, não a pobreza e a solidão.
A canção que segue é uma forma lúdica de nos envolvermos a todos num sentimento de solidariedade, se mais não for, com eles e também com os emigrantes económicos - todos os ausentes da mesa festiva de que falam as tais celebrações, e independentememnte das datas.
Já os nossos governantes, apóstolos da austeridade e empobrecimento das camadas não-privilegiadas, cantam assim:
«Todos podemos fazer um pouco mais para ajudar quem mais sofre, quem perdeu o emprego, ou quem teve de adiar os seus sonhos ou projetos. Estes anos difíceis irão passar, não tenhamos dúvidas». (Passos Coelho 25Dez2014)
«A economia está a crescer, a competitividade melhorou, o investimento iniciou uma trajetória de recuperação e o desemprego diminuiu». (Cavaco Silva, 01Jan2015)
Felizmente são de curta duração - as celebrações, não a pobreza e a solidão.
A canção que segue é uma forma lúdica de nos envolvermos a todos num sentimento de solidariedade, se mais não for, com eles e também com os emigrantes económicos - todos os ausentes da mesa festiva de que falam as tais celebrações, e independentememnte das datas.
Já os nossos governantes, apóstolos da austeridade e empobrecimento das camadas não-privilegiadas, cantam assim:
«Todos podemos fazer um pouco mais para ajudar quem mais sofre, quem perdeu o emprego, ou quem teve de adiar os seus sonhos ou projetos. Estes anos difíceis irão passar, não tenhamos dúvidas». (Passos Coelho 25Dez2014)
«A economia está a crescer, a competitividade melhorou, o investimento iniciou uma trajetória de recuperação e o desemprego diminuiu». (Cavaco Silva, 01Jan2015)
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