Na história da Páscoa, os coelhos ocorrem como fenómeno da Primavera – a altura em que os animais saíam das suas tocas para a luz do sol, fenómeno celebrado por povos ancestrais. É no mesmo contexto que aparece a tradição dos ovos. Na nossa Páscoa, porém, quem saiu da toca foi José Sócrates com a intenção de enterrar Passos Coelho. São as ironias da História.
Desde a antiga bíblia capitalista até ao evangelho ultra-liberal, não faltam pregadores e profetas, falta a verdade e os milagres que nos permitam atravessar o rio do desemprego, despir o sudário da austeridade, libertar dos faraós financeiros. Messias há muitos. Já os havia no tempo em que Jesus era apenas mais um judeu que frequentava o templo e a sinagoga. Ele que sairia da gruta onde o sepultaram, nesta mesma época do ano.
Com Sócrates acorrem a terreiro nesta Primavera, discípulos e até rivais da mesma Igreja, primeiro António Costa, depois António Seguro, amplificando as vozes de protesto que há muito se ouviam nas hostes do PC e do BE, da CGT e dos sectores mais diversos e numerosos da população. Até do seio da maioria artificial emergem cada vez mais vultos desiludidos com a “religião” que professam.
A Primavera parece começar a florir. Seria uma feliz coincidência que Portugal ressuscitasse em Abril. Mas se for em Maio, ainda é Primavera. Haja fé e persistência apostólica e popular.
31.3.13
29.3.13
Política e religião franciscana
Quando a esperança dos povos se desloca da religião para a razão, da ritualidade para a realidade, do Vaticano para os parlamentos nacionais onde o paraíso é menos celeste mas é mais credível, não tem a Igreja outra solução do que refundar-se para não afundar-se na decadência religiosa e financeira.
E quando a principal fonte de alimento do Vaticano é a América Latina, lá onde pulsa agora, ainda por cima, uma vibração política progressista e popular que sabe conviver com os sentimentos religiosos dos seus povos, lá onde um operário político e não um santo, Lula da Silva, herda o reino de David e proclama a justiça e a prosperidade, lá onde um militar revolucionário, Hugo Chavez, forma e lidera as suas hostes e a sua diplomacia para a guerra contra a pobreza, contra a injustiça social e a colonização económica, então o Vaticano tem que dobrar-se aos pés do povo, desdobrar-se em gestos de humildade.
Não ponho em causa a genuína humildade do papa Francisco mas sim a do conclave que o elegeu. Quem foi capaz de sobreviver ao estigma da Inquisição, sabe sobreviver ao estigma da corrupção.
Dir-se-ia que o Papa tem uma vantagem: o seu discurso apoia-se na fé, esse conceito de verdade que escapa ao pensamento lógico – em matéria de juízo, basta-lhe a chantagem do juízo final e tudo o resto “se explica” com o dogma de que “Deus escreve direito por linhas tortas”. Mas não é na fé que se apoia a política? Com uma diferença: a política decide sobre o pão dos povos enquanto a religião decide, antes de mais, sobre o pão dos sacerdotes.
E quando a principal fonte de alimento do Vaticano é a América Latina, lá onde pulsa agora, ainda por cima, uma vibração política progressista e popular que sabe conviver com os sentimentos religiosos dos seus povos, lá onde um operário político e não um santo, Lula da Silva, herda o reino de David e proclama a justiça e a prosperidade, lá onde um militar revolucionário, Hugo Chavez, forma e lidera as suas hostes e a sua diplomacia para a guerra contra a pobreza, contra a injustiça social e a colonização económica, então o Vaticano tem que dobrar-se aos pés do povo, desdobrar-se em gestos de humildade.
Não ponho em causa a genuína humildade do papa Francisco mas sim a do conclave que o elegeu. Quem foi capaz de sobreviver ao estigma da Inquisição, sabe sobreviver ao estigma da corrupção.
Dir-se-ia que o Papa tem uma vantagem: o seu discurso apoia-se na fé, esse conceito de verdade que escapa ao pensamento lógico – em matéria de juízo, basta-lhe a chantagem do juízo final e tudo o resto “se explica” com o dogma de que “Deus escreve direito por linhas tortas”. Mas não é na fé que se apoia a política? Com uma diferença: a política decide sobre o pão dos povos enquanto a religião decide, antes de mais, sobre o pão dos sacerdotes.
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27.3.13
O debate em debate
O anúncio das entrevistas a José Sócrates que hoje se iniciam após a sua saída da governação, não ainda o conteúdo das entrevistas, note-se, mas a sua realização, criou uma carga dramática elucidativa do que é verdadeiramente a natureza da "Comunicação" Social: espectáculo!
Por detrás da preocupação com “o interesse nacional” e até com o “interesse social”, esconde-se no discurso de muitos analistas, a sua preocupação dominante: a afirmação da sua competência, da “sua” razão.
Felismente “o povo não é estúpido” e até porque é feito da mesma massa, sabe destas fragilidades da condição humana e dá algum desconto aos pareceres dos comentadores públicos.
Entretanto, quando a figura pública é identificável ideologicamente, ela representa para o espectador a sua ideologia, logo, o próprio espectador - se o representante do meu grupo ideológico vence ou perde um debate, eu ganho ou perco com ele. Isto é, o espectador não é isento e é com essa falta de isenção que ele próprio irá repercutir no espaço familiar ou social o conteúdo do comentário ou do debate público a que assistiu.
Mais, antes do espectador, os próprios jornalistas que são feitos da mesma massa que os políticos e os cidadãos comuns, interferem com os seus preconceitos neste jogo de prestígio e assim alimentam o conflito dramático.
Se juntarmos a tudo isto,que "a comunicação é mais de 90% afectiva e pouco mais de um por cento informativa", é caso para perguntar o que sobra de verdadeiro, rigoroso, credível, no fim de um debate ou de uma entrevista polémica.
Sobra apenas o espectáculo, portanto, se os intervenientes não forem excepcionais como raramente acontece. Não me parece que seja o caso de José Sócrates de quem espero apenas a desinteressante defesa da "sua" razão. Mas reconheço que eu próprio sou feito da mesma massa de que são feitos os preconceituosos.
Por detrás da preocupação com “o interesse nacional” e até com o “interesse social”, esconde-se no discurso de muitos analistas, a sua preocupação dominante: a afirmação da sua competência, da “sua” razão.
Felismente “o povo não é estúpido” e até porque é feito da mesma massa, sabe destas fragilidades da condição humana e dá algum desconto aos pareceres dos comentadores públicos.
Entretanto, quando a figura pública é identificável ideologicamente, ela representa para o espectador a sua ideologia, logo, o próprio espectador - se o representante do meu grupo ideológico vence ou perde um debate, eu ganho ou perco com ele. Isto é, o espectador não é isento e é com essa falta de isenção que ele próprio irá repercutir no espaço familiar ou social o conteúdo do comentário ou do debate público a que assistiu.
Mais, antes do espectador, os próprios jornalistas que são feitos da mesma massa que os políticos e os cidadãos comuns, interferem com os seus preconceitos neste jogo de prestígio e assim alimentam o conflito dramático.
Se juntarmos a tudo isto,que "a comunicação é mais de 90% afectiva e pouco mais de um por cento informativa", é caso para perguntar o que sobra de verdadeiro, rigoroso, credível, no fim de um debate ou de uma entrevista polémica.
Sobra apenas o espectáculo, portanto, se os intervenientes não forem excepcionais como raramente acontece. Não me parece que seja o caso de José Sócrates de quem espero apenas a desinteressante defesa da "sua" razão. Mas reconheço que eu próprio sou feito da mesma massa de que são feitos os preconceituosos.
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25.3.13
Classe média, não.
Um grupo social com enorme percentagem de desempregados permanentes, trabalhadores precários e sobrecarga horária, com dificuldades de alojamento e alimentação, com uma protecção social insegura e serviços sociais em deterioração, sem capacidade económica para aceder ao ensino universitário, à cultura e ao lazer, só pode continuar a chamar-se “classe média” porque se situa entre os mendigos maltrapilhos e os que vivem da exploração e da corrupção.
Porém, sociologicamente, teremos que arranjar outro nome para a classe “média” – um nome em que talvez se possam aproveitar quase todas as letras por razões de austeridade!
Porém, sociologicamente, teremos que arranjar outro nome para a classe “média” – um nome em que talvez se possam aproveitar quase todas as letras por razões de austeridade!
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18.3.13
Nós não somos Chipre...
Tanto Chipre como aqueles que hoje dizem “mas nós não somos Chipre” deveriam perguntar, em tempo útil, se vale mais preservar a Zona Euro ou o sistema bancário.
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17.3.13
Porque hoje é domingo (34)
«Aquele de entre vós que nunca cometeu os mesmos pecados, que atire a primeira pedra», disse Cavaco Silva naquele dia em que os deputados do PS se preparavam para apedrejar Passos Coelho pelos pecados da sua governação. Mutatis mutandis, isto é o que narra João, evangelista, no capítulo 8 (1-11) onde o tema do adultério não é senão uma metáfora sobre a traição.
Podia até Cavaco condenar na sua intimidade a porcaria das reformas em curso (PREC da direita), mas uma secreta cumplicidade com as mesmas, vinda dos largos tempos em que ele próprio manteve íntimas relações com as políticas libertinas ou liberais, impedia-o de aceitar a condenação das jovens gerações de pecadores.
Na foto, Cavaco com os seus cúmplices Oliveira e Costa e Dias Loureiro, da governança do BPN.
Vem-lhe daqui, de pecar e perdoar pecados, a fama de boa pessoa; não de ter sido justo, recto e competente, não de ter ajudado o país e os portugueses, como se vê pelos frutos das árvores que plantou – para usar outra referência bíblica (S. Lucas, 6.43)
Já nem me atrevo a citar uma passagem deste episódio bíblico (Mateus 7.19) em que Jesus terá dito que “Toda a árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo”.
Podia até Cavaco condenar na sua intimidade a porcaria das reformas em curso (PREC da direita), mas uma secreta cumplicidade com as mesmas, vinda dos largos tempos em que ele próprio manteve íntimas relações com as políticas libertinas ou liberais, impedia-o de aceitar a condenação das jovens gerações de pecadores.
Na foto, Cavaco com os seus cúmplices Oliveira e Costa e Dias Loureiro, da governança do BPN.
Vem-lhe daqui, de pecar e perdoar pecados, a fama de boa pessoa; não de ter sido justo, recto e competente, não de ter ajudado o país e os portugueses, como se vê pelos frutos das árvores que plantou – para usar outra referência bíblica (S. Lucas, 6.43)
Já nem me atrevo a citar uma passagem deste episódio bíblico (Mateus 7.19) em que Jesus terá dito que “Toda a árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo”.
15.3.13
O sexo dos anjos
Talvez um dia se saiba porque resignou o papa Bento XVI. Se é certo que estava velho e doente, é caso para perguntar quantos papas permaneceram novos e saudáveis até à morte...! A hipótese de existir um mal-estar na Cúria Romana por trás do seu próprio mal-estar, é muito provável.
Sobre isto, vale a pena atender a alguns comentários do dominicano brasileiro Frei Betto que classifica a Cúria Romana actual como um "ninho de cobras". Do mesmo artigo eu destaco e recorto para aqui outra passagem acerca das questões da sexualidade.
«A imagem da Igreja Católica está manchada, hoje, por escândalos sexuais e falcatruas financeiras. Não se espere do novo papa atitudes ousadas enquanto Bento XVI lhe fizer sombra na área do Vaticano. Mas seria uma irresponsabilidade o papa Francisco não abrir, no interior da Igreja, o debate sobre a moral sexual». A este respeito o padre brasileiro lembra que «apenas aos anjos é dado prescindir da sexualidade». E mais diz:
«Nesse tema, são muitas as questões a serem aprofundadas, a começar pela seleção dos candidatos ao sacerdócio. Já há uma instrução de Roma aos bispos para que não sejam aceitos jovens notoriamente afeminados – o que me parece uma discriminação incompatível com os valores evangélicos. Equivale a impedir o ingresso na carreira sacerdotal de candidatos heterossexuais dotados de uma masculinidade digna de Don Juan».
E mais adiante: «Facultar às mulheres o acesso ao sacerdócio implica modificar um dos pontos mais anacrônicos da ortodoxia católica, que ainda hoje considera a mulher ontologicamente inferior ao homem».
O artigo completo de Frei Betto está em alainet.org
Sobre isto, vale a pena atender a alguns comentários do dominicano brasileiro Frei Betto que classifica a Cúria Romana actual como um "ninho de cobras". Do mesmo artigo eu destaco e recorto para aqui outra passagem acerca das questões da sexualidade.
«A imagem da Igreja Católica está manchada, hoje, por escândalos sexuais e falcatruas financeiras. Não se espere do novo papa atitudes ousadas enquanto Bento XVI lhe fizer sombra na área do Vaticano. Mas seria uma irresponsabilidade o papa Francisco não abrir, no interior da Igreja, o debate sobre a moral sexual». A este respeito o padre brasileiro lembra que «apenas aos anjos é dado prescindir da sexualidade». E mais diz:
«Nesse tema, são muitas as questões a serem aprofundadas, a começar pela seleção dos candidatos ao sacerdócio. Já há uma instrução de Roma aos bispos para que não sejam aceitos jovens notoriamente afeminados – o que me parece uma discriminação incompatível com os valores evangélicos. Equivale a impedir o ingresso na carreira sacerdotal de candidatos heterossexuais dotados de uma masculinidade digna de Don Juan».
E mais adiante: «Facultar às mulheres o acesso ao sacerdócio implica modificar um dos pontos mais anacrônicos da ortodoxia católica, que ainda hoje considera a mulher ontologicamente inferior ao homem».
O artigo completo de Frei Betto está em alainet.org
13.3.13
Conclave contra Chavez
É um argentino? Claro, quem havia de ser?!
Se a América Latina é “o continente da esperança” para a Igreja em crise, como dizia um bispo português há minutos, a região era já a esperança das correntes políticas progressistas no contexto de crise do capitalismo e desprestígio ideológico dos países socialistas.
À palavra “Chavez” que tem sido chave para a autonomia e progresso da América Latina, numa afronta ao capitalismo e ao imperialismo norte-americano, a Igreja Católica contrapõe no Conclave (com chave!) um papa dali, na esperança que ele desempenhe para a região um papel idêntico áquele que desempenhou João Paulo II, o papa polaco, para a Polónia.
A César o que é de César? Só quem não conhece a História da Igreja. Francisco? Alguém virá dizer que é um tique populista?
Na primeira foto, Hugo Chavez, da Venezuela, com Cristina Fernandes Kirschner, da Argentina. Na segunda imagem, recorte do sítio RTP em 13/03/2013.
Se a América Latina é “o continente da esperança” para a Igreja em crise, como dizia um bispo português há minutos, a região era já a esperança das correntes políticas progressistas no contexto de crise do capitalismo e desprestígio ideológico dos países socialistas.
À palavra “Chavez” que tem sido chave para a autonomia e progresso da América Latina, numa afronta ao capitalismo e ao imperialismo norte-americano, a Igreja Católica contrapõe no Conclave (com chave!) um papa dali, na esperança que ele desempenhe para a região um papel idêntico áquele que desempenhou João Paulo II, o papa polaco, para a Polónia.
A César o que é de César? Só quem não conhece a História da Igreja. Francisco? Alguém virá dizer que é um tique populista?
Na primeira foto, Hugo Chavez, da Venezuela, com Cristina Fernandes Kirschner, da Argentina. Na segunda imagem, recorte do sítio RTP em 13/03/2013.
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11.3.13
Segurem a Segurança Social
Acerca da sustentabilidade da Segurança Social, ouve-se todos os dias uma constrangedora preocupação nos comentários públicos. Diz-se que as receitas da Segurança Social não chegam para financiar as reformas e que este "défice" irá aumentar cada vez mais no futuro, devido à crescente desproporção entre trabalhadores activos e reformados – é a questão do alargamento da esperança de vida que, para os economicistas,é… uma tragédia. Actualmente há três milhões e meio de reformados e pensionistas para uma população activa de cerca de cinco milhões de pessoas.
Nenhum dogma impede que a Segurança Social seja co-financiada pelo orçamento geral do Estado, tal como acontece em relação à Saúde, à Educação, à Defesa e outros serviços públicos essenciais; a questão que se coloca agora e no futuro é do modelo de financiamento. Se os dirigentes não conseguem aumentar o emprego e as receitas do trabalho, e se não querem matar os reformados à fome, terão que se adaptar à nova realidade demográfica, reformando o sistema.
Admitindo que a Segurança Social possa ser financiada pelo orçamento geral do Estado, coloca-se outro problema: a economia nacional não gera receitas e a despesa pública aumenta cada vez mais.Aqui, porém,já não estamos na presença de um problema de sustentação da Segurança Social mas sim no problema da sustentação do próprio Estado.
Entretanto, enquanto se procuram soluções para o problema económico e financeiro geral, há que ponderar alternativas ao modelo em vigor na política de reformas, considerando questões como as reformas milionárias e acumuladas, o tempo mínimo de descontos, da idade mínima e do limite de idade para a reforma, a "fixação de um montante máximo da pensão pública única" em que cada pessoa só receberia uma pensão fossem quais fossem as fontes dos descontos, como admitia Manuel Villaverde Cabral, investigador do Instituto de Ciências Sociais e presidente do Instituto do Envelhecimento, invocando o que se passa em Espanha, ou, como sugere o mesmo, a possibilidade de uma aposentação gradual, passando pelo trabalho a tempo parcial com a acumulação parcial ou total da pensão.
Enfim, muito pode ser pensado em política de reformas. O que não pode é admitir-se que a Segurança Social seja atirada à especulação do mercado em nome de uma falsa insolvência do sistema no domínio público. O negócio pode ser muito apetecível mas a vida dos reformados e pensionistas não está à venda.
ADENDA em 13/03/2013:
Recomendo o artigo de Nuno Aguiar com Ana Suspiro
AQUI no ionline
Nenhum dogma impede que a Segurança Social seja co-financiada pelo orçamento geral do Estado, tal como acontece em relação à Saúde, à Educação, à Defesa e outros serviços públicos essenciais; a questão que se coloca agora e no futuro é do modelo de financiamento. Se os dirigentes não conseguem aumentar o emprego e as receitas do trabalho, e se não querem matar os reformados à fome, terão que se adaptar à nova realidade demográfica, reformando o sistema.
Admitindo que a Segurança Social possa ser financiada pelo orçamento geral do Estado, coloca-se outro problema: a economia nacional não gera receitas e a despesa pública aumenta cada vez mais.Aqui, porém,já não estamos na presença de um problema de sustentação da Segurança Social mas sim no problema da sustentação do próprio Estado.
Entretanto, enquanto se procuram soluções para o problema económico e financeiro geral, há que ponderar alternativas ao modelo em vigor na política de reformas, considerando questões como as reformas milionárias e acumuladas, o tempo mínimo de descontos, da idade mínima e do limite de idade para a reforma, a "fixação de um montante máximo da pensão pública única" em que cada pessoa só receberia uma pensão fossem quais fossem as fontes dos descontos, como admitia Manuel Villaverde Cabral, investigador do Instituto de Ciências Sociais e presidente do Instituto do Envelhecimento, invocando o que se passa em Espanha, ou, como sugere o mesmo, a possibilidade de uma aposentação gradual, passando pelo trabalho a tempo parcial com a acumulação parcial ou total da pensão.
Enfim, muito pode ser pensado em política de reformas. O que não pode é admitir-se que a Segurança Social seja atirada à especulação do mercado em nome de uma falsa insolvência do sistema no domínio público. O negócio pode ser muito apetecível mas a vida dos reformados e pensionistas não está à venda.
ADENDA em 13/03/2013:
Recomendo o artigo de Nuno Aguiar com Ana Suspiro
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Que se lixe a troika, sim!
1. A União Europeia, logo a Alemanha, impõe a destruição do aparelho económico dos países do sul através de normas que são desfavoráveis a estes países.
2. Estes são forçados a endividar-se para fazer face às suas despesas e à escassez de produção decidida pela UE.
3. De seguida, a mesma UE, logo a Alemanha, obriga estes países a contrairem empréstimos junto da troika, UE incluída, para pagarem as tais dívidas, e fixam juros que revertem para os bancos centrais dos países ricos, principalmente a Alemanha!
Com as taxas de juros exigidos pela troika, os empréstimos de 208 mil milhões de euros “concedidos” a Portugal, Espanha, Grécia, Itália e Irlanda desde 2010, geraram um lucro de 1100 milhões de euros só para o BCE (Banco Central Europeu).
De notar, porém, que este lucro reverte na sua esmagadora maioria para os bancos centrais dos 17 países da zona euro que contribuíram para a compra de dívida, na proporção do capital investido por cada banco no BCE, o que faz com que a Alemanha (!) receba a maior fatia dos dividendos!
«Que se lixe a troica» é uma sátira à afirmação de Passos Coelho «Que se lixe o Partido», mas é também para ser levado à letra.
2. Estes são forçados a endividar-se para fazer face às suas despesas e à escassez de produção decidida pela UE.
3. De seguida, a mesma UE, logo a Alemanha, obriga estes países a contrairem empréstimos junto da troika, UE incluída, para pagarem as tais dívidas, e fixam juros que revertem para os bancos centrais dos países ricos, principalmente a Alemanha!
Com as taxas de juros exigidos pela troika, os empréstimos de 208 mil milhões de euros “concedidos” a Portugal, Espanha, Grécia, Itália e Irlanda desde 2010, geraram um lucro de 1100 milhões de euros só para o BCE (Banco Central Europeu).
De notar, porém, que este lucro reverte na sua esmagadora maioria para os bancos centrais dos 17 países da zona euro que contribuíram para a compra de dívida, na proporção do capital investido por cada banco no BCE, o que faz com que a Alemanha (!) receba a maior fatia dos dividendos!
«Que se lixe a troica» é uma sátira à afirmação de Passos Coelho «Que se lixe o Partido», mas é também para ser levado à letra.
10.3.13
Porque hoje é domingo (33)
(versão acrescentada)
Para servir de metáfora à crise económica em curso, Jesus inventou uma história que a Igreja invoca neste quarto domingo da Quaresma.
Trata-se da conhecido episódio imaginário do filho pródigo que pediu ao pai que lhe adiantasse o dinheiro que lhe caberia da herança, a fim de deixar a casa e fazer-se à vida, emigrar como aconselhava o Governo de Passos Coelho.
O pai passou-lhe para a mão uns tantos euros e, ai que se faz tarde, o miúdo pôs-se na alheta, cheio de confiança. Com isto ficava a casa aliviada de uma boca, e a Segurança Social também.
Depressa o rapaz perceberia que a emigração não era solução porque a crise alastrava pelos outros países do sul, e os do norte não queriam ajudar mas explorá-lo até à exaustão. Ele já se contentava com a comida dos porcos (PIGS) – versículo 16 do capítulo 15 de S. Lucas – mas como ninguém lhe dava nada, teve que regressar à terra que o viu nascer e onde poderia, em última instância, acolher-se na casa do pai como fez o irmão mais velho e mais avisado, que não foi na conversa do Governo, deixando-se ficar na casa dos pais como são obrigados a fazê-lo tantos jovens, hoje em dia.
Mais conta S. Lucas, agora no versículo 28, que o irmão mais velho não achou piada à ideia de ter que partilhar de novo o pão do lar. Estava instalado um conflito no seio dos próprios jovens, ambos desempregados, ambos vitimizados pelo mesmo sistema, disputando as migalhas que havia em casa.
Para que tudo fosse ao seu lugar, o pai explicou-lhes que não deviam discutir entre eles mas sim unir as suas energias para combater as políticas do Governo – versículos 31 e 32, adaptados!!!
E assim fizeram. Primeiro, juntaram-se em manifestação aos muitos milhares de outros que tinham os mesmos problemas. Depois decidiram que não voltariam a votar nos partidos que tinham culpa na situação e resolveram dar o seu apoio aos partidos de esquerda que contestam, como eles, estas políticas: o mais velho vai votar PCP e o mais novo e aventureiro vai votar no BE. O pai, um velho resistente anti-fascista, nem precisou de mudar a intenção de voto.
Quanto à mãe não existe nesta história como se pode conferir na versão de S. Lucas acima mencionada.
Para servir de metáfora à crise económica em curso, Jesus inventou uma história que a Igreja invoca neste quarto domingo da Quaresma.
Trata-se da conhecido episódio imaginário do filho pródigo que pediu ao pai que lhe adiantasse o dinheiro que lhe caberia da herança, a fim de deixar a casa e fazer-se à vida, emigrar como aconselhava o Governo de Passos Coelho.
O pai passou-lhe para a mão uns tantos euros e, ai que se faz tarde, o miúdo pôs-se na alheta, cheio de confiança. Com isto ficava a casa aliviada de uma boca, e a Segurança Social também.
Depressa o rapaz perceberia que a emigração não era solução porque a crise alastrava pelos outros países do sul, e os do norte não queriam ajudar mas explorá-lo até à exaustão. Ele já se contentava com a comida dos porcos (PIGS) – versículo 16 do capítulo 15 de S. Lucas – mas como ninguém lhe dava nada, teve que regressar à terra que o viu nascer e onde poderia, em última instância, acolher-se na casa do pai como fez o irmão mais velho e mais avisado, que não foi na conversa do Governo, deixando-se ficar na casa dos pais como são obrigados a fazê-lo tantos jovens, hoje em dia.
Mais conta S. Lucas, agora no versículo 28, que o irmão mais velho não achou piada à ideia de ter que partilhar de novo o pão do lar. Estava instalado um conflito no seio dos próprios jovens, ambos desempregados, ambos vitimizados pelo mesmo sistema, disputando as migalhas que havia em casa.
Para que tudo fosse ao seu lugar, o pai explicou-lhes que não deviam discutir entre eles mas sim unir as suas energias para combater as políticas do Governo – versículos 31 e 32, adaptados!!!
E assim fizeram. Primeiro, juntaram-se em manifestação aos muitos milhares de outros que tinham os mesmos problemas. Depois decidiram que não voltariam a votar nos partidos que tinham culpa na situação e resolveram dar o seu apoio aos partidos de esquerda que contestam, como eles, estas políticas: o mais velho vai votar PCP e o mais novo e aventureiro vai votar no BE. O pai, um velho resistente anti-fascista, nem precisou de mudar a intenção de voto.
Quanto à mãe não existe nesta história como se pode conferir na versão de S. Lucas acima mencionada.
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6.3.13
Chavez deixa uma bandeira
Como bem lembra Vitor Dias no seu blogue, o petróleo não brotou na Venezuela quando Hugo Chavez se tornou presidente. Já existia há muito. A diferença é que Chavez o pôs ao serviço do povo venezuelano.
As “misiones” criadas por Hugo Chavez, vão no sentido inverso das “medidas de austeridade” que norteiam as políticas ultra-liberais da Europa – as "missões" distribuem casas, alimentos, ensino e saúde ás populações!
A política “integradora” de Hugo Chavez, no domínio internacional, vai no sentido contrário à política belicista dos EEUU e seus aliados e vai no sentido contrário à agressividade colonizadora da União Europeia e do FMI – Chavez fundou a CELAC para juntar os países da região latino-americana e do Caribe, mesmo os mais imprevisíveis, em torno de um projecto sem outra ideologia que não seja a independência política e económica da região colonizada e explorada durante séculos.
O chavismo resistirá depois de Chavez porque ele se alimentou dos sentimentos da população, nos seus méritos e nos seus defeitos mas sobretudo no grande ideal de justiça social que os povos prosseguem quando o poder está com eles.
Disto não falaram os convidados de Ana Lourenço, na SIC, ela própria contaminada pelo bafo direitista de todos eles, na precipitação dos acontecimentos. Um refugia-se em abstracções, outro em generalizações e outro em preconceitos, todos fingindo ignorar o que marcou de facto e de relevante a liderança política de Hugo Chavez no seu país e na sua região. Escapa ao seu entendimento que um dirigente político tenha governado para o seu povo e não contra o seu povo…
A História lhes ensinnará que um povo que proclama com lágrimas sentidas “todos somos Chavez”, não deixará morrer a sua causa, não deixará cair a sua bandeira.
As “misiones” criadas por Hugo Chavez, vão no sentido inverso das “medidas de austeridade” que norteiam as políticas ultra-liberais da Europa – as "missões" distribuem casas, alimentos, ensino e saúde ás populações!
A política “integradora” de Hugo Chavez, no domínio internacional, vai no sentido contrário à política belicista dos EEUU e seus aliados e vai no sentido contrário à agressividade colonizadora da União Europeia e do FMI – Chavez fundou a CELAC para juntar os países da região latino-americana e do Caribe, mesmo os mais imprevisíveis, em torno de um projecto sem outra ideologia que não seja a independência política e económica da região colonizada e explorada durante séculos.
O chavismo resistirá depois de Chavez porque ele se alimentou dos sentimentos da população, nos seus méritos e nos seus defeitos mas sobretudo no grande ideal de justiça social que os povos prosseguem quando o poder está com eles.
Disto não falaram os convidados de Ana Lourenço, na SIC, ela própria contaminada pelo bafo direitista de todos eles, na precipitação dos acontecimentos. Um refugia-se em abstracções, outro em generalizações e outro em preconceitos, todos fingindo ignorar o que marcou de facto e de relevante a liderança política de Hugo Chavez no seu país e na sua região. Escapa ao seu entendimento que um dirigente político tenha governado para o seu povo e não contra o seu povo…
A História lhes ensinnará que um povo que proclama com lágrimas sentidas “todos somos Chavez”, não deixará morrer a sua causa, não deixará cair a sua bandeira.
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2.3.13
Coelho apoia os banqueiros
É o que Passos Coelho chama
"apoio às Pequenas e Médias Empresas":
«Na hora de pedir financiamento, as PME nacionais enfrentam custos superiores aos das suas congéneres gregas, espanholas ou irlandesas. Pior do que em Portugal, só mesmo as empresas do Chipre, país à beira de um resgate da troika, e cujo sector bancário está altamente exposto à Grécia».
Isto depois do Estado português «ter recebido uma injecção de sete mil milhões de euros e de a troika ter exigido que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) facilite o crédito às PME».
SOL 2013Mar02
"apoio às Pequenas e Médias Empresas":
«Na hora de pedir financiamento, as PME nacionais enfrentam custos superiores aos das suas congéneres gregas, espanholas ou irlandesas. Pior do que em Portugal, só mesmo as empresas do Chipre, país à beira de um resgate da troika, e cujo sector bancário está altamente exposto à Grécia».
Isto depois do Estado português «ter recebido uma injecção de sete mil milhões de euros e de a troika ter exigido que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) facilite o crédito às PME».
SOL 2013Mar02
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PME's
1.3.13
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