Ricardo Araújo Pereira dificilmente escapa a uma entrevista ou um colóquio com perguntas do público, sem ser interrogado sobre a influência do humor na política.
Ele lá vai tentando fugir à questão para evitar uma avaliação redutora, digamos assim, do seu trabalho.
Por mais que uma vez lhe li ou ouvi esta ironia sobre o poder do humor: «Todos recordamos a piada que acabou com a escravatura, a rábula de vaudeville que deu o direito de voto às mulheres, o programa cómico que determinou o fim da Segunda Guerra Mundial...».
Da última vez que o vi responder à questão, ele disse que era como o sol, isto é, que o facto de as pessoas irem para a praia em vez de irem votar, em dias de sol, não quer dizer que o sol seja culpado pela abstenção eleitoral.
Metáfora humorística à parte, pela desproporção dos elementos em comparação, a diferença que importa, digo eu, é que o sol não pensa, não escolhe as circunstâncias e os efeitos que provoca na Terra e nos seus habitantes – é determinado por leis naturais. Já o Ricardo escolhe, incluindo o conteúdo e o efeito psicológico da sua intervenção, e sabe como esse efeito depende do contexto histórico ou local em que é usada.
Claro que ele sabe disso e sabe que nós sabemos. Trata-se apenas de evitar que o seu humor seja condicionado por preconceitos ideológicos do seu público. Quando invoca Chaplin, Groucho Marx ou Woody Allen, para identificar o humor pelo humor, o Ricardo “finge” desconhecer a opção do primeiro pelos explorados contra os exploradores e a “obsessão” de Woody Allen pela crítica ao anti-semitismo.
Goucho Marx, entenda-se, é metido ali no meio para disfarçar – passe o humor tipo ricardeano!... Mas tem pelo menos uma afinidade com Woody Allen – a condição de Judeu. E afinal quem diz "O matrimónio é uma valiosa instituição se você gostar de viver em uma instituição", não é tão indiferente como parece.
Para evitar a conotação ideológica do seu humor, mais fácil seria se o Ricardo trabalhasse em pintura ou em música, mas nunca escaparia totalmente, já que até a obra inócua, se existe, não escapa ao julgamento de “pretender distrair do que é importante” ou até de ser apropriada e assim conotada através do seu uso. Veja-se, entre nós, o percurso do fado.
Analisando a sua postura, faço uma previsão. Se algum dia lhe perguntarem por que partido aceita ser candidato numas eleições, o Ricardo Araújo Pereira não vai buscar a Karl mas a Goucho Marx a resposta: "Inclua-me fora disso."
31.3.14
29.3.14
Um silêncio explosivo
Um muro de silêncio erguido pelos orgãos de comunicação social impediu-nos de ouvir há uma semana, 22 de Março, os gritos de
protesto que dois milhões de espanhois levaram a Madrid. Chamaram-lhe «Marcha por la dignidad».
Não há muro que encubra uma realidade desta dimensão física e humana. Não há distracção jornalística que impeça testemunhos como este de Julio Anguita de que recorto apenas o parágrafo inicial:
Desde la puerta del Ministerio de Agricultura he visto, emocionado y expectante, la entrada en Madrid de miríadas de personas, de ciudadanos y ciudadanas que en columnas de marcha han dado en la capital de España el ejemplo que la mayoría de damnificados por este régimen de corrupción, injustica y violación de Derechos Humanos necesita: la unidad en la lucha .
Quanto ao Manifesto do movimento de cidadãos – ou de uma parte desse movimento informal – transcrevo um breve excerto também:
«… Lo justificaron diciendo que habíamos vivido por encima de nuestras posibilidades y que había que ser austeros y, por tanto, era imperativo recortar el déficit. Sin embargo, no ha habido ningún recorte a la hora de inyectar decenas de miles de millones de euros para salvar a los bancos y especuladores.
Están aprovechando la crisis para recortar derechos.
Estas políticas de recortes están causando sufrimiento, pobreza, hambre e incluso muertes y todo para que la banca y los poderes económicos sigan teniendo grandes beneficios a costa de nuestras vidas».
[texto completo deste manifesto]
Tem-se falado muito da forma pacífica como os portugueses têm encarado a violência das políticas em curso, mas o melhor que pode acontecer para os agentes desta ordem pública, é que a raiva silenciosa expluda nas urnas com consequências políticas. Penso eu.
Não há muro que encubra uma realidade desta dimensão física e humana. Não há distracção jornalística que impeça testemunhos como este de Julio Anguita de que recorto apenas o parágrafo inicial:
Desde la puerta del Ministerio de Agricultura he visto, emocionado y expectante, la entrada en Madrid de miríadas de personas, de ciudadanos y ciudadanas que en columnas de marcha han dado en la capital de España el ejemplo que la mayoría de damnificados por este régimen de corrupción, injustica y violación de Derechos Humanos necesita: la unidad en la lucha .
Quanto ao Manifesto do movimento de cidadãos – ou de uma parte desse movimento informal – transcrevo um breve excerto também:
«… Lo justificaron diciendo que habíamos vivido por encima de nuestras posibilidades y que había que ser austeros y, por tanto, era imperativo recortar el déficit. Sin embargo, no ha habido ningún recorte a la hora de inyectar decenas de miles de millones de euros para salvar a los bancos y especuladores.
Están aprovechando la crisis para recortar derechos.
Estas políticas de recortes están causando sufrimiento, pobreza, hambre e incluso muertes y todo para que la banca y los poderes económicos sigan teniendo grandes beneficios a costa de nuestras vidas».
[texto completo deste manifesto]
Tem-se falado muito da forma pacífica como os portugueses têm encarado a violência das políticas em curso, mas o melhor que pode acontecer para os agentes desta ordem pública, é que a raiva silenciosa expluda nas urnas com consequências políticas. Penso eu.
28.3.14
O discurso irracional em política
A estratégia liberal-capitalista de empobrecimento das populações que está em curso na Europa, bem precisaria de um o “hair-cut” financeiro na dívida pública de alguns países. Mas o melhor é falar do corte de cabelo de Kim Jong-un, o líder da Coreia do Norte.
A "notícia" diz que o presidente norte-coreano obrigou os cidadãos do país a usar um penteado igual ao seu!
É certo que a loucura é a fase avançada da tirania, como comprova a História. Mas tal disparate deveria fazer hesitar alguns espíritos ávidos de argumentos anticomunistas, em vez de se precipitarem em comentários igualmente disparatados. A menos que os autores das “notícias”, os comentadores e os ditadores sejam todos feitos da mesma massa irracional.
A falsa notícia já foi desmentida e ridicularizada, nomeadamente AQUI, mas não será por isso que a estupidez deixará de fazer o seu caminho. Ou não lhe servisse, à falta de melhor, para justificar a falta de caracter dos seus autores e distribuidores, na política e na vida.
A culpa não é só deles, é certo, que nem sempre os defensores do sistema socialista se distanciam consistente e suficientemente de alguns tiranos, mas a crítica irracional da irracionalidade esvazia-a de eficácia. E é pena.
Quanto ao que move a Coreia do Norte, segundo o seu próprio ponto-de-vista, é a convicção de que, se a Coreia do Norte descuidasse a sua defesa, os Estados Unidos da América fariam no seu país o que fizeram no Afeganistão, no Iraque ou na Líbia – ocupariam o país para apoderar-se dos seus recursos e zonas estratégicas.
E neste ponto até não é difícil admitir que seja verdade. Outra coisa é que o “inimigo comum”, real ou imaginário, conforme os casos, seja o grande amigo das políticas repressivas. Seja ele o imperialismo ou o comunismo.
A "notícia" diz que o presidente norte-coreano obrigou os cidadãos do país a usar um penteado igual ao seu!
É certo que a loucura é a fase avançada da tirania, como comprova a História. Mas tal disparate deveria fazer hesitar alguns espíritos ávidos de argumentos anticomunistas, em vez de se precipitarem em comentários igualmente disparatados. A menos que os autores das “notícias”, os comentadores e os ditadores sejam todos feitos da mesma massa irracional.
A falsa notícia já foi desmentida e ridicularizada, nomeadamente AQUI, mas não será por isso que a estupidez deixará de fazer o seu caminho. Ou não lhe servisse, à falta de melhor, para justificar a falta de caracter dos seus autores e distribuidores, na política e na vida.
A culpa não é só deles, é certo, que nem sempre os defensores do sistema socialista se distanciam consistente e suficientemente de alguns tiranos, mas a crítica irracional da irracionalidade esvazia-a de eficácia. E é pena.
Quanto ao que move a Coreia do Norte, segundo o seu próprio ponto-de-vista, é a convicção de que, se a Coreia do Norte descuidasse a sua defesa, os Estados Unidos da América fariam no seu país o que fizeram no Afeganistão, no Iraque ou na Líbia – ocupariam o país para apoderar-se dos seus recursos e zonas estratégicas.
E neste ponto até não é difícil admitir que seja verdade. Outra coisa é que o “inimigo comum”, real ou imaginário, conforme os casos, seja o grande amigo das políticas repressivas. Seja ele o imperialismo ou o comunismo.
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27.3.14
Rodrigues dos Santos vs Sócrates
José Rodrigues dos Santos tem sido grosseiramente insultado nas redes sociais por ter, alegadamente, facilitado a vida a José Sócrates na entrevista reproduzida no vídeo abaixo.
Comparados os comentários com o conteúdo, percebe-se que essa crítica não tem qualquer correspondência com a atitude do jornalista. Mas a irracionalidade parece dominar o comportamento humano como voltarei a referir, talvez amanhã, a propósito da Coreia do Norte.
Por agora, além do vídeo, deixo a minha transcrição escrita de dois excertos polémicos da mesma.
José Sócrates - Entre 2008 e 2010 havia uma grave crise financeira internacional provocada pelos mercados, não pelo Estado. Todos os países aumentaram o seu défice e a sua dívida. Agora o problema é entre 2011 e 2013 em que nós estamos concentrados só na austeridade e não no crescimento e o que acontece é que não só empobrecemos como a dívida explodiu. A política de austeridade conduz não apenas ao empobrecimento mas também ao descontrolo da dívida: 130%.
J. Rodrigues dos Santos - Mas em Dezembro de 2010 o senhor faz esta afirmação (mostra cópia de notícia): “A austeridade é (enfático) o único caminho”. O que está a dizer agora é o contrário do que disse nessa altura.
J. Sócrates - (…) Mas nunca separei austeridade, do investimento público. … A diferença é que nessa altura o governo fazia investimento (dá exemplos). Espero que agora tenha percebido. (…) Essa austeridade era diferente desta.
(…)
J. Rodrigues dos Santos - O senhor defendeu que não se fizesse reestruturação da dívida.
J. Sócrates (corrigindo) - Que não se fizesse perdão da dívida.
J. Rodrigues dos Santos (mostrando cópia de notícia)- Tenho aqui uma notícia de Maio de 2011 que diz: “Sócrates garante que em nenhuma circunstância pedirá a reestruturação da dívida…”. (Debate com Francisco Louçã).
J. Sócrates (contestando a redacção da notícia publicada) - Não, eu sempre fui contra o “perdão” da dívida (e não contra a reestruturação) nessa altura como agora.
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26.3.14
Diplomatas israelitas continuam em Greve
Enquanto o Primeiro-Ministro israelita, Netanyahu, se vê obrigado a cancelar as suas deslocações pelo mundo, estando ameaçada até a visita do Papa Francisco a Israel, planeada para Maio, a gente por cá nem sabe disso nem sabe porquê nem sabe há quanto tempo. Porque será? Por falta de fontes próximas é que não é.
«Em Israel, face à recusa do Ministério das Finanças em resolver as disputas laborais do Ministério dos Negócios Estrangeiros, os diplomatas Israelitas viram-se forçados a retomar a greve. Pode parecer incomum que o serviço diplomático de um país se envolva numa disputa laboral mas é também pelo nosso profundo compromisso em representar os interesses de Israel no estrangeiro nos muitos desafios que tal envolve, em salvaguardar a posição internacional e a segurança nacional de Israel que nós, os diplomatas Israelitas, insistimos que as nossas exigências, para mais razoáveis, devam ser consideradas.
«Em Israel, face à recusa do Ministério das Finanças em resolver as disputas laborais do Ministério dos Negócios Estrangeiros, os diplomatas Israelitas viram-se forçados a retomar a greve. Pode parecer incomum que o serviço diplomático de um país se envolva numa disputa laboral mas é também pelo nosso profundo compromisso em representar os interesses de Israel no estrangeiro nos muitos desafios que tal envolve, em salvaguardar a posição internacional e a segurança nacional de Israel que nós, os diplomatas Israelitas, insistimos que as nossas exigências, para mais razoáveis, devam ser consideradas.
25.3.14
A arte de derrubar governos
UCRÂNIA
A maior parte dos manifestantes que participaram nos distúrbios ocorridos na Ucrânia, anteriormente à anexação da Crimeia, recebem um pagamento médio de 200-300 grivna (15-25 euros). Recebem ou deviam receber, porque agora surgem notícias de que alguns destes estão a reclamar por não receber o dinheiro prometido!...
E eu que não tinha dado a devida atenção a isto:
«The protests in the western Ukraine are organized by the CIA, the US State Department, and by Washington- and EU-financed Non-Governmental Organizations (NGOs) that work in conjunction with the CIA and State Department. The purpose of the protests is to overturn the decision by the independent government of Ukraine not to join the EU». (VER ORIGINAL AQUI)
VENEZUELA
«El ministro venezolano de Relaciones Interiores, Justicia y Paz, Miguel Rodríguez Torres, aseguró que Estados Unidos (EE.UU.) trabaja en el modelo de guerra de cuarta generación, en el golpe suave y en el adiestramiento para derrocar el Gobierno de Nicolás Maduro.
...
«Esto que hoy estamos viviendo se empezó a planificar por allá en el 2010. Se llevaron un grupo de estudiantes a México, trajeron unos europeos de Otpor y los estuvieron entrenando, adiestrando en México. Ahí estuvo Gaby Arellano, ustedes la han visto, es una de las que lideriza las guarimbas (...)» teleSUR 2014Mar24
E nós aqui neste quintal da Europa, a precisar tanto duma ajudinha...
A maior parte dos manifestantes que participaram nos distúrbios ocorridos na Ucrânia, anteriormente à anexação da Crimeia, recebem um pagamento médio de 200-300 grivna (15-25 euros). Recebem ou deviam receber, porque agora surgem notícias de que alguns destes estão a reclamar por não receber o dinheiro prometido!...
E eu que não tinha dado a devida atenção a isto:
«The protests in the western Ukraine are organized by the CIA, the US State Department, and by Washington- and EU-financed Non-Governmental Organizations (NGOs) that work in conjunction with the CIA and State Department. The purpose of the protests is to overturn the decision by the independent government of Ukraine not to join the EU». (VER ORIGINAL AQUI)
VENEZUELA
«El ministro venezolano de Relaciones Interiores, Justicia y Paz, Miguel Rodríguez Torres, aseguró que Estados Unidos (EE.UU.) trabaja en el modelo de guerra de cuarta generación, en el golpe suave y en el adiestramiento para derrocar el Gobierno de Nicolás Maduro.
...
«Esto que hoy estamos viviendo se empezó a planificar por allá en el 2010. Se llevaron un grupo de estudiantes a México, trajeron unos europeos de Otpor y los estuvieron entrenando, adiestrando en México. Ahí estuvo Gaby Arellano, ustedes la han visto, es una de las que lideriza las guarimbas (...)» teleSUR 2014Mar24
E nós aqui neste quintal da Europa, a precisar tanto duma ajudinha...
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23.3.14
Porque hoje é domingo (47)
Até um ateu como eu é obrigado pela consciência a reconhecer a riqueza deste episódio que nos conta o evangelista João (4, 5-42) e que a Igreja Católica invoca neste domingo em todas as suas igrejas.
Trata-se do encontro de Jesus com uma mulher, junto de um poço.
Falemos do poço, primeiro, e da mulher, depois.
Antigamente, o poço era um lugar habitual de encontro, não tanto de deuses com mulheres pagãs, mas de pastores a dar de beber ao gado, mulheres a suprir a falta de água canalizada, e comerciantes a aproveitar o ajuntamento, à falta de centros comerciais.
A água do poço mata a sêde, refresca o corpo, mas o poço em si mesmo suscita-nos mêdo – em mim suscita – pela sua abissal profundidade. Nele convive, pois, o prazer e o perigo. E nisto se assemelha à mulher, pelo menos na abordagem cristã.
Quanto à samaritana de quem Jesus se abeirou, pouco sabemos, que a não descreve o santo evengelista, por respeito e pudor ou simplesmente porque lhe não chegou informação sobre a idade, o aspecto e o que fazia na vida, adultérios à parte.
“Dá-me de beber” – diria Cristo com a voz doce de um santo e a firmeza de um Deus. E mais que água, se é que água queria, demorou-se em conversas que a atrairam para a sua causa – era assim naquele tempo. E não sabendo nós mais do que o narrador, por aqui ficámos quanto aos factos.
Quanto ao significado, há quem diga com autoridade profissional que «o belíssimo diálogo entre Jesus e a samaritana (nos dá a) perceber como Jesus se comportava diante dos preconceitos morais, de raça, das discriminações sociais, religiosas, existentes na humanidade, isto é, Jesus reprovava todo tipo de exclusão».
Não se colocaria, ao tempo, digo eu, a questão dos casamentos homossexuais e da adopção de crianças por casais do mesmo sexo, mas somos levados a pensar que as novas tendências seriam bem aceites, quando o mesmo sacerdote nos alerta para o exemplo de Jesus que «se coloca acima de preconceitos e diferenças religiosas» encetando um « encontro de libertação que transformou a vida de uma mulher marginalizada».
Uma questão a pôr à consideração da Igreja Católica já que é ela e não “Deus” quem tem a última palavra – ou as palavras todas.
Trata-se do encontro de Jesus com uma mulher, junto de um poço.
Falemos do poço, primeiro, e da mulher, depois.
Antigamente, o poço era um lugar habitual de encontro, não tanto de deuses com mulheres pagãs, mas de pastores a dar de beber ao gado, mulheres a suprir a falta de água canalizada, e comerciantes a aproveitar o ajuntamento, à falta de centros comerciais.
A água do poço mata a sêde, refresca o corpo, mas o poço em si mesmo suscita-nos mêdo – em mim suscita – pela sua abissal profundidade. Nele convive, pois, o prazer e o perigo. E nisto se assemelha à mulher, pelo menos na abordagem cristã.
Quanto à samaritana de quem Jesus se abeirou, pouco sabemos, que a não descreve o santo evengelista, por respeito e pudor ou simplesmente porque lhe não chegou informação sobre a idade, o aspecto e o que fazia na vida, adultérios à parte.
“Dá-me de beber” – diria Cristo com a voz doce de um santo e a firmeza de um Deus. E mais que água, se é que água queria, demorou-se em conversas que a atrairam para a sua causa – era assim naquele tempo. E não sabendo nós mais do que o narrador, por aqui ficámos quanto aos factos.
Quanto ao significado, há quem diga com autoridade profissional que «o belíssimo diálogo entre Jesus e a samaritana (nos dá a) perceber como Jesus se comportava diante dos preconceitos morais, de raça, das discriminações sociais, religiosas, existentes na humanidade, isto é, Jesus reprovava todo tipo de exclusão».
Não se colocaria, ao tempo, digo eu, a questão dos casamentos homossexuais e da adopção de crianças por casais do mesmo sexo, mas somos levados a pensar que as novas tendências seriam bem aceites, quando o mesmo sacerdote nos alerta para o exemplo de Jesus que «se coloca acima de preconceitos e diferenças religiosas» encetando um « encontro de libertação que transformou a vida de uma mulher marginalizada».
Uma questão a pôr à consideração da Igreja Católica já que é ela e não “Deus” quem tem a última palavra – ou as palavras todas.
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20.3.14
O modelo de liberdade para a Ucrânia
Depois do meu artigo de ontem sobre a ausência de liberdade e democracia «no domínio da Informação formatada pelo "Ocidente"»,
aqui fica uma demonstração esclarecedora, promovida por um partido que o "Ocidente" protege e apoia no conflito ucraniano.
Parafraseando alguém: «Eles são nazis mas são os "nossos" nazis»!
Parafraseando alguém: «Eles são nazis mas são os "nossos" nazis»!
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19.3.14
Sob o manto diáfano da Democracia
Uma das consequências menos invocada mas cada vez mais relevante da implosão da União Soviética em 1991, foi certamente a implosão do acordo em vigor desde a Conferência de Yalta, na Crimeia.
Nessa Conferência, Roosevelt, pelos Estados Unidos da América, Churchill, pela Grã-Bretanha, e Estaline, pela URSS, decidiram o destino da Europa, nomeadamente quanto à sua estabilidade futura e quanto à repartição das zonas de influência entre o Leste e o Oeste. Era Fevereiro de 1945.
Desde então vigorou uma relação de conflito não assumido entre o “Leste” e o “Ocidente” que ficou conhecido por “guerra fria” e que deixaria de fazer sentido, aparentemente, a partir dos acontecimentos de 1991 no “Leste”. Mas o que aconteceu foi que, por detrás das motivações ideológicas se desvelaram as razões económicas.
Face ao desiquilíbrio de forças instalado, face ao domínio unipolar dos Estados Unidos da América, adeus tratados! Daqui em diante a política internacional dos EUA é orientada para a conquista de influência nas regiões que antes escapavam ao seu domínio. Um único problema se lhe colocava – se coloca – que é o sentimento nacionalista e o interesse próprio dos povos e das nações.
A Europa está-lhe no papo mas não é tanto assim na América Latina e no Médio-Oriente - para resumir. Isto explica a dimensão dos grandes focos de destabilização em curso, nomeadamente na Ucrânia mas também na Síria ou na Venezuela, para mencionar os mais recentes.
É “a nudez crua da verdade sob o manto diáfano” dos Direitos Humanos e da Democracia. E da Comunicação Social “livre”.
No domínio da Informação formatada pelo "Ocidente", é sintomático que se transcrevam na íntegra as opiniões do jogador de xadrez Kasparov, por exemplo, sobre os acontecimentos na Crimeia, enquanto as declarações de Putin - presidente da Rússia! - sobre o mesmo assunto são silenciadas ou reduzidas a meia dúzia de palavras inócuas retiradas do discurso. E não é o mesmo com Nicolás Maduro, na Venezuela? E não é assim em todas as situações em que o imperialismo norte-americano se confronta com dirigentes insubmissos de outros países?
Entre os nossos jornalistas e "analistas" mais visíveis, mais exibidos, é manifestamente dominante a submissão a esta matriz. Mas a única coisa que deve espantar é o meu espanto, reconheço. pois não são eles próprios que proclamam (expressamente)que andam "há quarenta anos a fazer opinião"?
Nessa Conferência, Roosevelt, pelos Estados Unidos da América, Churchill, pela Grã-Bretanha, e Estaline, pela URSS, decidiram o destino da Europa, nomeadamente quanto à sua estabilidade futura e quanto à repartição das zonas de influência entre o Leste e o Oeste. Era Fevereiro de 1945.
Desde então vigorou uma relação de conflito não assumido entre o “Leste” e o “Ocidente” que ficou conhecido por “guerra fria” e que deixaria de fazer sentido, aparentemente, a partir dos acontecimentos de 1991 no “Leste”. Mas o que aconteceu foi que, por detrás das motivações ideológicas se desvelaram as razões económicas.
Face ao desiquilíbrio de forças instalado, face ao domínio unipolar dos Estados Unidos da América, adeus tratados! Daqui em diante a política internacional dos EUA é orientada para a conquista de influência nas regiões que antes escapavam ao seu domínio. Um único problema se lhe colocava – se coloca – que é o sentimento nacionalista e o interesse próprio dos povos e das nações.
A Europa está-lhe no papo mas não é tanto assim na América Latina e no Médio-Oriente - para resumir. Isto explica a dimensão dos grandes focos de destabilização em curso, nomeadamente na Ucrânia mas também na Síria ou na Venezuela, para mencionar os mais recentes.
É “a nudez crua da verdade sob o manto diáfano” dos Direitos Humanos e da Democracia. E da Comunicação Social “livre”.
No domínio da Informação formatada pelo "Ocidente", é sintomático que se transcrevam na íntegra as opiniões do jogador de xadrez Kasparov, por exemplo, sobre os acontecimentos na Crimeia, enquanto as declarações de Putin - presidente da Rússia! - sobre o mesmo assunto são silenciadas ou reduzidas a meia dúzia de palavras inócuas retiradas do discurso. E não é o mesmo com Nicolás Maduro, na Venezuela? E não é assim em todas as situações em que o imperialismo norte-americano se confronta com dirigentes insubmissos de outros países?
Entre os nossos jornalistas e "analistas" mais visíveis, mais exibidos, é manifestamente dominante a submissão a esta matriz. Mas a única coisa que deve espantar é o meu espanto, reconheço. pois não são eles próprios que proclamam (expressamente)que andam "há quarenta anos a fazer opinião"?
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16.3.14
Revolução eleitoral
Enquanto outros apoiam com informação manipulada ou com dinheiro sujo, grupos violentos para destabilizarem regimes democráticos e progressistas na América Latina e outras regiões, os povos apoiam, nas eleições, os candidatos que lhes oferecem realmente confiança. É assim na Venezuela, com Nicolás Maduro eleito em Abril de 2013; no Chile, com Michelle Bachelet eleita em Dezembro de 2013; em El Salvador, com o ex-guerrilheiro Salvador Sánchez Cerén, eleito no passado domingo, 9 de Março. (Por esta ordem na foto tríptica da esq. para a dir.)
Nas eleições europeias de Maio próximo, os cidadãos da União Europeia terão a sua oportunidade para se afirmarem como agentes de paz e de progresso, comprovada que está a importância dos processos eleitorais na revolução política.
13.3.14
Os tiques do poder
A propósito do "ma-so-quis-mo" e da "inoportunidade" com que Cavaco e Passos Coelho classificam o Manifesto dos 70, faço minhas as palavras da cubana Yoani Sánchez dirigidas contra Fidel e Raúl Castro há menos de uma semana:
Si alguien se sale del guión de la crítica tolerada, entonces le lloverán los descalificativos. Resentido, chancletero, llorón… serán los primeros insultos, aunque después pueden llegar los ya manidos (…) “enemigo de la nación”. Sus observaciones nunca encontrarán el momento oportuno, porque no incluyen la sumisión ni la autoinculpación.
La crítica no necesita apellido. No debe clasificarse en “constructiva” o “destructiva”, sino que tendrá que llevarse a cabo con toda crudeza, sin miramientos. Como la medicina que se unta sobre una llaga purulenta, la crítica duele, hace llorar, atormenta… pero cura.
Poder a mais - digo eu.
Si alguien se sale del guión de la crítica tolerada, entonces le lloverán los descalificativos. Resentido, chancletero, llorón… serán los primeros insultos, aunque después pueden llegar los ya manidos (…) “enemigo de la nación”. Sus observaciones nunca encontrarán el momento oportuno, porque no incluyen la sumisión ni la autoinculpación.
La crítica no necesita apellido. No debe clasificarse en “constructiva” o “destructiva”, sino que tendrá que llevarse a cabo con toda crudeza, sin miramientos. Como la medicina que se unta sobre una llaga purulenta, la crítica duele, hace llorar, atormenta… pero cura.
Poder a mais - digo eu.
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11.3.14
A bela e o monstrinho
Ela invocava dados estatísticos - apontava a regra. Ele invocava uma experiência pessoal - apontava a excepção. Mas ele não falava das excepções como excepções; falava delas como se fossem a regra; tentava tapar a floresta com uma árvore.
Ela chama-se Raquel Varela; ele não tem nome que valha a pena citar. Foi no "Prós e Contras" da RTP1. É por todo o lado a estratégia para a falta de argumentos. É a demagogia mais soez a estender a rede á estupidez.
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10.3.14
Uma branda oposição
Quem defende a política de austeridade teve a sua oportunidade para o defender, aplicou-a como entendeu e falhou. O FMI teve o programa que quis, o governo foi além da troika, e isto não resultou.
A aplicação deste programa de austeridade desestabiliza o país e não cria as condições para o pagamento da dívida.
Com efeito, temos mais dívida, temos menos riqueza produzida e não há sustentabilidade do aumento das exportações. Temos menos salários pagos à população e temos mais desemprego – a população desempregada está em 20%.
Nós só teremos possibilidade de sair desta situação quando tivermos crescimento económico, e por este caminho não chegamos lá. O investimento está a 60% do valor de 1995.
Toda a gente ajustou mas não os grandes grupos económicos e o sector financeiro. Nestes o Governo não toca. Não toca nas comunicações, na banca, na EDP…
O cautelar e o concenso com o PS destinam-se à mesma coisa: garantir que a austeridade continua no próximo ciclo de três anos, agravando a dívida e o desemprego.
Estas são, em síntese, as ideias expressas no programa “Comissão Executiva” de 2014-03-09 do “Económico. tv”, com grande clareza,por Marco Capitão Ferreira (na foto), por estas palavras ou equivalentes. Uma voz a seguir.
Outra ideia "contra uma falácia muito em voga" é que nós não podemos aumentar as exportações, todos ao mesmo tempo!
Mas destaco uma frase particularmente oportuna :
“Nós somos um povo de brandos costumes mas escusávamos de ter uma branda oposição”.
A aplicação deste programa de austeridade desestabiliza o país e não cria as condições para o pagamento da dívida.
Com efeito, temos mais dívida, temos menos riqueza produzida e não há sustentabilidade do aumento das exportações. Temos menos salários pagos à população e temos mais desemprego – a população desempregada está em 20%.
Nós só teremos possibilidade de sair desta situação quando tivermos crescimento económico, e por este caminho não chegamos lá. O investimento está a 60% do valor de 1995.
Toda a gente ajustou mas não os grandes grupos económicos e o sector financeiro. Nestes o Governo não toca. Não toca nas comunicações, na banca, na EDP…
O cautelar e o concenso com o PS destinam-se à mesma coisa: garantir que a austeridade continua no próximo ciclo de três anos, agravando a dívida e o desemprego.
Estas são, em síntese, as ideias expressas no programa “Comissão Executiva” de 2014-03-09 do “Económico. tv”, com grande clareza,por Marco Capitão Ferreira (na foto), por estas palavras ou equivalentes. Uma voz a seguir.
Outra ideia "contra uma falácia muito em voga" é que nós não podemos aumentar as exportações, todos ao mesmo tempo!
Mas destaco uma frase particularmente oportuna :
“Nós somos um povo de brandos costumes mas escusávamos de ter uma branda oposição”.
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8.3.14
Não há dinheiro (6)
União Europeia aprova pacote de ajuda financeira… "à Ucrânia" !!!
“Este pacote de medidas pode prestar um apoio de pelo menos 11 mil milhões de euros, durante os próximos dois anos, do orçamento da União Europeia e de instituições financeiras internacionais baseadas na União Europeia.
É um pacote desenhado para assistir um governo ucraniano inclusivo e empenhado na concretização de reformas”, afirmou Durão Barroso. (rr.sapo.pt)
Para os mais distraídos, acrescente-se apenas que a Ucrânia... não pertence à União Europeia!
“Este pacote de medidas pode prestar um apoio de pelo menos 11 mil milhões de euros, durante os próximos dois anos, do orçamento da União Europeia e de instituições financeiras internacionais baseadas na União Europeia.
É um pacote desenhado para assistir um governo ucraniano inclusivo e empenhado na concretização de reformas”, afirmou Durão Barroso. (rr.sapo.pt)
Para os mais distraídos, acrescente-se apenas que a Ucrânia... não pertence à União Europeia!
3.3.14
Ucrânia e os outros
Os Estados Unidos da América, a Alemanha e a própria NATO proclamam que “a Rússia deve respeitar a soberania, integridade territorial e as
fronteiras da Ucrânia". Em matéria de não-intervenção e de respeito pela soberania dos outros países, a autoridade moral destes três é exemplar, como toda agente sabe !!!
Obama chega a afirmar que se trata de "uma quebra do direito internacional". Por seu lado, o presidente russo diz que “os americanos estão a interferir unilateral e cruamente nos assuntos internos da Ucrânia, (o que) é uma clara violação do tratado de 1994”.
RÚSSIA
Putin que dá asilo político ao presidente legítimo da Ucrânia, digo tão legítimo como Cavaco Silva em Portugal, certamente recebeu a autorização competente de Viktor Yanukovych – dura lex, sed lex – para entrar na Crimeia a fim de proteger a comunidade russa ali residente, e a sua Frota do Mar Negro.*
Entretanto, o Conselho Russo da Federação - equivalente ao Senado dos EUA – aprovou «por unanimidade uma resolução que autoriza Putin a usar as forças armadas da Rússia na Ucrânica, pedido que o Parlamento já havia encaminhado antes».
«Antes da votação, os senadores russos bufavam de fúria, disseram que Obama ameaçou a Rússia, insultou o povo russo, e que exigiam que Putin retirasse dos EUA o embaixador russo».
Citações «» do Pravda
* A Crimeia já foi governada pela Rússia no tempo da União Soviética, até que Kruschov decidiu transferi-la para a República Socialista da Ucrânia como gesto comemorativo da antiga união da Ucrânia à Rússia. Com a queda do comunismo, a Ucrânia manteve a Crimeia sob sua jurisdição, apesar de ali continuar sedeada, por acordo mútuo, a frota russa do Mar Negro.
Obama chega a afirmar que se trata de "uma quebra do direito internacional". Por seu lado, o presidente russo diz que “os americanos estão a interferir unilateral e cruamente nos assuntos internos da Ucrânia, (o que) é uma clara violação do tratado de 1994”.
RÚSSIA
Putin que dá asilo político ao presidente legítimo da Ucrânia, digo tão legítimo como Cavaco Silva em Portugal, certamente recebeu a autorização competente de Viktor Yanukovych – dura lex, sed lex – para entrar na Crimeia a fim de proteger a comunidade russa ali residente, e a sua Frota do Mar Negro.*
Entretanto, o Conselho Russo da Federação - equivalente ao Senado dos EUA – aprovou «por unanimidade uma resolução que autoriza Putin a usar as forças armadas da Rússia na Ucrânica, pedido que o Parlamento já havia encaminhado antes».
«Antes da votação, os senadores russos bufavam de fúria, disseram que Obama ameaçou a Rússia, insultou o povo russo, e que exigiam que Putin retirasse dos EUA o embaixador russo».
Citações «» do Pravda
* A Crimeia já foi governada pela Rússia no tempo da União Soviética, até que Kruschov decidiu transferi-la para a República Socialista da Ucrânia como gesto comemorativo da antiga união da Ucrânia à Rússia. Com a queda do comunismo, a Ucrânia manteve a Crimeia sob sua jurisdição, apesar de ali continuar sedeada, por acordo mútuo, a frota russa do Mar Negro.
Etiquetas:
Invasão do Iraque,
Política externa dos EUA,
Ucrânia
2.3.14
Manuel Valadares ainda
O documentário sobre Manuel Valadares já pode ser encontrado (temporariamente) no seguinte endereço electrónico:
http://www.rtp.pt/rtpmemoria/?article=1236&visual=2&tm=8&layout=5
Aproveito para prestar aqui a minha homenagem à Diana Andringa, então responsável pelo departamento de documentários da RTP, a quem devo a oportunidade para fazer este trabalho.
http://www.rtp.pt/rtpmemoria/?article=1236&visual=2&tm=8&layout=5
Aproveito para prestar aqui a minha homenagem à Diana Andringa, então responsável pelo departamento de documentários da RTP, a quem devo a oportunidade para fazer este trabalho.
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documentários,
História,
Manuel Valadares
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