Serve qualquer sinal para designar uma incógnita, sendo corrente usar o xis, o alfa, o gama... Mas para evitar mal-entendidos, porque o xis é conotado com pornografia, alfa é conotado com uma marca de automóvel e gama designa raios luminosos e navegadores, escolhemos o signo π que se lê “pi” (em matemática: 3,14...).
Diz o marxismo, na sua vertente filosófica, que pi não é pi mas que é pi e aquilo em que pi se torna. Isto aplica-se às pedras e ás flores, às pessoas e a toda a realidade, incluindo os partidos políticos. Só não se aplica à Matemática que é a ciência mais exacta porque, oh paradoxo, não lida com objectos da realidade.
Se um partido é aquilo que é, mais aquilo em que se transforma, é porque um elemento novo se acrescenta ao velho – sem ofensa. A representação deste fenómeno, para abreviar, seria: Pi = Pi+Pi’ , isto é, pi é igual a pi mais pi-linha.
Mais diz o Materialismo Dialectico que pi-linha (ou simplesmente pilinha, segundo o acordo ortográfico) não se acrescenta de fora, emerge do próprio pi como a pele das cobras. Esta teoria traduz um conceito social, a saber: a sociedade capitalista transforma-se numa sociedade socialista através da emergência de um elemento que se vai desenvolvendo no seio do próprio capitalismo. Digamos que esse elemento é o movimento revolucionário que, na linguagem dos signos aqui usada, é representado por pilinha.
Somos chegados, inevitavelmente, a uma abordagem freudiana de revolução que nem Marx nem o próprio Freud terão vislumbrado: o vigor fálico como expressão da qualidade revolucionária. Nada que não tivéssemos já percebido em algumas manifestações de afirmação pseudo-ideológica. E não é preciso invocar aquele lapso de Jerónimo de Sousa quando gritava em comício, a despropósito!, que os comunistas deveriam estar preparados para dar provas até de coragem física.
Força, camarada!
Cada vez há mais “folhas secas”
para varrer!
29.12.12
23.12.12
Porque hoje é domingo (29)
Naquele tempo, uma espécie de abelha mágica andava pela região. Depositava um pólen que fecundava virgens e mulheres estéreis.
Foi assim que Maria engravidou apesar do seu corpo nunca ter sido tomado pelo companheiro ou por outro qualquer até então! (Mateus 1,25) Foi assim que o sacerdote Zacarias foi contemplado com a gravidez da sua Isabel quando a idade já não fazia crer que isso acontecesse.
De tal abelha não falam as escrituras mas sim de um tal Gabriel que terá andado de um lado para o outro a levar a notícia, primeiro a Zacarais e depois a Maria - desse Gabriel dizem as escrituras que era um anjo… O próprio S. José foi avisado por um anjo do Senhor. Isto é: sonhou que foi! (Mt 1, 20).
Não admira que as duas primas se encontrassem um dia para falar sobre o assunto. Conta S. Lucas (1,39-45) baseado em pesquisas a que procedeu mais tarde, que Nossa Senhora foi visitar a prima Isabel e, para além daquelas coisas que se dizem nestas circunstâncias, “ Ó prima, por aqui? Mas que surpresa!”, a mulher de Zacarias terá acrescentado: «Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?». Modéstia de Isabel se pensarmos que aquele que se agitava na sua barriga não era uma criatura insignificante, era João Batista, o que viria a ser profeta e a batizar o próprio Cristo.
Hoje sabemos como foi inútil a vida atribulada de Jesus que Deus mandou à Terra pela forma como vimos, para trazer a paz e o amor entre os homens, a caridade e a equidade, por assim dizer, que ao fim de dois mil anos o que temos é porrada e injustiça, egoismo e corrupção.
Não é ainda Natal, este domingo; é apenas o dia em que as duas primas se encontraram a falar daquilo que lhes aconteceu e cuja conversa deve estar tão bem retratada por S. Lucas como as datas (erradas!) que ele atribui aos acontecimentos. Nem será por mal; são as contingências de todo o historiador.
Foi assim que Maria engravidou apesar do seu corpo nunca ter sido tomado pelo companheiro ou por outro qualquer até então! (Mateus 1,25) Foi assim que o sacerdote Zacarias foi contemplado com a gravidez da sua Isabel quando a idade já não fazia crer que isso acontecesse.
De tal abelha não falam as escrituras mas sim de um tal Gabriel que terá andado de um lado para o outro a levar a notícia, primeiro a Zacarais e depois a Maria - desse Gabriel dizem as escrituras que era um anjo… O próprio S. José foi avisado por um anjo do Senhor. Isto é: sonhou que foi! (Mt 1, 20).
Não admira que as duas primas se encontrassem um dia para falar sobre o assunto. Conta S. Lucas (1,39-45) baseado em pesquisas a que procedeu mais tarde, que Nossa Senhora foi visitar a prima Isabel e, para além daquelas coisas que se dizem nestas circunstâncias, “ Ó prima, por aqui? Mas que surpresa!”, a mulher de Zacarias terá acrescentado: «Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?». Modéstia de Isabel se pensarmos que aquele que se agitava na sua barriga não era uma criatura insignificante, era João Batista, o que viria a ser profeta e a batizar o próprio Cristo.
Hoje sabemos como foi inútil a vida atribulada de Jesus que Deus mandou à Terra pela forma como vimos, para trazer a paz e o amor entre os homens, a caridade e a equidade, por assim dizer, que ao fim de dois mil anos o que temos é porrada e injustiça, egoismo e corrupção.
Não é ainda Natal, este domingo; é apenas o dia em que as duas primas se encontraram a falar daquilo que lhes aconteceu e cuja conversa deve estar tão bem retratada por S. Lucas como as datas (erradas!) que ele atribui aos acontecimentos. Nem será por mal; são as contingências de todo o historiador.
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19.12.12
Portugal à venda
Enquanto os países progressistas e progressivos do mundo preservam o seu património, enfrentando patrioticamente as consequências, os governos liberais europeus endividados pelas suas próprias políticas, alienam a riqueza do seu povo e o próprio povo, rendem-se cobardemente às pretensões neo-colonizadoras dos países ricos.
Foi assim com o desmantelamento da nossa indústria, pescas, agricultura, de que agora choram lágrimes de crocodilo. É assim com as privatizações da TAP, da ANA, da RTP, dos estaleiros de Viana do Castelo..., de que hão-de chorar mais tarde, estes "piegas" fingidos. Como se ninguém visse a Grécia aqui tão perto.
Foi assim com o desmantelamento da nossa indústria, pescas, agricultura, de que agora choram lágrimes de crocodilo. É assim com as privatizações da TAP, da ANA, da RTP, dos estaleiros de Viana do Castelo..., de que hão-de chorar mais tarde, estes "piegas" fingidos. Como se ninguém visse a Grécia aqui tão perto.
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17.12.12
Socialismo a votos
Este foi o ano da consagração do projecto socialista da Venezuela, o socialismo do século XXI, como diz Chavez, ou o socialismo como democracia avançada, como também dizem outros dirigentes.
Em 7 de Outubro, o povo venezuelano reelegeu Chávez com 55% dos votos, para o terceiro mandato presidencial de seis anos. Uma diferença de dois milhões de votos em relação ao seu opositor. Neste domingo, 17 de Dezembro, os candidatos do chavismo a governadores ganharam em 20 dos 23 estados! A oposição só conservou Amazonas, Lara y Miranda.
O mapa político da Venezuela apresenta uma esmagadora mancha vermelha para vigorar até 2013.
O chavismo tem condições para desenvolver o seu projecto socialista e com ele beneficiar em justiça e bem-estar as populações mais carenciadas, beneficiar em desenvolvimento a economia nacional e da própria região, beneficiar a “integração”, isto é, a coesão internacional dos diferentes países da América Latina e do Caribe.
Ao contrário do que aconteceria em períodos históricos anteriores, nada faz crer que uma conjura militar ou um boicote económico tenham condições de sair ao caminho do processo em curso, as relações políticas internacionais colocam o país ao abrigo de aventuras imperialistas e a situação económica mundial dá-lhe descanso e oportunidade.
Em condições normais de pressão externa e temperatura interna, por assim dizer, Chavez está salvo, sobretudo porque, como ele diz, “Chavez no soy yo; Chavez es el pueblo!”.
Uma lição para “ditadores do proletariado” e para “socialistas de gaveta” que não é certamente por rejeiterem alianças comprometedoras ou estilos populistas, que não querem aprender.
Em 7 de Outubro, o povo venezuelano reelegeu Chávez com 55% dos votos, para o terceiro mandato presidencial de seis anos. Uma diferença de dois milhões de votos em relação ao seu opositor. Neste domingo, 17 de Dezembro, os candidatos do chavismo a governadores ganharam em 20 dos 23 estados! A oposição só conservou Amazonas, Lara y Miranda.
O mapa político da Venezuela apresenta uma esmagadora mancha vermelha para vigorar até 2013.
O chavismo tem condições para desenvolver o seu projecto socialista e com ele beneficiar em justiça e bem-estar as populações mais carenciadas, beneficiar em desenvolvimento a economia nacional e da própria região, beneficiar a “integração”, isto é, a coesão internacional dos diferentes países da América Latina e do Caribe.
Ao contrário do que aconteceria em períodos históricos anteriores, nada faz crer que uma conjura militar ou um boicote económico tenham condições de sair ao caminho do processo em curso, as relações políticas internacionais colocam o país ao abrigo de aventuras imperialistas e a situação económica mundial dá-lhe descanso e oportunidade.
Em condições normais de pressão externa e temperatura interna, por assim dizer, Chavez está salvo, sobretudo porque, como ele diz, “Chavez no soy yo; Chavez es el pueblo!”.
Uma lição para “ditadores do proletariado” e para “socialistas de gaveta” que não é certamente por rejeiterem alianças comprometedoras ou estilos populistas, que não querem aprender.
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11.12.12
Os erros entranham-se
De tanto repetir o mesmo erro, umas vezes por bem, outras, nem tanto, somos levados a tomar por certo e por verdade o erro, o disparate, a falsidade.
Tome-se por exemplo o “Pai-Nosso” que nos habituámos a dizer desde que a água-benta começa a fazer efeito na nossa linguagem. Em português não se diz “vou pedir aumento ao patrão nosso, vou insultar o presidente nosso, vou emigrar deste país nosso, vou esperar o pai nosso à camioneta”… Diz-se “nosso patrão, nosso presidente, nosso país, nosso pai”!
Outro caso é a Avé-Maria. Aqui, houve ignorância ou esquecimento de traduzir a primeira palavra árabe “طيور” que em português significa “salvé” ou “saúde”– salvação, saudação. A expressão السلام عليك يا مريم deveria traduzir-se por “Deus te salve, Maria”, ou “saúde, Maria” que é o que dizemos quando Maria espirra, por exemplo. Mas deixamos ficar o arabismo.
Outra coisa é traduzir “foot-ball” por futebol, “baguette” por baguete, “boite” por boate e “soutien-gorge” apenas por sutiã. Aqui ponderam-se diferentes razões.
Em alguns casos é para evitar uma expressão demasiado extensa. “Peça de roupa íntima feminina usada para segurar os seios” tornaria o significante tão complicado quanto o significado; “Vou dançar à caixa” comprometeria a reputação da Caixa Geral de Depósitos, e traduzir “casse-tête” por quebra-cabeças no sentido intelectual, deixava-nos sem um instrumento adequado para as "cargas" policiais contra os lançadores de pedras. Tudo isso tem a sua explicação. Agora, “Avé Maria”, valha-nos Deus!
Servem os maus exemplos religiosos, enfim, para demonstrar como um erro muitas vezes repetido se entranha de tal modo na cabeça de um cristão, de um cidadão, de um contribuinte, que o mais santo se crê em pecado, o mais generoso se sente arruaceiro e o mais honrado, um caloteiro. É assim que os ladrões passam por autoridades, que os vigaristas passam por empreendedores e os mamões passam por… laranjas.
Voltarei ao assunto nas próximas eleições - ou nas eleições próximas.
O quadro inicial é uma montagem original para este "blog".
Tome-se por exemplo o “Pai-Nosso” que nos habituámos a dizer desde que a água-benta começa a fazer efeito na nossa linguagem. Em português não se diz “vou pedir aumento ao patrão nosso, vou insultar o presidente nosso, vou emigrar deste país nosso, vou esperar o pai nosso à camioneta”… Diz-se “nosso patrão, nosso presidente, nosso país, nosso pai”!
Outro caso é a Avé-Maria. Aqui, houve ignorância ou esquecimento de traduzir a primeira palavra árabe “طيور” que em português significa “salvé” ou “saúde”– salvação, saudação. A expressão السلام عليك يا مريم deveria traduzir-se por “Deus te salve, Maria”, ou “saúde, Maria” que é o que dizemos quando Maria espirra, por exemplo. Mas deixamos ficar o arabismo.
Outra coisa é traduzir “foot-ball” por futebol, “baguette” por baguete, “boite” por boate e “soutien-gorge” apenas por sutiã. Aqui ponderam-se diferentes razões.
Em alguns casos é para evitar uma expressão demasiado extensa. “Peça de roupa íntima feminina usada para segurar os seios” tornaria o significante tão complicado quanto o significado; “Vou dançar à caixa” comprometeria a reputação da Caixa Geral de Depósitos, e traduzir “casse-tête” por quebra-cabeças no sentido intelectual, deixava-nos sem um instrumento adequado para as "cargas" policiais contra os lançadores de pedras. Tudo isso tem a sua explicação. Agora, “Avé Maria”, valha-nos Deus!
Servem os maus exemplos religiosos, enfim, para demonstrar como um erro muitas vezes repetido se entranha de tal modo na cabeça de um cristão, de um cidadão, de um contribuinte, que o mais santo se crê em pecado, o mais generoso se sente arruaceiro e o mais honrado, um caloteiro. É assim que os ladrões passam por autoridades, que os vigaristas passam por empreendedores e os mamões passam por… laranjas.
Voltarei ao assunto nas próximas eleições - ou nas eleições próximas.
O quadro inicial é uma montagem original para este "blog".
9.12.12
Porque hoje é domingo (28)
«As estradas curvas ficarão retas, e os caminhos esburacados serão nivelados. Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão aplainadas». Quem assim falava não era presidente da república nem autarca, como se vê pela falta de referências a auto-estradas e à Mota-Engil. Era João que seria decapitado porque as suas professias comprometiam o Poder. Era mais uma voz que clamava no deserto como Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e poucos mais dos que se fazem ouvir.
Agora que a voz dos profetas ecoa nos sentimentos do povo, chegam os hipócratas de imprevisíveis bancadas com mêdo de perder um lugar no futuro tal como conseguiram um lugar no passado. Por sua vontade, S. João seria decapitado e Jesus Cristo seria crucificado, mas lavam suas mãos e esperam que Herodes e Pôncio Pilatos sujem as suas. Não é difícil perceber pelos caminhos por que chegam aqui, que se estão nas tintas para que os camelos passem ou não pelo cu duma agulha, gozam com os crentes e continuam empoleirados na escavadora da economia nacional, fingindo-se críticos.
Como um filho de Deus, Passos Coelho, religiosamente inflexível, lembra o pecado original dos portugueses, a "sua" dívida, e aplica a penitência da deusa alemã. Entretanto, vendo o país a afundar, Noé vai enchendo a barca com tudo o que puder apanhar para si próprio: água, electricidade, televisão, correio, aviões...
Perdoem alguma imprecisão histórica. Em caso de dúvidas, podem sempre consultar o Evangelho Segundo S. Lucas, logo no início do capítulo terceiro, e comprarem o livro de Isaías, à venda em qualquer lado.
Agora que a voz dos profetas ecoa nos sentimentos do povo, chegam os hipócratas de imprevisíveis bancadas com mêdo de perder um lugar no futuro tal como conseguiram um lugar no passado. Por sua vontade, S. João seria decapitado e Jesus Cristo seria crucificado, mas lavam suas mãos e esperam que Herodes e Pôncio Pilatos sujem as suas. Não é difícil perceber pelos caminhos por que chegam aqui, que se estão nas tintas para que os camelos passem ou não pelo cu duma agulha, gozam com os crentes e continuam empoleirados na escavadora da economia nacional, fingindo-se críticos.
Como um filho de Deus, Passos Coelho, religiosamente inflexível, lembra o pecado original dos portugueses, a "sua" dívida, e aplica a penitência da deusa alemã. Entretanto, vendo o país a afundar, Noé vai enchendo a barca com tudo o que puder apanhar para si próprio: água, electricidade, televisão, correio, aviões...
Perdoem alguma imprecisão histórica. Em caso de dúvidas, podem sempre consultar o Evangelho Segundo S. Lucas, logo no início do capítulo terceiro, e comprarem o livro de Isaías, à venda em qualquer lado.
6.12.12
«RTP: o fim anunciado»
O título que dou a este artigo é o nome de um livro que José Barata-Feyo publicou em 2002. E dele recolho algumas passagens oportunas dez anos depois.
«O Governo nomeia o conselho de gerência ou de administração que, por seu turno, nomeia os directores bem como as macro e micro-estruturas da empresa. Todos se tornam assim, de alto a baixo, criaturas e potenciais instrumentos do governo».
Logo a seguir, cita Victor Cunha Rego, fundador do PS e que foi presidente da televisão portuguesa em 1982 e para quem «A RTP é um prolongamento do aparelho ideológico do Estado».
Até aqui, nada que nos surpreenda. Precisaria apenas, pela minha parte mas também em coerência com o seu pensamento, que a dependência dos jornalistas e dos quadros da empresa de comunicação não é menor nas estações privadas, antes pelo contrário. E que a dependência do governo a que "todos" os trabalhadores estão sujeitos não deve entender-se como adesão ideológica mas sim como desempenho profissional, tal como os operários em relação aos patrões. Outra coisa são os gestores de conteúdos.
«Quanto ao processo da morte da RTP – escrevia Barata Feyo há dez anos! – ele foi anunciado pelo primeiro-ministro Cavaco Silva, em vésperas de eleições presidenciais. Na corrida de 1991 para Belém, Pinto Balsemão, fundador do PSD, fez saber que poderia candidatar-se pelo seu partido contra Mário Soares, apoiado por Cavaco Silva e pelo aparelho do PSD. Balsemão renunciou à sua candidatura. Porquê? – pergunta Barata Feyo. E acrescenta: - Eles lá saberão».
«Cavaco Silva e o PSD acabaram com a taxa de televisão (…), obrigaram a RTP a vender ao desbarato os seus emissores e, a seguir, a alugá-los por um preço que, ao fim de três anos, já implicava prejuízo para a empresa». O jornalista desenvolve a seguir aquilo a que chama «manobra da asfixia da RTP», nomeadamente as limitações drásticas das receitas de publicidade. E denuncia a estratégia de sacrifício da RTP para criar condições vantajosas para os investidores privados que aguardavam o seu dia.
«Serviço público de televisão com um ou dois canais? – pergunta-se Barata Feyo, fazendo eco da questão que corre nessa altura. E responde que «a questão é capciosa» porque «o fecho de um canal implica, a prazo, o fim do outro, condenado a fazer uma programação desléxica que o vai empurrar para audiência residuais».
À parte a suspeição em torno das razões da renúncia de Balsemão, estas e outras análises afins foram primeiramente expostas pela Comissão de Trabalhadores da RTP em sucessivos comunicados e entrevistas com entidades influentes no processo. Isso não tira minimamente o mérito de Barata Feyo, pelo contrário. Serve apenas para evidenciar que ninguém pode fingir que não tinha consciência do que se passava.
Invocar estas estratégias do PSD e o papel central do astucioso Cavaco Silva ao longo dos tempos, onde pontificam figuras tão persistentes na vida pública como Marcelo Rebelo de Sousa, Manuela Ferreira Leite, Proença de Carvalho* e outros, serve para lembrar que nem a estratégia nem os estrategas trazem novidades ao conflito entre a defesa e a destruição da televisão pública. Nalguns casos o despudor dos governos chega ao ponto de nomeá-los para a administração da própria empresa que combatem. Entre os inimigos externos, os internos e os infiltrados, a RTP tem sido vandalizada pelos partidos, com sacrifício dos profissionais independentes do Poder, e do serviço que é suposto prerstar à população.
Entretanto, o mais repugnate - mas não importante - é o oportunismo individual de algumas personagens deste drama que se exibem nos palcos a chorar e a sangrar porque foram vítimas dos jogos a que se prestaram.
*A minha referência a Proença de Carvalho que foi presidente da RTP em 1979, não é extraída do livro mas do meu conhecimento directo. Nota curiosa é que ele seja da mesma terra que Barata Feyo, a Soalheira, na Beira Baixa. A coincidência fica por aqui!
«O Governo nomeia o conselho de gerência ou de administração que, por seu turno, nomeia os directores bem como as macro e micro-estruturas da empresa. Todos se tornam assim, de alto a baixo, criaturas e potenciais instrumentos do governo».
Logo a seguir, cita Victor Cunha Rego, fundador do PS e que foi presidente da televisão portuguesa em 1982 e para quem «A RTP é um prolongamento do aparelho ideológico do Estado».
Até aqui, nada que nos surpreenda. Precisaria apenas, pela minha parte mas também em coerência com o seu pensamento, que a dependência dos jornalistas e dos quadros da empresa de comunicação não é menor nas estações privadas, antes pelo contrário. E que a dependência do governo a que "todos" os trabalhadores estão sujeitos não deve entender-se como adesão ideológica mas sim como desempenho profissional, tal como os operários em relação aos patrões. Outra coisa são os gestores de conteúdos.
«Quanto ao processo da morte da RTP – escrevia Barata Feyo há dez anos! – ele foi anunciado pelo primeiro-ministro Cavaco Silva, em vésperas de eleições presidenciais. Na corrida de 1991 para Belém, Pinto Balsemão, fundador do PSD, fez saber que poderia candidatar-se pelo seu partido contra Mário Soares, apoiado por Cavaco Silva e pelo aparelho do PSD. Balsemão renunciou à sua candidatura. Porquê? – pergunta Barata Feyo. E acrescenta: - Eles lá saberão».
«Cavaco Silva e o PSD acabaram com a taxa de televisão (…), obrigaram a RTP a vender ao desbarato os seus emissores e, a seguir, a alugá-los por um preço que, ao fim de três anos, já implicava prejuízo para a empresa». O jornalista desenvolve a seguir aquilo a que chama «manobra da asfixia da RTP», nomeadamente as limitações drásticas das receitas de publicidade. E denuncia a estratégia de sacrifício da RTP para criar condições vantajosas para os investidores privados que aguardavam o seu dia.
«Serviço público de televisão com um ou dois canais? – pergunta-se Barata Feyo, fazendo eco da questão que corre nessa altura. E responde que «a questão é capciosa» porque «o fecho de um canal implica, a prazo, o fim do outro, condenado a fazer uma programação desléxica que o vai empurrar para audiência residuais».
À parte a suspeição em torno das razões da renúncia de Balsemão, estas e outras análises afins foram primeiramente expostas pela Comissão de Trabalhadores da RTP em sucessivos comunicados e entrevistas com entidades influentes no processo. Isso não tira minimamente o mérito de Barata Feyo, pelo contrário. Serve apenas para evidenciar que ninguém pode fingir que não tinha consciência do que se passava.
Invocar estas estratégias do PSD e o papel central do astucioso Cavaco Silva ao longo dos tempos, onde pontificam figuras tão persistentes na vida pública como Marcelo Rebelo de Sousa, Manuela Ferreira Leite, Proença de Carvalho* e outros, serve para lembrar que nem a estratégia nem os estrategas trazem novidades ao conflito entre a defesa e a destruição da televisão pública. Nalguns casos o despudor dos governos chega ao ponto de nomeá-los para a administração da própria empresa que combatem. Entre os inimigos externos, os internos e os infiltrados, a RTP tem sido vandalizada pelos partidos, com sacrifício dos profissionais independentes do Poder, e do serviço que é suposto prerstar à população.
Entretanto, o mais repugnate - mas não importante - é o oportunismo individual de algumas personagens deste drama que se exibem nos palcos a chorar e a sangrar porque foram vítimas dos jogos a que se prestaram.
*A minha referência a Proença de Carvalho que foi presidente da RTP em 1979, não é extraída do livro mas do meu conhecimento directo. Nota curiosa é que ele seja da mesma terra que Barata Feyo, a Soalheira, na Beira Baixa. A coincidência fica por aqui!
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Nuno Santos,
RTP
3.12.12
A vaca do Natal
Anda meio mundo a marrar com o Papa por ele dizer que não havia vacas nem quaisquer outras bestas no presépio onde nasceu Jesus. Havia apenas a jovem Maria e o velho José que viviam juntos não se sabe porquê ou para quê, e a eles se juntaram, isso sim, mas por pouco tempo, os três reis-magos com a missão política que lhes cabia de visitar o rei dos judeus, e por não terem sido ainda inventados os ministros dos negócios estrangeiros e os diplomatas – sorte a deles!
Quem quiser saber mais só tem que comprar o livro onde isto vem tudo escarrapachado. A tiragem está em um milhão de exemplares! E a oportunidade não podia ser melhor para vendê-lo. Não é por acaso que há tantos lançamentos literários nesta época do ano… Ou julgavam que era só o padre Mário?
Papa e Padre Mário da Lixa " (composição original)
Esperamos que nas vèsperas do Natal seguinte, o escritor Ratzinger, também ele José e também ele velho e santo, aproveite a onda para desmentir a virgindade de Maria a fim de se acabar com a desconfiança sobre a virilidade do marido, e aproveite até para desmentir a ressurreição de Cristo de quem não se conhece a segunda morte que decorreria nessas circunstâncias.
Afinal, diga o Papa o que disser, só a sua Igreja pode interpretar “autenticamente a Palavra de Deus escrita e transmitida, exercendo sua autoridade em nome de Jesus” – diz ele.
Quem quiser saber mais só tem que comprar o livro onde isto vem tudo escarrapachado. A tiragem está em um milhão de exemplares! E a oportunidade não podia ser melhor para vendê-lo. Não é por acaso que há tantos lançamentos literários nesta época do ano… Ou julgavam que era só o padre Mário?
Papa e Padre Mário da Lixa " (composição original)
Esperamos que nas vèsperas do Natal seguinte, o escritor Ratzinger, também ele José e também ele velho e santo, aproveite a onda para desmentir a virgindade de Maria a fim de se acabar com a desconfiança sobre a virilidade do marido, e aproveite até para desmentir a ressurreição de Cristo de quem não se conhece a segunda morte que decorreria nessas circunstâncias.
Afinal, diga o Papa o que disser, só a sua Igreja pode interpretar “autenticamente a Palavra de Deus escrita e transmitida, exercendo sua autoridade em nome de Jesus” – diz ele.
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26.11.12
Olhos postos na América Latina
A democratização e o desenvolvimento que as forças progressistas da América Latina têm trazido à região, do Brasil à Venezuela, do Equador à Argentina, nomeadamente, estão a atrair nos últimos anos a atenção e o interesse dos países de outros continentes, promovendo relações económicas de novo tipo. Para trás ficam séculos de arrogância e exploração do “velho mundo” desenvolvido, sobre esses povos, sobre essas culturas, sobre essas economias.
É bem significativo dos novos tempos, que no plenário da recente cimeira ibero-americana os governantes latino-americanos criticassem unânime e abertamente as medidas adoptadas na Europa para fazer face à crise, advertindo que o excesso de austeridade impede o crescimento e pode causar o contágio ao outro lado do Atlântico – na verdade já está a causar.
A maioria dos dirigentes lembrou na cimeira como a sua região sacrificou uma “década perdida” para seguir políticas de ajustes ditadas pelos órgãos multilaterais com prazos difíceis de cumprir. Entretanto, o presidente do Peru, Ollanta Humala diria ainda que “a Europa é maior que os seus problemas”.
UM MERCADO ATRAENTE
Hoje a Espanha e Portugal, em diferentes escalas, confrontados com a crise económica e financeira na Europa, e com as políticas individualistas dos países que compõem a União, mas também confrontados com os avanços da China, da Rússia e de outras potências na América do Sul, sentem uma grande necessidade de aproximação à “Pátria Grande” de Simon Bolívar.
O mercado latino-americano vale quase 4,5 biliões de dólares e vai continuar a crescer - um espaço económico atraente em tempos de crise. São considerados países “com estabilidade”, com “expetativa de crescimento” nos próximos anos, ao contrário do que se verifica na zona euro.
Só no Brasil há 60 milhões de consumidores que têm maior poder de compra agora, após terem ascendido em termos socioeconómicos. No entanto as exportações ibéricas ainda são muito fracas para a América Latina, ao contrário dos investimentos.
PRESENÇA DE ESPANHA
A Espanha, além de uma forte presença nas telecomunicações, energia, infraestruturas tem mais de 20% do mercado bancário da região. Os dois maiores bancos e outras grandes empresas da América Latina são espanholas. Mas ainda assim esses investimentos representam uma parte muito pequena do capital investido por Espanha no exterior. Tanto mais quanto é sabido como a China tem sabido e conseguido aproveitar aquele espaço em franco desenvolvimento
PRESENÇA DE PORTUGAL
Da presença portuguesa na América Latina destacam-se empresas como a Lusiaves na Colômbia, a Sugalidal no Chile e a Sogrape na Argentina. Mas apenas 4,3% das exportações portuguesas se destinam à região.
O segundo mercado de Portugal na América Latina, depois do Brasil, é agora a Venezuela. Nos primeiros seis meses deste ano, as exportações de Portugal para a Venezuela alcançaram os 159 milhões de euros, mais do que em todo o ano de 2011 (152,8). A conta que apoia as nossas exportações para a Venezuela é “abastecida” com a nossa compra de petróleo.
CONCLUSÃO
Não estará na altura de trocar dois submarinos por dois navios mercantes?
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24.11.12
As pedras e as palavras
Até hoje, nenhum post inserido aqui teve tanto a ver com o título deste blogue - nome e imagem! Mas isto não é tanto um artigo, é mais um comentário a um artigo de JN.
Na comparação que faz entre o apoiante de Passos Coelho, provocador que apareceu num comício do PS, e os indivíduos que estiveram a atirar pedras à polícia, digo aos polícias, na sequência da recente manifestação de 14 de Novembro, JN deixa-me perplexo. A consideração que tenho por ele, se é quem penso que é, inibe-me de dizer mais!
Em todo o restante argumentário, no entanto, o JN prossegue numa lógica formal sobre teses “moralistas” e teses “militaristas” e sobre a diferença entre “os fins e os meios”, que me fazem duvidar das suas competências filosóficas, de tal modo se deixa levar pelas palavras – destas dizia Sartre, em "Les Mots", que são de tal modo fascinantes que por vezes nos fazem perder a noção da realidade – passe a citação de memória. Começo a duvidar, enfim, que o JN seja quem eu penso.
Finalmente o JN não percebeu que o que distingue aqueles indivíduos, de Gandhi, é que este estava verdadeiramente empenhado na revolução social e por isso, consciente da desproporção de forças com que contava, não se deixava entusismar com fogachadas contra forças bem armadas, arremetidas que duram apenas duas horas ou o tempo que as autoridades quiserem, e deixam um sabor a impotência, a frustração, a desistência, a divisão na base social de contestação. Definitivamente, este JN não é quem eu pensava que era.
Nem violência gratuita nem “abstenção violenta” à moda do PS. O que o país precisa é que os cidadãos reforcem a capacidade de intervenção da esquerda consequente nas instâncias do Poder, o que requer mais tempo do que duas horas, mais trabalho e mais coragem do que atirar pedras e incendiar caixas de lixo às escondidas.
Quem é o JN? Isso importa pouco. Há vários.
Na comparação que faz entre o apoiante de Passos Coelho, provocador que apareceu num comício do PS, e os indivíduos que estiveram a atirar pedras à polícia, digo aos polícias, na sequência da recente manifestação de 14 de Novembro, JN deixa-me perplexo. A consideração que tenho por ele, se é quem penso que é, inibe-me de dizer mais!
Em todo o restante argumentário, no entanto, o JN prossegue numa lógica formal sobre teses “moralistas” e teses “militaristas” e sobre a diferença entre “os fins e os meios”, que me fazem duvidar das suas competências filosóficas, de tal modo se deixa levar pelas palavras – destas dizia Sartre, em "Les Mots", que são de tal modo fascinantes que por vezes nos fazem perder a noção da realidade – passe a citação de memória. Começo a duvidar, enfim, que o JN seja quem eu penso.
Finalmente o JN não percebeu que o que distingue aqueles indivíduos, de Gandhi, é que este estava verdadeiramente empenhado na revolução social e por isso, consciente da desproporção de forças com que contava, não se deixava entusismar com fogachadas contra forças bem armadas, arremetidas que duram apenas duas horas ou o tempo que as autoridades quiserem, e deixam um sabor a impotência, a frustração, a desistência, a divisão na base social de contestação. Definitivamente, este JN não é quem eu pensava que era.
Nem violência gratuita nem “abstenção violenta” à moda do PS. O que o país precisa é que os cidadãos reforcem a capacidade de intervenção da esquerda consequente nas instâncias do Poder, o que requer mais tempo do que duas horas, mais trabalho e mais coragem do que atirar pedras e incendiar caixas de lixo às escondidas.
Quem é o JN? Isso importa pouco. Há vários.
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23.11.12
Imagens de arquivo
A PSP pediu à Direcção da RTP cópias de imagens gravadas nas manifestações de S. Bento.
Independentemente de Vítor Gonçalves ter diligenciado a satisfação desse pedido, em termos burocráticos, o que está por esclarecer é quem decidiu a entrega desse material à Polícia. Uma vez que Vitor Gonçalves é director-adjunto, pode ter recebido ordens superiores – pode e deve. Isto é o que se refere à legitimidade da decisão, que se confina à RTP e à PSP.
Outra coisa é saber se a PSP pediu ou exigiu e se esta foi a autora inicial do pedido ou se o fez a pedido do ministério que a tutela. Será que ainda vamos ter que acreditar que é o Ministro da Administração Interna que quer as imagens para apurar se houve violência desproporcionada da parte dos agentes da autoridade? Pelo caminho que o Governo leva em matéria de comunicação com os cidadãos, não seria de admirar.
Para o caso de ser essa a “explicação”, aqui fica um comentário "ab anteriori”. Quem de nós não ficaria enraivecido depois das provocações e agressões físicas, dos insultos e pedradas que os "soldados" da Polícia foram obrigados a suportar durante horas? É que, enquanto choviam pedras sobre os polícias que prestavam serviço na Assembleia da República, "nem uma agulha bolia na quieta melancolia" dos agentes do Governo.
É por esta conclusão que insiro no início deste post uma imagem das lutas de gladiadores, com seu público e seus governantes rejubilando nos balcões do circo romano. Uma imagem pedida ao arquivo da RTP...
Independentemente de Vítor Gonçalves ter diligenciado a satisfação desse pedido, em termos burocráticos, o que está por esclarecer é quem decidiu a entrega desse material à Polícia. Uma vez que Vitor Gonçalves é director-adjunto, pode ter recebido ordens superiores – pode e deve. Isto é o que se refere à legitimidade da decisão, que se confina à RTP e à PSP.
Outra coisa é saber se a PSP pediu ou exigiu e se esta foi a autora inicial do pedido ou se o fez a pedido do ministério que a tutela. Será que ainda vamos ter que acreditar que é o Ministro da Administração Interna que quer as imagens para apurar se houve violência desproporcionada da parte dos agentes da autoridade? Pelo caminho que o Governo leva em matéria de comunicação com os cidadãos, não seria de admirar.
Para o caso de ser essa a “explicação”, aqui fica um comentário "ab anteriori”. Quem de nós não ficaria enraivecido depois das provocações e agressões físicas, dos insultos e pedradas que os "soldados" da Polícia foram obrigados a suportar durante horas? É que, enquanto choviam pedras sobre os polícias que prestavam serviço na Assembleia da República, "nem uma agulha bolia na quieta melancolia" dos agentes do Governo.
É por esta conclusão que insiro no início deste post uma imagem das lutas de gladiadores, com seu público e seus governantes rejubilando nos balcões do circo romano. Uma imagem pedida ao arquivo da RTP...
19.11.12
"Ainda" há homens com
«Este portal destinava-se a ajudar os alunos do segundo ano de uma licenciatura de escola pública universitária, numa disciplina com o nome de História do Presente. Acabei hoje, dia 10 de Maio, por ter que renunciar à respectiva coordenação e regência, por questões de dignidade pessoal e brio académico. Vou tentar utilizar o investimento feito noutras unidades orgânicas onde haja ideias de obra, manifestações e cumprimento das regras do Estado de Direito. E mais não digo. Porque tenho vergonha».
Quem fala assim é José Adelino Maltez, licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra e com o grau de doutor em ciências sociais, na especialidade de ciência política, pela Universidade Técnica de Lisboa . Alguém que nos habituámos a ouvir com atenção na Televisão, menos vezes do que gostariamos.
E de cujo “Cosmopolis” transcrevo, quase aleatoriamente, esta referência desempoeirada e certeira, ao ano de 1991:
«O Expresso elege como homens do ano um tal sindicalista Torres Couto, um tal intelectual Mega Ferreira, um tal secretário de Estado Santana Lopes e um tal tarimbeiro da política laranja, chamado Luís Filipe Meneses. Todos ilustres homens de sucesso sem obra-prima mas com muitas promessas de obra feita e, sobretudo, detentores daquele eficaz sentido de oportunidade que lhes permite saber apostar no vencedor».
Para "não citar" este seu comentário na Televisão, ele próprio uma invocação: «Nem tudo o que é lícito é honesto!».
Quem fala assim é José Adelino Maltez, licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra e com o grau de doutor em ciências sociais, na especialidade de ciência política, pela Universidade Técnica de Lisboa . Alguém que nos habituámos a ouvir com atenção na Televisão, menos vezes do que gostariamos.
E de cujo “Cosmopolis” transcrevo, quase aleatoriamente, esta referência desempoeirada e certeira, ao ano de 1991:
«O Expresso elege como homens do ano um tal sindicalista Torres Couto, um tal intelectual Mega Ferreira, um tal secretário de Estado Santana Lopes e um tal tarimbeiro da política laranja, chamado Luís Filipe Meneses. Todos ilustres homens de sucesso sem obra-prima mas com muitas promessas de obra feita e, sobretudo, detentores daquele eficaz sentido de oportunidade que lhes permite saber apostar no vencedor».
Para "não citar" este seu comentário na Televisão, ele próprio uma invocação: «Nem tudo o que é lícito é honesto!».
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17.11.12
Merkel dá mais pica
Na passada segunda-feira, dia 12, dona Angela Merkel era a estrela de S. Julião da Barra, trazendo no regaço um cesto de promessas, esclarecendo, porém, que a “ajuda financeira” não era de sua autoria mas sim da “troica” – talvez para acalmar a investida sedutora de Passos Coelho. Nem pão, nem rosas, mas palavras:«Farei tudo para que Portugal tenha um futuro feliz».
Como se nós não o soubessemos já…
Deste concurso de mentiras vale a pena acrescentar a “convicção” de Passos Coelho de que as “reformas estruturais” que estão a ser levadas a cabo em Portugal irão transformar o país «numa das economias mais dinâmicas da Europa».
Quem duvida?!
Entre as reformas em curso está, como se sabe, a alienação do património nacional (e dos próprios portugueses), onde se inclui a venda da TAP. Interessado nesta companhia aérea e em promover “o comércio, o investimento e o turismo”, também andou por aí um outro visitante com igual peso diplomático mas não económico apesar de ser a 3ª maior economia da América Latina: Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia.
Santos esteve cá dois dias, 15 e 16 de Novembro, um dos quais coincidiu com a Greve Geral da CGTP, o que obrigou o presidente português a furar a greve para recebê-lo. O presidente que em boa hora sucedeu a Álvaro Uribe - o “implacável exterminador” de sindicalistas e opositores políticos – foi recebido com simpatia e honras protoculares, mas os nossos orgãos de informação, ignorantes ou pouco sensíveis à América Latina que extravasa o Brasil, mal deram por quem nos convidava “a participar no grande programa de construção, ampliação e manutenção de infra-estruturas que Bogotá quer concretizar”.
Esta aproximação ou estreitamento de relações económicas de Passos Coelho e Paulo Portas, com a Colômbia social-democrata, parece rivalizar com as negociações económicas de José Sócrates e Manuel Pinho, a seu tempo, com a Venezuela socialista. Mas é manifesta a diferença de vantagens entre a venda da TAP e a venda dos computadores Magalhães – passe o exemplo a título simbólico.
Santos promove negociações de paz com as FARC, em Cuba; Santos abraça o projecto “integrador” da América Latina e Caribe, promovido pela Venezuela para a descolonização económica da região; Santos respeita a soberania dos outros países; Santos não anda cá para nos tramar como frau Merkel… E isso não dá pica.
Como se nós não o soubessemos já…
Deste concurso de mentiras vale a pena acrescentar a “convicção” de Passos Coelho de que as “reformas estruturais” que estão a ser levadas a cabo em Portugal irão transformar o país «numa das economias mais dinâmicas da Europa».
Quem duvida?!
Entre as reformas em curso está, como se sabe, a alienação do património nacional (e dos próprios portugueses), onde se inclui a venda da TAP. Interessado nesta companhia aérea e em promover “o comércio, o investimento e o turismo”, também andou por aí um outro visitante com igual peso diplomático mas não económico apesar de ser a 3ª maior economia da América Latina: Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia.
Na foto, os dois presidentes e suas Marias
Santos esteve cá dois dias, 15 e 16 de Novembro, um dos quais coincidiu com a Greve Geral da CGTP, o que obrigou o presidente português a furar a greve para recebê-lo. O presidente que em boa hora sucedeu a Álvaro Uribe - o “implacável exterminador” de sindicalistas e opositores políticos – foi recebido com simpatia e honras protoculares, mas os nossos orgãos de informação, ignorantes ou pouco sensíveis à América Latina que extravasa o Brasil, mal deram por quem nos convidava “a participar no grande programa de construção, ampliação e manutenção de infra-estruturas que Bogotá quer concretizar”.
Esta aproximação ou estreitamento de relações económicas de Passos Coelho e Paulo Portas, com a Colômbia social-democrata, parece rivalizar com as negociações económicas de José Sócrates e Manuel Pinho, a seu tempo, com a Venezuela socialista. Mas é manifesta a diferença de vantagens entre a venda da TAP e a venda dos computadores Magalhães – passe o exemplo a título simbólico.
Santos promove negociações de paz com as FARC, em Cuba; Santos abraça o projecto “integrador” da América Latina e Caribe, promovido pela Venezuela para a descolonização económica da região; Santos respeita a soberania dos outros países; Santos não anda cá para nos tramar como frau Merkel… E isso não dá pica.
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12.11.12
Porque hoje é domingo (27)
Jesus fala das diferenças de classes. Opps.
Observando o comportamento dos cidadãos que se dirigiam ao balcão das Finanças, passe a adaptação livre, Jesus comentou a diferença entre o que davam os ricos para a comunidade e o que davam os pobres.
Chamou os discípulos, como Dom Januário faria se fosse um verdadeiro representante de Cristo, e lhes disse: Eu vos asseguro que esta gente com menores recursos "dá mais do que todos os ricos pois todos eles deram do que lhes sobrava; ela, porém, na sua indigência, deu tudo que tinha, todo o seu sustento”.
Por estas e por outras se moveram as forças do Poder com a ajuda de alguns analistas e comentadores públicos, no sentido de difamar o Salvador e condená-lo.
Tanto mais que Jesus acusava os escribas - advogados com funções políticas, talvez deputados dos partidos do Poder, em adaptação livre aos nossos tempos – dizendo (Evangelho - Mc 12,38-44): “Tomai cuidado com os escribas. Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser saudados nas praças públicas, de ocupar as primeiras cadeiras nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes”. Traduzindo: Eles gostam de andar em automóveis de luxo, de ser elogiados nas televisões, de ocupar os espaços do Poder e os lugares de direcção das grandes empresas.
E também dizia Jesus sobre os escribas: “Devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Eles terão sentença mais severa”. As “casas das viúvas” são, para os novos escribas, as famílias empobrecidas a quem os tais deputados e governantes fazem longos discursos demagógicos.
E mais não digo eu para que se não perca a expectativa do que se dirá neste domingo por esse mundo fora onde a Igreja Católica faz a sua propaganda. Aviso apenas, pela minha parte, que nalgumas capelas haverá quem confunda o elogio dos pobres com o elogio da pobreza.
Observando o comportamento dos cidadãos que se dirigiam ao balcão das Finanças, passe a adaptação livre, Jesus comentou a diferença entre o que davam os ricos para a comunidade e o que davam os pobres.
Chamou os discípulos, como Dom Januário faria se fosse um verdadeiro representante de Cristo, e lhes disse: Eu vos asseguro que esta gente com menores recursos "dá mais do que todos os ricos pois todos eles deram do que lhes sobrava; ela, porém, na sua indigência, deu tudo que tinha, todo o seu sustento”.
Por estas e por outras se moveram as forças do Poder com a ajuda de alguns analistas e comentadores públicos, no sentido de difamar o Salvador e condená-lo.
Tanto mais que Jesus acusava os escribas - advogados com funções políticas, talvez deputados dos partidos do Poder, em adaptação livre aos nossos tempos – dizendo (Evangelho - Mc 12,38-44): “Tomai cuidado com os escribas. Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser saudados nas praças públicas, de ocupar as primeiras cadeiras nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes”. Traduzindo: Eles gostam de andar em automóveis de luxo, de ser elogiados nas televisões, de ocupar os espaços do Poder e os lugares de direcção das grandes empresas.
E também dizia Jesus sobre os escribas: “Devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Eles terão sentença mais severa”. As “casas das viúvas” são, para os novos escribas, as famílias empobrecidas a quem os tais deputados e governantes fazem longos discursos demagógicos.
E mais não digo eu para que se não perca a expectativa do que se dirá neste domingo por esse mundo fora onde a Igreja Católica faz a sua propaganda. Aviso apenas, pela minha parte, que nalgumas capelas haverá quem confunda o elogio dos pobres com o elogio da pobreza.
6.11.12
Os caminhos do capitalismo
Imaginemos uma sociedade em que os consumidores param de comprar! O resultado é que o comércio pára, a indústria pára, os empréstimos bancários às empresas e às famílias, param, e com isso param os lucros e os juros, e o capitalismo sucumbe. Aquilo que mantém o capitalismo “de pé” é a dinâmica imparável de acumulação de capital (entendido como riqueza reprodutiva).
Esta regra tem sido comparada a uma bicicleta:
só se equilibra enquanto estiver em movimento;
se pára, cai.
A geração de capital, por sua vez, depende da procura, e esta depende do poder de compra da população – é o consumo que alimenta o capital. Se o poder de compra é asfixiado pela subida dos preços, pela descida dos rendimentos ou pelo agravamento de impostos, o consumo retrai-se, o comércio retrai-se, a produção retrai-se, as empresas fecham, os trabalhadores caem no desemprego sobrecarregando as despesas do Estado que cai na insolvência. Os mesmos efeitos acontecem quando o nível de produção, de que se alimenta o capital, excede a capacidade normal de consumo – é a crise de sobreprodução.
O que gerou a crise global que estamos a viver não foi apenas o incentivo artificial ao consumo, foi a sobreprodução desacompanhada da capacidade de compra dos cidadãos – a precariedade laboral, o congelamento de salários, o desemprego, a subida dos preços e dos impostos fizeram com que o crescimento da produção se tornasse não só inútil como prejudicial à economia porque manteve os custos de produção sem escoamento no mercado ao mesmo tempo que agravava a retracção desse mercado. Mais: acelerava os mecanismos de concorrência entre as empresas e entre as pessoas, com efeitos desastrosos de insolvências e endividamentos progredindo em círculo vicioso.
Para que a bicicleta não caia, há a técnica do empurrão: os estados financiam os bancos para estes financiarem as empresas (*) para estas sustentarem o emprego para este dinamizar o consumo que alimenta o capital... Esta cadeia, porém, tende a quebrar-se nos bancos e nas empresas porque estas se apropriam dos apoios recebidos, para benefício pessoal dos grandes accionistas. “Políticas de controlo” dos financiamentos públicos virão encher os discursos oficiais enquanto os oficiantes repartem na realidade com os capitalistas os beneficios da crise.
Mas a crise continua a roer o tecido social, a gerar descontentamento, protesto, exigência de políticas económicas e sociais correspondentes às necessidades do país. E então, sem a confiança dos cidadãos nem os lucros do capital, os poderes políticos e económicos serão obrigados a dar de comer aos seus escravos para que estas possam continuar a encher-lhes o frigorífico – quem prescinde de criados tem que assumir as suas tarefas!
Por razões de sobrevivência do sistema, portanto, os próprios mentores do capitalismo chegarão a acordo entre eles para reduzir o caudal de lucros, na estricta medida em que isso seja necessário para manter a fonte a jorrar. “O perdão das dívidas” de que tanto se fala actualmente, segue esta lógica.
É a baixa da taxa geral de lucro e outras coisas de que falava Karl Marx. É a necessidade do socialismo económico.
*Actualização em 7 Nov 2012
"Precisamos de dar crédito. Eu imploro. (...) Nós precisamos de dar crédito para ter receitas", disse o presidente do BPI, no X Fórum da Banca promovido pelo Diário Económico.
Esta regra tem sido comparada a uma bicicleta:
só se equilibra enquanto estiver em movimento;
se pára, cai.
A geração de capital, por sua vez, depende da procura, e esta depende do poder de compra da população – é o consumo que alimenta o capital. Se o poder de compra é asfixiado pela subida dos preços, pela descida dos rendimentos ou pelo agravamento de impostos, o consumo retrai-se, o comércio retrai-se, a produção retrai-se, as empresas fecham, os trabalhadores caem no desemprego sobrecarregando as despesas do Estado que cai na insolvência. Os mesmos efeitos acontecem quando o nível de produção, de que se alimenta o capital, excede a capacidade normal de consumo – é a crise de sobreprodução.
O que gerou a crise global que estamos a viver não foi apenas o incentivo artificial ao consumo, foi a sobreprodução desacompanhada da capacidade de compra dos cidadãos – a precariedade laboral, o congelamento de salários, o desemprego, a subida dos preços e dos impostos fizeram com que o crescimento da produção se tornasse não só inútil como prejudicial à economia porque manteve os custos de produção sem escoamento no mercado ao mesmo tempo que agravava a retracção desse mercado. Mais: acelerava os mecanismos de concorrência entre as empresas e entre as pessoas, com efeitos desastrosos de insolvências e endividamentos progredindo em círculo vicioso.
Para que a bicicleta não caia, há a técnica do empurrão: os estados financiam os bancos para estes financiarem as empresas (*) para estas sustentarem o emprego para este dinamizar o consumo que alimenta o capital... Esta cadeia, porém, tende a quebrar-se nos bancos e nas empresas porque estas se apropriam dos apoios recebidos, para benefício pessoal dos grandes accionistas. “Políticas de controlo” dos financiamentos públicos virão encher os discursos oficiais enquanto os oficiantes repartem na realidade com os capitalistas os beneficios da crise.
Mas a crise continua a roer o tecido social, a gerar descontentamento, protesto, exigência de políticas económicas e sociais correspondentes às necessidades do país. E então, sem a confiança dos cidadãos nem os lucros do capital, os poderes políticos e económicos serão obrigados a dar de comer aos seus escravos para que estas possam continuar a encher-lhes o frigorífico – quem prescinde de criados tem que assumir as suas tarefas!
Por razões de sobrevivência do sistema, portanto, os próprios mentores do capitalismo chegarão a acordo entre eles para reduzir o caudal de lucros, na estricta medida em que isso seja necessário para manter a fonte a jorrar. “O perdão das dívidas” de que tanto se fala actualmente, segue esta lógica.
É a baixa da taxa geral de lucro e outras coisas de que falava Karl Marx. É a necessidade do socialismo económico.
*Actualização em 7 Nov 2012
"Precisamos de dar crédito. Eu imploro. (...) Nós precisamos de dar crédito para ter receitas", disse o presidente do BPI, no X Fórum da Banca promovido pelo Diário Económico.
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4.11.12
Os caminhos do socialismo
Em tempo de preparação do XIX Congresso do PCP mas também em tempo da VIII Convenção Nacional do BE e, já agora, do congresso do PCC - da China, não de Cuba - é oportuno reflectir sobre o que trouxe a experiência soviética à reflexão das organizações leninistas mais ou menos assumidas, nacionais ou internacionais.
Em 1985, Mikhail Gorbachev ascende a Secretário Geral do PC da União Soviética e proclama dois conceitos radicalmente novos na política da URSS: a “Glasnost” (transparência) e a Perestroika (reestruturação). Além disto, liberta da soberania russa as repúblicas integrantes da União. Porque é que o secretário-geral do Partido Comunista da URSS envereda por este caminho de que acabaria por perder o controlo?
A crise económica mundial dos anos oitenta apresenta-se na União Soviética de forma particularmente grave. Enquanto as economias capitalistas desenvolvidas registam os primeiros sinais de enfraquecimento do seu ritmo de crescimento industrial, na transição dos anos 60 para os anos 70, as economias periféricas registam, nesse momento, uma aceleração só travada depois do primeiro choque petrolífero, e as economias do leste conhecem uma desaceleração igualmente tardia mas mais profunda (passando o seu ritmo anual tendencial de 8,9%, em 1960-74, para 6,6%, em 1975-77, e para 4,7%, em 1978-81).
(Fonte: CEPII – citado por Augusto Mateus ).
Na União Soviética, à crise de energia e de produção na siderurgia e no petróleo, junta-se a falta de actualização e de manutenção em instalações de geração e linhas de transmissão, avarias associadas, grandes investimentos no sector agrícola sem correspondência no aumento de produção, depauperamento irremediável de equipamentos de produção neste sector, falta de capacidade de distribuição de grande parte das culturas básicas, estragando-se ou atrasando a sua chegada aos consumidores que eram obrigados a fazer grandes filas para aceder aos bens escassos que iam chegando, condições ecológicas desastrosas mesmo sem contar com Chernobil em todas as suas implicações.
Esta era a situação com que a direcção de Gorbachev se confrontava. Já não era possível continuar a fingir que o sistema tinha soluções e que o Partido tinha uma direcção visionária. Confrontada com a necessidade de fazer face a uma crise insustentável, a União Soviética tinha que procurar uma resposta séria e, para isso, era preciso partilhar com a sociedade os problemas e os caminhos a percorrer. Mas a necessária mobilização colectiva tinha que resolver uma questão prévia: a liberdade de informação e de crítica, a democratização política. É assim e por isso que o critério da transparência emana no projecto de reestruturação política.
Neste diálogo aberto com a sociedade civil, o mentor da nova política assumia que o socialismo apresentava erros na aplicação prática que teriam que ser corrigidos para preservar e melhorar o próprio sistema. Entretanto, para fazer face a questões concretas, Gorbachev assinala os gastos com a política internacional de defesa, nomeadamente a intervenção no Afeganistão e o apoio ou controlo das repúblicas socialistas da região. Isto mostra bem como era o problema económico a questão central desta reestruturação, não tanto as questões ideológicas ou sociais.
Porém, se a “Glasnost” surge como um elemento instrumental da reforma económica, ela gera consequências incontornáveis no sentido da democratização política e da libertação de correntes ideológicas alternativas. Estava aberto o caminho para questionar o sistema e o regime – que Gorbachev defendesse o Socialismo ou não, isso deixava de ser determinante num contexto em que a sua opinião estava sujeita ao escrutínio público ou ao confronto com outras correntes de opinião e de poderes facticos.
A manobra de Gorbachev para reencaminhar a URSS na direcção do socialismo autêntico pela via democratizadora, digamos assim,descontrolou-se porque expôs perigosamente o sistema aos ventos fortes que sopravam contra ele - esta é a única conclusão que muitos partidos comunistas, no poder ou na oposição dos seus países, extrairam com mais ou menos convicção. Uma lição simplista, incompleta, parcial, amputada, mais medo do que coragem, mais oportunismo do que coerência, que esconde a necessidade incontornável de reestruturação dos seus programas.
Se a política de Gorbachev acabou por trazer a recuperação económica às repúblicas, é outro capítulo desta história. A sê-lo, porém, poderia dizer-se que Gorbachev, depois de vencido politicamente, foi bem-sucedido no objectivo económico que prosseguiu. Este é o seu paradoxo. No mínimo, é o que os cristãos designam “escrever direito por linhas tortas”. Sobretudo se dermos de barato que não foi o “verdadeiro socialismo” o que saiu derrotado.
Em 1985, Mikhail Gorbachev ascende a Secretário Geral do PC da União Soviética e proclama dois conceitos radicalmente novos na política da URSS: a “Glasnost” (transparência) e a Perestroika (reestruturação). Além disto, liberta da soberania russa as repúblicas integrantes da União. Porque é que o secretário-geral do Partido Comunista da URSS envereda por este caminho de que acabaria por perder o controlo?
A crise económica mundial dos anos oitenta apresenta-se na União Soviética de forma particularmente grave. Enquanto as economias capitalistas desenvolvidas registam os primeiros sinais de enfraquecimento do seu ritmo de crescimento industrial, na transição dos anos 60 para os anos 70, as economias periféricas registam, nesse momento, uma aceleração só travada depois do primeiro choque petrolífero, e as economias do leste conhecem uma desaceleração igualmente tardia mas mais profunda (passando o seu ritmo anual tendencial de 8,9%, em 1960-74, para 6,6%, em 1975-77, e para 4,7%, em 1978-81).
(Fonte: CEPII – citado por Augusto Mateus ).
Na União Soviética, à crise de energia e de produção na siderurgia e no petróleo, junta-se a falta de actualização e de manutenção em instalações de geração e linhas de transmissão, avarias associadas, grandes investimentos no sector agrícola sem correspondência no aumento de produção, depauperamento irremediável de equipamentos de produção neste sector, falta de capacidade de distribuição de grande parte das culturas básicas, estragando-se ou atrasando a sua chegada aos consumidores que eram obrigados a fazer grandes filas para aceder aos bens escassos que iam chegando, condições ecológicas desastrosas mesmo sem contar com Chernobil em todas as suas implicações.
Esta era a situação com que a direcção de Gorbachev se confrontava. Já não era possível continuar a fingir que o sistema tinha soluções e que o Partido tinha uma direcção visionária. Confrontada com a necessidade de fazer face a uma crise insustentável, a União Soviética tinha que procurar uma resposta séria e, para isso, era preciso partilhar com a sociedade os problemas e os caminhos a percorrer. Mas a necessária mobilização colectiva tinha que resolver uma questão prévia: a liberdade de informação e de crítica, a democratização política. É assim e por isso que o critério da transparência emana no projecto de reestruturação política.
Neste diálogo aberto com a sociedade civil, o mentor da nova política assumia que o socialismo apresentava erros na aplicação prática que teriam que ser corrigidos para preservar e melhorar o próprio sistema. Entretanto, para fazer face a questões concretas, Gorbachev assinala os gastos com a política internacional de defesa, nomeadamente a intervenção no Afeganistão e o apoio ou controlo das repúblicas socialistas da região. Isto mostra bem como era o problema económico a questão central desta reestruturação, não tanto as questões ideológicas ou sociais.
Porém, se a “Glasnost” surge como um elemento instrumental da reforma económica, ela gera consequências incontornáveis no sentido da democratização política e da libertação de correntes ideológicas alternativas. Estava aberto o caminho para questionar o sistema e o regime – que Gorbachev defendesse o Socialismo ou não, isso deixava de ser determinante num contexto em que a sua opinião estava sujeita ao escrutínio público ou ao confronto com outras correntes de opinião e de poderes facticos.
A manobra de Gorbachev para reencaminhar a URSS na direcção do socialismo autêntico pela via democratizadora, digamos assim,descontrolou-se porque expôs perigosamente o sistema aos ventos fortes que sopravam contra ele - esta é a única conclusão que muitos partidos comunistas, no poder ou na oposição dos seus países, extrairam com mais ou menos convicção. Uma lição simplista, incompleta, parcial, amputada, mais medo do que coragem, mais oportunismo do que coerência, que esconde a necessidade incontornável de reestruturação dos seus programas.
Se a política de Gorbachev acabou por trazer a recuperação económica às repúblicas, é outro capítulo desta história. A sê-lo, porém, poderia dizer-se que Gorbachev, depois de vencido politicamente, foi bem-sucedido no objectivo económico que prosseguiu. Este é o seu paradoxo. No mínimo, é o que os cristãos designam “escrever direito por linhas tortas”. Sobretudo se dermos de barato que não foi o “verdadeiro socialismo” o que saiu derrotado.
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28.10.12
Porque hoje é domingo (26)
ou: O Fim do Cerco!
"A cena" passa-se em Jericó, uma antiga cidade bíblica da Palestina, situada nas margens do rio Jordão.
Estava eu a conversar com o meu amigo Hassan sobre o cerco economico-financeiro que os nossos países estavam a sofrer, quando fomos engolidos por uma multidão que desfilava na cidade. "É uma manifestação de indignados", pensámos. Porém, cartazes nem um, fosse em hebraico ou em português, nada de caricaturas nem palavras-de-ordem.
Percebemos, entretanto, que seguiam um pequeno grupo dirigente encabeçado por um conhecido agitador de Nazaré, de quem se falava ultimamente.
Não tardou que um pobre desgraçado - que os há sempre mas ainda mais em tempo de crise - começasse a gritar, desesperado: “Jesus, filho de David, tem piedade de mim!”.
A princípio, a multidão tentou ignorá-lo; tentaram depois que se calasse e, finalmente, vencidos pela energia do enfurecido popular, pareceu politicamente mais correcto chamá-lo com paternal tolerância e perguntar: “O que queres que eu faça?”. Ao que o outro respondeu: “Mestre, eu quero ver de novo!” (Mc 10,46-52).
- Mas queres ver o quê? Acaso és cego?
- Eu, não!
- Então porque me pedes para ver?
- Eu quero ver os pescadores a pescar, os agricultores a cultivar, os operários a construir, os vendedores a vender, os consumidores a comprar…
Exaltado como só o tinhamos visto quando expulsou os vendilhões do templo, Jesus respondeu:
- Não votaste para este Governo? Então vai pedir isso ao Ministro das Finanças ou ao 1º Ministro, porque eu sou apenas o Filho de Deus.
Discretamente, porém, Jesus ter-se-ia dirigido depois a Josué, dando instruções que foram fielmente cumpridas: durante seis dias - entenda-se em sentido figurado - os valentes guerreiros deram uma volta em torno da cidade e no "sétimo dia", lá por 2012 ou 2013, entenda-se, deram sete voltas. Durante a sétima volta, ao som da trombeta, todo o povo levantou um grande clamor e as muralhas caíram… (cf. Js 6).
Fica o aviso para os crentes!
"A cena" passa-se em Jericó, uma antiga cidade bíblica da Palestina, situada nas margens do rio Jordão.
Estava eu a conversar com o meu amigo Hassan sobre o cerco economico-financeiro que os nossos países estavam a sofrer, quando fomos engolidos por uma multidão que desfilava na cidade. "É uma manifestação de indignados", pensámos. Porém, cartazes nem um, fosse em hebraico ou em português, nada de caricaturas nem palavras-de-ordem.
Percebemos, entretanto, que seguiam um pequeno grupo dirigente encabeçado por um conhecido agitador de Nazaré, de quem se falava ultimamente.
Não tardou que um pobre desgraçado - que os há sempre mas ainda mais em tempo de crise - começasse a gritar, desesperado: “Jesus, filho de David, tem piedade de mim!”.
A princípio, a multidão tentou ignorá-lo; tentaram depois que se calasse e, finalmente, vencidos pela energia do enfurecido popular, pareceu politicamente mais correcto chamá-lo com paternal tolerância e perguntar: “O que queres que eu faça?”. Ao que o outro respondeu: “Mestre, eu quero ver de novo!” (Mc 10,46-52).
- Mas queres ver o quê? Acaso és cego?
- Eu, não!
- Então porque me pedes para ver?
- Eu quero ver os pescadores a pescar, os agricultores a cultivar, os operários a construir, os vendedores a vender, os consumidores a comprar…
Exaltado como só o tinhamos visto quando expulsou os vendilhões do templo, Jesus respondeu:
- Não votaste para este Governo? Então vai pedir isso ao Ministro das Finanças ou ao 1º Ministro, porque eu sou apenas o Filho de Deus.
Discretamente, porém, Jesus ter-se-ia dirigido depois a Josué, dando instruções que foram fielmente cumpridas: durante seis dias - entenda-se em sentido figurado - os valentes guerreiros deram uma volta em torno da cidade e no "sétimo dia", lá por 2012 ou 2013, entenda-se, deram sete voltas. Durante a sétima volta, ao som da trombeta, todo o povo levantou um grande clamor e as muralhas caíram… (cf. Js 6).
Fica o aviso para os crentes!
25.10.12
O bom aluno
(Imagem recolhida em exposição do Museu de História Nacional do Rio de Janeiro, em 2008, noutro contexto)
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20.10.12
Da censura à propaganda
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC)
Eis senão quando, o Jornal das Sete da SIC Notícias fala da América Latina. Fala mal! Para dizer que o representante das FARC nas conversações de paz afirmou que o conflito armado não cessava durante estas negociações.
Pois foi, senhor jornalista, mas isso porque o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, já o havia afirmado alguns dias antes, ‘tá a ver? O que foi hoje reafirmado pelo representante do Governo: "No habrá despeje, no habrá cese de operaciones militares, la fase dos no es una negociación tradicional, no se trata de que el Estado entregue una serie de competencias suyas a cambio de las ideas de las Farc, porque eso no sería, entre otras cosas, digno", aseguró De la Calle.
"Con estas palabras, De la Calle parecía advertir a sus contrarios en la mesa de negociación que el Gobierno se sigue negando a considerar un pronto cese del fuego, como sí lo ha pedido la guerrilla".
No dia seguinte àquela “notícia” o mesmo "jornalista" da Sic anuncia que Fidel Castro está moribundo ou semi-morto ou lá o que lhe apeteceu anunciar.
O "jornalista" nem se deu conta de que Fidel já estava morto há vários anos. A crer nas notícias, as suas mortes mais recentes ocorreram em 2009 e 2010, como pode certificar-se AQUI
Quantas vezes é que o jornalista venezuelano Nelson Bocaranda publicou que Fidel Castro teria morrido? Bem pode Alex Castro, filho de Fidel, desmentir a notícia, afirmando que o líder da Revolução Cubana "está bem, fazendo suas atividades diárias, lendo, praticando exercícios". Desde quando é que o filho de Castro sabe mais sobre o pai do que o cangalheiro dos líderes de esquerda da América Latina?
É claro que algum dia o "coma-andante", como lhe chamam alguns, há-de morrer e a morbidez de alguns jornalistas há-de acertar. Mas isso não é jornalismo, é propaganda abusiva. E olhe que quem lhe diz isto já terá atacado politicamente Fidel Castro e o seu regime mais vezes do que você. Mas reportando-me a factos e não a desejos. A Sic Notícias merece melhor e tem melhor, como eu também já disse aqui.
Eis senão quando, o Jornal das Sete da SIC Notícias fala da América Latina. Fala mal! Para dizer que o representante das FARC nas conversações de paz afirmou que o conflito armado não cessava durante estas negociações.
Pois foi, senhor jornalista, mas isso porque o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, já o havia afirmado alguns dias antes, ‘tá a ver? O que foi hoje reafirmado pelo representante do Governo: "No habrá despeje, no habrá cese de operaciones militares, la fase dos no es una negociación tradicional, no se trata de que el Estado entregue una serie de competencias suyas a cambio de las ideas de las Farc, porque eso no sería, entre otras cosas, digno", aseguró De la Calle.
"Con estas palabras, De la Calle parecía advertir a sus contrarios en la mesa de negociación que el Gobierno se sigue negando a considerar un pronto cese del fuego, como sí lo ha pedido la guerrilla".
No dia seguinte àquela “notícia” o mesmo "jornalista" da Sic anuncia que Fidel Castro está moribundo ou semi-morto ou lá o que lhe apeteceu anunciar.
O "jornalista" nem se deu conta de que Fidel já estava morto há vários anos. A crer nas notícias, as suas mortes mais recentes ocorreram em 2009 e 2010, como pode certificar-se AQUI
Quantas vezes é que o jornalista venezuelano Nelson Bocaranda publicou que Fidel Castro teria morrido? Bem pode Alex Castro, filho de Fidel, desmentir a notícia, afirmando que o líder da Revolução Cubana "está bem, fazendo suas atividades diárias, lendo, praticando exercícios". Desde quando é que o filho de Castro sabe mais sobre o pai do que o cangalheiro dos líderes de esquerda da América Latina?
É claro que algum dia o "coma-andante", como lhe chamam alguns, há-de morrer e a morbidez de alguns jornalistas há-de acertar. Mas isso não é jornalismo, é propaganda abusiva. E olhe que quem lhe diz isto já terá atacado politicamente Fidel Castro e o seu regime mais vezes do que você. Mas reportando-me a factos e não a desejos. A Sic Notícias merece melhor e tem melhor, como eu também já disse aqui.
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15.10.12
Censura democrática
Hugo Chavez não ganhou as eleições democráticas na Venezuela, proclamendo o socialismo e a independência nacional; Cristina Kirchner não recusa que a Argentina se deixe governar pelo FMI; não está em curso um processo para a iniciação de negociações de paz entre o governo da Colômbia e as FARC, depois de 50 anos de confrontos violentos; a América Latina não existe... senão nas favelas do Brasil.
Esta é a informação a que temos acesso nos orgãos de "comunicação social" portugueses. Ou, parafraseando Karl Marx, «a informação dominante é a informação da classe dominante».
Esta é a informação a que temos acesso nos orgãos de "comunicação social" portugueses. Ou, parafraseando Karl Marx, «a informação dominante é a informação da classe dominante».
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9.10.12
7.10.12
Porque hoje é domingo (25)
Apesar do desprezo institucional e da repugnância religiosa pela mulher, a Igreja Católica, invocando o Mestre, apropria-se do casamento e institui os moldes em que ele deve ser exercido – com muito amor e pouco sexo, todo motivado para a procriação e desviado do prazer sexual. É a palavra, uma vez mais, a contrariar a obra do Criador. É também o conceito de "camas separadas"!
Neste esforço de apropriação do casamento, Jesus teria proclamado: «O Homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne (…). Portanto, o que Deus uniu, o Homem não separe!».
Esta contradição de sentimentos, tão radical na condenação da carne como na sua defesa, não tinha outra razão de ser que não fosse a condenação do divórcio – o tal adultério. Dadas as circunstâncias históricas, qualquer coisa me diz que o lobie dos homens tinha interesse neste princípio para evitar que as mulheres lhes fizessem o que eles faziam a elas, já que eles facilmente escapavam ao cumprimento da regra.
Uma passagem dos evangelhos, atribuída a S. Marcos (Mc 10,2-16) refere que Jesus condenou o adultério nestes termos: "O homem que mandar a sua esposa embora e casar com outra, estará cometendo adultério contra a sua esposa. E, se a mulher mandar o seu marido embora e casar com outro homem, ela também estará cometendo adultério.
É o que a Igreja invoca neste domingo nos seus infinitos canais de comunicação, desde os púlpitos mais tradicionais até às transmissões satelitizadas.
Esperemos que ao menos alguns sacerdotes europeus, com verdadeiro sentido de justiça e fraternidade, se lembrem de condenar nesta oportunidade os maiores pecados que hoje se praticam contra as famílias: o empobrecimento, o desemprego, o trabalho precário, a emigração económica…
Entre nós, D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas, e D. Jorge Ortiga, Bispo de Braga, já deram uma boa contribuição, mas é evidente que os nossos governantes gostam mais das homilias do cardeal Policarpo.
Neste esforço de apropriação do casamento, Jesus teria proclamado: «O Homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne (…). Portanto, o que Deus uniu, o Homem não separe!».
Esta contradição de sentimentos, tão radical na condenação da carne como na sua defesa, não tinha outra razão de ser que não fosse a condenação do divórcio – o tal adultério. Dadas as circunstâncias históricas, qualquer coisa me diz que o lobie dos homens tinha interesse neste princípio para evitar que as mulheres lhes fizessem o que eles faziam a elas, já que eles facilmente escapavam ao cumprimento da regra.
Uma passagem dos evangelhos, atribuída a S. Marcos (Mc 10,2-16) refere que Jesus condenou o adultério nestes termos: "O homem que mandar a sua esposa embora e casar com outra, estará cometendo adultério contra a sua esposa. E, se a mulher mandar o seu marido embora e casar com outro homem, ela também estará cometendo adultério.
É o que a Igreja invoca neste domingo nos seus infinitos canais de comunicação, desde os púlpitos mais tradicionais até às transmissões satelitizadas.
Esperemos que ao menos alguns sacerdotes europeus, com verdadeiro sentido de justiça e fraternidade, se lembrem de condenar nesta oportunidade os maiores pecados que hoje se praticam contra as famílias: o empobrecimento, o desemprego, o trabalho precário, a emigração económica…
Entre nós, D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas, e D. Jorge Ortiga, Bispo de Braga, já deram uma boa contribuição, mas é evidente que os nossos governantes gostam mais das homilias do cardeal Policarpo.
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5.10.12
Oposição insegura
A imagem acima é uma composição original deste blogue a partir de imagens do Parlamento na sessão de apresentação das moções de censura do PC e do BE. O texto seguinte, em itálico, é do blogue
A MAFIA PORTUGUESA
António José Seguro foi especialmente convidado para um jantar "discreto" num hotel "discreto" em Cascais, no passado dia 17 de Março, a convite de cerca de 1.000 maçons.
Já no ano passado, António José Seguro tinha jantado, também num dia 17 - o número de ouro da Maçonaria - em Leiria, onde participou em diversas iniciativas organizadas pela Loja Maçónica Pisani Burnay daquela cidade.
Agora, em Cascais, através dos membros-maçons da célebre e polémica Casa do Sino (CDS), José Seguro pode estar a preparar as hostes maçónico-socialistas-monárquicas a darem-lhe o apoio financeiro e político para a sua candidatura a Secretário-Geral do PS e futuro Primeiro-ministro, em substituição do já tão controverso e decadente José Sócrates.
O jantar, marcado através da Associação Fernando Teixeira (assim designada em honra 1.º Grão Mestre da Casa do Sino) é uma das muitas iniciativas desta instituição para aproximar "irmãos-maçons" da sociedade civil, e assim preparar-lhes o caminho para a fama e para todos os jogos de bastidores políticos ou de possíveis "influências" no xadrez do poder económico de banqueiros, economistas, jornalistas e poder executivo.
Curioso é José Seguro (JS) ter as mesmas iniciais de José Sócrates (JS), iniciais que representam a força da Juventude Socialista (JS) e, como todos sabemos, os maçons utilizam muitas vezes os seus nomes e iniciais como formas simbólicas de continuidade e repetição da história ou como forma de codificar certos objectivos esotérico-simbólicos.
COMENTÁRIO
Eu acho muito injusta esta insinuação. Já repararam nas iniciais de Jerónimo de Sousa? E João Semedo? A não ser que...
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4.10.12
A palavra cinismo
Desde que os dirigentes de facto e de direito, do FMI e da União Europeia, começaram a discursar sobre os méritos dos países que cumprem os objectivos deles e sobre a eficácia dos mesmos, a palavra cinismo ganhou uma enorme actualidade. Passos Coelho ou Paulo Portas, Victor Gaspar ou António Borges são apenas as caricaturas daqueles cínicos.
Que tenha sido um discípulo de Sócrates a fundar a corrente filosófica da indiferença ao sofrimento, o Cinismo, não é de estranhar.
A imagem foi copiada em DKWlab
28.9.12
Elementar, caro Watson Coelho
Após um bom jantar e uma garrafa de vinho, entram nos sacos de dormir e caem no sono. Algumas horas depois, Holmes acorda e sacode o amigo.
- Watson, olhe para o céu estrelado. O que você deduz disso?".
Depois de ponderar um pouco, Watson diz:
- Bem, astronomicamente, estimo que existam milhões de galáxias e potencialmente biliões de planetas. Astrologicamente, posso dizer que Saturno está em Câncer. Teologicamente, eu creio que Deus e o universo são infinitos. Também dá para supor, pela posição das estrelas, que são cerca de 3h15 da madrugada…
O que me diz você, Holmes?" Sherlock responde:
- "Elementar, meu caro Watson. Roubaram a nossa barraca!"
É o que se passa com os discursos e declarações dos governantes, e com muitas das análises e comentários emitidos nos órgãos de comunicação. Após a bebedeira eleitoral, os aldrabões caem na mais tranquila alienação que as suas ambições alimentam e os serviços de Informação sustentam.
Alguns meses depois, o Povo acorda, sacode o Governo e pergunta:
- Senhores governantes, olhem como o país está destruído. O que dizem vocês disso?
Depois de ponderar os conselhos dos consultores, o Governo responde:
- Bem, financeiramente os portugueses vivem acima das suas possibilidades; economicamente, são uns preguiçosos; socialmente só pensam em direitos; psicologicamente, são uns piegas… E o que dizem vocês?
O Povo responde:
- Elementar, senhores governantes: vocês têm andado a roubar-nos !
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25.9.12
A cigarra e a formiga e !
A versão da fábula, que mais se adequa à realidade, conta que depois de todos os sacrifícios e privações por que passou a formiga durante o verão, veio um Coelho e tirou-lhe tudo!
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23.9.12
Porque hoje é domingo (24)
O problema das caricaturas de Maomé ou, mais propriamente, o problema das reacções violentas contra os autores daquelas caricaturas em papel ou em filme, é analisado de forma desassombrada e lúcida por Ludwig Krippahl no blogue “Que Treta!”
Imagem representa a Inquisição católica no séc. XII.
Naquele artigo se confronta o “respeito pelas ideologias", com o respeito pelas pessoas, que é, afinal, o que está em causa: «A violência à conta deste filme é apenas um de muitos exemplos do que acontece quando se respeita mais as ideologias do que as pessoas».
Quão longe nos levaria esta reflexão se quiséssemos analisar os genocídios presentes e passados. No mínimo nos levaria a aceitar que milhares de vítimas de Hitler e de Stalin não o foram tanto em nome dos ideais racistas ou igualitaristas, mas por causa daqueles homens, os quais fariam o mesmo se tivessem ideais contrários! Então, como sempre, a prática de um grupo bebe da sua cultura, e não da sua lei.
Quantas pessoas são hoje torturadas e mortas em nome dos ideais de liberdade e de democracia... para essas pessoas?! Seria ocioso citar exemplos quando eles estão todos os dias nos orgãos de Informação.
Depois há a questão dos que são mais papistas do que o Papa, dos apóstolos que estão mais preocupados com o seu prestígio do que o próprio Cristo, segundo a passagem do Evangelho que hoje é invocada pela Igreja Católica (Mc 9,30-37).
20.9.12
A estratégia da provocação
Não tem época, não tem lugar. Acontece em todo o tempo e em todos os lugares. É apenas uma forma de luta – tão inteligente quanto cobarde. Quem nunca se deixou enganar pelos métodos provocatórios, certamente não frequentou os campos da batalha política.
Para dar um exemplo fácil de reconhecer, pela actualidade, hesito entre Portugal e o Egipto mas acabarei por invocar os dois até para vermos como o vírus se adapta a contextos tão diversos.
Nas manifestações populares que decorreram em Portugal no passado dia 15 de Setembro, assistimos em Lisboa a uma acção desencadeada por um grupo de manifestantes que atiraram garrafas contra a Polícia, digo contra os polícias que porventura sofrem mais do que eles (aqueles!) os efeitos da política de empobrecimento. No Porto, outro pequeno grupo aproximou-se do pequeno palco onde populares anónimos denunciavam a política vigente - o que este pequeno grupo fazia era ruído para interferir com aqueles depoimentos, um ruído que usava palavras de ordem aparentemente adequadas às circunstâncias.
Ás vezes, como eu testemunhei agora no Porto, são menos de meia dúzia, mas a sua impetuosa animação e um megafone lhes chegam para fazer o trabalhinho que convém à Direita oficial - sujar a imagem da manifestação..
Topo-os há mais de trinta anos nas manifestações organizadas pela CGTP ou pelo PCP. O seu azar é que nestas são mais controlados. Mas até do controlo que sobre eles se exerce para manter as manifestações em ordem, eles tiram partido, dizendo que “um grupo independente” foi impedido por aquelas organizações, de se manifestar – isto é, de provocar, desvirtuando os objectivos e os métodos dos organizadores.
Alguns órgãos de Informação fazem o maior eco possível destas acções provocatórias e exportam “o produto” para o estrangeiro. Este trabalho é remunerado. O que fazem os provocadores, só faz sentido se também for…
Ontem, na Assembleia da República, Carlos Abreu Amorim, ex-analista político "independente", agora deputado do PSD, fazendo o jogo dos provocadores invocou os distúrbios ocorridos junto ao edifício do Parlamento. Mas a sua intervenção saiu-lhe mais frustrada ainda que a tentativa dos "meninos queques" apalhaçados de meninos pobres.
Quanto às caricaturas de Maomé que têm vendido jornais e filmes e têm comprado ódios e retaliações desnecessários, não visam ajudar os EUA e a França a pacificar as suas relações com o mundo muçulmano. Mas ajudam certamente o Partido Republicano americano e os conservadores franceses, à falta de estratégias mais sérias para contrariar os efeitos dos resultados eleitorais naqueles países – resultados previsíveis ou apurados, respectivamente. E que dizer dos efeitos que esta “arte pela arte” provoca na árdua luta dos muçulmanos progressistas pela laicização dos seus estados?
Para dar um exemplo fácil de reconhecer, pela actualidade, hesito entre Portugal e o Egipto mas acabarei por invocar os dois até para vermos como o vírus se adapta a contextos tão diversos.
Nas manifestações populares que decorreram em Portugal no passado dia 15 de Setembro, assistimos em Lisboa a uma acção desencadeada por um grupo de manifestantes que atiraram garrafas contra a Polícia, digo contra os polícias que porventura sofrem mais do que eles (aqueles!) os efeitos da política de empobrecimento. No Porto, outro pequeno grupo aproximou-se do pequeno palco onde populares anónimos denunciavam a política vigente - o que este pequeno grupo fazia era ruído para interferir com aqueles depoimentos, um ruído que usava palavras de ordem aparentemente adequadas às circunstâncias.
Ás vezes, como eu testemunhei agora no Porto, são menos de meia dúzia, mas a sua impetuosa animação e um megafone lhes chegam para fazer o trabalhinho que convém à Direita oficial - sujar a imagem da manifestação..
Topo-os há mais de trinta anos nas manifestações organizadas pela CGTP ou pelo PCP. O seu azar é que nestas são mais controlados. Mas até do controlo que sobre eles se exerce para manter as manifestações em ordem, eles tiram partido, dizendo que “um grupo independente” foi impedido por aquelas organizações, de se manifestar – isto é, de provocar, desvirtuando os objectivos e os métodos dos organizadores.
Alguns órgãos de Informação fazem o maior eco possível destas acções provocatórias e exportam “o produto” para o estrangeiro. Este trabalho é remunerado. O que fazem os provocadores, só faz sentido se também for…
Ontem, na Assembleia da República, Carlos Abreu Amorim, ex-analista político "independente", agora deputado do PSD, fazendo o jogo dos provocadores invocou os distúrbios ocorridos junto ao edifício do Parlamento. Mas a sua intervenção saiu-lhe mais frustrada ainda que a tentativa dos "meninos queques" apalhaçados de meninos pobres.
Quanto às caricaturas de Maomé que têm vendido jornais e filmes e têm comprado ódios e retaliações desnecessários, não visam ajudar os EUA e a França a pacificar as suas relações com o mundo muçulmano. Mas ajudam certamente o Partido Republicano americano e os conservadores franceses, à falta de estratégias mais sérias para contrariar os efeitos dos resultados eleitorais naqueles países – resultados previsíveis ou apurados, respectivamente. E que dizer dos efeitos que esta “arte pela arte” provoca na árdua luta dos muçulmanos progressistas pela laicização dos seus estados?
13.9.12
Portugal entre as brumas
Em Portugal, a Direita, questionada pela sua própria base de apoio a quem chega de forma cada vez mais violenta a onda do empobrecimento, desmascarada a incompetência dos seus dirigentes, confrontada com a evidência de que a alternativa está na Esquerda, assustada com a eminência de lutas populares incontornáveis e porventura incontroláveis, pressionada pelos próprios quadros partidários não envolvidos no Governo e por um CDS receoso de perdê-lo, terá que encontrar uma estratégia para continuar no Poder, e essa estratégia não vai ser uma mudança de política.
Como de costume, “para que tudo fique na mesma” o que se vislumbra é uma remodelação do Governo, digo da composição do Governo. A preparar esta medida no inconsciente colectivo, vão fazendo o seu trabalho de comentadores, prestigiados membros da família política ameaçada.
Para que a remodelação tenha o impacto “necessário”, terão que sair Miguel Relvas, Victor Gaspar e Álvaro Santos Pereira, com razões “convenientes” para os dois primeiros e sem necessidade de explicação para o terceiro. Outra cosmética que ficará muito bem é a repartição do Ministério de Assunção Cristas por dois ou três, porventura todos do CDS para aliviar as suas insatisfações.
Quanto à oportunidade da remodelação, é fácil de prever que seja na véspera de uma grande iniciativa popular de protesto – manifestação ou greve geral.
Não admira que o PS seja publicamente convidado a integrar o “novo” executivo; o que seria de pasmar era que o Partido Socialista aceitasse afundar-se a curto prazo neste barco furado – a tanto não há-de chegar o seu “sentido de responsabilidade” que tão mal sai, também ele, deste desastre.
Como de costume, “para que tudo fique na mesma” o que se vislumbra é uma remodelação do Governo, digo da composição do Governo. A preparar esta medida no inconsciente colectivo, vão fazendo o seu trabalho de comentadores, prestigiados membros da família política ameaçada.
Para que a remodelação tenha o impacto “necessário”, terão que sair Miguel Relvas, Victor Gaspar e Álvaro Santos Pereira, com razões “convenientes” para os dois primeiros e sem necessidade de explicação para o terceiro. Outra cosmética que ficará muito bem é a repartição do Ministério de Assunção Cristas por dois ou três, porventura todos do CDS para aliviar as suas insatisfações.
Quanto à oportunidade da remodelação, é fácil de prever que seja na véspera de uma grande iniciativa popular de protesto – manifestação ou greve geral.
Não admira que o PS seja publicamente convidado a integrar o “novo” executivo; o que seria de pasmar era que o Partido Socialista aceitasse afundar-se a curto prazo neste barco furado – a tanto não há-de chegar o seu “sentido de responsabilidade” que tão mal sai, também ele, deste desastre.
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9.9.12
Porque hoje é domingo
A própria Igreja Católica reconhece que não há como saber se os evangelhos foram, de fato, escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João. Nos textos não há menção aos autores.
Sylvia Browne, americana autora do best seller “A Vida Mística de Jesus”, usa essas supostas brechas nas escrituras para tecer suas teorias.
Ela lembra que a “Bíblia” como a conhecemos só tomou forma a partir do Concílio de Niceia, em 325 d.C., e que nesses três séculos a Igreja manipulou transcrições e traduções dos evangelhos para que eles divulgassem uma mensagem alinhada ao projeto de expansão da instituição.
Sylvia sustenta ainda que os evangelhos de Mateus, Lucas e Marcos foram escritos pela mesma pessoa e que apenas o de João teve um autor exclusivo. Supostas contradições, omissões e coincidências seriam sinais da manipulação.
Excerto de: ISTOÉindependente
Sylvia Browne, americana autora do best seller “A Vida Mística de Jesus”, usa essas supostas brechas nas escrituras para tecer suas teorias.
Ela lembra que a “Bíblia” como a conhecemos só tomou forma a partir do Concílio de Niceia, em 325 d.C., e que nesses três séculos a Igreja manipulou transcrições e traduções dos evangelhos para que eles divulgassem uma mensagem alinhada ao projeto de expansão da instituição.
Sylvia sustenta ainda que os evangelhos de Mateus, Lucas e Marcos foram escritos pela mesma pessoa e que apenas o de João teve um autor exclusivo. Supostas contradições, omissões e coincidências seriam sinais da manipulação.
Excerto de: ISTOÉindependente
5.9.12
Argentina com Cristina
Enquanto os nossos governantes, economistas, e comentadores “do arco do poder” escondem, caricaturam ou aldrabam a situação política e económica argentina, e enquanto o jornalismo ideológico do asco do poder financeiro internacional anda a catar defeitos em Cristina Kirchner, a Argentina liberta-se dos malefícios do FMI e constrói a sua independência, desenvolvimento e melhoria social. Ele que é o país com maior salário industrial da América Latina.
Cristina acredita nas virtudes de um capitalismo controlado. Mas é manifesta a sua preocupação com a “inclusão social”, com o proteccionismo económico (restrições às importações e desenvolvimento da produção nacional), e com os prejuízos que resultam do facto dos EE.UU. serem o único emissor de dólares.
E aposta na industrialização como factor de desenvolvimento, de emprego e de independência nacional.
O seu longo mas denso discurso de improviso na celebração do Dia da Indústria, na noite de 3 de Setembro, valeu por muitas “universidades de Verão” das que por cá se usam. Lá, onde agora começa a Primavera.
A tese mais repetida por Cristina Kirchner é que "não são os modelos económicos mas sim os projectos políticos" que determinam o rumo das nações. Uma tese que, na minha leitura, responsabiliza os políticos de todas as trincheiras que se escudam na invencibilidade do poder financeiro para desculpar as crueldades da Direita e as incompetências da Esquerda.
Enquanto governantes, ex-governantes e aspirantes debatem a melhor forma de disfarçar as suas próprias responsabilidades na austeridade imposta aos portugueses, chega da menosprezada Argentina, para quem quiser ouvir, este discurso responsabilizador. De lá, onde se nacionalizam os sectores estratégicos que aqui se alienam a interesses privados: linhas aéreas e correios, águas e combustíveis, por exemplo.
Não admira que a presidente Cristina Kirchner tenha detractores militantes dentro e fora do seu país. Tanto o grupo que controla o jornal Clarín, como os controladores do segundo maior jornal argentino, o La Nación, disparam contra ela que nem José manuel Fernandes contra os comunistas - passe a comparação. Em causa, na Argentina, está a fome insaciável do agronegócio, entre outros. É que o capitalismo controlado – por assim dizer - só existe na China e ninguém tem grande confiança em que resista às suas contradições.
Aqueles que acusam Cristina de uma proximidade “perigosa” com o “chavismo” da Venezuela, não se dão conta de que podem estar a empurrá-la para lá mesmo - que é o menos preocupante, entenda-se.
Cristina acredita nas virtudes de um capitalismo controlado. Mas é manifesta a sua preocupação com a “inclusão social”, com o proteccionismo económico (restrições às importações e desenvolvimento da produção nacional), e com os prejuízos que resultam do facto dos EE.UU. serem o único emissor de dólares.
E aposta na industrialização como factor de desenvolvimento, de emprego e de independência nacional.
O seu longo mas denso discurso de improviso na celebração do Dia da Indústria, na noite de 3 de Setembro, valeu por muitas “universidades de Verão” das que por cá se usam. Lá, onde agora começa a Primavera.
A tese mais repetida por Cristina Kirchner é que "não são os modelos económicos mas sim os projectos políticos" que determinam o rumo das nações. Uma tese que, na minha leitura, responsabiliza os políticos de todas as trincheiras que se escudam na invencibilidade do poder financeiro para desculpar as crueldades da Direita e as incompetências da Esquerda.
Enquanto governantes, ex-governantes e aspirantes debatem a melhor forma de disfarçar as suas próprias responsabilidades na austeridade imposta aos portugueses, chega da menosprezada Argentina, para quem quiser ouvir, este discurso responsabilizador. De lá, onde se nacionalizam os sectores estratégicos que aqui se alienam a interesses privados: linhas aéreas e correios, águas e combustíveis, por exemplo.
Não admira que a presidente Cristina Kirchner tenha detractores militantes dentro e fora do seu país. Tanto o grupo que controla o jornal Clarín, como os controladores do segundo maior jornal argentino, o La Nación, disparam contra ela que nem José manuel Fernandes contra os comunistas - passe a comparação. Em causa, na Argentina, está a fome insaciável do agronegócio, entre outros. É que o capitalismo controlado – por assim dizer - só existe na China e ninguém tem grande confiança em que resista às suas contradições.
Aqueles que acusam Cristina de uma proximidade “perigosa” com o “chavismo” da Venezuela, não se dão conta de que podem estar a empurrá-la para lá mesmo - que é o menos preocupante, entenda-se.
3.9.12
Julian Assange falou...
... mas "o Ocidente" não quiz ouvir.
Foi no dia 31 de Agosto que Julian Assange, exilado na embaixada do Equador em Londres, concedeu uma entrevista a Jorge Gestoso, da Telesur, para falar daquilo que não interessa aos orgãos de Informação alinhados com os Estados Unidos da América.
Foi no dia 31 de Agosto que Julian Assange, exilado na embaixada do Equador em Londres, concedeu uma entrevista a Jorge Gestoso, da Telesur, para falar daquilo que não interessa aos orgãos de Informação alinhados com os Estados Unidos da América.
2.9.12
Porque hoje é domingo (23)
"Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa manchar, mas o que sai do homem, isso é que mancha o homem."
Não fosse alguém pensar o que não deve, Jesus teve necessidade de esclarecer que isto, uma vez mais, é uma metáfora querendo significar que aquilo que nos "mancha" não é o que dizem de nós mas sim o que nós dizemos. Por exemplo: a gente pode dizer que um ministro é um corrupto, que um conselheiro é um sacana, que um chefe de governo é um aldrabão, que um presidente da república é um hipócrita, que nada disso mancha a reputação de sua excelências; o que eles dizem e fazem é que sim.
Em verdade, em verdade vos digo que isto não sou eu que afirmo, é Jesus Cristo, tal como nos conta o repórter Marcos desde a Nazaré, (Mc 7,1-8.14-15.21-23). Mas é justo também noticiar o que disse Jesus directamente ao Povo: «Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas: - Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim»
Mais uma vez há que explicar o sentido metafórico destas palavras. Isaías usa a palavra “lábios”, não em qualquer dos seus sentidos próprios mas sim no sentido daquilo que se utiliza para expressar o pensamento ou a vontade, como é o caso do voto, em política. Traduzindo: “Este povo me honra com os votos mas o que ele quer está longe de mim".
Não fosse alguém pensar o que não deve, Jesus teve necessidade de esclarecer que isto, uma vez mais, é uma metáfora querendo significar que aquilo que nos "mancha" não é o que dizem de nós mas sim o que nós dizemos. Por exemplo: a gente pode dizer que um ministro é um corrupto, que um conselheiro é um sacana, que um chefe de governo é um aldrabão, que um presidente da república é um hipócrita, que nada disso mancha a reputação de sua excelências; o que eles dizem e fazem é que sim.
Em verdade, em verdade vos digo que isto não sou eu que afirmo, é Jesus Cristo, tal como nos conta o repórter Marcos desde a Nazaré, (Mc 7,1-8.14-15.21-23). Mas é justo também noticiar o que disse Jesus directamente ao Povo: «Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas: - Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim»
Mais uma vez há que explicar o sentido metafórico destas palavras. Isaías usa a palavra “lábios”, não em qualquer dos seus sentidos próprios mas sim no sentido daquilo que se utiliza para expressar o pensamento ou a vontade, como é o caso do voto, em política. Traduzindo: “Este povo me honra com os votos mas o que ele quer está longe de mim".
30.8.12
Públicos ou privados (actualizado em 2/Set.)
Sim, sr. António Borges, há sempre "interesses estabelecidos". Por vezes são interesses nacionais.
Sim, os senhores estão "a combater os interesses estabelecidos”... pela Constituição da Repúlica - que estorva tanto os vossos interesses como a Democracia estorva.
Sim, extinguir a RTP dava-lhes muito jeito para que toda a rádio e televisão ficasse apenas nas mãos de grande "empreendedores" que, obviamente são da sua família... política.
Sim, «diminuir os salários não é uma política mas uma urgência» (1Jun2012) se estiver a falar dos "salários" milionários de muitos gestores que obviamente são da mesma família. E de alguns profissionais da RTP, certamente, mas pelas mesmas razões - esses (ou essas?)que escolhem convidados "convenientes" e tratam "convenientemente" os "grandes temas da actualidade".
A propósito, transcrevo um trabalho de 2007 (para não deixar o PSD sozinho) que mostra como funcionam estas coisas dos negócios privados à custa dos Estados que se querem magrinhos.
176 923 608,339 euros foi o total de verbas transferido pelo ME para colégios e instituições privados durante o segundo semestre de 2006.
63 203 637,54 euros foi o valor encaminhado pela tutela para as escolas da Direcção Regional de Educação de Lisboa.
157 400 euros foi o valor que a Know How, empresa da escritora Maria João Lopo de Carvalho, recebeu para o ensino de Inglês.
1 260 017,35 euros foi o valor atribuído pelo ministério às instituições sociais e escolas da região algarvia, a menos afectada pelas verbas».
Diana Ramos in "Privados recebem verba do Estado",
publicado pelo Correio da Manhã em 10 de Junho 2007
(quando outro "partido responsável" era quem mandava no Governo, por acaso).
A propósito: António Hespanha demitido por dizer coisas do género!
Sim, os senhores estão "a combater os interesses estabelecidos”... pela Constituição da Repúlica - que estorva tanto os vossos interesses como a Democracia estorva.
Sim, extinguir a RTP dava-lhes muito jeito para que toda a rádio e televisão ficasse apenas nas mãos de grande "empreendedores" que, obviamente são da sua família... política.
Sim, «diminuir os salários não é uma política mas uma urgência» (1Jun2012) se estiver a falar dos "salários" milionários de muitos gestores que obviamente são da mesma família. E de alguns profissionais da RTP, certamente, mas pelas mesmas razões - esses (ou essas?)que escolhem convidados "convenientes" e tratam "convenientemente" os "grandes temas da actualidade".
A propósito, transcrevo um trabalho de 2007 (para não deixar o PSD sozinho) que mostra como funcionam estas coisas dos negócios privados à custa dos Estados que se querem magrinhos.
«É suposto um privado assumir o risco do seu negócio. Em Portugal, porém, há
uma classe de privados especial: assumem o risco com os dinheiros públicos.
Nada que lhes macule a alma genuinamente empreendedora ou lhes desinflame o
discurso em prol do mercado livre.
NÚMEROS
176 923 608,339 euros foi o total de verbas transferido pelo ME para colégios e instituições privados durante o segundo semestre de 2006.
63 203 637,54 euros foi o valor encaminhado pela tutela para as escolas da Direcção Regional de Educação de Lisboa.
157 400 euros foi o valor que a Know How, empresa da escritora Maria João Lopo de Carvalho, recebeu para o ensino de Inglês.
1 260 017,35 euros foi o valor atribuído pelo ministério às instituições sociais e escolas da região algarvia, a menos afectada pelas verbas».
Diana Ramos in "Privados recebem verba do Estado",
publicado pelo Correio da Manhã em 10 de Junho 2007
(quando outro "partido responsável" era quem mandava no Governo, por acaso).
A propósito: António Hespanha demitido por dizer coisas do género!
Etiquetas:
António Borges,
Miguel Relvas,
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privatizações,
PSD,
RTP
28.8.12
Governantes da pior espécie
«As estratégias
tortuosas do capital entregam por vezes as insígnias do poder a políticos,
ostensivamente medíocres. Os EUA tiveram um George Bush filho; Salazar impôs
Américo Tomás. Mas raramente, mesmo na era fascista, Portugal terá suportado um
governo com tamanho ramalhete de gente perversa, ignorante ou privada de
inteligência mínima.
O Primeiro-ministro reflecte a imagem do conjunto. Cultiva um discurso cantinflesco em que amontoa frases pomposas sem nexo. Mas diferentemente do mexicano Mario Moreno, sempre solidário com os oprimidos, Passos, nas suas arengas reaccionárias, presta vassalagem aos opressores.
E que dizer do seu ministro da Economia, personagem que faz lembrar compères de antigas revistas do Maria Vitória? E de um Relvas, criatura que parece arrancada de uma peça de teatro do Absurdo?».
Excerto do artigo de Miguel Urbano Rodrigues,
"As rupturas revolucionárias não são prédatadas"
(As imagens foram aqui acrescentadas)
O Primeiro-ministro reflecte a imagem do conjunto. Cultiva um discurso cantinflesco em que amontoa frases pomposas sem nexo. Mas diferentemente do mexicano Mario Moreno, sempre solidário com os oprimidos, Passos, nas suas arengas reaccionárias, presta vassalagem aos opressores.
E que dizer do seu ministro da Economia, personagem que faz lembrar compères de antigas revistas do Maria Vitória? E de um Relvas, criatura que parece arrancada de uma peça de teatro do Absurdo?».
Excerto do artigo de Miguel Urbano Rodrigues,
"As rupturas revolucionárias não são prédatadas"
(As imagens foram aqui acrescentadas)
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