2014 foi o ano em que me desapareceram os colegas Semião Ramos, Helena Santos e Olga Almeida. Um ano trágico, considerando a grande estima que tinha por cada um deles. Um desaparecimento absurdo que mostra como a vida é absurda. A não ser que haja Além onde nos possamos reencontrar um dia.
A minha razão diz que esse Além é tão absurdo como a morte, mas eu que não acredito em “Deus”, quero acreditar no meu poeta de estimação que dizia “os pássaros, quando morrem, caem no céu». É que os meus amigos que desapareceram, tinham asas – sentimentos generosos, fantasias fascinantes, sonhos de outro mundo.
Ao vê-los partir, compreendo como nunca, outra coisa que dizia o José Gomes Ferreira – que «Viver sempre, também cansa».
Costumo dizer que não acredito no “outro mundo”, mas não quero que o ano acabe sem confessar que também não acredito neste!
31.12.14
28.12.14
TAP não anda nem desanda
Agora a sério...
Três sindicatos “que em conjunto representam mais de 50% dos trabalhadores da TAP, mantêm a greve, acatando, no entanto, a requisição civil decretada”.
O que eu não entendo é que interesse tiveram e que sentido faz a suspensão da greve por parte dos outros sindicatos, uma vez que o Governo decretou autoritariamente a requisição civil.
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24.12.14
O Papa e este outro mundo
O Mundo está mudado, o mundo social. Não falo das diferenças
circunstanciais como haver mais ou menos pobres, mais ou menos analfabetos, mais ou menos acesso aos cuidados de saúde; falo do controlo dos poderes, da transparência dos capitais, da independência da Justiça, da participação dos cidadãos nas decisões dos estados.
A denúncia e o combate que o Papa Francisco faz em relação aos comportamentos reprováveis que observa nos doutores do Vaticano, além de real é simbólico destas mudanças porque ocorre na mais conservadora instituição do mundo ocidental.
O discurso e a atitude do Papa, dirigido aos bispos nas vésperas do Natal de 2014,fez lembrar Jesus a expulsar, do Templo de Jerusalém, os cambistas e comerciantes que usavam a “casa do Pai” para fazer os seus negócios, chamando-lhes “salteadores”…
Quando o Papa exaltou os homens e mulheres “invisíveis”, os trabalhadores anónimos, e fez notar que o cemitério está cheio de figuras prestigiadas que se consideravam insubstituíveis, é toda a mensagem social dos evangelhos que emerge do bafiento discurso tradicional e contemporizador em que a Igreja se tem acobardado e beneficiado materialmente.
Se o “conclave” que elegeu o argentino Bergoglio, em Março de 2013, esperava dele o mesmo papel que desempenhou João Paulo II, levando desta vez a uma reversão do curso progressista da América Latina, enganaram-se. O que acabámos de ver há escassos dias, foi uma aproximação entre os EEUU e Cuba com intermediação do Papa Francisco. A favor do regime político cubano? Não. A favor da paz mundial e do bem-estar das populações “invisíveis” que são as vítimas das guerras quentes e frias.
A denúncia e o combate que o Papa Francisco faz em relação aos comportamentos reprováveis que observa nos doutores do Vaticano, além de real é simbólico destas mudanças porque ocorre na mais conservadora instituição do mundo ocidental.
O discurso e a atitude do Papa, dirigido aos bispos nas vésperas do Natal de 2014,fez lembrar Jesus a expulsar, do Templo de Jerusalém, os cambistas e comerciantes que usavam a “casa do Pai” para fazer os seus negócios, chamando-lhes “salteadores”…
Quando o Papa exaltou os homens e mulheres “invisíveis”, os trabalhadores anónimos, e fez notar que o cemitério está cheio de figuras prestigiadas que se consideravam insubstituíveis, é toda a mensagem social dos evangelhos que emerge do bafiento discurso tradicional e contemporizador em que a Igreja se tem acobardado e beneficiado materialmente.
Se o “conclave” que elegeu o argentino Bergoglio, em Março de 2013, esperava dele o mesmo papel que desempenhou João Paulo II, levando desta vez a uma reversão do curso progressista da América Latina, enganaram-se. O que acabámos de ver há escassos dias, foi uma aproximação entre os EEUU e Cuba com intermediação do Papa Francisco. A favor do regime político cubano? Não. A favor da paz mundial e do bem-estar das populações “invisíveis” que são as vítimas das guerras quentes e frias.
23.12.14
A ideologia dos materiais
ou: O embargo embargado
Comecemos pelo óbvio! Quando se mudou o nome à ponte sobre o Tejo, a ponte não mudou. Em tudo permaneceu igual, desde a localização à função, à estrutura e à constituição material.
Também o petróleo bruto russo não se tornou mais nem menos bruto quando implodiu a União Soviética. Quando a ideologia política de Cuba mudou a partir de 1959, o açúcar de cana não passou a ser mais doce nem os frangos passaram a nadar como lagostas…
O processo reformador em curso (PREC?) na República de Cuba, a “reforma do estado” ou, na linguagem local, os novos “lineamientos”, de resto iniciados no congresso do PCC de Abril de 2012, pretende introduzir reformas económicas, sociais e políticas destinadas ao desenvolvimento económico do país.
Estas mudanças, especificamente, incluem uma série de medidas que aproximam mais a sociedade do modelo económico vigente nos países capitalistas. Nomeadamente, trata-se da captação de maior investimento estrangeiro, especialmente na área do turismo mas também em tecnologia. E no domínio laboral, “aumentar a produtividade do trabalho, elevar a disciplina e o nível de motivação do salário e estímulos, eliminando o igualitarismo nos mecanismos de distribuição e redistribuição do rendimento.”
No Sábado, 20 de Dezembro, ocorreu em Havana um debate parlamentar sobre a concretização destas políticas, no qual se manifestaram, entre outras, as preocupações do sector privado e do sector sindical.
É evidente que tudo isto será enormemente facilitado com a “normalização de relações” entre Cuba e os Estados Unidos da América. Mas o que parece uma vantagem para o regime, por esta via, comporta um cruzamento de negócios, de culturas e de conceitos sociais que desmistificam o que tem há de excessivo na interpretação marxista-leninista dos dirigentes cubanos - ou o que houve!
O desenvolvimento económico joga a favor de um país, independentemente do regime em vigor. Mas também os EUA aproveitariam muito, ou aproveitarão, dos investimentos e trocas comerciais com Cuba.
A ponte que agora começa a ser construída entre estas duas margens da História americana, chamem-lhe o que chamarem, interessa a todos!
Comecemos pelo óbvio! Quando se mudou o nome à ponte sobre o Tejo, a ponte não mudou. Em tudo permaneceu igual, desde a localização à função, à estrutura e à constituição material.
Também o petróleo bruto russo não se tornou mais nem menos bruto quando implodiu a União Soviética. Quando a ideologia política de Cuba mudou a partir de 1959, o açúcar de cana não passou a ser mais doce nem os frangos passaram a nadar como lagostas…
O processo reformador em curso (PREC?) na República de Cuba, a “reforma do estado” ou, na linguagem local, os novos “lineamientos”, de resto iniciados no congresso do PCC de Abril de 2012, pretende introduzir reformas económicas, sociais e políticas destinadas ao desenvolvimento económico do país.
Estas mudanças, especificamente, incluem uma série de medidas que aproximam mais a sociedade do modelo económico vigente nos países capitalistas. Nomeadamente, trata-se da captação de maior investimento estrangeiro, especialmente na área do turismo mas também em tecnologia. E no domínio laboral, “aumentar a produtividade do trabalho, elevar a disciplina e o nível de motivação do salário e estímulos, eliminando o igualitarismo nos mecanismos de distribuição e redistribuição do rendimento.”
No Sábado, 20 de Dezembro, ocorreu em Havana um debate parlamentar sobre a concretização destas políticas, no qual se manifestaram, entre outras, as preocupações do sector privado e do sector sindical.
É evidente que tudo isto será enormemente facilitado com a “normalização de relações” entre Cuba e os Estados Unidos da América. Mas o que parece uma vantagem para o regime, por esta via, comporta um cruzamento de negócios, de culturas e de conceitos sociais que desmistificam o que tem há de excessivo na interpretação marxista-leninista dos dirigentes cubanos - ou o que houve!
O desenvolvimento económico joga a favor de um país, independentemente do regime em vigor. Mas também os EUA aproveitariam muito, ou aproveitarão, dos investimentos e trocas comerciais com Cuba.
A ponte que agora começa a ser construída entre estas duas margens da História americana, chamem-lhe o que chamarem, interessa a todos!
21.12.14
Porque hoje é domingo (64)
Tão difícil como plantar-se o fantasma de Maria no cimo duma azinheira, e tão difícil como ter Jesus nascido de uma virgem, é que um anjo tenha ido (de onde?) até Belém para ter uma conversa séria com a Senhora… de Fátima. Mas foi. Mas falou. Mas era mesmo um anjo. Dizem.
Não é difícil imaginar a cena. Estando Maria a pensar na tristeza de vida que levava, é surpreendida por um ser incorpóreo, espiritual, destituído de boca, portanto, que lhe fala e diz «Olá, eu chamo-me Gabriel e sou um anjo». E antes que a senhora caísse de susto, atalhou Gabriel com um largo sorriso na sua boca de anjo: «Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo». Desta fala nos dá conta Lucas, evangelista, no versículo 28 do primeiro capítulo.
«Ai Jesus!», diria ela se o nomeado já fosse nascido ou sequer anunciado. Mas, em vez disso, deu-lhe a perturbação para se pôr a pensar, diz o mesmo evangelista, no que significaria aquela saudação.
Antes que a senhora começasse a dar asas à imaginação, o anjo pôs as cartas na mesa dizendo (versículos 30 e 31): «Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho a quem chamarás pelo nome de Jesus».
Não me perguntem o que teria ela a temer por Gabriel lhe dizer que o Senhor estava com ela. De temer, de entrar em pânico, isso sim, eram as palavras que o anjo pronunciou a seguir… para a acalmar: «conceberás e darás à luz um filho»! Não porque a senhora não quisesse ter um filho, não se sabe, mas porque nunca tinha feito nada nem deixado fazer que o justificasse.
Acredito que a senhora tenha ponderado se em algum momento, inadvertidamente, teve contacto com fluido fecundador de homem, o que a levou a defender-se: «Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?»
O anjo vinha preparado para essa pergunta, e logo respondeu, apaziguador: «Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há-de nascer, será chamado Filho de Deus». E, mais adiante, acrescentou a voz: « … para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas». Ao que Maria terá respondido (vers. 38): «Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra». O anjo deu-se por satisfeito e «se ausentou dela» que é como quem diz “voltou pelo caminho que o trouxe”.
Como se fosse preciso dar algum sentido a esta história inverosímil, houve necessidade de contar como foi que José reagiu. Disso se encarregou o evangelista Mateus (I,18-19, Bíblia de Jerusalém) que inventou mais um anjo para acalmar o noivo de Maria e compensando-o com o título de santo e, mais tarde, de padroeiro da classe operária.
Não é difícil imaginar a cena. Estando Maria a pensar na tristeza de vida que levava, é surpreendida por um ser incorpóreo, espiritual, destituído de boca, portanto, que lhe fala e diz «Olá, eu chamo-me Gabriel e sou um anjo». E antes que a senhora caísse de susto, atalhou Gabriel com um largo sorriso na sua boca de anjo: «Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo». Desta fala nos dá conta Lucas, evangelista, no versículo 28 do primeiro capítulo.
«Ai Jesus!», diria ela se o nomeado já fosse nascido ou sequer anunciado. Mas, em vez disso, deu-lhe a perturbação para se pôr a pensar, diz o mesmo evangelista, no que significaria aquela saudação.
Antes que a senhora começasse a dar asas à imaginação, o anjo pôs as cartas na mesa dizendo (versículos 30 e 31): «Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho a quem chamarás pelo nome de Jesus».
Não me perguntem o que teria ela a temer por Gabriel lhe dizer que o Senhor estava com ela. De temer, de entrar em pânico, isso sim, eram as palavras que o anjo pronunciou a seguir… para a acalmar: «conceberás e darás à luz um filho»! Não porque a senhora não quisesse ter um filho, não se sabe, mas porque nunca tinha feito nada nem deixado fazer que o justificasse.
Acredito que a senhora tenha ponderado se em algum momento, inadvertidamente, teve contacto com fluido fecundador de homem, o que a levou a defender-se: «Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?»
O anjo vinha preparado para essa pergunta, e logo respondeu, apaziguador: «Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há-de nascer, será chamado Filho de Deus». E, mais adiante, acrescentou a voz: « … para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas». Ao que Maria terá respondido (vers. 38): «Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra». O anjo deu-se por satisfeito e «se ausentou dela» que é como quem diz “voltou pelo caminho que o trouxe”.
Como se fosse preciso dar algum sentido a esta história inverosímil, houve necessidade de contar como foi que José reagiu. Disso se encarregou o evangelista Mateus (I,18-19, Bíblia de Jerusalém) que inventou mais um anjo para acalmar o noivo de Maria e compensando-o com o título de santo e, mais tarde, de padroeiro da classe operária.
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19.12.14
"Cherchez la femme" Clinton
O fogo de artifício que justamente brilha no continente americano, com a eliminação do bloqueio imposto pelos Estados Unidos a Cuba, deixa na sombra uma figura que pode ter sido mais influente na decisão de Obama do que o próprio Papa Francisco. Essa figura é Hillary Clinton.
O facto é que a ex-Secretária de Estado norte-americana publicou, em Junho deste ano, um livro auto-biográfico onde conta, a dada altura, ter aconselhado o presidente Barack Obama a pôr fim ao bloqueio a Cuba!
Além de aspectos mais pessoais, o livro aborda vários temas de política internacional em relação aos quais nem sempre ela esteve de acordo com o Presidente. Recorde-se que Obama a nomeou para o cargo depois de a ter derrotado no seio do Partido Democrata, no contexto das eleições presidenciais.
Esta última circunstância ainda coloca aos observadores a questão da eventual candidatura de Hillary à Presidência em 2016, o que, dada a posição conhecida sobre as relações com Cuba, seria um desfecho tranquilizador para os irmãos Castro se ainda forem vivos.
Muitos "ses", é certo, mas também uma confirmação: a frase de Alexandre Dumas (pai) «Há sempre uma mulher envolvida em todos os casos. Assim que me trazem um relatório, digo logo: 'Procurem a mulher'».
O facto é que a ex-Secretária de Estado norte-americana publicou, em Junho deste ano, um livro auto-biográfico onde conta, a dada altura, ter aconselhado o presidente Barack Obama a pôr fim ao bloqueio a Cuba!
Além de aspectos mais pessoais, o livro aborda vários temas de política internacional em relação aos quais nem sempre ela esteve de acordo com o Presidente. Recorde-se que Obama a nomeou para o cargo depois de a ter derrotado no seio do Partido Democrata, no contexto das eleições presidenciais.
Esta última circunstância ainda coloca aos observadores a questão da eventual candidatura de Hillary à Presidência em 2016, o que, dada a posição conhecida sobre as relações com Cuba, seria um desfecho tranquilizador para os irmãos Castro se ainda forem vivos.
Muitos "ses", é certo, mas também uma confirmação: a frase de Alexandre Dumas (pai) «Há sempre uma mulher envolvida em todos os casos. Assim que me trazem um relatório, digo logo: 'Procurem a mulher'».
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18.12.14
"Todos somos cubanos"
A proximidade geográfica da super-potência norte-americana é tão apelativa para Cuba e os cubanos, quanto a hostilidade do “império” é repugnante para os irmãos Castro e seus seguidores. Assim se estabelece uma relação de amor-ódio que vem da revolução de 1958 e que ganha relevo especial em dois momentos históricos – a invasão norte-americana da Baía dos Porcos, em 1961, e o embargo económico dos Estados Unidos a Cuba, fixado em lei a partir de 1992.
O embargo norte-americano não se aplicava, digo, não se aplica apenas aos Estados Unidos; ele estabelece fortes sanções económicas e diplomáticas aos países que tenham negócios ou transações relacionadas com a ilha de Fidel Castro. E tem sido condenado sucessivamente por organizações internacionais em que se destaca, nomeadamente, a Organização das Nações Unidas em dezenas de vezes. Só os próprios EUA e Israel defendem a continuação do bloqueio.
Vale a pena registar, a propósito da intervenção do Papa Francisco no processo agora desencadeado por Obama, que até João Paulo II condenou o bloqueio em 1979 e em 1998.
Além de vontade e coragem política, Obama tem responsabilidades e condições históricas novas para decidir o restabelecimento de “relações normais” entre os dois países vizinhos. O “perigo soviético” já não existe, a ideologia “comunista” do governo cubano não é argumento – veja-se a relação com a China! – e a família Castro vai cedendo às “leis da vida” e da História, impotente para travar as tecnologias da informação e a globalização da economia.
Entre a opinião da comunidade internacional, e a pressão de muitos dissidentes cubanos, entre a incompreensão dos americanos democratas e o ódio do Tea Party, entre a estratégia do isolamento, que vigorou 50 anos sem sucesso, e a estratégia da porosidade em que deposita esperanças de contaminação democrática, Obama sentiu-se animado a avançar para o restabelecimento de relações diplomáticas e outras medidas associadas.
Entre estas medidas está a autorização de vendas e exportações de bens e serviços dos EUA para Cuba! A perspectiva de uma evolução do regime cubano que desenvolva abertura comercial não estará ausente na consideração dos Estados Unidos da América.
No extremo, Cuba poderá ser terreno virgem para a exploração de oportunidades económicas. E no plano das relações multinacionais, a influência perdida da América do Norte, no sul do continente, fonte inesgotável de petróleo e matérias-primas e posto político estratégico, muito menos terão sido indiferentes ao "novo capítulo entre as nações das Américas". É que, como ele agora descobriu e fez questão de enfatizar, "Todos somos americanos"!
É que, a prosseguir a política agressiva e imperialista tradicional, e a ter significado a radicalização dos eleitorados mundiais, a administração norte-americana corre o risco de ouvir dizer: "Todos somos cubanos"!
O embargo norte-americano não se aplicava, digo, não se aplica apenas aos Estados Unidos; ele estabelece fortes sanções económicas e diplomáticas aos países que tenham negócios ou transações relacionadas com a ilha de Fidel Castro. E tem sido condenado sucessivamente por organizações internacionais em que se destaca, nomeadamente, a Organização das Nações Unidas em dezenas de vezes. Só os próprios EUA e Israel defendem a continuação do bloqueio.
Vale a pena registar, a propósito da intervenção do Papa Francisco no processo agora desencadeado por Obama, que até João Paulo II condenou o bloqueio em 1979 e em 1998.
Além de vontade e coragem política, Obama tem responsabilidades e condições históricas novas para decidir o restabelecimento de “relações normais” entre os dois países vizinhos. O “perigo soviético” já não existe, a ideologia “comunista” do governo cubano não é argumento – veja-se a relação com a China! – e a família Castro vai cedendo às “leis da vida” e da História, impotente para travar as tecnologias da informação e a globalização da economia.
Entre a opinião da comunidade internacional, e a pressão de muitos dissidentes cubanos, entre a incompreensão dos americanos democratas e o ódio do Tea Party, entre a estratégia do isolamento, que vigorou 50 anos sem sucesso, e a estratégia da porosidade em que deposita esperanças de contaminação democrática, Obama sentiu-se animado a avançar para o restabelecimento de relações diplomáticas e outras medidas associadas.
Entre estas medidas está a autorização de vendas e exportações de bens e serviços dos EUA para Cuba! A perspectiva de uma evolução do regime cubano que desenvolva abertura comercial não estará ausente na consideração dos Estados Unidos da América.
No extremo, Cuba poderá ser terreno virgem para a exploração de oportunidades económicas. E no plano das relações multinacionais, a influência perdida da América do Norte, no sul do continente, fonte inesgotável de petróleo e matérias-primas e posto político estratégico, muito menos terão sido indiferentes ao "novo capítulo entre as nações das Américas". É que, como ele agora descobriu e fez questão de enfatizar, "Todos somos americanos"!
É que, a prosseguir a política agressiva e imperialista tradicional, e a ter significado a radicalização dos eleitorados mundiais, a administração norte-americana corre o risco de ouvir dizer: "Todos somos cubanos"!
16.12.14
O capitalismo é generoso
Das notícias:
Sobre a “prenda” de 14 milhões de euros dada pelo construtor José Guilherme a Ricardo Salgado, Manuel Fernando Espírito Santo disse na Comissão de Inquérito que não achava normal.
Manuel Fernando admitiu que foi decidido dar aos membros do Conselho Superior uma retribuição especial, “a título dos ganhos obtidos nos contratos dos submarinos” (...) O gestor diz que o dinheiro (um milhão de euros para cada ramo da família) foi pago em 2004 ou 2005 por uma empresa ligada à Escom para uma sociedade sua na Suíça.
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14.12.14
Porque hoje é domingo (63)
Na primeira leitura de hoje, o profeta Isaías, apresenta-se com a missão de anunciar a Boa-Nova às pessoas que sofrem por causa das injustiças, da pobreza, de prisões, perseguições; e de anunciar o ano da graça do Senhor.
Em um momento em que tudo parecia perdido e o povo não tinha mais ânimo para retomar o caminho para reconstruir a nação, e começar de novo, esse profeta vem cantando e falando de coisas novas que Deus... fará! Ele anuncia uma nova era.
Entretanto, nestes vinte séculos passados, o mundo continuou como antes a roubar os fracos, a explorar os pobres, a matar os inocentes, a discriminar as mulheres, a entronizar os demagogos… Ficou por cumprir a caridade e a justiça, o pão e a igualdade – que já nem se exigia o Céu, seja lá o que isso for além da estrada em que circulam os aviões da TAP.
Entre nós, heróis do mar e destino turístico predilecto de Nossa Senhora, o que mais se assemelha ao profeta, por enquanto, é António Costa, do Partido Socialista, com sua Boa Nova em costrução. Mas, qual João Baptista, ele deixa entender que “não é ele a luz mas que veio apenas anunciar a luz” - a luz terá que ser ligada em Bruxelas e Berlim, em resultado de um incerto movimento revolucionário que irá mudar o sentido dos ventos. Entretanto, continuamos às escuras.
Em um momento em que tudo parecia perdido e o povo não tinha mais ânimo para retomar o caminho para reconstruir a nação, e começar de novo, esse profeta vem cantando e falando de coisas novas que Deus... fará! Ele anuncia uma nova era.
Entretanto, nestes vinte séculos passados, o mundo continuou como antes a roubar os fracos, a explorar os pobres, a matar os inocentes, a discriminar as mulheres, a entronizar os demagogos… Ficou por cumprir a caridade e a justiça, o pão e a igualdade – que já nem se exigia o Céu, seja lá o que isso for além da estrada em que circulam os aviões da TAP.
Entre nós, heróis do mar e destino turístico predilecto de Nossa Senhora, o que mais se assemelha ao profeta, por enquanto, é António Costa, do Partido Socialista, com sua Boa Nova em costrução. Mas, qual João Baptista, ele deixa entender que “não é ele a luz mas que veio apenas anunciar a luz” - a luz terá que ser ligada em Bruxelas e Berlim, em resultado de um incerto movimento revolucionário que irá mudar o sentido dos ventos. Entretanto, continuamos às escuras.
12.12.14
11.12.14
A Esquerda que temos
Fotos: Catarina Martins, Ana Drago e Joana Amaral Dias.
Não basta dizer “Podemos”, para poder. Não basta dizer-se “Livre”, para sê-lo. Não basta chamar-se Bloco, para ser uno e consistente. Não basta pescar umas frases na corrente de opinião, copiar umas ideias avulsas na doutrina marxista, e refrescar o imaginário da Esquerda com derivas de estilo. Se a esquerda ainda está a fazer caminho na História, não é por falta de estilo e menos ainda por falta de imaginação literária ou de criatividade figurativa.
É claro que os processos e estilos de comunicação dos actores políticos no espaço público, são fundamentais para persuadir e mover as populações. Já Aristóteles o ensinava. Mas política não é poesia! O conhecimento, a experiência e a capacidade de organização é que são determinantes na acção política. Juntar tudo isto com a retórica numa mesma pessoa, faz de um político um ser excepcional. Álvaro Cunhal foi um exemplo raro deste modelo. Que tivesse contra si o tempo histórico, não diminui o seu mérito.
No panorama actual da política portuguesa, o PCP é, a meu ver, o mais consistente e consequente partido de esquerda, mas Jerónimo de Sousa não tem imagem nem estilo nem retórica nem dimensão intelectual para interpretar a realidade social além da divisão das classes; para exprimir os anseios populares, além do vocabulário sindical; para desconstruir a narrativa dominante, além da cacofonia; para imprimir um impulso dinamizador no processo revolucionário que paira fragmentado na sombra do sistema vigente.
Jerónimo tem a generosidade, a dedicação e a experiência de trabalho revolucionário que o distinguem positivamente de outros activistas de esquerda, e tem sobretudo o apoio e enquadramento organizado de um partido que não transige com o oportunismo político. Mas além das carências a que me refiro atrás, e duma visão estreita sobre amigos e inimigos – burgueses, traidores, folhas secas… - não tem coragem intelectual para clarificar os fins e os meios do seu modelo de sociedade. Assim sendo, o PCP é uma fonte de desconfiança.
Nestas condições, o PCP deixa que o espaço de Esquerda fique entregue a uma constelação de meteoros academicamente brilhantes, que vão dos mais frágeis conglomerados aos marmóreos mais flexíveis, ficando os respectivos eleitores a escolher entre loiras e morenas à falta de outras diferenças.
Não basta dizer “Podemos”, para poder. Não basta dizer-se “Livre”, para sê-lo. Não basta chamar-se Bloco, para ser uno e consistente. Não basta pescar umas frases na corrente de opinião, copiar umas ideias avulsas na doutrina marxista, e refrescar o imaginário da Esquerda com derivas de estilo. Se a esquerda ainda está a fazer caminho na História, não é por falta de estilo e menos ainda por falta de imaginação literária ou de criatividade figurativa.
É claro que os processos e estilos de comunicação dos actores políticos no espaço público, são fundamentais para persuadir e mover as populações. Já Aristóteles o ensinava. Mas política não é poesia! O conhecimento, a experiência e a capacidade de organização é que são determinantes na acção política. Juntar tudo isto com a retórica numa mesma pessoa, faz de um político um ser excepcional. Álvaro Cunhal foi um exemplo raro deste modelo. Que tivesse contra si o tempo histórico, não diminui o seu mérito.
No panorama actual da política portuguesa, o PCP é, a meu ver, o mais consistente e consequente partido de esquerda, mas Jerónimo de Sousa não tem imagem nem estilo nem retórica nem dimensão intelectual para interpretar a realidade social além da divisão das classes; para exprimir os anseios populares, além do vocabulário sindical; para desconstruir a narrativa dominante, além da cacofonia; para imprimir um impulso dinamizador no processo revolucionário que paira fragmentado na sombra do sistema vigente.
Jerónimo tem a generosidade, a dedicação e a experiência de trabalho revolucionário que o distinguem positivamente de outros activistas de esquerda, e tem sobretudo o apoio e enquadramento organizado de um partido que não transige com o oportunismo político. Mas além das carências a que me refiro atrás, e duma visão estreita sobre amigos e inimigos – burgueses, traidores, folhas secas… - não tem coragem intelectual para clarificar os fins e os meios do seu modelo de sociedade. Assim sendo, o PCP é uma fonte de desconfiança.
Nestas condições, o PCP deixa que o espaço de Esquerda fique entregue a uma constelação de meteoros academicamente brilhantes, que vão dos mais frágeis conglomerados aos marmóreos mais flexíveis, ficando os respectivos eleitores a escolher entre loiras e morenas à falta de outras diferenças.
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7.12.14
Porque hoje é domingo (62)
É inevitável nesta altura invocar as quatro "Cartas da Prisão" escritas pelo apóstolo Paulo.
A primeira lição a seguir para quem escreva cartas da prisão, é a forma simpática e generosa como se dirige aos destinatários: «Que a graça e a paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco».
A segunda lição , para quem incarna um ministério religioso ou profano, é centrar o assunto na salvação do Povo e não - muito menos de forma exclusiva - na sua salvação pessoal.
Mas o que mais me intriga, pelo conteúdo, é perceber se as epístolas que S. Paulo escreveu - ou ditou - do cárcere, se dirigiam mesmo aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses e a Filémon, ou se almejavam chegar... até nós.
Deixo à vossa consideração esta passagem de uma dessas cartas : (...) o Espírito Santo, que é a garantia da nossa herança, enquanto esperamos a completa libertação(...)
Já me pareceria forçado demais invocar os versículos 26 a 28: «Se vos irardes, não pequeis; o Sol não se ponha sobre a vossa ira. Não deis ocasião ao diabo. Quem roubava, não roube mais».
A primeira lição a seguir para quem escreva cartas da prisão, é a forma simpática e generosa como se dirige aos destinatários: «Que a graça e a paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco».
A segunda lição , para quem incarna um ministério religioso ou profano, é centrar o assunto na salvação do Povo e não - muito menos de forma exclusiva - na sua salvação pessoal.
Mas o que mais me intriga, pelo conteúdo, é perceber se as epístolas que S. Paulo escreveu - ou ditou - do cárcere, se dirigiam mesmo aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses e a Filémon, ou se almejavam chegar... até nós.
Deixo à vossa consideração esta passagem de uma dessas cartas : (...) o Espírito Santo, que é a garantia da nossa herança, enquanto esperamos a completa libertação(...)
Já me pareceria forçado demais invocar os versículos 26 a 28: «Se vos irardes, não pequeis; o Sol não se ponha sobre a vossa ira. Não deis ocasião ao diabo. Quem roubava, não roube mais».
5.12.14
Sócrates, Juvenal... e eu !
"Quis custodiet ipsos custodes?"é uma frase em latim que pode ser traduzida de várias formas: "Quem vigia os vigilantes?", "Quem vigia os vigias?", "Quem fiscaliza os fiscalizadores?", "Quem guarda os guardas?"…
José Sócrates, na sua quarta carta da prisão, adoptou a última destas traduções – a mais corrente – mas os guardas a que se referia eram expressamente os juízes e os polícias, jornalistas, políticos e professores de Direito.
A questão filosófica colocada por José Sócrates, foi título do meu “post” de 2 de Junho de 2008,a propósito dos Estados Unidos manterem “suspeitos de terrorismo” para interrogatório, em prisões flutuantes, a fim de não serem denunciadas como ilegais nos territórios onde fossem mantidos. Mais recentemente, a propósito da expulsão de magistrados portugueses que trabalhavam em Timor-Leste, escrevi “Quem Julga os Juízes”e, “já agora”, Juvenal colocava a mesma questão, no primeiro século da era cristã.
Recordo que Juvenal é o poeta e filósofo romano que criticou os seus contemporâneos de se satisfazerem com “pão e circo”(panem et circenses) depois de se terem tornado escravos de prazeres corruptores.
Está pois o ex-Primeiro Ministro muito bem acompanhado na sua visão crítica da Sociedade - passe a imodéstia...
José Sócrates, na sua quarta carta da prisão, adoptou a última destas traduções – a mais corrente – mas os guardas a que se referia eram expressamente os juízes e os polícias, jornalistas, políticos e professores de Direito.
A questão filosófica colocada por José Sócrates, foi título do meu “post” de 2 de Junho de 2008,a propósito dos Estados Unidos manterem “suspeitos de terrorismo” para interrogatório, em prisões flutuantes, a fim de não serem denunciadas como ilegais nos territórios onde fossem mantidos. Mais recentemente, a propósito da expulsão de magistrados portugueses que trabalhavam em Timor-Leste, escrevi “Quem Julga os Juízes”e, “já agora”, Juvenal colocava a mesma questão, no primeiro século da era cristã.
Recordo que Juvenal é o poeta e filósofo romano que criticou os seus contemporâneos de se satisfazerem com “pão e circo”(panem et circenses) depois de se terem tornado escravos de prazeres corruptores.
Está pois o ex-Primeiro Ministro muito bem acompanhado na sua visão crítica da Sociedade - passe a imodéstia...
1.12.14
Sócrates livre
Quem faz declarações públicas, há-de esperar comentários públicos. Não serei eu a frustrar as expectativas.
Ao dizer, da prisão, que se sente “mais livre do que nunca”, José Sócrates está a filosofar em torno do conceito de liberdade, porventura inspirado em Kierkegaard, este mesmo discípulo do outro Sócrates. Com efeito, creio que foi aquele filósofo dinamarquês quem disse que “nem todos os que riem das algemas são livres”. Se não foi ele, foi outro ou nenhum porque na verdade eu apanhei a frase no filme “Doutor Jivago”, de Boris Pasternak, onde um preso que é transportado de comboio, responde com aquela frase ao polícia que o leva algemado!
Fica bem a José Sócrates, enfim, este exercício filosófico que coloca a questão de alguém "ser" livre ainda que "esteja" preso - a diferença entre ser e estar. E mais pode acrescentar, invocando agora um comentário de João Cravinho, que “o PS não está preso” mas a voar para o próximo Governo.
Fica aqui e assim a minha modesta contribuição para a confusão geral.
30.11.14
Porque hoje é domingo (61)
Vigiai !
As palavras seguintes terão sido pronunciadas por Jesus (Mc 13:33-37). A elas se referem as missas católicas deste domingo. Esperemos que duma forma conveniente, tendo em conta os dias que vivemos!...
«Olhai, vigiai e orai, porque não sabeis quando chegará o tempo. É como se um homem, partindo para fora da terra, deixasse a sua casa, e desse autoridade aos seus servos e, a cada um, atribuísse a sua tarefa, e mandasse ao porteiro que vigiasse. Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo. E as coisas que vos digo digo-as a todos: Vigiai.»
Quanto ao conteúdo propriamente religioso, o costume: a Igreja insiste em amedrontar os crentes para submetê-los às suas orientações; cumpre a sua função histórica de controlar os comportamentos das pessoas e das sociedades, prisioneiras do medo do Inferno e obcecadas pela "salvação eterna" seja lá isso o que for. Entretanto, quem se vai salvando, são os profissionais da religião com os seus ordenados e as suas mordomias.
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28.11.14
corrupções, eleições e sugestões
Rebentam quase diariamente os escândalos de corrupção, seja em forma de indício, de averiguação ou de julgamento. Na Europa, por exemplo, é assim em Itália, em Espanha, em Portugal…
Os casos são denunciados, as leis são aplicadas, os códigos são aperfeiçoados, os culpados são, por vezes, condenados. Há políticos que se demitem, há acusados que se suicidam e há juízes que precisam de andar com guarda-costas.
Há dois dias, Rajoy respondia à situação em Espanha, com um vasto pacote de medidas legislativas a que chamou “Medidas de Regeneración Democrática”, em boa medida focadas nos critérios de financiação dos partidos políticos! Foi acusado pelas oposições, de querer esconder com medidas legislativas o que são as más práticas concretas da governação, e de interferir na organização interna dos partidos.
Do pacote proposto ao parlamento destaco ainda, entre outros, um capítulo dedicado à declaração pública do património, rendimentos e despesas dos titulares de altos cargos do Estado, e um outro que propõe o “reforço de meios” para a Administração da Justiça, para a Agencia Tributária (contra a fraude) e para a verificação de conflitos de interesses.
A tudo isto, as oposições, sempre apostadas em contrariar as mais “benévolas intenções” dos governos, denunciaram a hipocrisia das propostas, referindo que o Governo já podia ter adoptado todas aquelas medidas há muito tempo se tivesse genuína vontade de implementá-las.
Ora aqui está uma fonte de inspiração para a campanha eleitoral de Passos Coelho e para a resposta das oposições no mesmo domínio! Mas depois não digam que esta revelação antecipada é fuga de informação.
Os casos são denunciados, as leis são aplicadas, os códigos são aperfeiçoados, os culpados são, por vezes, condenados. Há políticos que se demitem, há acusados que se suicidam e há juízes que precisam de andar com guarda-costas.
Há dois dias, Rajoy respondia à situação em Espanha, com um vasto pacote de medidas legislativas a que chamou “Medidas de Regeneración Democrática”, em boa medida focadas nos critérios de financiação dos partidos políticos! Foi acusado pelas oposições, de querer esconder com medidas legislativas o que são as más práticas concretas da governação, e de interferir na organização interna dos partidos.
Do pacote proposto ao parlamento destaco ainda, entre outros, um capítulo dedicado à declaração pública do património, rendimentos e despesas dos titulares de altos cargos do Estado, e um outro que propõe o “reforço de meios” para a Administração da Justiça, para a Agencia Tributária (contra a fraude) e para a verificação de conflitos de interesses.
A tudo isto, as oposições, sempre apostadas em contrariar as mais “benévolas intenções” dos governos, denunciaram a hipocrisia das propostas, referindo que o Governo já podia ter adoptado todas aquelas medidas há muito tempo se tivesse genuína vontade de implementá-las.
Ora aqui está uma fonte de inspiração para a campanha eleitoral de Passos Coelho e para a resposta das oposições no mesmo domínio! Mas depois não digam que esta revelação antecipada é fuga de informação.
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18.11.14
Princesa republicana
Para ser quem é e para ter o que tem, Isabel dos Santos não precisava de estudar e trabalhar. Isso não pode ser dito de todas as princesas... republicanas.
Depois - ou antes? - aquele sorriso jovial, aquela simpatia genuína, conquistaria facilmente o coração e a fortuna que ela quisesse, sem ter que ser filha do Presidente de Angola.
Herdou uma situação económica privilegiada? Não sei se isso é para ela assim tão importante como para os seus detractores - tão reverentes, geralmente, às princesas monárquicas.
Segundo António Costa, director do Diário Económico, citado em wikipedia, «Isabel dos Santos investe em Portugal há anos, e tem participações que são geridas de forma profissional, com a indicação de gestores profissionais, com o perfil que se exige a empresas cotadas e mercados desenvolvidos. É o caso da NOS e do BPI, por exemplo, e não há notícia, em nenhuma das empresas, de problemas com a accionista Isabel dos Santos. Pelo contrário, porque não só investe, como abre mercados às empresas onde tem capital».
16.11.14
Limpeza electrónica não é problema
O director do SIS responde a "Perguntas Frequentes" que se colocam no âmbito da segurança económica. Uma dessas questões é a seguinte:
(...) - Como posso aumentar o nível de segurança nas minhas comunicações?
- Deverá fazer uma “limpeza eletrónica” de forma periódica aos seus equipamentos e instalações. Por outro lado, recomendamos que tome particular cuidado ao teor das conversas que tem ao telemóvel/telefone.
Dando de barato a banalidade das respostas, cabe ainda perguntar qual é o problema que leva à acusação do director do Serviço de Informações de Segurança (SIS), "fotografado na companhia de mais dois funcionários deste serviço, (em Maio) quando tentavam detectar escutas no gabinete de António Figueiredo, director do Instituto dos Registos e Notariado (IRN)? Pelo menos esta será certamente a linha de defesa do director Horácio Pinto, apontado como suspeito no caso dos Vistos Gold.
Aliás, o Programa de Segurança Económica (PSE) afecto ao SIS, esclarece, textualmente:
que O roubo do know-how e de informação reservada duma organização – incluindo processos de inovação, de pesquisa e desenvolvimento, de produção, de distribuição e de promoção, planos e estratégias empresariais ou propostas em concursos – é um acto de concorrência desleal que se traduz em prejuízos significativos para as empresas e para o país.
e que "o Programa de Segurança Económica (PSE) tem como objectivo a defesa dos Interesses Económicos Portugueses face a ameaças estrangeiras.
Com efeito, o PSE pretende contribuir para o reforço da segurança das organizações nacionais, dotando-as de recursos e de conhecimentos que permitam, essencialmente de forma preventiva, identificar ameaças e defender os seus interesses. Defendendo os interesses dos agentes económicos nacionais, protege-se a economia e a segurança de Portugal. De entre as diversas ameaças que podem interferir com os Interesses Económicos Portugueses salienta-se a espionagem económica".
Além destas duas declarações, vale a pena citar ainda esta afirmação na primeira pessoa:
"Considero importante que as pessoas que trabalham nos sectores público e privado estejam conscientes dos riscos e das ameaças a que estão sujeitas e que estejam melhor preparadas para os enfrentar. É, pois, meu desejo que o Programa de Segurança Económica contribua para fortalecer os laços entre o SIS e a sociedade civil e para prevenir e diminuir os riscos decorrentes das actividades contrárias aos Interesses Nacionais.
Director do SIS (em: http://www.pse.com.pt/)
Enfim, se há nomes que parecem metidos à força neste processo e que só vêm complicar o labirinto, eles são certamente Marques Mendes, Horácio Pinto e Miguel Macedo. Isto é: nem Marques nem Pinto nem Marques Pinto, digo, nem Miguel Macedo parecem sair molhados deste aguaceiro. Tirando estes, ainda há uma "equipa de futebol" inteira em jogo.
(...) - Como posso aumentar o nível de segurança nas minhas comunicações?
- Deverá fazer uma “limpeza eletrónica” de forma periódica aos seus equipamentos e instalações. Por outro lado, recomendamos que tome particular cuidado ao teor das conversas que tem ao telemóvel/telefone.
Dando de barato a banalidade das respostas, cabe ainda perguntar qual é o problema que leva à acusação do director do Serviço de Informações de Segurança (SIS), "fotografado na companhia de mais dois funcionários deste serviço, (em Maio) quando tentavam detectar escutas no gabinete de António Figueiredo, director do Instituto dos Registos e Notariado (IRN)? Pelo menos esta será certamente a linha de defesa do director Horácio Pinto, apontado como suspeito no caso dos Vistos Gold.
Aliás, o Programa de Segurança Económica (PSE) afecto ao SIS, esclarece, textualmente:
que O roubo do know-how e de informação reservada duma organização – incluindo processos de inovação, de pesquisa e desenvolvimento, de produção, de distribuição e de promoção, planos e estratégias empresariais ou propostas em concursos – é um acto de concorrência desleal que se traduz em prejuízos significativos para as empresas e para o país.
e que "o Programa de Segurança Económica (PSE) tem como objectivo a defesa dos Interesses Económicos Portugueses face a ameaças estrangeiras.
Com efeito, o PSE pretende contribuir para o reforço da segurança das organizações nacionais, dotando-as de recursos e de conhecimentos que permitam, essencialmente de forma preventiva, identificar ameaças e defender os seus interesses. Defendendo os interesses dos agentes económicos nacionais, protege-se a economia e a segurança de Portugal. De entre as diversas ameaças que podem interferir com os Interesses Económicos Portugueses salienta-se a espionagem económica".
Além destas duas declarações, vale a pena citar ainda esta afirmação na primeira pessoa:
"Considero importante que as pessoas que trabalham nos sectores público e privado estejam conscientes dos riscos e das ameaças a que estão sujeitas e que estejam melhor preparadas para os enfrentar. É, pois, meu desejo que o Programa de Segurança Económica contribua para fortalecer os laços entre o SIS e a sociedade civil e para prevenir e diminuir os riscos decorrentes das actividades contrárias aos Interesses Nacionais.
Director do SIS (em: http://www.pse.com.pt/)
Enfim, se há nomes que parecem metidos à força neste processo e que só vêm complicar o labirinto, eles são certamente Marques Mendes, Horácio Pinto e Miguel Macedo. Isto é: nem Marques nem Pinto nem Marques Pinto, digo, nem Miguel Macedo parecem sair molhados deste aguaceiro. Tirando estes, ainda há uma "equipa de futebol" inteira em jogo.
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11.11.14
anexar ou reunificar
A reaparição de Michael Gorbatchov, agora para comemorar com Merkel a queda do muro de Berlim em Novembro de 1989, e as referências dele a Putin, fizeram-me pensar se lhe terá ocorrido uma comparação com o que aconteceu na Crimeia em Março de 2014.
Isto é, será que a integração da República Democrática da Alemanha na república Federal Alemã foi uma “anexação”, ou a integração da Crimeia na Rússia foi uma “reunificação”?
Pela minha parte, penso que ambas as integrações foram legítimas, independentemente das circunstâncias históricas que as "desintegraram" originalmente. A abertura do dique, num e noutro caso, mostrou em que sentido corria a torrente popular.
Isto é, será que a integração da República Democrática da Alemanha na república Federal Alemã foi uma “anexação”, ou a integração da Crimeia na Rússia foi uma “reunificação”?
Pela minha parte, penso que ambas as integrações foram legítimas, independentemente das circunstâncias históricas que as "desintegraram" originalmente. A abertura do dique, num e noutro caso, mostrou em que sentido corria a torrente popular.
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9.11.14
Porque hoje é domingo (60)
A Igreja Católica invoca neste dia o episódio em que Jesus expulsa os vendilhões do Templo: «Não façais da casa de meu Pai uma casa de negócio»*. E “proibiu” qualquer tipo de comércio no Templo - mesmo que isso arruinasse os sacerdotes.**
Não é difícil perceber que o Filho de Deus deixava um recado aos portugueses do século XXI. Basta pensar que o tempolo dos cidadãos é o seu país e que os vendilhões são os vendedores do património nacional.
Alguém tem que juntar as cordas da sociedade, as vontades dispersas de mudança, e com elas fazer um chicote com que vergastar os vendilhões da Pátria, do País, da Nação – como queiram chamar-lhe. Não importa qual seja a sua igreja, desde que seja patriota, desde que o castigo infligido aos “cambistas” seja para restituir ao Povo o que lhe pertence – património, cultura, dignidade.
Alguém tem que enfrentar com risco e coragem os sacerdotes do capitalismo, ameaçados nos seus privilégios directos ou indirectos – os próprios capitalistas ou os seus propagandistas. Alguém tem que restituir ao Povo o que é do Povo, à Nação o que é da Nação. E já não pode ser Lenine. Nem Álvaro Cunhal.
E a quem se reclama de ser Livre, há que perguntar:
- livre para quê? Para servir o governo que vier?
notas
O quadro "Expulsão dos Vendilhões do Templo" é de Rembrandt.
* (João 2:15-16) ** (Mc 11:16)
Não é difícil perceber que o Filho de Deus deixava um recado aos portugueses do século XXI. Basta pensar que o tempolo dos cidadãos é o seu país e que os vendilhões são os vendedores do património nacional.
Alguém tem que juntar as cordas da sociedade, as vontades dispersas de mudança, e com elas fazer um chicote com que vergastar os vendilhões da Pátria, do País, da Nação – como queiram chamar-lhe. Não importa qual seja a sua igreja, desde que seja patriota, desde que o castigo infligido aos “cambistas” seja para restituir ao Povo o que lhe pertence – património, cultura, dignidade.
Alguém tem que enfrentar com risco e coragem os sacerdotes do capitalismo, ameaçados nos seus privilégios directos ou indirectos – os próprios capitalistas ou os seus propagandistas. Alguém tem que restituir ao Povo o que é do Povo, à Nação o que é da Nação. E já não pode ser Lenine. Nem Álvaro Cunhal.
E a quem se reclama de ser Livre, há que perguntar:
- livre para quê? Para servir o governo que vier?
notas
O quadro "Expulsão dos Vendilhões do Templo" é de Rembrandt.
* (João 2:15-16) ** (Mc 11:16)
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8.11.14
Xanana e os amigos
Não acabará Xanana por compreender, mais tarde ou mais cedo, que foi vítima de um fogo cruzado de interesses, e que os verdadeiros amigos de Timor foram os magistrados portugueses que ele, de forma tão lamentável, expulsou?
6.11.14
Quem julga os juízes (em Timor-Leste)
Quis custodiet ipsos custodes?, questionava Juvenal
Na circunstância de Timor-Leste expulsar seis magistrados e um polícia portugueses que trabalhavam para aquele Estado, por convite directo deste, é caso para perguntar:
- Se os profissionais portugueses eram “incompetentes” ou "inexperientes", como designar quem os seleccionou?
- Se os profissionais portugueses “puseram em causa os interesses do Estado” por aplicarem as leis e os acordos do Governo, de que hão-de ser acusados os que fizeram essas leis e esses acordos?
A propósito ou não, seguem duas notícias de fonte oficial timorense.
NOTÍCIA 1
Em 18 de Setembro de 2014, o embaixador de Portugal em Timor-Leste, dr. Manuel Gonçalves de Jesus, teve um encontro formal com representantes da Comissão Anti- Corrupção (CAC) de Timor-Leste.
Essa reunião propunha-se discutir a possibilidade de iniciar um programa de cooperação entre esta CAC, a Polícia Judiciária de Portugal e a Procuradoria Geral timorense, nas áreas da prevenção e investigação dos crimes de corrupção.
(Observação deste blog: À mesa havia 6 garrafas de litro e meio de água mineral).
NOTÍCIA 2
Entre os dias 16 de outubro e 11 de dezembro decorre em Timor-Leste um Ciclo de Conferências com o tema “Otimização de recursos para o reforço da independência nacional” organizado pelo Instituto da Defesa Nacional (IDN) de Timor.
Os oradores, “que contam com uma vasta experiência”, são de Portugal
Na circunstância de Timor-Leste expulsar seis magistrados e um polícia portugueses que trabalhavam para aquele Estado, por convite directo deste, é caso para perguntar:
- Se os profissionais portugueses eram “incompetentes” ou "inexperientes", como designar quem os seleccionou?
- Se os profissionais portugueses “puseram em causa os interesses do Estado” por aplicarem as leis e os acordos do Governo, de que hão-de ser acusados os que fizeram essas leis e esses acordos?
A propósito ou não, seguem duas notícias de fonte oficial timorense.
NOTÍCIA 1
Em 18 de Setembro de 2014, o embaixador de Portugal em Timor-Leste, dr. Manuel Gonçalves de Jesus, teve um encontro formal com representantes da Comissão Anti- Corrupção (CAC) de Timor-Leste.
Essa reunião propunha-se discutir a possibilidade de iniciar um programa de cooperação entre esta CAC, a Polícia Judiciária de Portugal e a Procuradoria Geral timorense, nas áreas da prevenção e investigação dos crimes de corrupção.
(Observação deste blog: À mesa havia 6 garrafas de litro e meio de água mineral).
NOTÍCIA 2
Entre os dias 16 de outubro e 11 de dezembro decorre em Timor-Leste um Ciclo de Conferências com o tema “Otimização de recursos para o reforço da independência nacional” organizado pelo Instituto da Defesa Nacional (IDN) de Timor.
Os oradores, “que contam com uma vasta experiência”, são de Portugal
4.11.14
O ministro é um fingidor
É o talento próprio e a oportunidade que faz de um tímido escriturário, um escritor, de um marinheiro, poeta, de um livreiro, dramaturgo, e assim por diante. É o talento.
Quem ensinou o Fernando Pessoa a ler e a escrever – e, quem diz Pessoa, diz Bocage, diz Eça, diz Ramalho, Torga, Agustina, Saramago – quem ensinou a estes, digo eu, também ensinou muitos outros que, no entanto, pairaram sem brilho ou sem talento, anónimos, discretos funcionários, operários, jogadores de futebol, polícias, bombeiros, médicos, engenheiros, a quem a Literatura nada deve.
O mesmo acontece na política. Há gente que ensina, que aconselha, que diz como se diz, como se faz, mas é preciso ter alma ou sangue ou tripas, sei lá eu, para conquistar o “trono” que é, em democracia, o coração dos eleitores.
É preciso sentir, para fazer sentir; é preciso acreditar, para fazer acreditar. E não é porque o treinador de Passos, o mandou ultimamente jogar ao ataque, que a sua equipa vai ganhar o jogo. Posto a jogar num lugar em que não acredita, fará pior figura ainda do que se mostrasse a apatia no meio das tormentas, como costumava fazer.
O Seguro morreu de velho, de cansado, tanto foi o esforço teatral da sua representação. Passos Coelho corre o risco de nos cansar a todos com tanto fingimento. É que, para voltar a Fernado Pessoa, o Coelho “é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir que é dor (o desprezo) que deveras sente”... pela gente.
Quem ensinou o Fernando Pessoa a ler e a escrever – e, quem diz Pessoa, diz Bocage, diz Eça, diz Ramalho, Torga, Agustina, Saramago – quem ensinou a estes, digo eu, também ensinou muitos outros que, no entanto, pairaram sem brilho ou sem talento, anónimos, discretos funcionários, operários, jogadores de futebol, polícias, bombeiros, médicos, engenheiros, a quem a Literatura nada deve.
O mesmo acontece na política. Há gente que ensina, que aconselha, que diz como se diz, como se faz, mas é preciso ter alma ou sangue ou tripas, sei lá eu, para conquistar o “trono” que é, em democracia, o coração dos eleitores.
É preciso sentir, para fazer sentir; é preciso acreditar, para fazer acreditar. E não é porque o treinador de Passos, o mandou ultimamente jogar ao ataque, que a sua equipa vai ganhar o jogo. Posto a jogar num lugar em que não acredita, fará pior figura ainda do que se mostrasse a apatia no meio das tormentas, como costumava fazer.
O Seguro morreu de velho, de cansado, tanto foi o esforço teatral da sua representação. Passos Coelho corre o risco de nos cansar a todos com tanto fingimento. É que, para voltar a Fernado Pessoa, o Coelho “é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir que é dor (o desprezo) que deveras sente”... pela gente.
2.11.14
Porque hoje é domingo (59)
... dia de finados
Por mais incrível que pareça, a história que hoje se invoca é, para mim, uma das mais credíveis de todas quantas nos falam os Evangelhos – e não digo isto com ironia.
Conta-nos São João (Jo11,17-27) que estando Lázaro morto e sepultado, Marta comenta para Jesus: “Senhor, se estivesses aqui o meu irmão não teria morrido.” E que, depois deste desabafo angustiado, Jesus trouxe Lázaro de novo para a vida.
Em vez da rejeição imediata e fácil desta ideia de que alguém possa ressuscitar, uma ideia que parece absurda e só consentida no domínio religioso, há gente que estuda o assunto de forma desapaixonada e ideologicamente desinteressada, reunindo testemunhos credíveis, comparando-os, analisando-os.
Também José Rodrigues dos Santos, escritor e jornalista, aborda o assunto na sua obra mais recente, “A Chave de Salomão” onde a ficção deve muito à realidade, segundo afirmou o próprio autor que terá recolhido vários testemunhos..
A meu ver, a questão que se coloca no plano intelectual, é a seguinte: será que a morte é reversível?; será que a morte não é o fim? Isto é, em última análise: será que o conceito de morte tem que ser revisto?
Se assim for, talvez ganhe um sentido novo e inesperado a corrida aos cemitérios neste dia "de finados". E até os mais casmurros dos descrentes, como eu, vão algum dia engrossar a peregrinação aos cemitérios.
Por mais incrível que pareça, a história que hoje se invoca é, para mim, uma das mais credíveis de todas quantas nos falam os Evangelhos – e não digo isto com ironia.
Conta-nos São João (Jo11,17-27) que estando Lázaro morto e sepultado, Marta comenta para Jesus: “Senhor, se estivesses aqui o meu irmão não teria morrido.” E que, depois deste desabafo angustiado, Jesus trouxe Lázaro de novo para a vida.
“La Résurrection de Lazare” de Mattia Preti (séc. XVII)
Em vez da rejeição imediata e fácil desta ideia de que alguém possa ressuscitar, uma ideia que parece absurda e só consentida no domínio religioso, há gente que estuda o assunto de forma desapaixonada e ideologicamente desinteressada, reunindo testemunhos credíveis, comparando-os, analisando-os.
Também José Rodrigues dos Santos, escritor e jornalista, aborda o assunto na sua obra mais recente, “A Chave de Salomão” onde a ficção deve muito à realidade, segundo afirmou o próprio autor que terá recolhido vários testemunhos..
A meu ver, a questão que se coloca no plano intelectual, é a seguinte: será que a morte é reversível?; será que a morte não é o fim? Isto é, em última análise: será que o conceito de morte tem que ser revisto?
Se assim for, talvez ganhe um sentido novo e inesperado a corrida aos cemitérios neste dia "de finados". E até os mais casmurros dos descrentes, como eu, vão algum dia engrossar a peregrinação aos cemitérios.
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30.10.14
Um lamaçal de esquerda
Com amigos destes à esquerda, bem pode a direita política ficar descansada!...
Ora reparem como fala o esquerdista ODiario.info em editorial, acerca de Dilma Rousseff:
«Dilma vai enfrentar um Congresso mais desfavorável do que o anterior, o que a obrigará a fazer grandes concessões a partidos que não a apoiaram. Na opinião da maioria dos observadores, o futuro governo realizará uma política mais conservadora do que a do primeiro mandato.
A Reforma Agrária não avançará e a repressão que atinge em diferentes estados o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra-MST aumentará com a complacência do governo federal.
Na política externa é previsível uma acentuada guinada à direita. Dilma tudo fará para melhorar as relações com os Estados Unidos e outras potências imperialistas, distanciando-se de Cuba e dos governos progressistas da Venezuela bolivariana e da Bolívia. A revisão da política internacional atingirá também a participação do Brasil nos BRICS e em organizações de integração latino-americana como a UNASUL e a CELAC.
O apelo de ontem à união do povo brasileiro, puramente retórico, não será ouvido.
O Brasil entrou em recessão. O PIB cai, a desigualdade social cresce, a inflação sobe. Os escândalos – sobretudo o da Petrobras - suscitam a indignação popular. A corrupção no aparelho de estado alastra. O Pais está mergulhado num lamaçal.
Tudo indica que as manifestações do descontentamento popular, que atingiram grande amplitude em Junho e Julho, se ampliarão no próximo ano.»
nota:
Só os destaques são meus.
Ora reparem como fala o esquerdista ODiario.info em editorial, acerca de Dilma Rousseff:
«Dilma vai enfrentar um Congresso mais desfavorável do que o anterior, o que a obrigará a fazer grandes concessões a partidos que não a apoiaram. Na opinião da maioria dos observadores, o futuro governo realizará uma política mais conservadora do que a do primeiro mandato.
A Reforma Agrária não avançará e a repressão que atinge em diferentes estados o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra-MST aumentará com a complacência do governo federal.
Na política externa é previsível uma acentuada guinada à direita. Dilma tudo fará para melhorar as relações com os Estados Unidos e outras potências imperialistas, distanciando-se de Cuba e dos governos progressistas da Venezuela bolivariana e da Bolívia. A revisão da política internacional atingirá também a participação do Brasil nos BRICS e em organizações de integração latino-americana como a UNASUL e a CELAC.
O apelo de ontem à união do povo brasileiro, puramente retórico, não será ouvido.
O Brasil entrou em recessão. O PIB cai, a desigualdade social cresce, a inflação sobe. Os escândalos – sobretudo o da Petrobras - suscitam a indignação popular. A corrupção no aparelho de estado alastra. O Pais está mergulhado num lamaçal.
Tudo indica que as manifestações do descontentamento popular, que atingiram grande amplitude em Junho e Julho, se ampliarão no próximo ano.»
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Só os destaques são meus.
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29.10.14
Não haverá coligação, «prontos»!
Não, o CDS não vai concorrer às próximas eleições em coligação
com o PSD.
Antes do mais, porque assim concentra no PSD o descontentamento popular, em vez de partilhar a derrota. Depois, porque fica disponível para uma aliança pós-eleitoral com o partido mais votado, seja o PS seja o próprio PSD. Finalmente, porque ambos os partidos da actual maioria têm interesse e oportunidade de contar o respectivo eleitorado.
Isto tudo sem prejuízo do CDS poder "roer a corda" de alguma maneira e sob qualquer pretexto, no contexto do actual mandato. Uma corda cuja tensão irá sendo avaliada em função da popularidade crescente ou decrescente de António Costa.
“E prontos!”. Fecha-se aqui o assunto.
Edição da imagem, original para este blog. Último parágrafo formalmente alterado depois de publicado.
Antes do mais, porque assim concentra no PSD o descontentamento popular, em vez de partilhar a derrota. Depois, porque fica disponível para uma aliança pós-eleitoral com o partido mais votado, seja o PS seja o próprio PSD. Finalmente, porque ambos os partidos da actual maioria têm interesse e oportunidade de contar o respectivo eleitorado.
Isto tudo sem prejuízo do CDS poder "roer a corda" de alguma maneira e sob qualquer pretexto, no contexto do actual mandato. Uma corda cuja tensão irá sendo avaliada em função da popularidade crescente ou decrescente de António Costa.
“E prontos!”. Fecha-se aqui o assunto.
Edição da imagem, original para este blog. Último parágrafo formalmente alterado depois de publicado.
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26.10.14
Porque hoje é domingo (58)
Imaginem que Jesus Cristo, qual primeiro-ministro do seu reino espiritual, dá uma conferência de imprensa, e que os jornalistas tentam comprometê-lo. Foi isso que se passou naquele dia em que os fariseus, os saduceus e outros jornalistas, digo outros doutores, tentaram fazê-lo cair numa armadilha, fosse por razões políticas ou editoriais.
Talvez Jesus tenha começado por dizer “ainda bem que me faz essa pergunta…”. Não sei, o que consta nas “sagradas escrituras” é que o Senhor foi respondendo com inteligência e sabedoria e acabou por encostá-los à parede, por assim dizer, com uma pergunta a que eles não souberam responder.
O episódio original de que não há imagens…, é narrado no Evangelho (Mateus 22:17-46) para exaltar a superioridade de Jesus sobre os seus adversários intelectuais, no que pode ter sido bem sucedido. Mas levanta a questão da parcialidade do narrador, sendo ele um dos doze apóstolos de Cristo. Tanto mais que o Levi, como o apóstolo era conhecido enquanto foi cobrador de impostos, lhe teria ficado eternamente grato por Jesus o ter reabilitado aos olhos da população.
23.10.14
Força Brasil. Avante Uruguai
Pepe Mujica, como é carinhosamente tratado o presidente que doa 90% de seu salário para ONGs e pessoas carentes, termina agora o seu mandato de cinco anos.
No próximo domingo, há eleições no Uruguai, actualmente um dos países mais progressistas da América Latina. Tabaré Vázquez, o candidato melhor colocado nesta primeira volta, para suceder a Mujica, provém da mesma família política, a coligação Frente Amplio. Ele foi o primeiro presidente de esquerda da história do Uruguai, de 2005 até 2010.
No mesmo dia e no único país que faz fronteira com o Uruguai, o Brasil, Dilma Rousseff (na foto, com Mujica) disputará o próximo mandato presidencial, com o candidato social-democrata Aécio Neves.
Aqui já se trata da segunda volta, em que Aécio conta com o apoio expresso da candidata Marina Silva, afastada na 1ª volta – apoio da candidata mas não necessariamente de muitos dos seus apoiantes.
Ao invocar os valores da esquerda para atrair o apoio popular, nomeadamente em matéria de “compromissos sociais e económicos e fortalecimento do serviço público” Aécio reconhece que é nesses valores, e não nos seus ou dos seus aliados, que o Povo confia. O que em Lula e Dilma foram realizações económicas e sociais, em Aécio são promessas eleitorais que não correspondem ao seu ideário – para ele, as empresas estão primeiro!
As vitórias de Dilma, no Brasil, e Tabaré Vázquez, no Uruguai, a confirmarem-se, representarão o prosseguimento de um rumo de independência e progresso que não só beneficiará a América Latina como outras regiões onde domina a colonização económica e o retrocesso civilizacional – nomeadamente a Europa.
1ª foto: epocanegocios.globo.com
No próximo domingo, há eleições no Uruguai, actualmente um dos países mais progressistas da América Latina. Tabaré Vázquez, o candidato melhor colocado nesta primeira volta, para suceder a Mujica, provém da mesma família política, a coligação Frente Amplio. Ele foi o primeiro presidente de esquerda da história do Uruguai, de 2005 até 2010.
No mesmo dia e no único país que faz fronteira com o Uruguai, o Brasil, Dilma Rousseff (na foto, com Mujica) disputará o próximo mandato presidencial, com o candidato social-democrata Aécio Neves.
Aqui já se trata da segunda volta, em que Aécio conta com o apoio expresso da candidata Marina Silva, afastada na 1ª volta – apoio da candidata mas não necessariamente de muitos dos seus apoiantes.
Ao invocar os valores da esquerda para atrair o apoio popular, nomeadamente em matéria de “compromissos sociais e económicos e fortalecimento do serviço público” Aécio reconhece que é nesses valores, e não nos seus ou dos seus aliados, que o Povo confia. O que em Lula e Dilma foram realizações económicas e sociais, em Aécio são promessas eleitorais que não correspondem ao seu ideário – para ele, as empresas estão primeiro!
As vitórias de Dilma, no Brasil, e Tabaré Vázquez, no Uruguai, a confirmarem-se, representarão o prosseguimento de um rumo de independência e progresso que não só beneficiará a América Latina como outras regiões onde domina a colonização económica e o retrocesso civilizacional – nomeadamente a Europa.
1ª foto: epocanegocios.globo.com
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Há jovens e jovens
«Éramos jovens, mas duros. (...) Foi explicado aos soldados, maioritariamente açorianos, ao que iam e foi-lhes dito que a acção não era obrigatória. Ninguém quis ficar no quartel. Toda a gente quis vir» - dizia Rui Rodrigues, comandante das forças que ocuparam o aeroporto em Abril de 1974.
Quarenta anos mais tarde… quando vou tomar café ao Piolho, cruzo-me com centenas de jovens a cultivarem o ridículo, a futilidade e a imbecilidade como valor identitário – são as “praxes académicas” que haviam sido banidas a partir da crise estudantil de 1962, num contexto de luta pela liberdade e contra a guerra colonial.
O que vale é saber que uns e outros jovens não se distinguem pela geração a que pertencem mas sim pelos valores e comportamentos que perseguem na época em que vivem, entre a generosidade e a bestialidade.
O desenho foi recolhido no jornal Mudar de Vida
Quarenta anos mais tarde… quando vou tomar café ao Piolho, cruzo-me com centenas de jovens a cultivarem o ridículo, a futilidade e a imbecilidade como valor identitário – são as “praxes académicas” que haviam sido banidas a partir da crise estudantil de 1962, num contexto de luta pela liberdade e contra a guerra colonial.
O que vale é saber que uns e outros jovens não se distinguem pela geração a que pertencem mas sim pelos valores e comportamentos que perseguem na época em que vivem, entre a generosidade e a bestialidade.
O desenho foi recolhido no jornal Mudar de Vida
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22.10.14
Costa & Moreira, a mesma luta!
Aqui se vê como o carácter dos actores políticos
é fundamental.
"As cidades do Porto e Lisboa consideram que as preocupações fundamentais dos municípios não estão de forma alguma acauteladas, nomeadamente quanto aos termos do concurso de concessão recentemente lançado nos transportes do Porto, bem como na persistência da intenção de proceder ao lançamento da concessão dos transportes de Lisboa a privados", referiram os autarcas, num comunicado conjunto divulgado esta terça-feira.
2014-10-21 JN
é fundamental.
"As cidades do Porto e Lisboa consideram que as preocupações fundamentais dos municípios não estão de forma alguma acauteladas, nomeadamente quanto aos termos do concurso de concessão recentemente lançado nos transportes do Porto, bem como na persistência da intenção de proceder ao lançamento da concessão dos transportes de Lisboa a privados", referiram os autarcas, num comunicado conjunto divulgado esta terça-feira.
2014-10-21 JN
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21.10.14
Guerra da Informação
Quando convém aos EUA, os terroristas são "guerrilheiros" e a invasão de um país soberano é uma "travessia de território". E há sempre um jornalista que dá express(ã)o a esta guerra de informação.
Por falar nisso: alguém viu a NATO por aí?
Das notícias:
O Observatório Sírio de Direitos Humanos disse que sete civis foram mortos quando um ataque aéreo atingiu uma usina de gás perto da cidade de al-Khasham, na província de Deir al-Zor, na sexta-feira (17), e três civis foram mortos em um ataque na noite de quinta-feira na província al-Hassakah, ao norte do país.Entretanto as autoridades militares norte-americanas dizem não ter "evidências" destas mortes...
Evidente-mente!- digo eu.
Por falar nisso: alguém viu a NATO por aí?
Das notícias:
O Observatório Sírio de Direitos Humanos disse que sete civis foram mortos quando um ataque aéreo atingiu uma usina de gás perto da cidade de al-Khasham, na província de Deir al-Zor, na sexta-feira (17), e três civis foram mortos em um ataque na noite de quinta-feira na província al-Hassakah, ao norte do país.Entretanto as autoridades militares norte-americanas dizem não ter "evidências" destas mortes...
Evidente-mente!- digo eu.
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19.10.14
O dia em que o bispo foi à merda
Esta é uma história verdadeira. É verdadeiro que ma tenham contado, pelo menos. E tendo sido minha avó a contá-la, senhora de fé e prática religiosa, temente a Deus e crente no Inferno, mais credível se torna. Além de que a minha avó não era pessoa com formação académica suficiente para inventar histórias.
O que ela contou a minha mãe e minha mãe a mim, foi que minha avó, em criança, era vizinha de um tal bispo que não vou mencionar porque toda a gente reconheceria atendendo ao elevadíssimo grau a que ascendeu na sociedade portuguesa no tempo de Salazar.
Sendo vizinhos, a minha avó e o tal bispo, quando nem ele era bispo nem minha avó sonhava ser avó, ainda crianças ambos, ajudavam os pais, lavradores e lavradeiras, em terras de Famalicão.
Quando digo terras é de terras mesmo que estou a falar, não de lugares. Dessas terras de que falava Jesus quando dizia que um homem lançou semente à terra e etc.. Dessa terra onde medram as cebolas, as batatas, as alfaces e as pencas, tanto mais quanto a água e o adubo ajudarem.
O adubo, àquele tempo, era o estrume, matéria orgânica resultante da defecação dos animais, excremento, fezes, bosta. Recolhia-se ao longo dos caminhos por onde andavam vacas ou cavalos ou mesmo outras bestas. Por isso era vulgar que os agricultores se encarregassem de recolher o produto onde ele abundava e para os fins a que se destinava, conforme já expliquei. Mas porque fosse fácil de fazer ou pouco dignificante, também era frequente que os agricultores encarregassem os filhos do mester. E é assim que ocorre o que a minha avó relata.
No dia em que o bispo foi à merda, mandado pelos pais agricultores, a minha avó viu e fixou para memória futura como se já soubesse a importância que esse testemunho haveria de ter para mim, para este conto ou até para a História de Portugal.
Consta que minha avó, antevendo os frutos que haveriam de vir para o vizinho, ainda tentou seguir-lhe as pisadas mas foi logo avisada que há coisas que não estão destinadas às mulheres. E a maior importância que teve enquanto viveu, além de ser minha avó, foi ter visto um bispo ao adubo.
O que ela contou a minha mãe e minha mãe a mim, foi que minha avó, em criança, era vizinha de um tal bispo que não vou mencionar porque toda a gente reconheceria atendendo ao elevadíssimo grau a que ascendeu na sociedade portuguesa no tempo de Salazar.
Sendo vizinhos, a minha avó e o tal bispo, quando nem ele era bispo nem minha avó sonhava ser avó, ainda crianças ambos, ajudavam os pais, lavradores e lavradeiras, em terras de Famalicão.
Quando digo terras é de terras mesmo que estou a falar, não de lugares. Dessas terras de que falava Jesus quando dizia que um homem lançou semente à terra e etc.. Dessa terra onde medram as cebolas, as batatas, as alfaces e as pencas, tanto mais quanto a água e o adubo ajudarem.
O adubo, àquele tempo, era o estrume, matéria orgânica resultante da defecação dos animais, excremento, fezes, bosta. Recolhia-se ao longo dos caminhos por onde andavam vacas ou cavalos ou mesmo outras bestas. Por isso era vulgar que os agricultores se encarregassem de recolher o produto onde ele abundava e para os fins a que se destinava, conforme já expliquei. Mas porque fosse fácil de fazer ou pouco dignificante, também era frequente que os agricultores encarregassem os filhos do mester. E é assim que ocorre o que a minha avó relata.
No dia em que o bispo foi à merda, mandado pelos pais agricultores, a minha avó viu e fixou para memória futura como se já soubesse a importância que esse testemunho haveria de ter para mim, para este conto ou até para a História de Portugal.
Consta que minha avó, antevendo os frutos que haveriam de vir para o vizinho, ainda tentou seguir-lhe as pisadas mas foi logo avisada que há coisas que não estão destinadas às mulheres. E a maior importância que teve enquanto viveu, além de ser minha avó, foi ter visto um bispo ao adubo.
17.10.14
16.10.14
Política vs Ciência
A investigação científica de hoje e de ontem, haja lá o que houver de comparável.
As organizações representativas de investigadores, docentes e bolseiros de investigação abaixo indicadas, numa ação concertada igualmente com o SNESUP, bem ainda como muitos colegas que em nome individual nos têm apoiado, vão lançar a partir de amanhã, sexta-feira 17 de outubro e até à suspensão/correção das avaliações da responsabilidade da FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia), uma campanha nas instituições de ensino superior e unidades de investigação, intitulada LUTO PELA CIÊNCIA.
Os investigadores e docentes são convidados a exibirem sinais negros de “luto” nos seus locais de trabalho (laboratórios, gabinetes, etc.), em “luta” contra ilegalidades e erros graves das avaliações da responsabilidade da FCT – seja a dos Centros de Investigação, “dizimados” para metade, seja a “poda” de cerca de 2/3 dos candidatos dos concursos de bolsas e contratos “investigador FCT”. Usaremos de todos os meios legais, incluindo os judiciais, para invalidar estas avaliações, e substitui-las por outras que respeitem a legalidade e que sejam não só transparentes como justas. Nesta data, em nome da liberdade académica, solidarizamo-nos igualmente com a astrofísica espanhola Amaya Moro-Martin que criticou o processo de avaliação em Portugal conduzido pela European Science Foundation (ESF) a solicitação da FCT, num artigo de opinião recentemente publicado na revista Nature, e foi ameaçada pela ESF com um processo judicial. Apelamos também à subscrição de uma carta aberta europeia em apoio da Ciência, que pode ser obtida no link http://openletter.euroscience.org.
NOTA
As imagens dos 3 recortes de imprensa de 1947 fazem parte do meu documentário para a RTP, "Manuel Valadares, um caso exemplar" já invocado e anteriormente.
HOJE
De Rerum Nature de 16 de Outubro de 2014
As organizações representativas de investigadores, docentes e bolseiros de investigação abaixo indicadas, numa ação concertada igualmente com o SNESUP, bem ainda como muitos colegas que em nome individual nos têm apoiado, vão lançar a partir de amanhã, sexta-feira 17 de outubro e até à suspensão/correção das avaliações da responsabilidade da FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia), uma campanha nas instituições de ensino superior e unidades de investigação, intitulada LUTO PELA CIÊNCIA.
Os investigadores e docentes são convidados a exibirem sinais negros de “luto” nos seus locais de trabalho (laboratórios, gabinetes, etc.), em “luta” contra ilegalidades e erros graves das avaliações da responsabilidade da FCT – seja a dos Centros de Investigação, “dizimados” para metade, seja a “poda” de cerca de 2/3 dos candidatos dos concursos de bolsas e contratos “investigador FCT”. Usaremos de todos os meios legais, incluindo os judiciais, para invalidar estas avaliações, e substitui-las por outras que respeitem a legalidade e que sejam não só transparentes como justas. Nesta data, em nome da liberdade académica, solidarizamo-nos igualmente com a astrofísica espanhola Amaya Moro-Martin que criticou o processo de avaliação em Portugal conduzido pela European Science Foundation (ESF) a solicitação da FCT, num artigo de opinião recentemente publicado na revista Nature, e foi ameaçada pela ESF com um processo judicial. Apelamos também à subscrição de uma carta aberta europeia em apoio da Ciência, que pode ser obtida no link http://openletter.euroscience.org.
ONTEM
Os Movimentos Científico e Matemático
Por: Jorge
Rezende, Professor da Universidade de Lisboa (artigo de 2006)
Em 16 de
Novembro de 1936, bolseiros do IAC que tinham estado em vários países da Europa
– Arnaldo Peres de Carvalho, Herculano Amorim Ferreira, Manuel Valadares e António da Silveira – aos quais se juntou Bento de Jesus Caraça, fundaram o Núcleo de Matemática, Física e Química, que pretendia ser o início de uma
verdadeira Escola de Ciência, à imagem da realidade com que tinham contactado e na qual tinham trabalhado no estrangeiro.
(...)
Embora a ideia
inicial fosse muito mais ambiciosa, o Núcleo acabou apenas por promover a
realização de ciclos de conferências de alto valor científico, bem como a sua
publicação em livros de elevada qualidade.
Curiosamente, os dois primeiros conjuntos de conferências foram os de Bento de Jesus Caraça, sobre Cálculo Vectorial, iniciado justamente a 16 de Novembro de 1936, e o de Ruy Luís Gomes, sobre Teoria da
Relatividade Restrita, iniciado a 19 de Abril de 1937. Ambos os cursos deram origem aos dois primeiros volumes da colecção do Núcleo, a qual só viria a ter três volumes... Estes livros são ainda hoje bastante conhecidos, particularmente o de Caraça que já teve várias edições.
O fascismo moveu perseguições diversas ao Núcleo, a principal das quais foi a de fechar as portas das escolas às suas actividades, com destaque para a Faculdade de Ciências (onde Valadares era professor) e o ISCEF (actual ISEG e onde Caraça era professor). Só o Instituto Superior Técnico lhe abriu as portas.
Infelizmente, o Núcleo acabou por se extinguir em 6 de Novembro de 1939, sobretudo devido a divergências internas.
(...)
A formação do Núcleo de Matemática, Física e Química, em 1936, marca o início do Movimento Científico em Portugal, que foi posto entre parêntesis com as expulsões de 1947, e que só retomaria verdadeiramente com a Revolução de 25 de Abril de 1974.NOTA
As imagens dos 3 recortes de imprensa de 1947 fazem parte do meu documentário para a RTP, "Manuel Valadares, um caso exemplar" já invocado e anteriormente.
14.10.14
Não digam a ninguém
Evo Morales, o presidente da Bolívia, que o governo português impediu de aterrar em Lisboa para reabastecimento do avião presidencial, há um ano,
conquistou uma grande vitória nas eleições de domingo 12 de Outubro.
Desta vez o governo português não pôde impedi-lo e os orgãos de Informação tiveram que conjugar “discrição” com insinuação a fim de ensombrar as evidências.
Lá onde isso mais importa, porém, a vitória de Evo Morales confirma a confiança e o apoio popular de que gozam as suas políticas anti-imperialistas ou de defesa da soberania nacional, se assim preferirmos dizer.
Essas políticas manifestam-se, a nível internacional, na forte vinculação à corrente progressista e bolivariana (de Bolívar) que predomina na actual América Latina, e ao movimento “integrador” dos países da região, gerado desde Hugo Chavez sem carácter politico-ideológico.
A nível nacional boliviano, a vitória eleitoral de Evo Morales exprime a aprovação popular de uma linha política em que a economia se subordina aos interesses do Estado. Neste sentido, o presidente nacionalizou parte de alguns sectores estratégicos, nomeadamente nos hidrocarbonetos, telecomunicações e mineração.
A sua política de inspiração socialista, desenvolvida ao longo de oito anos, levou estabilidade e rigor fiscal ao país, fez crescer fortemente a economia nacional e tirou milhões de pessoas da pobreza.
O Presidente financiou grandes obras de infraestruturas, a construção de escolas e de áreas desportivas. Entretanto, ao contrário de alguns receios manifestados no domínio empresarial, reconhece a importância do sector económico privado e nega a intenção de aumentar as nacionalizações, nomeadamente na banca e nas empresas com participação estrangeira.
Evo Morales provém de uma família muito humilde de província. Sem formação académica superior, foi pastor, pedreiro e músico. Activista sindical, iniciou por essa via a actividade política.
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12.10.14
Porque hoje é domingo (57)
Jesus transformou a água em vinho – conta João, o evangelista, e só ele (2, 1-11).
Até aqui não é nada que o taberneiro da Travessa dos Congregados não fizesse diariamente sem que ninguém lho pedisse. E a gente que se sentava como eu na sala de segunda classe, do restaurante, logo à entrada, onde as mesas não tinham toalha, bebia aquela zurrapa escura e espumosa com o mesmo divino prazer com que chafurdava num prato de tripas quando não umas papas de sarrabulho… Um veneno matava o outro.
Naquele tempo em que Jesus se estreou a fazer milagres, não havia ASAI nem super-mercados nem grandes cuidados preventivos nem fitness nem ciclovias, mas também não havia cancros nem sida nem hospitais privados, se a memória não me atraiçoa.
Mas a questão que se coloca é outra: que importância especial teve esse casamento para que Jesus e a sua mãe mas também os discípulos nela participassem, e para que Jesus desperdiçasse a sua transcendência na coisa fútil de suprir a falta de álcool às mesas – ele que não era o noivo nem o dono da casa, salvo melhor opinião.
Até aqui não é nada que o taberneiro da Travessa dos Congregados não fizesse diariamente sem que ninguém lho pedisse. E a gente que se sentava como eu na sala de segunda classe, do restaurante, logo à entrada, onde as mesas não tinham toalha, bebia aquela zurrapa escura e espumosa com o mesmo divino prazer com que chafurdava num prato de tripas quando não umas papas de sarrabulho… Um veneno matava o outro.
Naquele tempo em que Jesus se estreou a fazer milagres, não havia ASAI nem super-mercados nem grandes cuidados preventivos nem fitness nem ciclovias, mas também não havia cancros nem sida nem hospitais privados, se a memória não me atraiçoa.
Mas a questão que se coloca é outra: que importância especial teve esse casamento para que Jesus e a sua mãe mas também os discípulos nela participassem, e para que Jesus desperdiçasse a sua transcendência na coisa fútil de suprir a falta de álcool às mesas – ele que não era o noivo nem o dono da casa, salvo melhor opinião.
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10.10.14
Brasil já escolheu
No “campeonato nacional” das presidenciais, do passado domingo, o Brasil escolheu: Dilma Rousseff ganhou as eleições com 41,59% enquanto Aécio Neves teve 33,55% e Marina Silva teve 21,32%. Dilma recebeu mais oito milhões de votos do que o segundo classificado.
Mas…
Mas Dilma não é da família política do PS nem do PSD, como são Marina e Aécio, respectivamente.
Logo…
Logo, as notícias em Portugal não são a vitória de Dilma Rousseff mas sim…
QUE Dilma Rousseff, do PT, conseguiu a vitória, mas não os votos suficientes para evitar uma 2ª volta.
QUE Aécio Neves vence primeira volta… em Portugal.
QUE Aécio e Dilma decidem presidência do Brasil na segunda volta
Agora, a notícia é que o Partido Socialista brasileiro vai apoiar o social-democrata Aécio Neves na segunda volta das eleições presidenciais, a 26 de Outubro, para impedir a reeleição de Dilma Rousseff.
E a (minha) previsão é que os órgãos de Informação em Portugal já afiaram as unhas para arranhar o Partido dos Trabalhadores. Mais certa do que a previsão da Datafolha!
O Instituto Datafolha, um dos principais centros de sondagens e estudos do país, divulgava em 10 de Setembro a sua sondagem, em que Dilma Rousseff surgia com 36% dos votos, seguida de Marina Silva com 33% e do social-democrata Aecio Neves com 15%.
Quanto à segunda volta, Datafolha já está a fazer o seu trabalho...
Nota: A primeira volta das eleições gerais brasileiras de 2014, realizadas no dia 5 de outubro destinaram-se a escolher não só o presidente da República, mas também os vinte e sete governadores das unidades federativas, um terço dos membros do Senado Federal, a totalidade dos membros da Câmara dos Deputados e os representantes dos poderes legislativos estaduais.
Mas…
Mas Dilma não é da família política do PS nem do PSD, como são Marina e Aécio, respectivamente.
Logo…
Logo, as notícias em Portugal não são a vitória de Dilma Rousseff mas sim…
QUE Dilma Rousseff, do PT, conseguiu a vitória, mas não os votos suficientes para evitar uma 2ª volta.
QUE Aécio Neves vence primeira volta… em Portugal.
QUE Aécio e Dilma decidem presidência do Brasil na segunda volta
Agora, a notícia é que o Partido Socialista brasileiro vai apoiar o social-democrata Aécio Neves na segunda volta das eleições presidenciais, a 26 de Outubro, para impedir a reeleição de Dilma Rousseff.
E a (minha) previsão é que os órgãos de Informação em Portugal já afiaram as unhas para arranhar o Partido dos Trabalhadores. Mais certa do que a previsão da Datafolha!
O Instituto Datafolha, um dos principais centros de sondagens e estudos do país, divulgava em 10 de Setembro a sua sondagem, em que Dilma Rousseff surgia com 36% dos votos, seguida de Marina Silva com 33% e do social-democrata Aecio Neves com 15%.
Quanto à segunda volta, Datafolha já está a fazer o seu trabalho...
Nota: A primeira volta das eleições gerais brasileiras de 2014, realizadas no dia 5 de outubro destinaram-se a escolher não só o presidente da República, mas também os vinte e sete governadores das unidades federativas, um terço dos membros do Senado Federal, a totalidade dos membros da Câmara dos Deputados e os representantes dos poderes legislativos estaduais.
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6.10.14
Paroles, paroles, paroles…
Repare-se no vídeo, entre os 03’55” e os 04’17”, como Raul Castro exalta o respeito pela diversidade … e “a convicção de que o diálogo e a cooperação são o caminho para a solução das diferenças, a convivência civilizada de quem pensa de forma diferente”
No entanto, os Castros correm o risco de ficar para a História, não como os construtores de uma “Cuba Libre” mas sim como os construtores de uma “escravidão generosa” – para dizê-lo de alguma maneira!
O que há de comum entre um discurso de Raul Castro e um discurso de Cavaco Silva, é que “Para a mentira ser segura e atingir profundidade, tem que trazer à mistura qualquer coisa de verdade”, como dizia o poeta popular António Aleixo.
“O País necessita urgentemente de um acordo de médio prazo entre os partidos que subscreveram o Memorando de Entendimento com a União Europeia e com o Fundo Monetário Internacional, PSD, PS e CDS”, como diz Cavaco Silva, ou necessita de um acordo dos governos com os seus compromissos eleitorais?
29.9.14
Socialismo como quem diz
Com esta aposta em António Costa, o PS matou dois coelhos, aliás dois PC's: Passos Coelho e o Partido Comunista. Se não matou, ameaçou.
Para que a ameaça se concretize, à direita, o PS não precisa fazer nada - o Governo já faz. Mas para filtrar o fluxo dos descontentes que encontram no PCP a verdadeira alternativa, o PS terá que ultrapassar-se - e eu duvido que António Costa queira ir tão longe, ou possa.
Pois bem se pode dizer em Portugal como se diz em França, que no PS já ninguém sabe exactamente o que é o socialismo - «au PS, plus personne ne sait au juste ce qu'est le socialisme». Voilá!
Para que a ameaça se concretize, à direita, o PS não precisa fazer nada - o Governo já faz. Mas para filtrar o fluxo dos descontentes que encontram no PCP a verdadeira alternativa, o PS terá que ultrapassar-se - e eu duvido que António Costa queira ir tão longe, ou possa.
Pois bem se pode dizer em Portugal como se diz em França, que no PS já ninguém sabe exactamente o que é o socialismo - «au PS, plus personne ne sait au juste ce qu'est le socialisme». Voilá!
28.9.14
Porque hoje é domingo (56)
«Havia um homem que tinha dois filhos. Chegando ao primeiro, disse: 'Filho, vá trabalhar hoje na vinha. E este respondeu: 'Não quero!'. Mas depois mudou de ideias e foi! Depois o pai chegou ao outro filho e disse a mesma coisa e este respondeu: 'Sim, senhor!'. Mas não foi!».
Depois de contar esta pequena história (Mt 21,28-32), Jesus perguntou: «Qual dos dois fez a vontade do pai?».
Ora aí está!
Pode o António Costa não ter avançado mais cedo, mas quando viu que o trabalho do "irmão" estava a dar muita parra e pouca uva, avançou! E a vinha medrou.
Agora há que saber se vem aí bom vinho...
NOTAS:
1) A parábola aqui invocada é aquela que serve de tema às missas deste domingo.
2) Este post é publicado quando as votações ainda estão no início (10H30)
3) A pintura é de MURILLO (1617/18–1682)
Depois de contar esta pequena história (Mt 21,28-32), Jesus perguntou: «Qual dos dois fez a vontade do pai?».
Ora aí está!
Pode o António Costa não ter avançado mais cedo, mas quando viu que o trabalho do "irmão" estava a dar muita parra e pouca uva, avançou! E a vinha medrou.
Agora há que saber se vem aí bom vinho...
NOTAS:
1) A parábola aqui invocada é aquela que serve de tema às missas deste domingo.
2) Este post é publicado quando as votações ainda estão no início (10H30)
3) A pintura é de MURILLO (1617/18–1682)
25.9.14
António Costa à varanda
Como António José Seguro vê António Costa
Quando o presidente de um partido diz que os respectivos autarcas fazem política à janela da Câmara Municipal, envergonha quem quer que o apoie. E perde quaisquer condições para continuar a dirigir o partido.
A não ser que se trate do PS!...
Quando o presidente de um partido diz que os respectivos autarcas fazem política à janela da Câmara Municipal, envergonha quem quer que o apoie. E perde quaisquer condições para continuar a dirigir o partido.
A não ser que se trate do PS!...
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22.9.14
Marxistas e cristãos
Continuação do assunto tratado em
“Porque Hoje é Domingo (55)”
Aquilo que o proprietário distribui pelos trabalhadores não é a sua riqueza – a sua terra. Esta permanecerá integralmente nas suas mãos. O que ele distribui é a riqueza que os trabalhadores produzem, fazendo uso dos meios do proprietário. São os trabalhadores, eles sim, colectivamente, que acrescentam riqueza! São eles os reais produtores
Portanto, o que o proprietário distribui em forma de “retribuição”, é aquilo que não lhe pertence e, ainda assim, só uma parte disso, visto que se apropria de outra parte para si.
Nesta distribuição da riqueza produzida pelo trabalho, entre os trabalhadores, o proprietário (dos meios de produção) e o Estado (através de impostos que supostamente voltam para a comunidade em forma de serviços e bens públicos), o que distingue o sistema socialista é que o propietário-capitalista não faz parte do sistema, logo a riqueza produzida reverte toda ela para os trabalhadores, de forma directa ou indirecta.
O socialismo assim entendido como o entendem os marxistas, não pode ignorar que há proprietários e há trabalhadores que escapam a esta lógica. Isto é: há proprietários que têm um papel positivo também na economia socialista, e há trabalhadores que não trabalham ou não o fazem em proporção com os seus rendimentos.
A primeira questão tem sido respondida caso a caso, país a país e de forma diferente em épocas diferentes. Por exemplo: actualmente, em Cuba, promove-se o trabalho por conta própria, "los cuentrapropistas" em alguns sectores de actividade que antes estavam interditos.
Talvez se possa dizer que o socialismo moderno tende a consentir na propriedade privada dos meios de produção conforme a dimensão destes e a sua importância estratégica para a economia nacional. Água, electricidade, comunicações e banca, muito dificilmente se enquadram no grupo de actividades privadas no sistema socialista.
A segunda questão, a retribuição dos trabalhadores, é a que se prende com a parábola de Jesus que invoquei no artigo anterior “Porque Hoje é Domingo (55)”! É a questão de saber os critérios de distribuição da riqueza produzida.
O critério subjectivo do proprietário, apresentado na parábola e aprovado por Jesus, é completamente injusto e incoerente, porque beneficia os que trabalham menos, com o esforço dos que trabalham mais – é uma forma de exploração de uns trabalhadores por outros trabalhadores.
O critério subjectivo de classe, segundo o qual há sub-classes privilegidas que auferem rendimentos desproporcionados em relação a outras – administrativos em relação a operários, p. e. – é também considerado injusto e é contrariado no critério marxista. Voltando a Cuba como exemplo, um professor ou um médico ganha ao nível de um empregado sem qualificações académicas relevantes. Escusado será dizer que este “critério subjectivo de classe” que vigora nos países capitalistas, se encontra frequentemente na prática de países socialistas de forma perversa.
Curiosamente, o marxismo apresenta um critério de distribuição da riqueza produzida, que não é, também ele, objectivo. Isto é: não se trata de atribuir a cada um segundo o seu trabalho. A máxima é: "de cada um segundo as suas possibilidades, a cada um segundo as suas necessidades" . E isto conciliaria Karl Marx com Jesus e o proprietário na parábola, se este, na sua distribuição desproporcionada do dinheiro, a fizesse em razão das necessidades de cada um. Mas nada indica que fosse o caso.
Este critério marxista, em todo o caso, não é praticado na fase de retribuição directa do trabalho (no salário) mas sim no âmbito das responsabilidades sociais do Estado (nos preços dos serviços). E a social-democracia burguesa, ela própria, tem sido obrigada a aplicá-lo em certa medida, por força das exigências populares. É o caso dos apoios do Estado aos cidadãos mais carenciados, em matéria de saúde, ensino, transportes, etc.
A Venezuela, um país capitalista com um governo socialista de inspiração marxista, desenvolve desde 2003 campanhas de apoio material e efectivo às camadas mais desfavorecidas da população, através das chamadas “misiones”: misión vivienda, misión barrio adentro, misión mercal, etc., etc.
E enquanto a acção política prossegue a sua missão de promover a exploração ou a justiça social, a religião apela… às orações. É a apologia do imobilismo, da rendição ao poder constituído, justificado com aquela sentença de Jesus “politicamente correcta”: a César o que é de César…
Como se a Igreja não soubesse que Jesus estava “entalado” quando teve que dar aquela resposta. Como se a riqueza de César não fosse resultado da exploração desenfreada e dos saques perpetrados nas sanguinárias guerras imperiais.
“Porque Hoje é Domingo (55)”
Aquilo que o proprietário distribui pelos trabalhadores não é a sua riqueza – a sua terra. Esta permanecerá integralmente nas suas mãos. O que ele distribui é a riqueza que os trabalhadores produzem, fazendo uso dos meios do proprietário. São os trabalhadores, eles sim, colectivamente, que acrescentam riqueza! São eles os reais produtores
Portanto, o que o proprietário distribui em forma de “retribuição”, é aquilo que não lhe pertence e, ainda assim, só uma parte disso, visto que se apropria de outra parte para si.
Nesta distribuição da riqueza produzida pelo trabalho, entre os trabalhadores, o proprietário (dos meios de produção) e o Estado (através de impostos que supostamente voltam para a comunidade em forma de serviços e bens públicos), o que distingue o sistema socialista é que o propietário-capitalista não faz parte do sistema, logo a riqueza produzida reverte toda ela para os trabalhadores, de forma directa ou indirecta.
O socialismo assim entendido como o entendem os marxistas, não pode ignorar que há proprietários e há trabalhadores que escapam a esta lógica. Isto é: há proprietários que têm um papel positivo também na economia socialista, e há trabalhadores que não trabalham ou não o fazem em proporção com os seus rendimentos.
A primeira questão tem sido respondida caso a caso, país a país e de forma diferente em épocas diferentes. Por exemplo: actualmente, em Cuba, promove-se o trabalho por conta própria, "los cuentrapropistas" em alguns sectores de actividade que antes estavam interditos.
Talvez se possa dizer que o socialismo moderno tende a consentir na propriedade privada dos meios de produção conforme a dimensão destes e a sua importância estratégica para a economia nacional. Água, electricidade, comunicações e banca, muito dificilmente se enquadram no grupo de actividades privadas no sistema socialista.
A segunda questão, a retribuição dos trabalhadores, é a que se prende com a parábola de Jesus que invoquei no artigo anterior “Porque Hoje é Domingo (55)”! É a questão de saber os critérios de distribuição da riqueza produzida.
O critério subjectivo do proprietário, apresentado na parábola e aprovado por Jesus, é completamente injusto e incoerente, porque beneficia os que trabalham menos, com o esforço dos que trabalham mais – é uma forma de exploração de uns trabalhadores por outros trabalhadores.
O critério subjectivo de classe, segundo o qual há sub-classes privilegidas que auferem rendimentos desproporcionados em relação a outras – administrativos em relação a operários, p. e. – é também considerado injusto e é contrariado no critério marxista. Voltando a Cuba como exemplo, um professor ou um médico ganha ao nível de um empregado sem qualificações académicas relevantes. Escusado será dizer que este “critério subjectivo de classe” que vigora nos países capitalistas, se encontra frequentemente na prática de países socialistas de forma perversa.
Curiosamente, o marxismo apresenta um critério de distribuição da riqueza produzida, que não é, também ele, objectivo. Isto é: não se trata de atribuir a cada um segundo o seu trabalho. A máxima é: "de cada um segundo as suas possibilidades, a cada um segundo as suas necessidades" . E isto conciliaria Karl Marx com Jesus e o proprietário na parábola, se este, na sua distribuição desproporcionada do dinheiro, a fizesse em razão das necessidades de cada um. Mas nada indica que fosse o caso.
Este critério marxista, em todo o caso, não é praticado na fase de retribuição directa do trabalho (no salário) mas sim no âmbito das responsabilidades sociais do Estado (nos preços dos serviços). E a social-democracia burguesa, ela própria, tem sido obrigada a aplicá-lo em certa medida, por força das exigências populares. É o caso dos apoios do Estado aos cidadãos mais carenciados, em matéria de saúde, ensino, transportes, etc.
A Venezuela, um país capitalista com um governo socialista de inspiração marxista, desenvolve desde 2003 campanhas de apoio material e efectivo às camadas mais desfavorecidas da população, através das chamadas “misiones”: misión vivienda, misión barrio adentro, misión mercal, etc., etc.
E enquanto a acção política prossegue a sua missão de promover a exploração ou a justiça social, a religião apela… às orações. É a apologia do imobilismo, da rendição ao poder constituído, justificado com aquela sentença de Jesus “politicamente correcta”: a César o que é de César…
Como se a Igreja não soubesse que Jesus estava “entalado” quando teve que dar aquela resposta. Como se a riqueza de César não fosse resultado da exploração desenfreada e dos saques perpetrados nas sanguinárias guerras imperiais.
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